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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

IMPULSE - A série (2018)





  A frase mais repetida que eu ouço, quando falo de uma série, é: “tem na Netflix?”. Eu entendo esse questionamento, o serviço de streaming mais popular do planeta se transformou em sinônimo de relevância no que se trata de entretenimento e sendo assim, se tem lá, é porque é bom! Só que, existe muita coisa bacana sendo feita fora dessa bolha e que quase ninguém dá a devida atenção, mas que precisam conhecer.

  
Um bom exemplo é uma série de ficção científica que teve sua primeira temporada apresentada em 2018 pelo Youtube Premium, mas que por aqui pouco se falou. Trata-se de “IMPULSE”, produção baseada no livro homônimo de Steven Gould (que também inspirou o filme “Jumper” de 2008) e que conta a história de Enrietta “Henry” Coles, uma adolescente problema que após sofrer abuso, descobre que pode se tele transportar. 

   Comecei a assistir a série por pura curiosidade, mas ela acabou me tele transportando (pá-bum-tss) para dentro do mundo que os criadores entregam, conseguindo com sua história me fazer resistir de fugir de uma produção de dez episódios de 50 minutos em pleno calor de janeiro. No meio dessa batalha entre calor e curiosidade, posso dizer que oque mais gostei da produção é que ela coloca o “poder” da protagonista em segundo plano, ele é importante e sua descoberta dá movimento a toda trama, mas a história não fica batendo nessa questão a todo tempo, substituindo os clichês habituais de histórias de superpoderes por uma trama apoiada nas escolhas dos personagens e suas capacidades de lidar com as mesmas.

  
A Opção por deixar o fantástico meio que de lado, proporciona o aprofundamento dos personagens centrais, dando dramaticidade á uma série que tem uma premissa aparentemente rasa. A situação que dá origem a tudo é o abuso sexual sofrido pela protagonista e que, além de despertar seus poderes, causa a paraplegia de seu agressor. Tal situação além de liga-los profundamente durante toda a temporada, abordando sobre o limite do que é abuso, a consciência dos atos de cada um e a responsabilidade sobre o que se fala, ainda gera sub tramas bem interessantes envolvendo a família do agressor, da protagonista e até da polícia local, sem falar de uma misteriosa organização que se mantem quase que totalmente nas sombras até o final da temporada, mas que sinaliza ser tanto uma resposta sobre o passado, quanto a grande ameaça no futuro da protagonista.

    Outra coisa que gostei é que a série consegue dar tridimensionalidade aos coadjuvantes, fazendo com que entendamos suas razões e dúvidas e que nos importemos com eles. Dois exemplos são o irmão mais velho do agressor de Henry e a filha do padrasto da protagonista, que apresentam um desenvolvimento paralelo muito bem construído e que acabam a temporada totalmente diferentes de como começaram, o primeiro passando de um quase capanga do próprio pai e de postura violenta, para alguém que busca redenção pelos crimes e erros que cometeu para orgulhar o pai que o vem subestimando; enquanto a segunda larga a ideia de buscar a aprovação dos colegas de escola e, além de se tornar a verdadeira heroína da série, defendendo sua família,  se encontra como pessoa com a pitada de rebeldia que a irmã postiça lhe transmite.

Mas a série tem algumas questões que me incomodaram. A Maior é que ela começa apresentando um personagem, que possui o mesmo dom da protagonista, e que dá pistas dessa organização secreta que citei acima e da existência de outros como eles, mas a história parece utiliza-lo só para mostrar como essa organização é maligna e desiste dele o retirado da trama de maneira abrupta e chocante, com uma explicação fraca e sem cita-lo mais tarde. Outro problema é a própria protagonista que é extremamente grosseira e indiferente com os outros, jogando a culpa de tudo nas pessoas que a rodeiam e que parece não se preocupar com ninguém além de si mesma, seu crescimento como personagem oscila muito e a temporada termina sem realmente sabermos se ela aprendeu alguma coisa com tudo que aconteceu e, falo com tranquilidade, que se não fossem as tramas paralelas e os coadjuvantes bem construídos e a serie fosse totalmente focada em Henry Coles, não seria possível passar do quinto episódio.

    Mas embora possua alguns furos, “IMPULSE” é uma boa série. Consegue trabalhar razoavelmente bem a questão do abuso sem perder seu propósito de ficção científica, ainda trabalhando em paralelo com investigação policial e descobertas adolescentes, quase como um bolo onde se misturam muitos ingredientes e no final fica saboroso. A produção é muito bem feita, os diálogos são bem explorados e muitos deles cheios de tensão e, o clima e a ambientação gelada da série ainda colaboram para a ideia de solidão e desolação que a protagonista sente ao seu redor depois que, além de sofrer abuso, descobrir que não é uma pessoa como as outras.

