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quinta-feira, 14 de junho de 2018

AS BOAS MANEIRAS (2018)




Em junho de 2016, Após assistir o ótimo filme argentino "Relatos selvagens", eu questionava o porquê o Brasil não produzia cinema no mesmo nível de nossos vizinhos Hermanos, que conseguem entregar bons filmes com temas variados, sem se prender aos problemas existenciais de sua classe média ou a violência que a pobreza enfrenta; a opção que encontrei na época passava pelas produções autorais e de menor orçamento, como por exemplo, os curtas de terror de Dennison Ramalho, mas o pouco alcance desse tipo de produção veio depois a me parecer um caminho estreito demais para fomentar investimento e qualidade em nossa indústria cinematográfica, que necessitava de algo maior para se tornar visível.

Dois anos depois, a semente desse cinema de nicho que eu havia enxergado como opção parece ter começado a germinar com a estreia de um filme que foge do que é comumente feito no Brasil ao misturar elementos de terror sobrenatural e crítica social, além de inovar em sua narrativa e plasticidade. Trata-se de "As boas maneiras", filme  de Juliana Rojas e Marco Dutra, estrelado por Marjorie Estiano, Izabel Zuaa e Miguel Lobo, que estreou dia sete de Junho,  podendo ser aquele algo a mais que trará um novo frescor a industria cinematográfica BR.


  

O filme, que se divide em duas partes, acompanha a história de Clara (Izabel Zuaa) uma melancólica enfermeira, que é contratada para "ajudar" na casa e ser a babá do filho ainda não nascido de Ana (Marjorie Estiano) e que , conforme a relação das duas vai se estreitando, começa a notar o estranho comportamento de sua empregadora em noites de lua cheia e procurar por respostas. Já na segunda parte, encontramos Clara, quase dez anos depois, muito mais confiante e morando na periferia com seu filho adotivo Joel ( Miguel Lobo) que guarda um segredo que o impossibilita de aproveitar ao máximo sua vida e que põe tudo em risco quando descobre o que Clara escondia de seu passado e parte para a cidade em noite de lua cheia.

Embora na minha sinopse a trama pareça dar toda atenção a uma história clássica de lobisomem, o filme na verdade segue a cartilha de toda boa história de ficção científica ou fantasia e usa esse elemento fantástico muito mais como plano de fundo para expor de forma sutil os problemas de nossa sociedade, do que aborda a lenda e maldição da licantropia. Sendo assim, "As boas maneiras" é mais um drama que fala de amor, sacrifício e tolerância, do que um filme de monstro pensado para dar sustos.

Clara e Ana
Podemos constatar o comentado acima apenas analisando o próprio nome do filme, que faz alusão a uma conversa que Ana tem com Clara, quando esta lhe serve sopa no jantar e que a remete a aulas de etiqueta que ela fez quando era mais nova. Ana conta que era ensinada a tomar sopa sem fazer barulho e andar com um livro na cabeça para treinar a postura (coisa que ela não consegue quando tenta demonstrar, indicando sua falta de aptidão para fugir de quem realmente é ) essa conversa, que pode passar despercebida, descreve toda a dura relação dos personagens centrais com a sociedade que as rodeia e a qual tentam se adaptar e manter com o máximo esforço a convenções, seja a mulher negra, pobre e lésbica, que tem que se sujeitar a acumular tarefas em um emprego para poder pagar suas contas, seja a mulher rica, que seguindo seus desejos é renegada pela família e expulsa de sua casa por desonrar seu nome ou a criança que, sem conseguir escapar de como nasceu, é trancada em um quarto blindado em noites de lua cheia. Todos ali são párias, por não conseguir fingir por completo suas naturezas, por não seguir as boas maneiras.

Podemos até mesmo traçar um paralelo entre o aparentemente frágil Joel com a história de muitas crianças e jovens das periferias. Criado na pobreza se sente abandonado e se vê impossibilitado de participar das experiências que a vida lhe mostra devido à condição em que nasceu. Como no caso de muitos desses jovens a revolta também é o escape de Joel na busca por liberdade e o erro fruto da falta de conhecimento sobre si mesmo, o que, aos olhos da sociedade, o apaga como pessoa e o enxerga apenas como um monstro.

Eu era um lobisomem juvenil
Mas longe dessas interpretações subjetivas, o filme me surpreendeu, além de pela história com pitadas de terror e o aprofundamento dos personagens; pela sua estética e inovação na narrativa. A forma como o filme mostra São Paulo dividida entre uma zona de arranha-céus espelhados e uma periferia imensa e a transformação de menino para monstro quando ele atravessa a ponte; as ruas escuras cheias de luminosos dão um ar de cinema coreano à película e os efeitos especiais bem bacanas para nosso pobre cinema além de não decepcionar prestam homenagem ao clássico “Um lobisomem americano em Londres”, sem contar que no primeiro ato, temos a história de Ana sendo contada através de desenhos e no ato final ainda vemos um trecho musical, nada descambando para cafonice ou galhofa.

No entanto, como tudo na vida esse filme também tem seus problemas, e, um dos que mais me incomodou foi a extensão da história. A produção tem duas horas e dez, o que não é lá um grande tamanho, no entanto, se tratando de uma história que foca em apenas três personagens, parece que há uma barriga desnecessária na trama. Há também algumas falhas de roteiro que não me passaram como o fato de ninguém vir atrás do menino Joel, quando este é levado por Clara ou como ela construiu um quarto blindado no fundo da peça onde morava. Mas todos esses pequenos problemas não apagam o mérito e o marco que o filme é por fugir da mesmice.

Apesar de seus pequenos problemas, “As boas maneiras” estreia trazendo novos ares para o cinema brasileiro e abrindo portas para temas mais diversos e fantásticos produzidos em nossas terras tupiniquins, injetando qualidade e quem sabe fazendo com que surjam investimentos suficientes para que nossa indústria se torne rentável e assim independente do estado e, finalmente, deixar de ser esse monstro assustador que só aborda as misérias da pobreza ou cinebiografias e conseguir alcançar o mesmo nível  e qualidade do cinema Argentino.




terça-feira, 29 de maio de 2018

Mortes em "Vingadores: Guerra Infinita".Quais os reais motivos.






