Em junho de
2016, Após assistir o ótimo filme argentino "Relatos selvagens", eu
questionava o porquê o Brasil não produzia cinema no mesmo nível de nossos
vizinhos Hermanos, que conseguem entregar bons filmes com temas variados, sem
se prender aos problemas existenciais de sua classe média ou a violência que a
pobreza enfrenta; a opção que encontrei na época passava pelas produções
autorais e de menor orçamento, como por exemplo, os curtas de terror de Dennison Ramalho, mas o pouco alcance desse tipo de produção veio depois a me
parecer um caminho estreito demais para fomentar investimento e qualidade em
nossa indústria cinematográfica, que necessitava de algo maior para se tornar visível.
Dois anos depois, a semente desse cinema de nicho que
eu havia enxergado como opção parece ter começado a germinar com a estreia de
um filme que foge do que é comumente feito no Brasil ao misturar elementos de
terror sobrenatural e crítica social, além de inovar em sua narrativa e
plasticidade. Trata-se de "As boas maneiras", filmede Juliana Rojas e Marco Dutra, estrelado por
Marjorie Estiano, Izabel Zuaa e Miguel Lobo, que estreou dia sete de Junho,podendo ser aquele algo a mais que trará um novo
frescor a industria cinematográfica BR.
O filme, que se divide em duas partes, acompanha a
história de Clara (Izabel Zuaa) uma melancólica enfermeira, que é contratada
para "ajudar" na casa e ser a babá do filho ainda não nascido de Ana
(Marjorie Estiano) e que , conforme a relação das duas vai se estreitando,
começa a notar o estranho comportamento de sua empregadora em noites de lua
cheia e procurar por respostas. Já na segunda parte, encontramos Clara, quase
dez anos depois, muito mais confiante e morando na periferia com seu filho
adotivo Joel ( Miguel Lobo) que guarda um segredo que o impossibilita de
aproveitar ao máximo sua vida e que põe tudo em risco quando descobre o que
Clara escondia de seu passado e parte para a cidade em noite de lua cheia.
Embora na minha sinopse a trama pareça dar toda
atenção a uma história clássica de lobisomem, o filme na verdade segue a
cartilha de toda boa história de ficção científica ou fantasia e usa esse
elemento fantástico muito mais como plano de fundo para expor de forma sutil os
problemas de nossa sociedade, do que aborda a lenda e maldição da licantropia.
Sendo assim, "As boas maneiras" é mais um drama que fala de amor,
sacrifício e tolerância, do que um filme de monstro pensado para dar sustos.
Clara e Ana
Podemos constatar o comentado acima apenas analisando
o próprio nome do filme, que faz alusão a uma conversa que Ana tem com Clara,
quando esta lhe serve sopa no jantar e que a remete a aulas de etiqueta que ela
fez quando era mais nova. Ana conta que era ensinada a tomar sopa sem fazer
barulho e andar com um livro na cabeça para treinar a postura (coisa que ela
não consegue quando tenta demonstrar, indicando sua falta de aptidão para fugir
de quem realmente é ) essa conversa, que pode passar despercebida, descreve
toda a dura relação dos personagens centrais com a sociedade que as rodeia e a
qual tentam se adaptar e manter com o máximo esforço a convenções, seja a
mulher negra, pobre e lésbica, que tem que se sujeitar a acumular tarefas em um
emprego para poder pagar suas contas, seja a mulher rica, que seguindo seus
desejos é renegada pela família e expulsa de sua casa por desonrar seu nome ou
a criança que, sem conseguir escapar de como nasceu, é trancada em um quarto
blindado em noites de lua cheia. Todos ali são párias, por não conseguir fingir
por completo suas naturezas, por não seguir as boas maneiras.
Podemos até mesmo traçar um paralelo entre o
aparentemente frágil Joel com a história de muitas crianças e jovens das
periferias. Criado na pobreza se sente abandonado e se vê impossibilitado de
participar das experiências que a vida lhe mostra devido à condição em que
nasceu. Como no caso de muitos desses jovens a revolta também é o escape de
Joel na busca por liberdade e o erro fruto da falta de conhecimento sobre si
mesmo, o que, aos olhos da sociedade, o apaga como pessoa e o enxerga apenas
como um monstro.
Eu era um lobisomem juvenil
Mas longe dessas interpretações subjetivas, o filme me
surpreendeu, além de pela história com pitadas de terror e o aprofundamento dos
personagens; pela sua estética e inovação na narrativa. A forma como o filme
mostra São Paulo dividida entre uma zona de arranha-céus espelhados e uma
periferia imensa e a transformação de menino para monstro quando ele atravessa
a ponte; as ruas escuras cheias de luminosos dão um ar de cinema coreano à película
e os efeitos especiais bem bacanas para nosso pobre cinema além de não
decepcionar prestam homenagem ao clássico “Um lobisomem americano em Londres”,
sem contar que no primeiro ato, temos a história de Ana sendo contada através
de desenhos e no ato final ainda vemos um trecho musical, nada descambando para
cafonice ou galhofa.
No entanto, como tudo na vida esse filme também tem
seus problemas, e, um dos que mais me incomodou foi a extensão da história. A
produção tem duas horas e dez, o que não é lá um grande tamanho, no entanto, se
tratando de uma história que foca em apenas três personagens, parece que há uma
barriga desnecessária na trama. Há também algumas falhas de roteiro que não me passaram
como o fato de ninguém vir atrás do menino Joel, quando este é levado por Clara
ou como ela construiu um quarto blindado no fundo da peça onde morava. Mas todos
esses pequenos problemas não apagam o mérito e o marco que o filme é por fugir
da mesmice.
Apesar de seus pequenos problemas, “As boas maneiras”
estreia trazendo novos ares para o cinema brasileiro e abrindo portas para temas
mais diversos e fantásticos produzidos em nossas terras tupiniquins, injetando
qualidade e quem sabe fazendo com que surjam investimentos suficientes para que
nossa indústria se torne rentável e assim independente do estado e, finalmente,
deixar de ser esse monstro assustador que só aborda as misérias da pobreza ou
cinebiografias e conseguir alcançar o mesmo nívele qualidade do cinema Argentino.
Passou-se
um mês da estreia de “VINGADORES: GUERRAINFINITA” e acredito que quem se interessou pelo destino dos personagens já
deve saber que uma grande parte deles vai à Óbito durante a trama. No entanto,
o que pouca gente sabe é que aquele discurso furado do vilão Thanos, afirmando
que, para o universo progredir seria necessária a extinção de uma parte da vida
de forma “aleatória” é uma grande mentira e que (quase) TODOS personagens
mortos tiveram grandes motivos para suas desintegrações.