  Então aproveite a minha dica e assista “IMPULSE” e se surpreenda com uma das diversas produções que NÃO estão no maior streaming do mundo, mas que mesmo assim, possuem grande qualidades e merecem ser notadas.




quinta-feira, 10 de maio de 2018

THE TERROR (2018) - A série




    19 de Maio de 1845. O Terror e o Erebus, dois dos navios mais bem equipados da marinha Britânica, partiam da Europa em direção ao circulo polar ártico na intenção de descobrir a tão sonhada “passagem do Noroeste”, uma rota navegável que ligaria o atlântico norte ao oceano pacífico, facilitando a busca de especiaria e o comércio com o Oriente. Tendo o experiente explorador Sir John Franklin, veterano de outras três missões ao continente gelado, como comandante da expedição e como capitão do HMS Terror, Francis Krozier, do HMS Erebus, James Fritzjames e possuindo uma tripulação conjunta de cento e trinta homens, ambos os navios foram avistados por barcos baleeiros na bahia de Baffin em Julho do mesmo ano, aguardando o melhor clima para adentrar o labirinto gelado do mar do polo norte, depois daquele dia ambos navios e seus tripulantes, nunca mais foram vistos.

   Inspirado nessa assustadora e fascinante história real, o escritor americano Dan Simmons publicava em 2007 o livro “O Terror”, misturando as mais recentes descobertas sobre o possível trágico destino dos marinheiros ingleses com uma assustadora trama sobrenatural que transita entre a misteriosa mitologia Inuit e os limites da mente humana levada ao extremo em uma situação desesperadora. O livro não passou despercebido e, com a produção de Ridley Scott e contando no elenco com atores como Jared Harris, Tobias Menzies e Ciarán Hinds chegou ao canal AMC este ano, sua a adaptação televisiva , trazendo para TV um terror sutil e envolvente por sua estranheza, que apresenta uma dezena de personagens e pontos de vista e que presta uma terrível homenagem a um dos maiores mistérios do século XIX, em uma das melhores coisas que assisti nesse primeiro semestre de 2018.

 
Jared Harris (esq) e o verdadeiro Krozier em foto de 1845 (dir)
A Série é protagonizada pelo capitão Franscis Krozier (Jared Harris), que amargurado por uma rejeição amorosa, parte para o ártico no comando do navio HMS Terror, sendo acompanhado de perto pelo navio HMS Erebus, de onde Sir John Franklin (Ciarán Hinds), tio e tutor da mulher que o desprezou, comanda a expedição mais ousada da marinha da rainha Vitória. No entanto, a pouca sorte na vida íntima se apresentará como o menor dos problemas do capitão Krozier, quando poucos meses após adentrar o ártico ambos os navios acabam presos no gelo, dando aos marinheiros a paciência pela espera do degelo como única alternativa, o que começa a se complicar quando uma equipe que procurava sinais de descongelamento longe dos navios acaba baleando por engano um misterioso xamã esquimó que atravessava o deserto de gelo junto com sua filha. A partir desse dia, uma maldição parece subir a bordo, com os marinheiros se vendo vítimas de envenenamento por chumbo, tendo seu estoque de comida destruído e sendo caçados por uma estranha criatura sobrenatural, que embora lembre um gigantesco urso polar, parece raciocinar e planejar dar cabo da tripulação. Todas essas situações vão insuflar o caos, o amotinamento e a total selvageria entre a tripulação, sobrando ao capitão Krozier e alguns de seus aliados, a tarefa de buscar sobreviver em meio ao pesadelo gelado onde ficarão presos por mais de três anos.

    Que série fantástica! Fugindo do convencional e transportando o expectador para uma trama que especula sobre um mistério de mais de 170 anos temperado com doses certas de suspense e sobrenatural, “O Terror” faz jus ao nome e apresenta uma história com momentos que flutuam entre a construção de tensão de um Stephen King e a loucura que a estranheza total, no melhor espirito Lovecraftiano, pode causar. 

   No tocante a construção da tensão e todo estranhamento que a série possui, a direção e produção se destacam por escolhas que parecem prender ainda mais quem assiste frente a TV. A vasta paisagem branca e gelada, quase sempre contendo apenas o som do vento como complemento, quando não uma música com notas destoantes que consegue transmitir ares de solidão ao mesmo tempo em que se assemelha a um sonho, são tão essenciais na série quanto suas dezenas de personagens que, com destaque no que vemos ou apenas como pontas, nos indicam todas as facetas da situação.