Passou-se um mês da estreia de “VINGADORES: GUERRAINFINITA” e acredito que quem se interessou pelo destino dos personagens já deve saber que uma grande parte deles vai à Óbito durante a trama. No entanto, o que pouca gente sabe é que aquele discurso furado do vilão Thanos, afirmando que, para o universo progredir seria necessária a extinção de uma parte da vida de forma “aleatória” é uma grande mentira e que (quase) TODOS personagens mortos tiveram grandes motivos para suas desintegrações.
Para acabar de uma vez por com esse embuste proveniente da mente vingativa e inquisidora de um personagem de CGI, venho hoje revelar os pecados que levaram os heróis tombados até seu triste destino: (clique no nome do "motivo" para ver o trailer)

Gamora - MOTIVO: Crossroads (2002)
  Em 2002 a Diretora Tamra Davis trazia a público um filme onde, três amigas de infância partem em uma viagem pelos EUA para experimentarem pela última vez toda liberdade do final da adolescência e reafirmar os laços de sua amizade (vômito!), Sim, estou falando de “Crossroads: amigas para sempre”, filme protagonizado por Britney Spears (pré-surto) que tinha como uma de suas best friend , Zoe Saldaña, que antes de viver a badass Gamora, chorava sentada na beira de uma fogueira porque: “minha mãe me odeia porque sou mais bonita que ela!”... Confessa, tu também não a jogarias de um precipício?

Falcão – MOTIVO: Sem dor, sem ganho (2013)
Acho importante filmes baseados em fatos reais, pois quando bem escritos geram o desejo das pessoas conhecerem mais sobre história e fatos que perturbaram a sociedade. No entanto, quando uma situação na é deturpada na trama e tenta transformar um crime em uma comédia e assassinos em trapalhões marombados, não dá para perdoar. Pois é assim o filme “Sem dor, sem ganho” dirigido pelo famigerado Michael Bay e que, através uma espécie de comédia de mau gosto, conta a história do grupo chefiado por Daniel Lugo, um personal trainer, que resolve pular algumas etapas de sacrifício do sonho americano de enriquecer e sequestrar e matar para ter uma vida mais confortável; Nesse grupo dos amigos de Lugo, temos Anthony Mackie, o Falcão, parceiro fiel de Steve Rogers e que Thanos mandou para terra dos pés juntos sabendo que não se deve dar asas a cobras.

Pantera Negra – MOTIVO: Deusesdo Egito (2016)
O Filme Pantera Negra foi a mais feliz surpresa deste ano, dando uma aula de representatividade e carisma sem deixar a diversão de lado.Mas o que poucas pessoas devem lembrar é que antes de Chadwick Boseman viver o protagonista do segundo filme mais rentável da Marvel em 2018, ele viveu o Deus Thot em “Deuses do Egito”, um filme que , apesar de um elenco fantástico, trazia efeitos visuais vergonhosos, atuações vexatórias e um roteiro capaz fazer a própria esfinge enfiar a cabeça nas areias do deserto, justificando a morte do nosso querido príncipe T’challa.

Groot – MOTIVO: Triplo x (2002) & Tripo X –REATIVADO (2017)
Matar (de novo) o Groot parece uma tremenda sacanagem, mas ao lembrar que o responsável pela voz da carismática Árvore-humanoide é o Brucutu Vin Diesel e de suas interpretações canalhas na franquia triplos X (sem dizer de todos outros filmes), penso que ficou barato o que aconteceu com ele.


Star Lord – MOTIVO: O Procurado (2008)
Em 2008, os filmes de Super-Herói teriam uma revolução com a estreia de Homem de Ferro! Só que naquele mesmo ano, outro filme “baseado” em uma HQ estreou sem causar grande alarde, era “O procurado” que ficou marcado na memória coletiva da humanidade devido a suas balas atiradas em curva e assassinos contratados através de uma maquina de tear (não lembra? É porque o filme é ruim!). No elenco dessa maravilha, tínhamos o engraçadinho Chris Pratt, no papel do melhor amigo traíra do protagonista que ficou na minha memória por esse filme por levar com um teclado no meio da cara, o que Thanos achou pouco.

Dr Estranho – MOTIVO: O Quinto poder (2016)
Em 2013 chegava aos cinemas a cinebiografia de Julian Assange e a história da Wikliakes, e, o que era para ser uma empolgante história baseada nos eventos recentes de exposição e documentos secretos, se apresentou em um filme morno e chato que passou quase que despercebido e foi um fracasso de bilheteria, não podendo nem mesmo contar com a magia de Benedict Cumberbatch para que o filme tivesse um pouco mais de brilho, fato que, no meu coração, foi decisivo no destino do Dr. Estranho no final de “Guerra infinita”.

Drax – MOTIVO: O homem com punhos de ferro (2012)
Em 2012, o raper RZA realizou seu sonho de moleque de escrever e dirigir um filme de Kung-fu... e o filme é uma bosta! Totalmente filmado em estúdio, com personagens caricatos e idiotas e uma trama sem sentido, “O homem com punhos de ferro” é uma comédia involuntária de fazer a barriga doer de rir. Nesse pastelão, encontramos Dave Bautista (O Drax) começando suas aventuras no cinema depois de sua saída do WWE e interpretando um vilão tão meia boca que o desempenho o indicou como mais uma vítima de Thanos seis anos depois.

Feiticeira Escarlate , Mantis e Nick Fury – MOTIVO: Old Boy (2013)
Em 2002 o cinema Sul-Coreano chamava a atenção do mundo por uma Obra prima que abordava vingança, loucura e violência de uma maneira maravilhosamente Original, se tratava do novo clássico “OldBoy”, do diretor Park Chan-wook. Onze anos depois, o filme ganhou um remake desnecessário ambientado em terras americanas, onde a trama foi reduzida, os conflitos simplificados e a história que era densa transformaram em um filmeco de ação totalmente esquecível para nós, Mas não para o Titan louco!! Até por que Josh Brolin (que interpreta Thanos) é o protagonista desta droga e, talvez até por isso, tenha mandado para a terra dos pés juntos três infelizes que também estavam no filme... Samuel L. Jackson (Nick Fury) que fazia o papel do carcereiro do protagonista, Pom Klementieff (Mantis) que faz a guarda costas do antagonista e Elizabeth Olsen (Feiticeira escarlate) que faz a filha do protagonista. Mortes merecidas.

Soldado Invernal & Homem–aranha: Como em toda Guerra existem injustiças ... para não dizer que toda guerra é injusta... Talvez por isso o Soldado Invernal e o Homem-Aranha tenham ido a óbito, pois nada justifica a morte dos dois... não lembro de nenhum filme, série ou tweet que justifique a morte de ambos, apenas o recado implícito de que coisas ruins podem acontecer para pessoas legais... Ou talvez por um ser um adolescente chato e o outro um ex-assassino de um grupo terrorista... Mas acho que foi injustiça de guerra mesmo.

Bom, os pecados que levaram os muitos dos vingadores a morte foram expostos, desmentindo o discurso de aleatoriedades na escolha de quem vive ou quem morre proferido pelo vilão Thanos, só não consegui entender porque o capitão América não morreu, mesmo seu interprete sendo o mesmo do “Tocha-humana” dos dois primeiros filmes do Quarteto Fantástico, ou mesmo a  Viúva Negra, depois que Scarlett Johansson fez “Sob a pele” e “Lucy” , mas como dizem, gosto é gosto e não chamam Thanos de “O Titan louco” à toa.


quinta-feira, 3 de agosto de 2017

CORRENTE DO MAL (2015) ou, Não era amor, era cilada!