Para
acabar de uma vez por com esse embuste proveniente da mente vingativa e
inquisidora de um personagem de CGI, venho hoje revelar os pecados que levaram
os heróis tombados até seu triste destino: (clique no nome do "motivo" para ver o trailer)
Em 2002 a Diretora Tamra Davis trazia a
público um filme onde, três amigas de infância partem em uma viagem pelos EUA
para experimentarem pela última vez toda liberdade do final da adolescência e
reafirmar os laços de sua amizade (vômito!), Sim, estou falando de “Crossroads:
amigas para sempre”, filme protagonizado por Britney Spears (pré-surto) que
tinha como uma de suas best friend , Zoe Saldaña, que antes de viver a badass
Gamora, chorava sentada na beira de uma fogueira porque: “minha mãe me odeia
porque sou mais bonita que ela!”... Confessa, tu também não a jogarias de um
precipício?
Acho
importante filmes baseados em fatos reais, pois quando bem escritos geram o
desejo das pessoas conhecerem mais sobre história e fatos que perturbaram a
sociedade. No entanto, quando uma situação na é deturpada na trama e tenta
transformar um crime em uma comédia e assassinos em trapalhões marombados, não
dá para perdoar. Pois é assim o filme “Sem dor, sem ganho” dirigido pelo
famigerado Michael Bay e que, através uma espécie de comédia de mau gosto,
conta a história do grupo chefiado por Daniel Lugo, um personal trainer, que
resolve pular algumas etapas de sacrifício do sonho americano de enriquecer e
sequestrar e matar para ter uma vida mais confortável; Nesse grupo dos amigos
de Lugo, temos Anthony Mackie, o Falcão, parceiro fiel de Steve Rogers e que
Thanos mandou para terra dos pés juntos sabendo que não se deve dar asas a
cobras.
O
Filme Pantera Negra foi a mais feliz surpresa deste ano, dando uma aula de
representatividade e carisma sem deixar a diversão de lado.Mas o que poucas
pessoas devem lembrar é que antes de Chadwick Boseman viver o protagonista do
segundo filme mais rentável da Marvel em 2018, ele viveu o Deus Thot em “Deuses
do Egito”, um filme que , apesar de um elenco fantástico, trazia efeitos
visuais vergonhosos, atuações vexatórias e um roteiro capaz fazer a própria
esfinge enfiar a cabeça nas areias do deserto, justificando a morte do nosso
querido príncipe T’challa.
Matar
(de novo) o Groot parece uma tremenda sacanagem, mas ao lembrar que o responsável
pela voz da carismática Árvore-humanoide é o Brucutu Vin Diesel e de suas
interpretações canalhas na franquia triplos X (sem dizer de todos outros
filmes), penso que ficou barato o que aconteceu com ele.
Em
2008, os filmes de Super-Herói teriam uma revolução com a estreia de Homem de
Ferro! Só que naquele mesmo ano, outro filme “baseado” em uma HQ estreou sem
causar grande alarde, era “O procurado” que ficou marcado na memória coletiva
da humanidade devido a suas balas atiradas em curva e assassinos contratados
através de uma maquina de tear (não lembra? É porque o filme é ruim!). No
elenco dessa maravilha, tínhamos o engraçadinho Chris Pratt, no papel do melhor
amigo traíra do protagonista que ficou na minha memória por esse filme por
levar com um teclado no meio da cara, o que Thanos achou pouco.
Em
2013 chegava aos cinemas a cinebiografia de Julian Assange e a história da Wikliakes,
e, o que era para ser uma empolgante história baseada nos eventos recentes de
exposição e documentos secretos, se apresentou em um filme morno e chato que
passou quase que despercebido e foi um fracasso de bilheteria, não podendo nem
mesmo contar com a magia de Benedict Cumberbatch para que o filme tivesse um
pouco mais de brilho, fato que, no meu coração, foi decisivo no destino do Dr.
Estranho no final de “Guerra infinita”.
Em
2012, o raper RZA realizou seu sonho de moleque de escrever e dirigir um filme
de Kung-fu... e o filme é uma bosta! Totalmente filmado em estúdio, com
personagens caricatos e idiotas e uma trama sem sentido, “O homem com punhos de
ferro” é uma comédia involuntária de fazer a barriga doer de rir. Nesse
pastelão, encontramos Dave Bautista (O Drax) começando suas aventuras no cinema
depois de sua saída do WWE e interpretando um vilão tão meia boca que o
desempenho o indicou como mais uma vítima de Thanos seis anos depois.
Feiticeira
Escarlate , Mantis e Nick Fury – MOTIVO: Old Boy (2013)
Em
2002 o cinema Sul-Coreano chamava a atenção do mundo por uma Obra prima que
abordava vingança, loucura e violência de uma maneira maravilhosamente
Original, se tratava do novo clássico “OldBoy”, do diretor Park Chan-wook. Onze
anos depois, o filme ganhou um remake desnecessário ambientado em terras
americanas, onde a trama foi reduzida, os conflitos simplificados e a história
que era densa transformaram em um filmeco de ação totalmente esquecível para
nós, Mas não para o Titan louco!! Até por que Josh Brolin (que interpreta
Thanos) é o protagonista desta droga e, talvez até por isso, tenha mandado para
a terra dos pés juntos três infelizes que também estavam no filme... Samuel L.
Jackson (Nick Fury) que fazia o papel do carcereiro do protagonista, Pom
Klementieff (Mantis) que faz a guarda costas do antagonista e Elizabeth Olsen
(Feiticeira escarlate) que faz a filha do protagonista. Mortes merecidas.
Soldado
Invernal & Homem–aranha: Como em toda Guerra existem
injustiças ... para não dizer que toda guerra é injusta... Talvez por isso o
Soldado Invernal e o Homem-Aranha tenham ido a óbito, pois nada justifica a
morte dos dois... não lembro de nenhum filme, série ou tweet que justifique a
morte de ambos, apenas o recado implícito de que coisas ruins podem acontecer
para pessoas legais... Ou talvez por um ser um adolescente chato e o outro um
ex-assassino de um grupo terrorista... Mas acho que foi injustiça de guerra
mesmo.
Bom,
os pecados que levaram os muitos dos vingadores a morte foram expostos,
desmentindo o discurso de aleatoriedades na escolha de quem vive ou quem morre
proferido pelo vilão Thanos, só não consegui entender porque o capitão América
não morreu, mesmo seu interprete sendo o mesmo do “Tocha-humana” dos dois
primeiros filmes do Quarteto Fantástico, ou mesmo aViúva Negra, depois que Scarlett Johansson
fez “Sob a pele” e “Lucy” , mas como dizem, gosto é gosto e não chamam Thanos
de “O Titan louco” à toa.