  
Tobias Menzies (esq) e o verdadeiro FritzJames (dir) foto de 1845
Dentre esses personagens, vale a pena destacar alguns que, junto com o Capitão Krozier, Capitão Fritzjames e Sir John Franklin, marcam outros núcleos e encabeçam questões que vão movendo a trama. Dentre os de maior destaque temos o tímido assistente de cirurgião Henry Goodsir (Paul Ready), que em meio ao caos e barbárie que vai crescendo é uma das poucas pessoas que tenta fazer os companheiros ouvir a voz da razão, assim como é quem investiga as causas dos males de saúde que começam a aparecer entre os exploradores, sem dizer que é ele que contando apenas de paciência e empatia, vai buscar aprender a falar a língua dos esquimós para tentar encontrar respostas da misteriosa Lady Silence, a filha do Xamã que é morto por acidente. Essa, por sua vez nos conecta com a mitologia Inuit e o sobrenatural, nos entregando lentamente que por trás daquela sequência de problemas que os tripulantes dos navios vão enfrentando, há uma verdade que vai além da compreensão mundana.

    Mundano, talvez seja a palavra que melhor defina o vilão da trama. Cornelius Hickey (ou seja lá quem ele é realmente) não parece não possuir escrúpulos para sobreviver e é capaz de queimar seus próprios companheiros como combustível se isso significa sobreviver. Ele surge discreto e, tal qual a trama, vai crescendo e ganhando força ao liderar o motim que divide a tripulação e, seu cinismo e violência tomam tamanha proporção, que ao final dos dez capítulos fica difícil de saber se o verdadeiro monstro a ser temido é o Tuunbaq (a criatura que persegue os marinheiros) ou o próprio marinheiro Hickey.

    
Ciarán Hinds (esqu) e Sir John Franklin (foto 1845)
Mas nem tudo é perfeito em “O Terror”. Por resumir um livro de mais de 700 páginas em uma série de dez episódios, muito do aprofundamento da relação dos personagens fica parecendo vago e parece que algo nos escapou. Um exemplo é a estranha relação entre o médico Dr. McDonald com um dos marinheiros do Erebus, que remete a um caso amoroso, mas que não fica bem claro. Do mesmo modo que não fica claro o exato momento que, já sem alimentos e tendo de abandonar os navios, o grupo que acompanha Cornelius Hickey aceita, sem discutir de forma mais ampla, consumir a carne dos companheiros mortos, ou a medida exata em que o Tuunbaq é racional e qual sua verdadeira relação com lady Silence. Mas ao final, até essas pontas soltas ajudam a tornar mais densa a sensação de mistério que a produção traz.

     
Presos no gelo
Mas apesar de seus problemas no aproveitamento total dos personagens e suas relações, “O terror” foi uma das melhores séries que assisti nesse inicio de ano. Sua produção é lindíssima e a sua trama fascinante, principalmente ao lembrar que parte dessa história terrível é real, com a descoberta de que problemas com a solda dos enlatados da expedição permitiram que a comida estragasse antes do tempo e que, com base na necropsia de três corpos da tripulação, encontrados enterrados na ilha canadense de Beechey , houve realmente um envenenamento por chumbo, além de os marinheiros sofrerem com o Escorbuto e a tuberculose; a tradição esquimó da região conta história de luta entre tripulantes e atos de canibalismo sendo que apenas em 2016 (quase dez anos depois do lançamento do livro) os restos dos navios foram encontrados no mar canadense, encerrando um mistério de mais de cento e setenta anos, mas não as circunstâncias e o que realmente aconteceu com a tripulação da expedição de John Franklin.

   Então se quiser algo diferente para assistir, que transite entre o real e o sobre natural, com uma produção caprichada e boas atuações, além de uma história que te prende; embarque no Terror e também se perca na imensidão gelada do desespero humano. Garanto que você não se arrependerá.




sábado, 23 de dezembro de 2017

RICK & MORTY: Episódios essenciais para começar a explorar o multiverso.




Um mês! Esse foi o tempo que fiquei sem escrever nada. Eu sei que nesse período o mundo ficou sem graça com a ausência da exposição do meu gosto duvidoso e opinião rasa, mas o fato é que depois que vi e escrevi sobre a “liga da justiça”, pareceu que eu estava  entrando novamente em um ciclo que começou lá em 2012 com ”Vingadores", então resolvi dar uma pausa. Só que, durante essa parada me deparei com uma produção fantástica, que me seduziu pela curiosidade e acabou me viciando e prendendo durante esses trinta dias com seus conceitos brilhantes, humor negro e (por que não?) niilismo libertador. Hoje volto da dimensão C-137 para falar um pouco da série animada "Rick & Morty" e indicar três episódios de cada uma das três temporadas para escancarar de vez o portal interdimensional  para quem ainda não conhece a série se jogar sem medo.