Imagina que você está em uma festa e de repente seus olhos cruzam com uma pessoa linda. Ela te encara com interesse e te dá um sorriso, pouco tempo depois vocês estão saindo dali aos beijos e indo para o motel onde passam uma noite maravilhosa, mas ao acordar algo não está certo, você está amarrado em uma cadeira e a pessoa te explica que te passou algo, alguma coisa que nem ela mesmo entende, só sabe que tem que passar para outro para se livrar e lhe aconselha a fazer o mesmo, uma coisa que só quem tem pode ver (e que agora você vê!) e que vai te perseguir até que você repasse para outro, em uma maldição que vai retornando aos demais amaldiçoados assim que o portador atual morrer... Não parece terrível? Pois esse é o plot de "It Folows", ou como ficou nomeado aqui na parte de língua lusitana abaixo do equador "Corrente do Mal", filme de 2014, escrito e dirigido por David Robert Mitchell, que depois de anos de enrolação e cagaço finalmente assisti para minha grata satisfação.

O filme conta a história de Jay, uma garota que após se entregar ao rapaz com quem estava saindo (leia transar), recebe a notícia de que recebeu uma maldição transmitida pelo sexo e tal qual a história descrita acima, vai persegui-la até que ela passe para outra pessoa. Após se ver seguida por bizarros andarilhos que ninguém mais vê, Jay pede a ajuda de sua irmã e seus amigos e parte na busca de respostas, levando consigo uma força maligna em seu encalço e a dúvida de que se deve passar o mal a diante ou quebrar a corrente de alguma outra maneira.

Esse deve ser o filme que mais tempo posterguei para ver em toda minha vida, mas depois de mais de dois anos de cagaço e desculpa esfarrapada, posso dizer que valeu muito a pena ter reservado uma hora e meia da minha vida para assistir o que a trama de David Robert Mitchell tinha de bom a ponto de ser levada para Cannes e ser tão elogiado por tanta gente que o viu.

Para começar, o filme tem toda uma aura de nostalgia, lembrando em muito as produções de terror dos anos oitenta de diretores como Wes Craven, onde um "monstro" persegue um grupo de jovens com o único objetivo de aniquilar seus alvos, o que se soma a questão da maldição ter relação com sexo, remetendo às vítimas de Jason Vorhees de "sexta-feira 13", outro clássico oitentista. Esse clima de filme do passado ainda agrega estranheza ao ambiente por onde a história se desenvolve, pois observando a trama, não conseguimos definir com clareza, por mais que tentemos, em que época que a história se passa. Percebemos TV's de cubo e cinemas com pianistas ao vivo, filmes em preto e branco, mas aparelhos modernos, como celulares e Kindles, o que mais que estranhamento, acaba tornando a história atemporal. No entanto, se excluindo as homenagens e referências ao terror americano, toda a estrutura da história parece ter muito mais influência do cinema oriental com seu estilo investigativo e de tensão crescente, que prioriza mais o suspense e o susto do que as mortes e o gore, tal qual o primeiro filme da série "O chamado" e esse toque de terror oriental tão bem conduzido por Mitchell, foi o que mais gostei na trama.

De vagar e sempre
Assim como nossos amigos do outro lado do mundo, o diretor nos entrega uma história que te prende pelo ar investigativo, onde a protagonista busca entender o que está ocorrendo, e com o estranhamento que a trama vai passando ao nos apresentar o conceito dessa maldição, terminando com a compreensão, também comum nos filmes orientais, de que o mal é algo maior que o indivíduo e que é impossível escapar, sendo o máximo que se pode fazer é seguir suas regras para poder sobreviver. E Sabendo que não há escapatória além de seguir o jogo que a maldição impõem, o filme ganha uma nova camada ao se pensar nos acontecimentos que a trama deixa subintendido, como quando a protagonista foge para a praia ou quando ela resolve assumir um relacionamento firme.


Sobre a Fuga de Jay (a segunda ou terceira) que ocorre no segundo ato da história, ela sofre um acidente e, para deixa-la mais tranquila, seu vizinho pegador resolve fazer o sacrifício de fazer sexo com ela para que a maldição (que ele não acreditava ser real) passasse para ele e assim resolver o problema, o que dá muito errado (leia-se: se ferrou!), então em desespero, por ter presenciado algo tão chocante, Jay foge para a praia, onde a vemos se despindo e entrando na água após avistar bem a sua frente, três homens sozinhos em uma lancha; o que acontece não é mostrado, mas ela volta para casa com os cabelos molhados e passa dias trancada em depressão sem se sentir segura, até ser convencida pelos amigos a tentar "Matar" seu perseguidor e acaba se deparando com a criatura literalmente em cima de sua casa, ficando claro naquele momento que três elos da corrente foram quebrados, ficando a curiosidade de como tudo ocorreu com os azarados amigos da praia que pensaram ter tirado a sorte grande.

Outra situação parecida com a citada acima é quando Jay, já no final do filme, assume um namoro com um de seus amigos de infância (que faz parte do grupo que a ajuda) e este, já sabendo dos problemas que se envolver com a moça pode trazer, tem uma ideia terrível, mas engenhosa, que embora não comentada aparece em execução, que é Transar com prostitutas depois de levar a namorada para cama e assim empurrar a maldição para a maior distância possível, o que parece dar certo. No entanto, como uma boa história com influência do terror oriental, as pessoas que viram o outro lado não são mais as mesmas e a sensação de estranhamento não se dissipa mais, terminando o filme com o clima perpétuo de perseguição por parte de uma maldição, lenta mas focada e que a qualquer hora vai alcançar suas vítimas.

Gostei muito do filme. Ele não tem nada de especial além de boas referências, uma boa história para contar e um bom roteiro e direção ( o que já é mais que 90% dos filmes tem). Não há grandes efeitos especiais ou cenas de mortes arrepiantes, mas trabalha com qualidade na tensão e clima de suspense, te prendendo na cadeira na procura de respostas junto com os personagens e as situações que ficam subintendidas (que vão além das duas citadas acima) fazem com que a história fique viva na sua cabeça e imaginando o que mais pode ter acontecido e o acontecerá quando a criatura retornar até a protagonista e isso dá ainda mais credito ao roteiro de David Robert Mitchell.