Imagina que você está em uma
festa e de repente seus olhos cruzam com uma pessoa linda. Ela te
encara com interesse e te dá um sorriso, pouco tempo depois vocês
estão saindo dali aos beijos e indo para o motel onde passam uma
noite maravilhosa, mas ao acordar algo não está certo, você está
amarrado em uma cadeira e a pessoa te explica que te passou algo,
alguma coisa que nem ela mesmo entende, só sabe que tem que passar
para outro para se livrar e lhe aconselha a fazer o mesmo, uma coisa
que só quem tem pode ver (e que agora você vê!) e que vai te
perseguir até que você repasse para outro, em uma maldição que
vai retornando aos demais amaldiçoados assim que o portador atual
morrer... Não parece terrível? Pois esse é o plot de "It
Folows", ou como ficou nomeado aqui na parte de língua lusitana
abaixo do equador "Corrente do Mal", filme de 2014,
escrito e dirigido por David Robert Mitchell, que depois de anos de
enrolação e cagaço finalmente assisti para minha grata satisfação.
O filme conta a história de
Jay, uma garota que após se entregar ao rapaz com quem estava
saindo (leia transar), recebe a notícia de que recebeu uma maldição
transmitida pelo sexo e tal qual a história descrita acima, vai
persegui-la até que ela passe para outra pessoa. Após se ver
seguida por bizarros andarilhos que ninguém mais vê, Jay pede a
ajuda de sua irmã e seus amigos e parte na busca de respostas,
levando consigo uma força maligna em seu encalço e a dúvida de que
se deve passar o mal a diante ou quebrar a corrente de alguma outra
maneira.
Esse deve ser o filme que mais
tempo posterguei para ver em toda minha vida, mas depois de mais de dois
anos de cagaço e desculpa esfarrapada, posso dizer que valeu muito a
pena ter reservado uma hora e meia da minha vida para assistir o que
a trama de David Robert Mitchell tinha de bom a ponto de ser levada
para Cannes e ser tão elogiado por tanta gente que o viu.
Para começar, o filme tem
toda uma aura de nostalgia, lembrando em muito as produções de
terror dos anos oitenta de diretores como Wes Craven, onde um
"monstro" persegue um grupo de jovens com o único objetivo
de aniquilar seus alvos, o que se soma a questão da maldição ter
relação com sexo, remetendo às vítimas de Jason Vorhees de
"sexta-feira 13", outro clássico oitentista. Esse clima de
filme do passado ainda agrega estranheza ao ambiente por onde a
história se desenvolve, pois observando a trama, não conseguimos
definir com clareza, por mais que tentemos, em que época que a
história se passa. Percebemos TV's de cubo e cinemas com pianistas
ao vivo, filmes em preto e branco, mas aparelhos modernos, como
celulares e Kindles, o que mais que estranhamento, acaba tornando a
história atemporal. No entanto, se excluindo as homenagens e
referências ao terror americano, toda a estrutura da história
parece ter muito mais influência do cinema oriental com seu estilo
investigativo e de tensão crescente, que prioriza mais o suspense e
o susto do que as mortes e o gore, tal qual o primeiro filme da série
"O chamado" e esse toque de terror oriental tão bem
conduzido por Mitchell, foi o que mais gostei na trama.
De vagar e sempre
Assim como nossos amigos do
outro lado do mundo, o diretor nos entrega uma história que te
prende pelo ar investigativo, onde a protagonista busca entender o
que está ocorrendo, e com o estranhamento que a trama vai passando
ao nos apresentar o conceito dessa maldição, terminando com a
compreensão, também comum nos filmes orientais, de que o mal é algo maior que o indivíduo e que é impossível escapar, sendo o
máximo que se pode fazer é seguir suas regras para poder
sobreviver. E Sabendo que não há escapatória além de seguir o
jogo que a maldição impõem, o filme ganha uma nova camada ao se
pensar nos acontecimentos que a trama deixa subintendido, como quando
a protagonista foge para a praia ou quando ela resolve assumir um
relacionamento firme.
Sobre a Fuga de Jay (a segunda
ou terceira) que ocorre no segundo ato da história, ela sofre um
acidente e, para deixa-la mais tranquila, seu vizinho pegador resolve
fazer o sacrifício de fazer sexo com ela para que a maldição (que
ele não acreditava ser real) passasse para ele e assim resolver o
problema, o que dá muito errado (leia-se: se ferrou!), então em
desespero, por ter presenciado algo tão chocante, Jay foge para a
praia, onde a vemos se despindo e entrando na água após avistar
bem a sua frente, três homens sozinhos em uma lancha; o que acontece
não é mostrado, mas ela volta para casa com os cabelos molhados e
passa dias trancada em depressão sem se sentir segura, até ser
convencida pelos amigos a tentar "Matar" seu perseguidor e
acaba se deparando com a criatura literalmente em cima de sua casa,
ficando claro naquele momento que três elos da corrente foram
quebrados, ficando a curiosidade de como tudo ocorreu com os azarados
amigos da praia que pensaram ter tirado a sorte grande.
Outra situação parecida com
a citada acima é quando Jay, já no final do filme, assume um namoro
com um de seus amigos de infância (que faz parte do grupo que a
ajuda) e este, já sabendo dos problemas que se envolver com a moça
pode trazer, tem uma ideia terrível, mas engenhosa, que embora
não comentada aparece em execução, que é Transar com prostitutas
depois de levar a namorada para cama e assim empurrar a maldição
para a maior distância possível, o que parece dar certo. No
entanto, como uma boa história com influência do terror oriental,
as pessoas que viram o outro lado não são mais as mesmas e a
sensação de estranhamento não se dissipa mais, terminando o filme
com o clima perpétuo de perseguição por parte de uma maldição,
lenta mas focada e que a qualquer hora vai alcançar suas vítimas.
Gostei muito do filme. Ele não
tem nada de especial além de boas referências, uma boa história
para contar e um bom roteiro e direção ( o que já é mais que 90%
dos filmes tem). Não há grandes efeitos especiais ou cenas de
mortes arrepiantes, mas trabalha com qualidade na tensão e clima de
suspense, te prendendo na cadeira na procura de respostas junto com
os personagens e as situações que ficam subintendidas (que vão
além das duas citadas acima) fazem com que a história fique viva na
sua cabeça e imaginando o que mais pode ter acontecido e o
acontecerá quando a criatura retornar até a protagonista e isso dá
ainda mais credito ao roteiro de David Robert Mitchell.
Então se quiser curtir uma
história tensa, cheia de mistério, bons sustos e com forte
influência do cinema dos anos oitenta e oriental, assista "Corrente
do Mal", mas acima de tudo lembre-se que, se em uma noite de
festa, ou em um passeio qualquer, seu olhar cruzar com alguém
desconhecido, que te oferecer um sorriso interessado e te arrastar
pela mão até um lugar tranquilo, procure antes saber mais sobre a
história dessa pessoa, pois nunca se sabe o que pode vir atrás de você depois.