A essa altura, se você é da mesma dimensão que eu, já deve ter ouvido ou lido alguma coisa sobre “Rick & Morty”, até porque a série é a mais nova moda no cenário pop-geek-nerd, se tornando tema de podcasts, estampas de camisetas e sendo terreno para inúmeras teorias pela internet afora, mas fingindo que ninguém sabe do que eu estou falando acho que, antes de tudo, vale uma apresentação:

     
   “Rick e Morty” é uma série americana criada por Dan Harmor e Justin Roiland, exibida na gringa pelo canal Adult Swin e que se originou de um curta de animação chamado "Doc e Marty", que parodiava o filme “De volta para o futuro”. Na série, acompanhamos as aventuras de Rick sanchez, um cientista genial que descobre uma maneira de viajar entre múltiplas dimensões e que, depois de dez anos desaparecido, retorna para morar de favor com a família de sua filha Beth, uma cirurgiã de cavalos que e é casada com Jerry Smith, um publicitário inseguro e impressionável, desde que engravidou na adolescência de Summer,  esteriótipo da adolescente moderna; fechando a família temos Morty, o filho caçula de 14 anos, influenciável e assustado que se torna parceiro de seu avô Rick nas mais insanas e geniais aventuras través das infinitas possibilidades do multiverso.

A série é brilhante! Usa de todo o potencial que as animações possuem desde sempre para apesentar conceitos muito bacanas de ficção científica, abusando do humor negro para criticar a sociedade e nos fuzilando com dezenas de referências por episódio, sem contar que consegue (em quase todo episódio) apresentar duas ou até três histórias simultâneas com o mesmo peso e força e isso tudo em vinte minutos por episódio!

Mas sem mais delongas, vamos ajustar a pistola de portais e indicar esse nove episódios essenciais:




Temporada 1:

Episódio 1Piloto: É impossível que qualquer série siga em frente sem apresentar um piloto descente, e no caso de “Rick e Morty” não é diferente. O primeiro episódio da primeira temporada é um resumo de quase tudo que acabamos por encontrar nas três temporadas que o segue. Nele, somos apresentados tanto a rotina mundana da família Smith, com Jerry e Beth sendo chamados à escola do filho pelo fato dele faltar quase todos os dias, assim como ao multiverso e aos primeiros exercícios de humor negro da trama, com a dupla protagonista indo até outra dimensão para pegar mega-sementes, que Morty tem que contrabandear escondendo no reto e Rick guiando o neto de volta através de alfândegas alienígenas e travando uma verdadeira guerra para retornar a terra.

Frase:
- Atire neles Morty!
- Mas não quero machucar ninguém Rick
-Atire Morty, eles são robôs
(Morty atira e o sujeito cai sangrando)
-RICK ELES NÃO SÃO ROBÔS!!
-É uma figura de linguagem Morty, eles são burocratas, eu não respeito eles.


Episódio 6 – Cronembergs: Nesse episódio Morty pede uma poção do Amor para Rick, para conquistar sua paixão, Jéssica, no baile da escola; só que, por puro descaso, o genio da família não avisa ao neto que a única contraindicação é se seu alvo estiver gripado… só que a festa onde Morty pretende seduzir a colega, é o “baile anual da Gripe”!! Surge daí uma confusão em cadeia que começa com todas pessoas do mundo se apaixonando por Morty, depois todos acabam se transformando em louva-deus e mais tarde em “Cronembergs” (referência ao diretor de filmes como “a mosca” e “Scaners”) monstros deformados que misturam diversos animais, resultando que Rick e Morty acabam fugindo para outra dimensão, onde suas versões estão mortas tomando seus lugares e abandonando sua família antiga. Foi o primeiro episódio que me chocou e me conectou com o niilismo que o comportamento indiferente de Rick acaba aos poucos expondo e que vai se destacando cada vez mais por episódio.

Destaque para o silêncio e choque de Morty ao final quando (ao som de: “Look On Down From The Bridge”) ele percebe que não há volta e que agora é hóspede de outra dimensão e parte de outra família.