Então se quiser curtir uma história tensa, cheia de mistério, bons sustos e com forte influência do cinema dos anos oitenta e oriental, assista "Corrente do Mal", mas acima de tudo lembre-se que, se em uma noite de festa, ou em um passeio qualquer, seu olhar cruzar com alguém desconhecido, que te oferecer um sorriso interessado e te arrastar pela mão até um lugar tranquilo, procure antes saber mais sobre a história dessa pessoa, pois nunca se sabe o que pode vir atrás de você depois.


sexta-feira, 9 de junho de 2017

O OPOSITOR - de Luis Fernando Verissimo


Luis Fernando Verissimo sempre foi um dos meus cronistas preferidos. Lembro de quando eu era adolescente, pouco antes do "advento da internet" (como diria o arquiteto em Matrix), aguardava a coluna semanal do autor no Jornal Zero-Hora (aqui do RS), para me deliciar com sua escrita brilhante e divertida. Eu chegava a recortar suas melhores publicações e guardar dentro dos meus livros, para , sempre que me faltasse algo bacana para ler, voltar ao bom e velho Veríssimo. Então veio a vida adulta, cresceu meu interesse por ficção científica, os filmes e séries de super-heróis dominaram o mercado, a franquia Star Wars ressuscitou e por muito tempo deixei o autor de lado, com seus quatro livros que tenho, esquecidos na estante; até que no último domingo chuvoso e de internet vacilante, meu subconsciente, procurando algo que revertesse a sensação de tédio que eu sentia sentado o dia todo na frente da TV, colocou na minha mão "O opositor" obra de Veríssimo, integrante da coleção "cinco dedos de prosa" da editora Objetiva e, como uma epifania nascida da contemplação de uma obra da renascença, tudo que eu tinha ignorado com a distancia dos textos do autor, voltou a fazer sentido novamente.

O Opositor, conta a história de um repórter, que é designado por um jornal de São Paulo, para ir a amazônia fazer uma matéria especial sobre ervas típica e plantas alucinógenas. Pesquisando sobre o assunto em Manaus, ele acaba conhecendo Serena, uma especialista na flora amazônica, que possui a peculiaridade de ser meio Dinamarquesa e meio índia (meio a meio mesmo, com um lado do corpo moreno e o outro loiro) e não possuir os polegares; Serena lhe apresenta a uasca e oferece seu corpo e após dias de uma viagem de prazer e delírio, proporcionados pelo sexo e pelo alucinógeno, nosso repórter resolve relaxar em um bar e se refrescar com os sucos típicos da região. É quando conhece o Polaco, ou Josef, o míssil, um esfarrapado bêbado, de rosto vermelho e sotaque europeu, que vai lhe contando uma fantástica história de conspiração que envolve um grupo secreto que comando o mundo, uma misteriosa ceita que, interpretando os afrescos de Luca Signorelli, nega a evolução humana extirpando os polegares de seus seguidores; conta-lhe sobre a criação do vírus mais mortal da história por um desconhecido cientista Americano e sua caçada por parte dele, Josef, um "opositor" (assassino) para que todos os segredos permanecessem desconhecidos do mundo, até ali.

Esse livro, foi a primeira história mais longa que li do autor, e hoje, relendo, posso dizer que tive a mesma sensação de maravilhamento de quando o abri a primeira vez, em 2004. Verissimo consegue, de maneira simples, como é sua melhor característica, utilizando poucos elementos e personagens marcantes, entregar uma história extremamente divertida e reafirmar, mesmo com uma obra encomendada por uma coleção editorial, todo seu talento.


Pela facilidade como o autor escreve e sua capacidade de ser sucinto, sem deixar nada de fora, o livro é de leitura rápida, principalmente por ser composto de apenas cento e quarenta páginas. No entanto, seu tamanho enxuto não o torna menos relevante ou faz menos justiça a qualidade do autor, muito pelo contrário, nessas cento e quarenta páginas estão todos elementos típicos da escrita de Veríssimo, a começar pelo humor. Seus estilo debochado de contar a história e os elementos fantásticos e conspiratórios que ele introduz, alternam a experiência de quem lê de "engraçado" para "faz sentido" o tempo todo e as figuras exóticas que passam por sua história são tá fantásticas que bem poderiam ser reais, como a mestiça Serena, que é meio-a-meio índia e dinamarquesa, tendo em seu corpo seu equador particular e a frieza e calor de dois hemisférios distintos, ou o galante e erudito bêbado Polaco, portador de uma história fantástica e de dúvidas que deixa pairando na mente do protagonista quando a história se encerra, sem contar o comerciante Turco dono do bar, figura carimbada na literatura brasileira e do chefe arrogante de caricato do protagonista, todos muito reais, apesar de suas peculiaridades primorosas criados pelo autor.

Verissimo
O ar cinematográfico é outro elemento característico de Veríssimo e que não falta a esse livro. Tal qual a série de contos de Ed Mort, nessa história também temos um mistério que lembra de longe os antigos filmes de detetives, com uma investigação efetuada por um agente de uma agência secreta de assassinos, a caça de um misterioso cientista e que termina no meio da Floresta amazônica em um final dramático e repleto de ação, que não deixa nada devendo as teorias de conspiração mais bem elaboradas e que, se um dia os deuses do cinema, por sorte, tropeçarem nessa pequena obra, com certeza daria um ótimo filme, Talvez até, com Polaco sendo interpretado por Howard Something..Talvez!

Para finalizar, ainda temos as ferramentas narrativas que Verissimo utiliza para contar a história. Tal qual a embriaguez do Polaco ou a o estado de semi-torpor do protagonista causado pela a uasca, a história parece cambalear, fazer looping, como se entrasse a todo momento em uma espiral e voltássemos a falar novamente sobre os mesmo assuntos com atenção em outros detalhes. Assim, pelo ponto de vista de outros e comparando com os outros personagens, vamos tendo pistas de que as coisas que o Polaco vai contando não são tão absurdas e que a mente do protagonista está mais aberta para aceitar a verdade que ninguém mais quer, fazendo um link diretor entre a uasca, as ceitas Italianas, o Grupo secreto, a teoria da conspiração e os sucos de Manaus, de forma que a trama se fecha sem deixar nenhuma ponta solta, a não ser que aquelas cento e quarenta páginas se duplicasse, para podermos ler mais.