Luis Fernando Verissimo
sempre foi um dos meus cronistas preferidos. Lembro de quando eu era
adolescente, pouco antes do "advento da internet" (como
diria o arquiteto em Matrix), aguardava a coluna semanal do autor no
Jornal Zero-Hora (aqui do RS), para me deliciar com sua escrita
brilhante e divertida. Eu chegava a recortar suas melhores
publicações e guardar dentro dos meus livros, para , sempre que me
faltasse algo bacana para ler, voltar ao bom e velho Veríssimo.
Então veio a vida adulta, cresceu meu interesse por ficção
científica, os filmes e séries de super-heróis dominaram o
mercado, a franquia Star Wars ressuscitou e por muito tempo deixei o
autor de lado, com seus quatro livros que tenho, esquecidos na
estante; até que no último domingo chuvoso e de internet vacilante,
meu subconsciente, procurando algo que revertesse a sensação de
tédio que eu sentia sentado o dia todo na frente da TV, colocou na
minha mão "O opositor" obra de Veríssimo, integrante da
coleção "cinco dedos de prosa" da editora Objetiva e,
como uma epifania nascida da contemplação de uma obra da
renascença, tudo que eu tinha ignorado com a distancia dos textos do
autor, voltou a fazer sentido novamente.
O Opositor, conta a história
de um repórter, que é designado por um jornal de São Paulo, para ir
a amazônia fazer uma matéria especial sobre ervas típica e plantas
alucinógenas. Pesquisando sobre o assunto em Manaus, ele acaba
conhecendo Serena, uma especialista na flora amazônica, que possui a
peculiaridade de ser meio Dinamarquesa e meio índia (meio a meio
mesmo, com um lado do corpo moreno e o outro loiro) e não possuir os
polegares; Serena lhe apresenta a uasca e oferece seu corpo e após
dias de uma viagem de prazer e delírio, proporcionados pelo sexo e
pelo alucinógeno, nosso repórter resolve relaxar em um bar e se
refrescar com os sucos típicos da região. É quando conhece o
Polaco, ou Josef, o míssil, um esfarrapado bêbado, de rosto
vermelho e sotaque europeu, que vai lhe contando uma fantástica
história de conspiração que envolve um grupo secreto que comando o
mundo, uma misteriosa ceita que, interpretando os afrescos de Luca
Signorelli, nega a evolução humana extirpando os polegares de seus
seguidores; conta-lhe sobre a criação do vírus mais mortal da
história por um desconhecido cientista Americano e sua caçada por
parte dele, Josef, um "opositor" (assassino) para que todos
os segredos permanecessem desconhecidos do mundo, até ali.
Esse livro, foi a primeira
história mais longa que li do autor, e hoje, relendo, posso dizer
que tive a mesma sensação de maravilhamento de quando o abri a
primeira vez, em 2004. Verissimo consegue, de maneira simples, como
é sua melhor característica, utilizando poucos elementos e
personagens marcantes, entregar uma história extremamente divertida
e reafirmar, mesmo com uma obra encomendada por uma coleção
editorial, todo seu talento.
Pela facilidade como o autor
escreve e sua capacidade de ser sucinto, sem deixar nada de fora, o
livro é de leitura rápida, principalmente por ser composto de
apenas cento e quarenta páginas. No entanto, seu tamanho enxuto não
o torna menos relevante ou faz menos justiça a qualidade do autor,
muito pelo contrário, nessas cento e quarenta páginas estão todos
elementos típicos da escrita de Veríssimo, a começar pelo humor.
Seus estilo debochado de contar a história e os elementos
fantásticos e conspiratórios que ele introduz, alternam a
experiência de quem lê de "engraçado" para "faz
sentido" o tempo todo e as figuras exóticas que passam por sua
história são tá fantásticas que bem poderiam ser reais, como a
mestiça Serena, que é meio-a-meio índia e dinamarquesa, tendo em
seu corpo seu equador particular e a frieza e calor de dois
hemisférios distintos, ou o galante e erudito bêbado Polaco,
portador de uma história fantástica e de dúvidas que deixa
pairando na mente do protagonista quando a história se encerra, sem
contar o comerciante Turco dono do bar, figura carimbada na
literatura brasileira e do chefe arrogante de caricato do
protagonista, todos muito reais, apesar de suas peculiaridades
primorosas criados pelo autor.
Verissimo
O ar cinematográfico é
outro elemento característico de Veríssimo e que não falta a esse
livro. Tal qual a série de contos de Ed Mort, nessa história também
temos um mistério que lembra de longe os antigos filmes de
detetives, com uma investigação efetuada por um agente de uma
agência secreta de assassinos, a caça de um misterioso cientista e
que termina no meio da Floresta amazônica em um final dramático e
repleto de ação, que não deixa nada devendo as teorias de
conspiração mais bem elaboradas e que, se um dia os deuses do
cinema, por sorte, tropeçarem nessa pequena obra, com certeza daria
um ótimo filme, Talvez até, com Polaco sendo interpretado por
Howard Something..Talvez!
Para finalizar, ainda temos as
ferramentas narrativas que Verissimo utiliza para contar a história.
Tal qual a embriaguez do Polaco ou a o estado de semi-torpor do
protagonista causado pela a uasca, a história parece cambalear,
fazer looping, como se entrasse a todo momento em uma espiral e
voltássemos a falar novamente sobre os mesmo assuntos com atenção
em outros detalhes. Assim, pelo ponto de vista de outros e comparando
com os outros personagens, vamos tendo pistas de que as coisas que o
Polaco vai contando não são tão absurdas e que a mente do
protagonista está mais aberta para aceitar a verdade que ninguém
mais quer, fazendo um link diretor entre a uasca, as ceitas
Italianas, o Grupo secreto, a teoria da conspiração e os sucos de
Manaus, de forma que a trama se fecha sem deixar nenhuma ponta solta,
a não ser que aquelas cento e quarenta páginas se duplicasse, para
podermos ler mais.
Pois bem, O Opositor é uma
excelente diversão para uma tarde de domingo chuvosa. Um livro que,
embora pequeno, trás todos elementos que transformaram Luis Fernando
Veríssimo no grande escritor, e que é um achado que me iluminou
nesse último final de semana, tanto que, despertou meu apetite e me
fez separar outro livro do autor caso a chuva teime em não ir
embora. Mas enquanto o fim de semana não chega, vou dar uma olhada
nas ultimas colunas do autor e , quem sabe, recortar do jornal (ou
colar em uma pasta no PC) suas melhores histórias, para ler, quando
algo bacana para ler me faltar.
No decorrer da minha vida de
leitor, alguns livros ficaram marcados nas minhas lembranças quase
como um amigo que viveu uma história única à meu lado e que por
vezes tenho vontade de visitar para conversar sobre aqueles bons
momentos. Um desses livros, é o fantástico "O Homem duplo",
de Philip K. Dick, que tinha lido a quase dez anos e que tive o
prazer de reler recentemente, me deixando novamente maravilhado pela
história fantástica, de um mundo totalmente monitorado e tomado
pelas drogas, mas onde Dick consegue com sua genialidade, em sua obra
mais atual e madura, dar vida a seus personagens de uma maneira
original e extremamente humana.