Episódio 8-TV interdimensional: Assim como muitas séries de TV “Rick e Morty” possuem um episódio especial por temporada, no caso da obra de Harmor e Roiland, esse especial consiste na família Smith assistir a TV interdimensional, um aparelho criado por Rick onde canais infinitos de dimensões infinitas estão disponíveis. O episódio se divide em pequenas histórias que passam na TV como programas assistidos pelos protagonistas e que foram improvisados pelos autores, gravados em áudio e depois desenhados (o que dá o ar supremo do no sense) enquanto que Jerry, Beth disputam para assistir, através de uns óculos que acompanha suas versões de outras dimensões, como seriam suas vidas caso Summer não tivesse nascido.

Esse episídio tem um final espetacular, pois dá sequência aos acontecimentos do episódio 6, deixando claro que, apesar de se tratar de uma animação, nada ali é zerado e tem consequências, quando Morty, sabendo da tristeza da irmã, quando esta descobre que seus pais tentaram aborta-la e que a vida destes em outra dimensão foi um sucesso, devido a sua ausência, diz a frase que me fisgou de vez:

Frase: "...Não fuja, ninguém existe com um propósito, ninguém pertence a nenhum lugar e todo mundo vai morrer..”


Temporada 2:

Episódio 3 – Unidade: Com uma história que abusa das referências a clássicos do terror, como “invasores de corpos” e “Alien”, além de, ao final, mostrar toda a solidão que pesa sobre o genial Rick Sanchez, O terceiro episódio da segunda temporada é um dos meus favoritos. Nessa aventura, Rick, Morty e Summer recebem um pedido de socorro e são atraídos a uma nave que se encontra à deriva no espaço, onde sobreviventes de uma raça alienígena informam que todas as pessoas de seu planeta foram assimiladas por uma entidade que está unindo todos os seres em uma única consciência; logo a seguir, descobrimos que essa “Unidade” é uma ex-namorada de Rick e partimos para o planeta dominado por ela, onde a simples presença do protagonista e seus netos põem em risco todo o propósito de ordem da entidade e ameaça a segurança de todo o planeta.

Destaque para o momento onde a Unidade percebe o mal que a presença de Rick causa e resolve se afastar de seu ex-namorado de vez, e como ela É todas as pessoas do planeta, esconde os habitantes e Rick vai sabendo o motivo de seu afastamento através de cartas que vão sendo atiradas a ele pela rua.

Referência à "Invasores de corpos" no episódio "Unidade"

  Episódio 4 – Mostrem o que tem: Uma cabeça gigante entra na atmosfera da terra causando todo tipo de desastre natural e começa a repetir a frase “mostrem o que tem!”; enquanto os demais personagens da série se refugiam em uma igreja para orar por salvação, acreditando que se trata de Deus, Rick e Morty vão até o pentágono (na maior referência ao filme “Doutor Fantástico”) explicar que se trata de uma raça alienígena que se alimenta de… um Hit musical! A partir daí a dupla fica encarregada de criar uma música para satisfazer o desejo do visitante, enquanto o restante da família se envolve na criação de uma seita extremista chamada “cabecismo”, que tem o alien como um suposto deus.

          “ Morty: -Rick, você é músico?
           Rick: - E quem não é?
           Morty: -Eu!!
           Rick:   - Não com essa atitude!”
 
MOSTREM O QUE TEMMM!

Episódio 6 – Keep Summer Safe / mundo na Bateria: Rick, Morty e Summer estão em uma dimensão para assistir a um filme, quando ao tentar ligar a nave, descobrem que estão sem bateria. A dupla de protagonista parte para dentro da bateria, onde Rick criou uma civilização que tem o objetivo de abastecer a energia de sua nave e celular, só que esta desenvolveu uma sociedade e também está criando uma civilização dentro de outra bateria para ter menos trabalho; enquanto isso, Summer é deixada na nave e Rick ordena para que a máquina a deixe segura. Parte daí, na sociedade dentro da bateria, a discussão sobre escravidão e utilização do empenho do outro para trabalhar menos, enquanto que Summer testemunha todo tipo de atrocidade proporcionada pelo computador da nave para poder cumprir a ordem dada por seu avô.

      “-Você tem um planeta inteiro gerando energia pra você”? Isso é escravidão!
         -É sociedade, eles trabalham uns para os outros, compram casas, geram filhos…
      “-Isso parece escravidão com umas coisinhas a mais!”
"manter Summer segura!"