Pois bem, O Opositor é uma excelente diversão para uma tarde de domingo chuvosa. Um livro que, embora pequeno, trás todos elementos que transformaram Luis Fernando Veríssimo no grande escritor, e que é um achado que me iluminou nesse último final de semana, tanto que, despertou meu apetite e me fez separar outro livro do autor caso a chuva teime em não ir embora. Mas enquanto o fim de semana não chega, vou dar uma olhada nas ultimas colunas do autor e , quem sabe, recortar do jornal (ou colar em uma pasta no PC) suas melhores histórias, para ler, quando algo bacana para ler me faltar.




quinta-feira, 18 de maio de 2017

O HOMEM DUPLO ou um reflexo na escuridão (A Scanner Darkly) - de Philip K. Dick


No decorrer da minha vida de leitor, alguns livros ficaram marcados nas minhas lembranças quase como um amigo que viveu uma história única à meu lado e que por vezes tenho vontade de visitar para conversar sobre aqueles bons momentos. Um desses livros, é o fantástico "O Homem duplo", de Philip K. Dick, que tinha lido a quase dez anos e que tive o prazer de reler recentemente, me deixando novamente maravilhado pela história fantástica, de um mundo totalmente monitorado e tomado pelas drogas, mas onde Dick consegue com sua genialidade, em sua obra mais atual e madura, dar vida a seus personagens de uma maneira original e extremamente humana.

Capa da edição da Rocco
"O Homem duplo", como citado acima, se passa em um futuro onde o tráfico de drogas venceu e grande parte da população é formada por traficantes e usuários; a polícia monitora a todos que quiser e seus agentes trabalham em tamanho sigilo, que nem ao menos se conhecem, utilizando, quando presentes na delegacia, uma roupa holográfica que não permite suas identificações. Nesse mundo, somos apresentados a Fred um policial disfarçado e viciado na perigosa substância D, que é infiltrado, com o nome de Bob Arctor, entre um grupo de drogados e acaba com a missão de investigar a si mesmo. Carregando o peso de seus papéis contraditórios e vítima de seu vício e solidão, Fred/Bob Arctor passa a ter seguidas alucinações e dúvidas sobre sua vida, vindo a esquecer se ele é na verdade o traficante Bob, que deve ser vigiado, ou o policial Fred que deve prende-lo.


Não sei dizer se esse é o melhor livro do autor, afinal Dick escreveu mais de cinquenta obras e eu não tive o prazer de ler mais que dez delas; mas, dos que eu li, essa parece ser sua história mais madura e sensível. O motivo disso parece passar pelo fato que, assim como o protagonista, Philip K.Dick, também viveu experiências com drogas e, conforme a homenagem que faz ao final do livro, perdeu diversos amigos em decorrência do vício, isso faz com que o livro pareça ser escrito com muito mais sentimento e carinho que as demais obras do autor, onde a especulação e a sociedade parecem tomar a frente dos indivíduos. Em "O homem duplo" os personagens se destacam muito mais que o mundo que os cerca, sendo que somos informados sobre essa realidade, do mesmo modo que os superiores de Fred/Bob Arctor, através dos olhos de outras pessoas e essa maneira de nos mostrar o universo onde a história se desenrola, retira da trama todo maniqueísmo possível, fazendo com que não sobre espaço para vítimas ou algozes, apenas para pessoas, que assim como o protagonista, vivem múltiplos papéis, com todos seus erros, dúvidas e acertos, e, essa complexabilidade, transforma o livro em algo único e especial.



Mas mesmo que a sociedade onde a história acontece fique relegada ao plano de fundo da trama, conseguimos sentir a opressão e o caos controlado que dela emana, podendo classifica-la como uma forma de distopia. Nesse mundo de "O Homem duplo", onde as ruas são tomadas de traficantes e usuários, nem os próprios agentes estão imunes a vigilância intensa e a corrupção, acabando por viverem muito mais na zona marginal onde foram infiltrados, e se acostumando com essa realidade, do que tendo acesso aos benefícios dos que pagam o seus salários e recompensas, que é o grupo apelidado de "caretas". Esse grupo, que é composto pelas pessoas mais abastadas (ou menos ferradas), vive distante das realidades das ruas, ainda seguindo o modelo americano de vida e usufruindo de todas as garantias que sua posição permite. Essa divisão da sociedade, tendo os caretas como grupo dominante, é apresentada de maneira sutil pelo autor, mas marca a cisão social que coloca um pequeno grupo sobre o restante da população e isso fica exemplificado quando o protagonista se vê obrigado, já no início do livro, a palestrar (utilizando seu traje holográfico) para um grupo desses indivíduos em um club fechado e contar para eles o que vê diariamente nas rua, fato que inimaginável para eles; assim como quando, conversando entre si, os amigos de Bob especulam o que existe dentro de um shopping, um lugar onde pessoas do tipo deles jamais entrariam; isso vem a se somar ao fato de que na história, os caretas são sempre mencionados e nunca abordados ou presentes diretamente na trama, tudo que vemos se passa nas ruas, longe da elite, que fica inatingível para aqueles para os quais sobrou apenas o vício e o descarte como alternativa.


poster do filme
No entanto, tanto os personagens marcantes, quanto o universo onde eles existem, não passariam apenas de uma boa ideia, caso não fosse a maneira primorosa como o autor resolveu contar a história. Munido de uma narrativa que oscila entre o trágico e o cômico, Philip K. Dick, consegue ir além da sensação de estranheza e reflexão de seus textos, mas sem fugir da base de sua obra, construída em cima do "O que é real?", o que nunca foi tão bem abordado quanto nesse livro, onde nem mesmo o protagonista sabe quem realmente é. E essa confusão na mente de Bob Actor vai surgindo de forma quase imperceptível com a inclusão de frases em alemão no meio do texto, que são a manifestação dos sintomas do abuso de drogas no personagem, em que Dick utiliza trechos de "Fausto" de Goethe, uma história onde o herói busca enganar o diabo, para descrever, tanto o início da confusão mental do protagonista, como para indicar suas intenções e questionamentos subconscientes, pois afinal quem seria o diabo de Arctor? Os drogados e traficantes com quem ele convive? A sociedade policial que ele representa? Ou ele mesmo que transita entre esses dois mundos?

O livro ainda é repleto diálogos brilhantes e muito engraçados por parte dos amigos de Bob Arctor, que assim como os pequenos e fantásticos contos, que aparecem como "trips" devido ao uso de drogas pelos personagens, dão o tom de insanidade da trama e coroam o talento do autor. Dentre esses diálogos e contos, o que é mais marcante para mim é o da tentativa de suicídio de Charles Freck, onde desiludido com o mundo, um dos amigos de Arctor resolve tomar uma overdose regada a vinho barato e transformar seu sacrifício em um ato de protesto. Assim ele planeja ser encontrado em sua cama com um exemplar de "A nascente" de Ayn Rand, para demonstrar que era um super-homem incompreendido pelas massas e, uma carta de reclamação devido ao cancelamento de seu cartão de crédito, para culpar o sistema por sua morte; mas no último minuto ele resolve tomar a overdose com um vinho bom, compra um mondavi cabernet sauvignon e toma as pílulas com o vinho, fica esperando deitado e percebe depois que não se tratavam de barbitúricos, mas um psicodélico vagabundo, minutos depois ele vê ao lado de sua cama uma criatura extra dimensional cheia de olhos trazendo consigo um pergaminho com todos seus pecados, em sua trip, mil anos depois a criatura ainda lia seus pecados do jardim de infância, dez mil anos depois os da sexta série, Freck olha para criatura, meditando sobre o que estava acontecendo e pensa..."Pelo menos bebi vinho do bom!".