Capa da edição da Rocco
"O Homem duplo",
como citado acima, se passa em um futuro onde o tráfico de drogas
venceu e grande parte da população é formada por traficantes e
usuários; a polícia monitora a todos que quiser e seus agentes
trabalham em tamanho sigilo, que nem ao menos se conhecem,
utilizando, quando presentes na delegacia, uma roupa holográfica que
não permite suas identificações. Nesse mundo, somos apresentados
a Fred um policial disfarçado e viciado na perigosa substância D,
que é infiltrado, com o nome de Bob Arctor, entre um grupo de
drogados e acaba com a missão de investigar a si mesmo. Carregando
o peso de seus papéis contraditórios e vítima de seu vício e
solidão, Fred/Bob Arctor passa a ter seguidas alucinações e
dúvidas sobre sua vida, vindo a esquecer se ele é na verdade o
traficante Bob, que deve ser vigiado, ou o policial Fred que deve
prende-lo.
Não sei dizer se esse é o
melhor livro do autor, afinal Dick escreveu mais de cinquenta obras e
eu não tive o prazer de ler mais que dez delas; mas, dos que eu li,
essa parece ser sua história mais madura e sensível. O motivo disso
parece passar pelo fato que, assim como o protagonista, Philip
K.Dick, também viveu experiências com drogas e, conforme a
homenagem que faz ao final do livro, perdeu diversos amigos em
decorrência do vício, isso faz com que o livro pareça ser escrito
com muito mais sentimento e carinho que as demais obras do autor,
onde a especulação e a sociedade parecem tomar a frente dos
indivíduos. Em "O homem duplo" os personagens se destacam
muito mais que o mundo que os cerca, sendo que somos informados sobre
essa realidade, do mesmo modo que os superiores de Fred/Bob Arctor,
através dos olhos de outras pessoas e essa maneira de nos mostrar o
universo onde a história se desenrola, retira da trama todo
maniqueísmo possível, fazendo com que não sobre espaço para
vítimas ou algozes, apenas para pessoas, que assim como o
protagonista, vivem múltiplos papéis, com todos seus erros, dúvidas
e acertos, e, essa complexabilidade, transforma o livro em algo único
e especial.
Mas mesmo que a sociedade onde
a história acontece fique relegada ao plano de fundo da trama,
conseguimos sentir a opressão e o caos controlado que dela emana,
podendo classifica-la como uma forma de distopia. Nesse mundo de "O
Homem duplo", onde as ruas são tomadas de traficantes e
usuários, nem os próprios agentes estão imunes a vigilância
intensa e a corrupção, acabando por viverem muito mais na zona
marginal onde foram infiltrados, e se acostumando com essa realidade,
do que tendo acesso aos benefícios dos que pagam o seus salários e
recompensas, que é o grupo apelidado de "caretas". Esse
grupo, que é composto pelas pessoas mais abastadas (ou menos
ferradas), vive distante das realidades das ruas, ainda seguindo o
modelo americano de vida e usufruindo de todas as garantias que sua
posição permite. Essa divisão da sociedade, tendo os caretas como
grupo dominante, é apresentada de maneira sutil pelo autor, mas
marca a cisão social que coloca um pequeno grupo sobre o restante da
população e isso fica exemplificado quando o protagonista se vê
obrigado, já no início do livro, a palestrar (utilizando seu traje
holográfico) para um grupo desses indivíduos em um club fechado e
contar para eles o que vê diariamente nas rua, fato que
inimaginável para eles; assim como quando, conversando entre si, os
amigos de Bob especulam o que existe dentro de um shopping, um lugar
onde pessoas do tipo deles jamais entrariam; isso vem a se somar ao
fato de que na história, os caretas são sempre mencionados e nunca
abordados ou presentes diretamente na trama, tudo que vemos se passa
nas ruas, longe da elite, que fica inatingível para aqueles para os
quais sobrou apenas o vício e o descarte como alternativa.
poster do filme
No entanto, tanto os
personagens marcantes, quanto o universo onde eles existem, não
passariam apenas de uma boa ideia, caso não fosse a maneira
primorosa como o autor resolveu contar a história. Munido de uma
narrativa que oscila entre o trágico e o cômico, Philip K. Dick,
consegue ir além da sensação de estranheza e reflexão de seus
textos, mas sem fugir da base de sua obra, construída em cima do "O
que é real?", o que nunca foi tão bem abordado quanto nesse
livro, onde nem mesmo o protagonista sabe quem realmente é. E essa
confusão na mente de Bob Actor vai surgindo de forma quase
imperceptível com a inclusão de frases em alemão no meio do texto,
que são a manifestação dos sintomas do abuso de drogas no
personagem, em que Dick utiliza trechos de "Fausto" de
Goethe, uma história onde o herói busca enganar o diabo, para
descrever, tanto o início da confusão mental do protagonista, como
para indicar suas intenções e questionamentos subconscientes, pois
afinal quem seria o diabo de Arctor? Os drogados e traficantes com
quem ele convive? A sociedade policial que ele representa? Ou ele
mesmo que transita entre esses dois mundos?
O livro ainda é repleto
diálogos brilhantes e muito engraçados por parte dos amigos de Bob
Arctor, que assim como os pequenos e fantásticos contos, que
aparecem como "trips" devido ao uso de drogas pelos
personagens, dão o tom de insanidade da trama e coroam o talento do
autor. Dentre esses diálogos e contos, o que é mais marcante para
mim é o da tentativa de suicídio de Charles Freck, onde desiludido
com o mundo, um dos amigos de Arctor resolve tomar uma overdose
regada a vinho barato e transformar seu sacrifício em um ato de
protesto. Assim ele planeja ser encontrado em sua cama com um
exemplar de "A nascente" de Ayn Rand, para demonstrar que
era um super-homem incompreendido pelas massas e, uma carta de
reclamação devido ao cancelamento de seu cartão de crédito, para
culpar o sistema por sua morte; mas no último minuto ele resolve
tomar a overdose com um vinho bom, compra um mondavi cabernet
sauvignon e toma as pílulas com
o vinho, fica esperando deitado e percebe depois que não se tratavam
de barbitúricos, mas um psicodélico vagabundo, minutos depois ele vê
ao lado de sua cama uma criatura extra dimensional cheia de olhos
trazendo consigo um pergaminho com todos seus pecados, em
sua trip, mil anos depois a criatura ainda lia seus pecados do jardim
de infância, dez mil anos depois os da sexta série, Freck olha
para criatura, meditando
sobre o que estava acontecendo e pensa..."Pelo
menos bebi vinho do bom!".