Temporada 3:

Episódio 1 – Fuga da prisão: No final da segunda temporada Rick se entrega à federação Galática (órgão que o tem como um terrorista) e é preso, o primeiro episódio da terceira dão sequência a esses eventos e se divide em duas histórias, sendo uma guiada por Rick, que começa em uma viagem por suas memórias e segue até sua espetacular fuga da cadeia e a outra acompanhando Morty e Summer em um “plano” para libertar o avô.
Esse episódio se destaca não só pela extrema violência e reviravoltas que a trama dá, levando mesmo Morty a visitar sua família original na dimensão destruída no episódio “Cronembergs” e Rick a trocar de corpo umas quatro vezes, como pela qualidade do roteiro e dos conceitos bacanas que apresenta o que lembra um bom filme de ficção científica e deixa claro a que veio a terceira temporada.


Episódio 2 – Realidade pós-apocalíptica: Meu segundo episódio favorito. Nele, Rick e seus netos partem para uma realidade pós-apocalíptica que mistura “Mad Max” e “Game of Thrones” atrás de um tipo raro de minério que fornece energia. Para conseguir roubar uma grande pedra desse material que os nativos levam consigo em suas caçadas e matanças, o protagonista e seus ajudantes resolvem ficar na dimensão e deixar androides para substituí-los em casa, surge daí um relacionamento entre Summer e “Hemorragia” um dos líderes do grupo nativo, enquanto Morty descarrega toda sua raiva reprimida em uma arena, depois de que tem as memórias musculares do braço de um inimigo do grupo, que morreu em batalha, injetados em si.
Destaque para como se destrói qualquer espírito guerreiro ou relação ao final do episódio, quando Rick, depois de criar uma sociedade classe média baseada na comodidade, o que transforma os guerreiros sanguinários em meros “telespectadores”, transforma a vida da neta em uma rotina, a convencendo a ir embora e depois parte, levando consigo a fonte de energia da evolução que ele criou para aquela realidade, o tão cobiçado minério.


Episódio 7 – Contos da Cidadela: Esse é o meu episódio favorito e nem conta com a presença dos protagonistas, ou mais ou menos. Nessa história, voltamos a Cidadela dos Ricks, um lugar onde Ricks de várias realidades se uniram para formar uma sociedade onde vivem apenas Ricks e Mortys e que é apresentada no décimo episódio da primeira temporada e destruída no primeiro episódio da terceira, quando Rick escapa da cadeia. O episódio conta como a cidadela está se reestruturando depois de sua quase extinção e a trama acompanha cinco histórias, Um Morty que quer ser presidente, Um Morty que é assessor do candidato, Um Rick e Morty policiais, Um grupo de Mortys que foge da escola para viver uma última aventura e um Rick Operário cansado de sempre se dar mal. O Episódio, além de ser melhor do que quase TODOS os filmes que vi esse ano, ainda usa e abusa de referências a filmes como “Conta Comigo”, “Dia de treinamento”, “Dia de Fúria”, entre muitos outros, para dar sequência aos acontecimentos da primeira temporada e conectar ainda mais a história, isso tudo, repito, em apenas vinte e um minutos!!

Frase: “Discursos são para campanhas, agora é a hora de ação!”


Bom, mesmo o texto tendo ficado gigantesco (e mais raso que as expectativas de Jerry Smith), nada que foi dito chega aos pés do que a série apresenta ou substitui a experiência de assistir cada episódio. Com um humor absurdo que explora todo potencial de animação, crítica inteligente e sínica e, toda a força de um niilismo de deixar Nietzsche orgulhoso, “Rick e Morty” vieram para revolucionar o universo das séries e prender os fãs de ficção científica no universo C-137. Então a dica está dada (como se ninguém conhecesse) e se Morty Sanchez Smith estava certo no T1-Ep8 e ninguém existe com um propósito, ninguém pertence a nenhum lugar e todo mundo vai morrer, vamos assistir TV e dar uma chance ao novo.


Fica a dica e fica tranquileba !


domingo, 29 de outubro de 2017

ROOM 104 - (2017) quando um mundo cabe em um quarto.




   Ah, o planeta Terra! 510.100.000 km de área que servem como palco pra tudo a que se refere o fenômeno humano. Da descoberta do fogo a construção da primeira nave espacial, das guerras por comida entre tribos ao debate sobre a futura escassez de água, tudo ocorreu e ocorre em um único palco de infinitas possibilidades, o nosso pálido ponto azul! Mas, e se reduzíssemos ao extremo a escala desse palco? 

   Pois contar uma infinidade de histórias, tendo um único e pequeno palco é a ideia central de  “Room 104”, série criada e produzida pelos Irmãos Duplass (de “tranparent” e “Togetherness” (duas séries que nunca vi)), que passou meio em branco pela HBO nesse ano onde se confirmou que Jon Snow é um Targaryen (ops!) e que acabei descobrindo muito sem querer, mas que me trouxe uma surpresa tão agradável, como encontrar uma nota de 20 Reais solta no bolso de uma calça.    