Freck em seu "Suicídio" no filme de 2006

Aliás, esse trecho de "O homem duplo" citado acima, que exemplifica o humor e talento do autor, foi o que me levou a procurar esse livro a dez anos atrás. Tudo devido a adaptação da história para o cinema em 2006, roteirizada e dirigida por Richard Linklater (diretor de Escola de Rock e Boyhood) onde a cena de Charles Freck é apresentada de forma idêntica a no livro e ainda com a vantagem de ser narrada com uma gravação do próprio Philip K. Dick, que quando assisti e me deixou boquiaberto. O filme, que é a adaptação mais fiel dentre as inúmeras histórias do autor que foram levadas para o cinema, contou com um elenco de peso, que além de Keanu Reeves, como Bob Arctor/Fred, tinha Robert Downey Jr, como Jim Barris, Woody Harrelson, como Luckman e Winona Ryder, como Donna e, se tornou famoso, ao utilizar uma técnica de pós produção que aplica uma pintura ao filme, dando a ele a aparência de animação, fato que o diretor afirmou ter inserido para causar uma sensação, a quem assistisse ao filme, semelhante a de como um usuário de LSD percebe o mundo durante uma viagem de drogas.

Capa da edição da aleph
Assim como o sua adaptação cinematográfica, o livo, apresenta muito pouca tecnologia futurista envolvida na trama, tendo em vista que é uma história de ficção científica e escrita por PKD, o mestre em criar aparelhos malucos com nomes estranhos. Claro que ainda existem os "Scanners em cubo 3D" e os "Cefscópios", mas esses equipamentos estão ali só para lembrar que a trama se passa no futuro e, a decisão de deixar mais essa questão como pano de fundo, contribui para a maturidade do livro, que citei no inicio do texto e acaba por coroar o autor, que tanto se empenhou em imaginar o futuro, com a visão de futuro bem mais próxima da real, do que em qualquer outro de seus livros e isso acontece justamente na história onde ele decide olhar mais para trás em sua própria vida, do que pensar trinta anos na frente para a sociedade, o que torna "O homem duplo" sua obra, dentro do possível, mais pé no chão.


"O Homem duplo" de Philip K. Dick passou novamente pela minha vida como um amigo que mora longe, mas que com quem sei que sempre posso contar. Uma história fantástica, vivida em meio as drogas e repressão, mas que deixa de lado o coletivo e a especulação futurista e, vai mais a fundo no indivíduo, abordando a ignorância, o medo, a solidão e até o vício como conceitos que nos tornam humanos. O livro mais maduro e pé no chão desse grande nome da ficção científica e meu escritor preferido (como eu não canso de lembrar) e leitura obrigatória não apenas para quem é fã de PKD ou ficção científica, mas para quem aprecia uma boa história. A editora ALEPH relançou o livro recentemente com o título "um reflexo na Escuridão" (título bem mais próximo do original em inglês).  Minha dica é, pegue o livro, sente-se em um lugar bacana, abra um bom vinho e deixe sua mente viajar nessa trip distópica futurista e caso, por algum motivo, o livro não lhe agradar, relaxe...pelo menos você terá tomado um vinho do bom!!



                                           Trailer do filme de 2006

sexta-feira, 5 de maio de 2017

THE WARRIORS - os selvagens da noite (1979) #Zerocult 6


Nova York, 1979. Antes da Máfia ser esmagada, antes da economia americana voltar a crescer, antes do talco sem cheiro dominar os embalos de sábado e, principalmente, antes de proibirem crianças com menos de seis anos de escreverem um roteiro para cinema, um grupo de nove membros de uma turma da pesada parte em uma fuga alucinante depois de serem acusados de um crime que não cometeram. Sim meus amigos! hoje falaremos sobre "The Warriors", ou como foi chamado em nossas terras tupiniquins, "Guerreiros, os selvagens da noite", a maior Ode já feita ao tosto mundo das gangues novaiorquinas e que, além de comprovar que entre os anos setenta e oitenta o mundo entrou em outra dimensão, foi a produção responsável pela uma frase que me persegue por décadas:

"Guerreiiiroosss... Venham aqui Brigaaarrrr!"


"The Warriors", conta a história de nove representantes da Gangue dos Guerreiros, originária de Coney Island, que, assim como outras cem gangues da cidade, é convidada a participar de uma "assembleia" organizada por Cyrus, o líder da maior gangue de Nova York, "Os Riffs", com a intenção de organizar e unir os grupos divergentes e assim dominar a cidade. A reunião, que ocorre no território dos Riffs, no Bronx, começa a empolgar os representantes das Gangues, mas no meio do discurso, Cyrus é assassinado por Luther, o líder do "Rogues", que percebendo, em meio a confusão, que um dos membros dos Guerreiros viu quem atirou, os incrimina, fazendo com que a turma de Coney Island passe a ser alvo da perseguição de todas as outras gangues em uma fuga do Bronx até o seu território, a mais de trinta e cinco quilometros de distância. Restará agora aos Guerreiros, provarem que realmente são uma "Turma da pesada".


O filme é um clássico, não tem como não falar isso. Sua trama, mesmo datada, ainda hoje consegue prender o expectador, mesmo que seja para arrancar dele umas boas gargalhadas. Baseado no livro homônimo de Sol Yurick (que no Brasil se encontra a venda pela Darkside Books), com uma forte inspiração no musical clássico "West side story", o filme foi roteirizado e dirigido por Walter Hill, que além dessa pérola das madrugadas, dirigiu "Ruas de Fogo", que é outro clássico do corujão, "inferno vermelho", com Schwarzenegger e Jim Belushi e o "Lutador de Rua", com o mito Charles Bronson, além de produzir "Alien - o oitavo passageiro", e trouxe no elenco uma galerinha jovem que, fora dois ou três não tiveram uma vida muito produtiva e extensa no meio do cinema. Mas quem se importa com a vida profissional dos atores, quando temos diante de nós uma obra de tal magnitude, cheio de personagens marcantes e , acima de tudo, abençoada pela maravilhosa dublagem brasileira do início dos anos oitenta?