Freck em seu "Suicídio" no filme de 2006
Aliás, esse trecho de "O
homem duplo" citado acima, que exemplifica o humor e talento do
autor, foi o que me levou a procurar esse livro a dez anos atrás.
Tudo devido a adaptação da história para o cinema em 2006,
roteirizada e dirigida por Richard Linklater (diretor de Escola de
Rock e Boyhood) onde a cena de Charles Freck é apresentada de forma
idêntica a no livro e ainda com a vantagem de ser narrada com uma
gravação do próprio Philip K. Dick, que quando assisti e me deixou
boquiaberto. O filme, que é a adaptação mais fiel dentre as
inúmeras histórias do autor que foram levadas para o cinema, contou
com um elenco de peso, que além de Keanu Reeves, como Bob
Arctor/Fred, tinha Robert Downey Jr, como Jim Barris, Woody
Harrelson, como Luckman e Winona Ryder, como Donna e, se tornou
famoso, ao utilizar uma técnica de pós produção que aplica uma
pintura ao filme, dando a ele a aparência de animação, fato que o
diretor afirmou ter inserido para causar uma sensação, a quem
assistisse ao filme, semelhante a de como um usuário de LSD percebe
o mundo durante uma viagem de drogas.
Capa da edição da aleph
Assim como o sua adaptação
cinematográfica, o livo, apresenta muito pouca tecnologia futurista
envolvida na trama, tendo em vista que é uma história de ficção
científica e escrita por PKD, o mestre em criar aparelhos malucos
com nomes estranhos. Claro que ainda existem os "Scanners em
cubo 3D" e os "Cefscópios", mas esses equipamentos
estão ali só para lembrar que a trama se passa no futuro e, a
decisão de deixar mais essa questão como pano de fundo, contribui
para a maturidade do livro, que citei no inicio do texto e acaba por
coroar o autor, que tanto se empenhou em imaginar o futuro, com a
visão de futuro bem mais próxima da real, do que em qualquer outro
de seus livros e isso acontece justamente na história onde ele
decide olhar mais para trás em sua própria vida, do que pensar
trinta anos na frente para a sociedade, o que torna "O homem
duplo" sua obra, dentro do possível, mais pé no chão.
"O Homem duplo" de
Philip K. Dick passou novamente pela minha vida como um amigo que
mora longe, mas que com quem sei que sempre posso contar. Uma
história fantástica, vivida em meio as drogas e repressão, mas que
deixa de lado o coletivo e a especulação futurista e, vai mais a
fundo no indivíduo, abordando a ignorância, o medo, a solidão e
até o vício como conceitos que nos tornam humanos. O livro mais
maduro e pé no chão desse grande nome da ficção científica e meu
escritor preferido (como eu não canso de lembrar) e leitura
obrigatória não apenas para quem é fã de PKD ou ficção
científica, mas para quem aprecia uma boa história. A editora ALEPH relançou o livro recentemente com o título "um reflexo na Escuridão" (título bem mais próximo do original em inglês). Minha dica é,
pegue o livro, sente-se em um lugar bacana, abra um bom vinho e deixe
sua mente viajar nessa trip distópica futurista e caso, por algum
motivo, o livro não lhe agradar, relaxe...pelo menos você terá
tomado um vinho do bom!!
Nova York, 1979. Antes da
Máfia ser esmagada, antes da economia americana voltar a crescer,
antes do talco sem cheiro dominar os embalos de sábado e,
principalmente, antes de proibirem crianças com menos de seis anos
de escreverem um roteiro para cinema, um grupo de nove membros de uma
turma da pesada parte em uma fuga alucinante depois de serem acusados
de um crime que não cometeram. Sim meus amigos! hoje falaremos sobre
"The Warriors", ou como foi chamado em nossas terras
tupiniquins, "Guerreiros, os selvagens da noite", a maior
Ode já feita ao tosto mundo das gangues novaiorquinas e que, além
de comprovar que entre os anos setenta e oitenta o mundo entrou em
outra dimensão, foi a produção responsável pela uma frase que me
persegue por décadas:
"Guerreiiiroosss... Venham aqui Brigaaarrrr!"
"The Warriors",
conta a história de nove representantes da Gangue dos Guerreiros,
originária de Coney Island, que, assim como outras cem gangues da
cidade, é convidada a participar de uma "assembleia"
organizada por Cyrus, o líder da maior gangue de Nova York, "Os
Riffs", com a intenção de organizar e unir os grupos
divergentes e assim dominar a cidade. A reunião, que ocorre no
território dos Riffs, no Bronx, começa a empolgar os
representantes das Gangues, mas no meio do discurso, Cyrus é
assassinado por Luther, o líder do "Rogues", que
percebendo, em meio a confusão, que um dos membros dos Guerreiros
viu quem atirou, os incrimina, fazendo com que a turma de Coney Island passe a ser alvo da perseguição de todas as outras gangues
em uma fuga do Bronx até o seu território, a mais de trinta e cinco
quilometros de distância. Restará agora aos Guerreiros, provarem
que realmente são uma "Turma da pesada".
O filme é um clássico, não
tem como não falar isso. Sua trama, mesmo datada, ainda hoje
consegue prender o expectador, mesmo que seja para arrancar dele umas
boas gargalhadas. Baseado no livro homônimo de Sol Yurick (que no
Brasil se encontra a venda pela Darkside Books), com uma forte
inspiração no musical clássico "West side story", o
filme foi roteirizado e dirigido por Walter Hill, que
além dessa pérola das madrugadas, dirigiu "Ruas de Fogo",
que é outro clássico do corujão, "inferno vermelho", com
Schwarzeneggere
Jim Belushi e o "Lutador de Rua", com o mito Charles
Bronson, além de produzir "Alien - o oitavo passageiro", e
trouxe no elenco uma galerinha jovem que, fora dois ou três não
tiveram uma vida muito produtiva e extensa no meio do cinema. Mas
quem se importa com a vida profissional dos atores, quando temos
diante de nós uma obra de tal magnitude, cheio de personagens
marcantes e , acima de tudo, abençoada pela maravilhosa dublagem brasileira do início dos anos oitenta?
Os
personagens são fantásticos e tem muito para falar ao mundo de hoje
sobre
personalidade. Para começar, os protagonistas
se deslocam pela noite Novaiorquina, ostentando apenas um colete de
couro vermelho, suas calças jeans e tênis, dentre eles, temos
Cleon, que usa uma bandana tigrada na cabeça e
Snow, que possui um black power aerodinâmico, mas nenhum dos outros
oito protagonistas, chega aos pés de Cochise, o guerreiro, que além
de ser dublado pelo mesmo dublador do Eddy Murphy, é um cidadão
afro-americano, que além do blackpower da moda daqueles dias,
utiliza adornos indígenas, um tapa na cara de quem hoje em dia vem
falar de moda étnicas ou
apropriação cultural.