   
   “Room 104” é uma série antológica que a cada episódio apresenta uma história diferente, seja no que se refere aos personagens, tema, estilo ou período histórico, tendo como único fio que conecta todas essas histórias, o palco onde elas são contadas, ou seja, o quarto número 104 de um hotel qualquer. Nesse universo de infinidades, somos apresentados histórias de terror, suspense, sobrenaturais, dramáticas e até a números de dança, com cada história sendo protagonizada por nomes conhecidos (ou nem tanto assim) do cinema, como Orlando Jones (American Gods), Nat Wolff (Dead Note), Melonie Diaz (the Belko Experiment) e Clark Duke (Kick-Ass) em uma história mais maluca que a outra e que merecem ser vistas ainda HOJE.

EP 3 :"The Knockandoo"
   Dessas histórias malucas, gostaria de citar, só para dar um gostinho, mas sem contar muito do que acontece, duas que prenderam minha atenção um pouco mais, tanto pelo clima que criam durante o desenrolar de cada trama, quanto ao final inesperado de ambos os episódios, que são os episódios 2 e 3, respectivamente intitulados de “Pizza boy” e “The Knockandoo”. 
 
“Pizza Boy”, que é estrelado por Clark Duke e conta com a participação de James van der Beek (o Dawson de “Dawson’s Creek”) e Davie-Blue, apresenta a desventura de um entregador, que se depara com um estranho casal ao entregar uma pizza no quarto 104, onde um marido empolgado e teatral deixa o rapaz cheio de incertezas, ao abandoná-lo sozinho com sua sensual e carente esposa.  O episódio me ganhou por sua crescente de tensão, que chega a seu ápice, quando o marido retorna, trazendo o dinheiro da pizza, insegurança e violência, em uma situação que só é superada pelo final totalmente inesperado que o episódio tem.

 
Pizza Boy
Já “
The Knockandoo”, traz Sameerah Luqmaan-Harris como uma mulher cheia de problemas e traumas que vê sua entrada em uma seita como a solução de seus problemas e fim de suas dores, para isso ela solicita a visita, no quarto 104, onde está hospedada, de um missionário (Orlando Jones ) que a ajudará em sua “Transcendência”. Nessa história o que mais gostei foi o clima, onde após uma preliminar de drama  que beira à denúncia contra seitas religiosas, somos lentamente mergulhados em um clima de suspense sobrenatural que lembra, de forma sutil, os contos do “Rei de amarelo” de Robert W. Chambers, fato que é coroado por um final que flutua entre Lovecraft e Monty Python.

     Achei a série bem legal, embora alguns episódios não tenham passado na minha regra de dez minutos ( vejo 10 minutos, se não me prender eu salto fora), talvez por não se enquadrarem nos estilos que mais gosto, o que vendo por outro ângulo, é mais uma vantagem da produção, pois trabalhando com todos os estilos, vai prender o espectador em pelo menos uma história. Outra vantagem, é que cada episódio não chega a trinta minutos, o que dá agilidade a forma como a história é contada, não dando tempo de a trama criar barriga e aliviando quem , assim como eu, não aguenta mais series arrastadas que te comem uma hora sem precisar.


    Então, se você tem pouco tempo e quer ver algo diferente, ou se apenas quer assistir uma série meio maluca, mas muita legal onde cada episódio conta uma história totalmente diferente em estilo, trama, tempo e circunstância; fica aí então a minha dica, doze episódios de menos de trinta minutos que com certeza vão te conquistar através de uma história ou outra em uma produção que mostra que um mundo pode caber dentro de um quarto. 




sábado, 21 de outubro de 2017

ELECTRIC DREAMS (2017) - a série antológica de Philip K. Dick



Final de ano não é fácil meu amigo! Eu que elegi o setembro como meu mês de apocalipse, acreditava que o outubro seria mais tranquilo, mas aí começou o ciclo de férias de meus colegas e meu trabalho duplicou, vendi meu carro e não consegui transferir devido à burocracia do banco e, nem mesmo “Blade Runner 2049” consegui assistir no cinema! Mas tudo isso são “White man’s problems”, (mesmo eu não sendo branco!) e como já faz tempo que sigo a máxima de Confucio de que “Se o mundo está de pernas para o ar, queixo pra cima”, resolvi desencanar e dar uma relaxada. Foi quando fui surpreendido por um presente entregue pela emissora inglesa Channel 4, a todos fãs de Philip K. Dick, a produção “Electric Dreams”, uma série antológica onde cada episódio é baseado em um conto do autor e que mudou o status do meu mês de “tem que melhorar”, para “nada mau”!