Os personagens são fantásticos e tem muito para falar ao mundo de hoje sobre personalidade. Para começar, os protagonistas se deslocam pela noite Novaiorquina, ostentando apenas um colete de couro vermelho, suas calças jeans e tênis, dentre eles, temos Cleon, que usa uma bandana tigrada na cabeça e Snow, que possui um black power aerodinâmico, mas nenhum dos outros oito protagonistas, chega aos pés de Cochise, o guerreiro, que além de ser dublado pelo mesmo dublador do Eddy Murphy, é um cidadão afro-americano, que além do blackpower da moda daqueles dias, utiliza adornos indígenas, um tapa na cara de quem hoje em dia vem falar de moda étnicas ou apropriação cultural. Cochise é o meu personagem preferido, sendo seguido de perto por Luther, o líder assassino dos Rogues, que do alto de seus um metro e sessenta, com sua cara quadrada e voz de taquara rachada, é o emissor da frase que me atormenta e a qual já cite acima, mas que além de tudo, ainda traz em si o mais clássico talento para agente do Caos, sendo o responsável por toda confusão e azar, que os guerreiros e os Riffs acabam vivenciando.

Guerreiiiroossssss
Falando da Voz de taquara de Luther, é impossível assistir ao filme dublado e não ficar completamente hipnotizado pela dublagem brasileira. Com vozes consagradas como a do ator Nizo Neto (filho de Chico Anísio (que dublou Ferris Bueller e o Presto de "a caverna do Dragão)) no papel de Vermim; Mário Jorge de Andrade ( Eddy Murphy) como Cochise e o dublador clássico do Stallone (que esqueci o nome) dando o sotaque malandro brasileiro ao Luther. Nesse show de dublagem, temos o prazer de ver traduzidas para nossa língua as gírias americanas do final dos anos setenta e o resultado é maravilhosamente bizarro, não faltam "Aê meu cumpadi", "acho que cês tão tudo virando a mão" e até a frase de ouro do filme, que é proferida quando o líder dos fugitivos, forjado no calor da fuga, fica a sós com a "mocinha" e no meio de uma conversa filosófica sobre a vida e perspectivas, fala para a jovem: " Vem cá, tu é chegada em uma horizontal, heim! Já pensou em amarrar um colchão nas costas pra facilitar?!". Pura elegância!

Vocês sacarammm??
Fora suas falas, muitas vezes sem sentido ou seus tropeços de roteiro (como: de onde o Snow tirou aquele coquetel molotov?) , a produção traz cenas bem legais de luta. Como quando Cyrus é assassinado e o Líder Guerreiro Cleon, vai conferir o que houve e tem que se defender da multidão na mão, ou quando Cisne ( que passa ser o líder) bola uma armadilha em um banheiro contra a gangue dos patinadores e a porrada come solta, com direito a taco de basebol quebrado em barriga e porta quebrada com a cabeça.


Além disso, não me ocorre nenhum outro filme de fuga nesse mesmo estilo antes de "the Warriors", me passando a sensação de que Apocalypto", filme de Mel Gibson de 2006, que é basicamente uma fuga de um território inimigo até o seu, tem muito de inspiração na obra de Walter Hill de 1979, assim como o último "Mad Max"e isso não é pouco.
Para Complementar sobre a influência e carinho que o filme cativa, os irmãos Russo, que dirigiram Capitão América 2 e 3, anunciaram a produção de uma série baseada no livro/filme "The Warriors" e que deve chegar para nós nos próximos anos, mostrando que muita gente ainda guarda esse filme no coração e sonha em usar aquele colete de couro vermelho.

Pois bem, "Guerreiros - Os selvagens da noite" é um desses clássicos cults, que por muito tempo habitaram as madrugadas dos canais abertos e que todo mundo conhece ou já ouviu falar. É a representação máxima, embora muito caricata, de um período histórico americano onde a falta de perspectiva é o que norteava a vida de muitos jovens e que até hoje encanta pela melancolia ou pelo tosco carismático, suas falas são datadas, o roteiro quase não existe, a estética é brega, mas mesmo assim o filme é extremamente divertido, o típico filme que é tão ruim, que dá a volta e fica ótimo, que tanto merece, como deve ser assistido, entendeu bem aê ô meu chegado?!

Da esquerda para direita: Snow, Ajax, Vermim, Cowboy, Cochise, Rembrant, Foxy, Cisne ( The Warriors)



terça-feira, 27 de setembro de 2016

OBLIVION (2013) - Quando a ficção científica é boa #esquerda_rewiew 4


Um fato que, de uns tempos para cá, vem perturbando meus pensamentos, é imaginar como será nossa comunicação com alienígenas. Comecei a pensar sobre essa situação, faz uns dois meses, depois de rever o ótimo filme "Contato", que é baseado no livro do mesmo nome do grande Carl Sagan e o assunto passou a me seguir desde então, com o trailer de "A chegada", com Amy Adams, que explora a difícil primeira comunicação entre humanos e uma raça de extraterrestres, assim como toda questão da aparição de um disco voador na segunda temporada de "Fargo", onde o personagem de Ted Danson, questiona sobre se o grande problema da raça humana é não saber se comunicar, finalizando com o fato de ter lido "Um estranho numa terra estranha" de Robert A. Heinlein, que conta as desventuras de um humano criado por marcianos e que, trazido para a terra, não consegue compreender os conceitos e intenções humanas.

Estava com todos estes devaneios na mente (sei lá eu porque), quando me deparei com um filme, que a muito eu tinha descartado, por acreditar que se tratava de mais um raso caça níqueis estrelado por Tom Cruise, mas que ao assistir, encontrei uma ficção científia de qualidade, com uma trama bem elaborada e repleta de conceitos bacanas, se trata de "OBLIVION", escrito e dirigido por Joseph Kosinski e lançado pela Universal em 2013, que me fez lembrar o porquê eu adoro tanto esse gênero e colocou meu pensamento sobre comunicação com extraterrestres em outro patamar.


O ano é 2077 e o planeta terra foi destruído durante uma guerra entre os humanos e uma raça alienígena conhecida como Saqueadores. Durante o confronto, os invasores destruíram a lua, iniciando uma série de terremotos e tsunamis, causando destruição e bilhares de mortes, em respostas a raça humana utilizou então seu arsenal nuclear para vencer a guerra o que deixou o planeta inabitável, forçando a humanidade a construir a "Tet", uma estação espacial que, mais tarde, passou a servir de posto intermediário entre nosso planeta e Titã, a Lua de Saturno que se tornou o novo lar da raça humana, no entanto, para que a missão de Titã tivesse total sucesso, alguns humanos foram enviados à terra, encarregados de ajudar a fornecer recursos naturais essenciais a vida nas novas instalações, entre eles Jack Harper (Cruise), um técnico de drones, que trabalha na torre 49 junto com sua amante e oficial de comunicações Vika Olsen (Andrea Riseborough).