Cochise é o meu personagem preferido, sendo seguido de perto por
Luther, o líder assassino dos Rogues, que do
alto de seus um metro e sessenta, com
sua cara quadrada e voz de taquara rachada, é o emissor da frase que
me atormenta e a qual já cite acima, mas
que além de tudo, ainda traz em si o mais clássico talento para
agente do Caos, sendo o responsável por toda confusão e azar, que
os guerreiros e os Riffs acabam vivenciando.
Guerreiiiroossssss
Falando
da Voz de taquara de Luther, é impossível assistir ao filme dublado
e não ficar completamente hipnotizado pela dublagem brasileira. Com
vozes consagradas como a do ator Nizo Neto (filho de Chico Anísio
(que dublou Ferris
Bueller
e o Presto de "a caverna do Dragão)) no papel de Vermim; Mário
Jorge de Andrade ( Eddy Murphy) como Cochise e o dublador clássico
do Stallone (que esqueci o nome) dando o sotaque malandro brasileiro
ao Luther. Nesse show de dublagem, temos o prazer
de ver
traduzidas
para nossa língua as gírias americanas do final dos anos setenta e o
resultado é maravilhosamente bizarro, não faltam "Aê meu
cumpadi", "acho que cês tão tudo virando a mão" e
até a frase de ouro do filme, que é proferida quando o líder dos
fugitivos, forjado no calor da fuga, fica a sós com a "mocinha"
e no meio de uma conversa filosófica sobre a vida e perspectivas,
fala para a jovem: " Vem cá, tu é chegada em uma horizontal,
heim! Já pensou em amarrar um colchão nas costas pra facilitar?!".
Pura elegância!
Vocês sacarammm??
Fora suas falas, muitas vezes
sem sentido ou seus tropeços de roteiro (como: de onde o Snow tirou
aquele coquetel molotov?) , a produção traz cenas bem legais de
luta. Como quando Cyrus é assassinado e o Líder Guerreiro Cleon,
vai conferir o que houve e tem que se defender da multidão na mão,
ou quando Cisne ( que passa ser o líder) bola uma armadilha em um
banheiro contra a gangue dos patinadores e a porrada come solta, com
direito a taco de basebol quebrado em barriga e porta quebrada com a
cabeça.
Além disso, não me ocorre
nenhum outro filme de fuga nesse mesmo estilo antes de "the
Warriors", me passando a sensação de que Apocalypto",
filme de Mel Gibson de 2006, que é basicamente uma fuga de um
território inimigo até o seu, tem muito de inspiração na obra de
Walter Hill de 1979, assim como o último "Mad Max"e isso
não é pouco.
Para Complementar sobre a
influência e carinho que o filme cativa, os irmãos Russo, que
dirigiram Capitão América 2 e 3, anunciaram a produção de uma
série baseada no livro/filme "The Warriors" e que deve
chegar para nós nos próximos anos, mostrando que muita gente ainda
guarda esse filme no coração e sonha em usar aquele colete de couro
vermelho.
Pois bem, "Guerreiros -
Os selvagens da noite" é um desses clássicos cults, que por
muito tempo habitaram as madrugadas dos canais abertos e que todo
mundo conhece ou já ouviu falar. É a representação máxima,
embora muito caricata, de um período histórico americano onde a
falta de perspectiva é o que norteava a vida de muitos jovens e que
até hoje encanta pela melancolia ou pelo tosco carismático, suas
falas são datadas, o roteiro quase não existe, a estética é
brega, mas mesmo assim o filme é extremamente divertido, o típico
filme que é tão ruim, que dá a volta e fica ótimo, que tanto
merece, como deve ser assistido, entendeu bem aê ô meu chegado?!
Da esquerda para direita: Snow, Ajax, Vermim, Cowboy, Cochise, Rembrant, Foxy, Cisne ( The Warriors)
Um fato que, de uns tempos
para cá, vem perturbando meus pensamentos, é imaginar como será
nossa comunicação com alienígenas. Comecei a pensar sobre essa
situação, faz uns dois meses, depois de rever o ótimo filme
"Contato", que é baseado no livro do mesmo nome do grande
Carl Sagan e o assunto passou a me seguir desde então, com o trailer
de "A chegada", com Amy Adams, que explora a difícil
primeira comunicação entre humanos e uma raça de extraterrestres,
assim como toda questão da aparição de um disco voador na segunda
temporada de "Fargo", onde o personagem de Ted Danson,
questiona sobre se o grande problema da raça humana é não saber se
comunicar, finalizando com o fato de ter lido "Um estranho numa
terra estranha" de Robert A. Heinlein, que conta as desventuras
de um humano criado por marcianos e que, trazido para a terra, não
consegue compreender os conceitos e intenções humanas.
Estava com todos estes
devaneios na mente (sei lá eu porque), quando me deparei com um
filme, que a muito eu tinha descartado, por acreditar que se tratava
de mais um raso caça níqueis estrelado por Tom Cruise, mas que ao
assistir, encontrei uma ficção científia de qualidade, com uma
trama bem elaborada e repleta de conceitos bacanas, se trata de
"OBLIVION", escrito e dirigido por Joseph Kosinski e
lançado pela Universal em 2013, que me fez lembrar o porquê eu
adoro tanto esse gênero e colocou meu pensamento sobre comunicação
com extraterrestres em outro patamar.
O ano é 2077 e o planeta
terra foi destruído durante uma guerra entre os humanos e uma raça
alienígena conhecida como Saqueadores. Durante o confronto, os
invasores destruíram a lua, iniciando uma série de terremotos e
tsunamis, causando destruição e bilhares de mortes, em respostas a
raça humana utilizou então seu arsenal nuclear para vencer a guerra
o que deixou o planeta inabitável, forçando a humanidade a
construir a "Tet", uma estação espacial que, mais tarde,
passou a servir de posto intermediário entre nosso planeta e Titã,
a Lua de Saturno que se tornou o novo lar da raça humana, no
entanto, para que a missão de Titã tivesse total sucesso, alguns
humanos foram enviados à terra, encarregados de ajudar a fornecer
recursos naturais essenciais a vida nas novas instalações, entre
eles Jack Harper (Cruise), um técnico de drones, que trabalha na
torre 49 junto com sua amante e oficial de comunicações Vika Olsen
(Andrea Riseborough).
