quarta-feira, 28 de maio de 2014

O DOMINGO EM QUE QUASE FUI ABDUZIDO

Eu havia ido largar o carro na casa da minha mãe, pois na casa onde moro não há garagem,era noite de domingo e já se passavam das vinte e três e trinta , ou seja, não havia uma viva alma na rua,mesmo assim resolvi vir pelo meio da vila, que é um atalho natural para a minha casa. Vinha eu tranquilamente andando pela rua de terra quando a uns duzentos metros de chegar em casa aviste uma estrela que brilhava de diferentes cores e se movia lentamente de um lado para o outro, diminui o passo para observar melhor e notei que a “estrela” parecia estar ficando maior, logo notei que ela estava descendo.
A estrela desceu no meio de uma encruzilhada ,atirando para longe sacolas de lixo que aguardavam o recolhimento do caminhão na manhã seguinte e as velas e pratos de pipoca despachados dias antes; o objeto emitia uma luz fria que pisca em diversas cores, deveria ter um dez metros de altura e ocupava toda a área da encruzilhada onde havia pousado, sim, pousado! Depois dos segundos boquiaberto com o que estava acontecendo consegui voltar a mim e perceber que se tratava de uma Nave espacial. Olhei ao redor, mas não houve tumulto nem gritos, ninguém saiu de casa e nem ao menos uma luz foi acesas ou janela aberta, uma tranquilidade sepulcral tomava conta da rua, não se ouvia nem ao menos o barulho dos motores de carros ao longe, tudo era silêncio. Foi nesse momento que vi que estava abrindo um compartimento na parte mais abaixo do objeto, como se fosse uma porta e de lá vi vindo em direção da saída uma sombra que se movia em passos lentos e calculados, a sombra tinha aspecto humanoide , e, embora difícil de observar sua aparência devido a luz que partia de dentro da nave, não me senti chocado ou com medo, na verdade em nenhum momento me senti realmente assustado naquela experiência, era como se uma aura de paz e tranquilidade tivesse descido juntamente com a espaçonave . De repente ouvi dentro de minha cabeça uma voz suave, embora firme, que me perguntou:
           - Que lugar é esses?
Entendi que a criatura se comunicava por telepatia e assim que esse elo telepático foi firmado, comecei a perceber também os sentimentos que emanavam dela e o atual era dúvida. Então respondi :
      • Estamos no planeta terra
Senti o esclarecimento brotar na mente da criatura em forma de uma exclamação
      • Quem habita nesse planeta ? ( disse a criatura)
      • Diversos seres habitam por aqui, insetos, plantas, animais...
      • mas , dentre tantos, quem lidera os outros...a quem pertence essa sociedade complexa que podemos observar assim que adentramos a atmosfera ?
      • Quem nomeou o planeta de terra e organizou sua sociedade para se manter no topo é a raça a qual pertenço, a raça humana
Então senti como um aperto dentro da minha cabeça e a voz disse:
      • E essa sociedade a qual pertences , é de confiança, me conte sobre ela... quero que sejas sincero !
Ao ouvir a palavra sincero, me senti impossibilitado de mentir ou omitir algo, como quando um vilão é envolto no laço da Mulher-maravilha nos quadrinhos , então comecei a falar:
      • A sociedade humana está em todos os cantos do planeta e para sobrevivermos mudamos os cursos dos rios, criamos represas, derrubamos florestas e nos multiplicamos sem pensar no futuro, e assim, levamos a extinção diversos outros animais e plantas que disputavam espaços conosco. Para suportar nosso extinto natural de destruição criamos a religião, uma série de ritos que visam agradar um ser invisível que nos recompensará após a morte se não seguirmos nossa própria vontade, mas sim as ideias escrita a centenas de anos atrás e interpretadas por alguns escolhidos, que embora sem experiência nas relações humanas, se acreditam sábios o bastante para nos aconselhar e ditar regras as nossas vidas, mas mesmo isso não nos contém pois os escolhidos que detém a palavra são muitos e discordam entre si, incitando a violência e o ressentimento . Dizemos que acreditamos no amor, mas se vemos alguém apaixonado ou que coloque o alvo desse amor a sua frente, o taxamos de trouxa e rimos dele, como crianças mimadas, falamos de nós mesmos o tempo todo e temos certeza que devemos ser amados por todos incondicionalmente ; Fazemos músicas falando de carros que jamais dirigiremos , tratando mulheres como objetos, homens como máquinas e dinheiro como a única meta na vida, acreditamos que uma aparência de sabedoria e vitória valha mais que a sabedoria e vitória em si. Trocamos grande parte do convívio social por simulações através de máquinas e chamamos tal simulação de de Rede social, através dessa podemos expor ao mundo uma felicidade que não temos para que sejamos aceitos por pessoas com as quais nem nos importamos; com o passar do tempo perdemos a capacidade de atrelar valor as coisas, mas nos tornamos especialistas com colocar preço em tudo. Só sabemos que o termo “crítica” existe pois somos informados pelo dicionário, pois se alguém não aprova ou discorda de algum ato nosso, logo sabemos que se trata de um invejoso , do mesmo modo que sabemos que alguém que se dedica ao trabalho ou ao estudo só o faz para nos humilhar ….
        • CHEGA!!! (gritou a voz , agora áspera dentro da minha cabeça) que tipo de lugar é esse??!!??
Então com movimentos cambaleantes, mas ágeis, a criatura se pôs novamente dentro na nave e a porta se fechou. Antes que levantasse voo , senti em meu coração os sentimentos que torturavam o estranho visitante , eram o medo, piedade, decepção e nojo; então um pouco antes de a conexão ser quebrada consegui entender uma frase que retumbava dentro de minha cabeça e que vinha de dentro da espaçonave e que só posso traduzir da seguinte forma:
        • Motores a toda força … vamos partir o mais rápido possível, acredito que pousamos no inferno.
Então a Nave partiu e levou consigo a aura de tranquilidade que trouxera e voltei a ouvir o som dos carros tocando funk, das sirenes das ambulâncias e polícia, os gritos das pedreiras, os tiros , as gargalhadas e o final de domingo se tornou em um final de dia normal.