Tanto Jack como Vika, tiveram suas memórias removidas para não comprometerem sua missão na terra e passam todos os dias cumprindo suas obrigações de reparo de drones e vigilância das torres de drenagem de água e segurança do perímetro. No entanto, Jack , não se conforma com a ideia de ter de deixar o planeta e, somado a isso, começa a sonhar repetidamente com uma mulher e ter flashs de memórias de um tempo antes da guerra, mais de cinquenta anos antes dele mesmo nascer e essa confusão em sua mente vai crescendo conforme ele sofre a tentativa de captura dos remanescentes dos saqueadores e se agrava quando, após encontrar um sinal sendo enviado para fora do planeta e se depara com os destroços da Nave Odisseia, onde ele vem a encontrar exatamente a mulher com quem vinha sonhando (Olga Kurylenko) e que, mais tarde, lhe conta que era parte de uma missão secreta e que poderá revelar qualquer coisa só depois de estar der posse da caixa preta de sua nave, e , é nessa ajuda a encontrar o item desejado pela misteriosa sobrevivente, que Harper acaba sendo capturado pelos saqueadores, que se revelam totalmente diferentes do que lhe tinha sido informado pelo comando da Tet e esse contato mais do que sua percepção, mudará para sempre a realidade onde Jack acreditava viver.


Vika
Cara! Depois que assisti esse filme me senti muito culpado, por te-lo ignorado na época do lançamento. A história é extremamente interessante e divertida, com reviravoltas que te pegam de surpresa e, o mais legal, é que todas essas surpresas e mudanças ocorrem apenas depois do meio do filme, o que gera um clima de suspense em tentar imaginar o que está acontecendo realmente no território da torre 49.

Quanto a atuação, não tem nada de mais, Tom Cruise faz o papel de Tom Cruise, atirando, correndo, sorrindo e correndo novamente, enquanto as atrizes, elas fazem o papel de mulheres que contracenam com o Tom Cruize (fora a Emily Blunt, que mostrou pra ele quem manda em "no limite do amanhã") , sem demérito, mas mesmo com os motivos da personagem de Andrea Riseborough e da importância da aparição da personagem de Olga Kurylenko, ambas são ofuscadas pela trama e pelo Gigantesco Plot Twist que o filme tem bem no meio e que, para seguir minha análise, vou ter de contar.


ALERTA DE SPOILER




É TUDO MENTIRA!!!! Não teve guerra nenhuma entre humanos e alienígenas, os humanos não venceram e foram para Titã e muito menos a Tet é uma estação espacial. A verdade é que a Tet é uma máquina consciente vinda ninguém sabe de onde e que tem como unica finalidade consumir (isso mesmo, como você aí que troca de telefone todo ano). A história verdadeira é que em 2017 a Nasa detectou esse objeto alienígena perto de Saturno e resolveu enviar um grupo de astronautas para verificação e contato (Aí é a parte forçada, pois se hoje não conseguimos mandar pessoas para Marte, imagina para saturno? E porque não mandaram uma sonda?) , dentre os oito enviados astronautas, estavam o comandante Jack Harper e a oficia Vika Olsen e a Dra. Julia ,que era esposa de Harper (bum minha cabeça explodiu!!) , chegando próximos a Tet, Harper e Vika decidem desacoplar o módulo onde Julia e o resto da tripulação hibernava e são levados para dentro da Tet, eles acabam sendo clonados aos milhões e a Tet, após destruir a nossa lua e causar as catástrofes naturais descritas acima, manda um exército de "Tom Cruises" invadir e finalizar o serviço de extermínio dos humanos. Após isso, a Tet cria as torres de vigilância e coloca um casal de Harpers e Vikas em cada um, mentindo que suas memórias foram apagadas, prometendo que um dia irão para Titã e dizendo que as zonas fora das linhas marcadas são radioativas, quando na verdade, essas zonas são os territórios das outras duplas de clones. Enquanto isso o módulo com a Dra Julia ficou vagando no espaço durante sessenta anos e só foi trazida de volta, graças ao sinal que os humanos remanescentes (aqueles que no inicio de filme acreditamos que são os alienígenas) enviaram.

Quando essa maluquice toda é revelada, o filme ganha ares de distopia total. Não existe mais esperança para o protagonista, que entende que nem mesmo os sentimentos que ele nutre pela personagem de Olga Kurylenko são reais, restando a ele o caminho desenhado pelo personagem de Morgan Freeman (que se apresenta como o líder dos sobreviventes humanos) e isso torna o arco final do filme bem pesado e ao mesmo tempo muito bacana.

Um dos Drones. Inspiração em Matrix
O filme apostou em alguns conceitos que lembram muito Matrix. A ideia de uma inteligência artificial que ilude e manipula humanos criados em laboratório para conseguir o que quer, o cara sábio que dá a pista para o protagonista encontrar a verdade (Morgan Freeman está até mesmo sentado na mesma posição que Lawrence Fishburne em Matrix quando faz isso) o fato desse inimigo estar quase que inatingível e possuir drones armados para caçar os sobreviventes, tudo lembra muito o filme das irmãs Wachowski, com uma pitadinha de como os clones deveriam se chocar por saberem que são cópias de outra pessoa que faltou em "A ilha" de Michael Bay.

No entanto, mesmo com esses conceitos que o filme pega emprestado, ele não perde sua qualidade, pelo contrário, ele usa tudo como uma homenagem e mantém sua ótima história e enredo como destaques e consegue prender o expectador atento a todas revelações que vão sendo feitas até o derradeiro embate entre o protagonista e a Tet.

A TET
A Tet, mesmo sendo apresentada como uma espécie de Matriz (de Matrix) mas atuando no plano físico, consegue ser uma ideia bem assustadora e marcante, lembrando em muito o Brainiac (inimigo do Superman) que é uma inteligência artificial alienígena, que racionalizou que o maior problema dos humanos são...os humanos e resolveu dar fim no problema; com a diferença que a Tet é egoísta e quer consumir os recursos da terra para se manter, como sua origem é desconhecida, pode-se pensar que ela foi criada por uma civilização muito avançada, se rebelou contra a mesma e a destruiu e partiu em busca de mais, algo que , embora longe de nossa realidade, pode ser pensado em um futuro humano, quem sabe?!

Claro que não vou contar o final do filme, mas o que posso dizer é que lembra em muito o final de "No limite do amanhã", também com Tom Cruise (sempre ele), mas em "Oblivion" temos uma mistura de redenção, tristeza , esperança e "WTF???". Mas pelo todo da produção, em especial por como a história é apresentada, gostei bastante do filme e espero que o ator continue emprestando sua carinha para produções de ficção científicas tão bacanas. Então aproveita que o filme está passando toda hora na TV a cabo e para para dar uma olhada, se você gosta ficção científica, garanto que vai se comunicar muito bem com o que a trama apresenta e que para mim foi outro nível em questão de contato e comunicação com alienígenas que o cinema vem apresentando ultimamente. Um filmaço, que por muito tempo, para coincidir com o título do próprio filme, eu tinha esquecido.