Tanto Jack como Vika, tiveram
suas memórias removidas para não comprometerem sua missão na terra
e passam todos os dias cumprindo suas obrigações de reparo de
drones e vigilância das torres de drenagem de água e segurança do
perímetro. No entanto, Jack , não se conforma com a ideia de ter de
deixar o planeta e, somado a isso, começa a sonhar repetidamente com
uma mulher e ter flashs de memórias de um tempo antes da guerra,
mais de cinquenta anos antes dele mesmo nascer e essa confusão em
sua mente vai crescendo conforme ele sofre a tentativa de captura dos
remanescentes dos saqueadores e se agrava quando, após encontrar um
sinal sendo enviado para fora do planeta e se depara com os destroços
da Nave Odisseia, onde ele vem a encontrar exatamente a mulher com
quem vinha sonhando (Olga Kurylenko) e que, mais tarde, lhe conta que
era parte de uma missão secreta e que poderá revelar qualquer coisa
só depois de estar der posse da caixa preta de sua nave, e , é
nessa ajuda a encontrar o item desejado pela misteriosa sobrevivente,
que Harper acaba sendo capturado pelos saqueadores, que se revelam
totalmente diferentes do que lhe tinha sido informado pelo comando da
Tet e esse contato mais do que sua percepção, mudará para sempre a
realidade onde Jack acreditava viver.
Vika
Cara! Depois que assisti esse
filme me senti muito culpado, por te-lo ignorado na época do
lançamento. A história é extremamente interessante e divertida,
com reviravoltas que te pegam de surpresa e, o mais legal, é que
todas essas surpresas e mudanças ocorrem apenas depois do meio do
filme, o que gera um clima de suspense em tentar imaginar o que está
acontecendo realmente no território da torre 49.
Quanto a atuação, não tem
nada de mais, Tom Cruise faz o papel de Tom Cruise, atirando,
correndo, sorrindo e correndo novamente, enquanto as atrizes, elas
fazem o papel de mulheres que contracenam com o Tom Cruize (fora a
Emily Blunt, que mostrou pra ele quem manda em "no limite do
amanhã") , sem demérito, mas mesmo com os motivos da
personagem de Andrea Riseborough e da importância da aparição da
personagem de Olga Kurylenko, ambas são ofuscadas pela trama e pelo
Gigantesco Plot Twist que o filme tem bem no meio e que, para seguir
minha análise, vou ter de contar.
ALERTA DE SPOILER
É TUDO MENTIRA!!!! Não teve
guerra nenhuma entre humanos e alienígenas, os humanos não venceram
e foram para Titã e muito menos a Tet é uma estação espacial. A
verdade é que a Tet é uma máquina consciente vinda ninguém sabe
de onde e que tem como unica finalidade consumir (isso mesmo, como
você aí que troca de telefone todo ano). A história verdadeira é
que em 2017 a Nasa detectou esse objeto alienígena perto de Saturno
e resolveu enviar um grupo de astronautas para verificação e
contato (Aí é a parte forçada, pois se hoje não conseguimos
mandar pessoas para Marte, imagina para saturno? E porque não
mandaram uma sonda?) , dentre os oito enviados astronautas, estavam o
comandante Jack Harper e a oficia Vika Olsen e a Dra. Julia ,que era
esposa de Harper (bum minha cabeça explodiu!!) , chegando próximos
a Tet, Harper e Vika decidem desacoplar o módulo onde Julia e o resto
da tripulação hibernava e são levados para dentro da Tet, eles
acabam sendo clonados aos milhões e a Tet, após destruir a nossa
lua e causar as catástrofes naturais descritas acima, manda um
exército de "Tom Cruises" invadir e finalizar o serviço
de extermínio dos humanos. Após isso, a Tet cria as torres de
vigilância e coloca um casal de Harpers e Vikas em cada um,
mentindo que suas memórias foram apagadas, prometendo que um dia
irão para Titã e dizendo que as zonas fora das linhas marcadas são
radioativas, quando na verdade, essas zonas são os territórios das
outras duplas de clones. Enquanto isso o módulo com a Dra Julia
ficou vagando no espaço durante sessenta anos e só foi trazida de
volta, graças ao sinal que os humanos remanescentes (aqueles que no
inicio de filme acreditamos que são os alienígenas) enviaram.
Quando
essa maluquice toda é revelada, o filme ganha ares de distopia
total. Não existe mais esperança para o protagonista, que entende
que nem mesmo os sentimentos que ele nutre pela personagem de Olga
Kurylenko são
reais, restando a ele o caminho desenhado pelo personagem de Morgan
Freeman (que se apresenta como o líder dos sobreviventes humanos) e
isso torna o arco final do filme bem pesado e ao mesmo tempo muito
bacana.
Um dos Drones. Inspiração em Matrix
O
filme apostou em alguns conceitos que lembram muito Matrix. A ideia
de uma inteligência artificial que ilude e manipula humanos criados
em laboratório para conseguir o que quer, o
cara sábio que dá a pista para o protagonista encontrar a verdade
(Morgan Freeman está até mesmo sentado na mesma posição que
Lawrence Fishburne em Matrix quando faz isso) o fato desse inimigo
estar quase que inatingível e possuir drones armados para caçar os
sobreviventes, tudo lembra muito o filme das irmãs Wachowski, com
uma pitadinha de como os clones deveriam se chocar por saberem que
são cópias de outra pessoa que faltou em "A ilha" de
Michael Bay.
No entanto, mesmo com esses
conceitos que o filme pega emprestado, ele não perde sua qualidade,
pelo contrário, ele usa tudo como uma homenagem e mantém sua ótima
história e enredo como destaques e consegue prender o expectador
atento a todas revelações que vão sendo feitas até o derradeiro
embate entre o protagonista e a Tet.
A TET
A Tet, mesmo sendo apresentada
como uma espécie de Matriz (de Matrix) mas atuando no plano físico,
consegue ser uma ideia bem assustadora e marcante, lembrando em muito
o Brainiac (inimigo do Superman) que é uma inteligência artificial
alienígena, que racionalizou que o maior problema dos humanos
são...os humanos e resolveu dar fim no problema; com a diferença
que a Tet é egoísta e quer consumir os recursos da terra para se
manter, como sua origem é desconhecida, pode-se pensar que ela foi
criada por uma civilização muito avançada, se rebelou contra a
mesma e a destruiu e partiu em busca de mais, algo que , embora
longe de nossa realidade, pode ser pensado em um futuro humano, quem
sabe?!
Claro
que não vou contar o final do filme, mas o que posso dizer é que
lembra em muito o final de "No limite do amanhã", também
com Tom Cruise (sempre ele), mas em "Oblivion" temos uma
mistura de redenção, tristeza , esperança e "WTF???".
Mas pelo todo da produção, em especial por como a história é
apresentada, gostei bastante do filme e espero que o ator continue
emprestando sua carinha para produções de ficção científicas tão
bacanas. Então aproveita que o filme está passando toda hora na TV
a cabo e para para dar uma olhada, se você gosta ficção
científica, garanto que vai se comunicar muito bem com o que a trama
apresenta e que para mim foi outro nível em questão de contato e
comunicação com alienígenas que o cinema vem apresentando
ultimamente. Um filmaço, que por muito tempo,
para coincidir com o título do próprio filme, eu tinha esquecido.