A Série, que contará (pois no momento que escrevo se encontra na metade) com dez episódios em sua primeira temporada, estreou no canal inglês nesse último dia 17 de Setembro e traz em seu elenco grandes nomes do cinema para dar vida aos personagens imaginados por Dick, como Benedict Wong (“Dr. Estranho”), Steve Buscemi (Cães de aluguel), Terrence Howard (Homem de Ferro), Bryan Cranston (Breaking Bad), Vera Farmiga (Invocação do Mal) entre muitos outros atores e atrizes que, somados a diretores conhecidos do publico gringo, dão peso a produção da terra da rainha.

Até o momento assisti aos quatro primeiros episódios e o que posso dizer é que a série consegue adaptar com bastante competência todos os conceitos, questionamentos e estranheza que marcam as obras de Philip K. Dick, com a vantagem de ainda possuir todo charme das séries inglesas, que sempre me pareceram menos voltadas para efeitos especiais mirabolantes e mais inclinadas para o roteiro e realização da história.

Sobre esse peculiar clima inglês presente na série, o próprio canal responsável pela obra carrega uma grande parcela do crédito. Já calejada em produções de sucesso, como a minissérie de terror “Dead Set” e sendo quem transmitiu originalmente as duas primeiras temporadas da aclamada “Black Mirror” (ambas as obras de Charlie Brooker), o Channel 4 segue levando ao público um conteúdo que atende as expectativas de quem é fã de ficção científica ou de realidades fantásticas, mas sem perder aquele clima melancólico e acinzentado da Inglaterra e que parecem aproximar as situações mais absurdas com a realidade.

Mas chega de falar de produção e vamos ao que interessa: As histórias.




Como eu disse acima, a série segue o tom dos questionamentos que pautaram toda a obra de Dick, como sua dúvida sobre o que é a realidade, o que nos torna humanos e nossa evolução como espécie, só que de uma maneira muito mais fiel à obra do escritor do que qualquer outra adaptação fez anteriormente, pois embora muitos dos contos e livros de PKD tenham sido levados para o cinema (o próprio Blade Runner é o maior exemplo) muito se utilizou do conceito, mas quase nada teve daquele espirito psicodélico que mesclava o quase absurdo (dê uma olhadinha no livro UBIK) com visões de um futuro não muito otimista e dúvidas humanas, coisa que essa antologia fica muito mais próxima, o que agrada muito a quem é fã, mas pode causar um estranhamento a quem só conhece o escritor por suas adaptações cinematográficas.

Steve Buscemi, como Ed
Nesse contexto de estranheza, nenhum episódio que assisti vence o intitulado “Crazy Diamond”. A história se passa em uma realidade onde tudo que é orgânico começou a se degradar e apodrecer, tanto a comida, como a própria terra e até mesmo as pessoas, parecem caminhar em passos rápidos para a entropia, mas a ciência ainda busca uma solução, então se criam as “Consciências Quânticas” (Os CQ), uma espécie de “pilha genética” baseada nos genes de porcos, que revitaliza aqueles que começaram a falhar, em uma ideia de mundo que lembra, também, o que o autor apresenta no livro UBIK, só que nesse conto não se encontra dentro de um sonho de “meia vida”, mas na realidade. Nesse Universo conhecemos Ed (Steve Buscemi), um cientista especialista em CQ que sonha em fugir do mundo em deterioração em uma viagem pelo mar, junto com sua esposa, até uma distante ilha onde ainda reina a normalidade; só que o aparecimento de uma mulher misteriosa o acaba prendendo a uma trama que envolve conspiração, contrabando e traição.


Robô RB29, do ep: "Planeta impossível"
Outro que chamou minha atenção, justamente por ser o contrário do comentado acima por ser muito mais pé no chão (dentro do que alcança o autor) foi o episódio “The Commuter”, que longe de falar de tecnologia ou futuro, se passa nos dias de hoje e aborda dimensões paralelas. Nessa história, o ator inglês Timothy Spall vive Ed (também) um funcionário de uma estação de trem, que vive um momento familiar difícil, com crises constantes de seu filho que sofre de bipolaridade e o afastamento visível de sua mulher; é quando em seu trabalho uma passageira lhe pede uma passagem para uma estação que não consta nos mapas ou registros e simplesmente desaparece; intrigado ele resolve pegar o trem e investigar, chegando um uma misteriosa cidade no meio do nada, aonde a felicidade e paz chegam a perturbá-lo. Chegando em casa, tudo está mudado, não há registros do nascimento de seu filho e sua mulher está muito mais próxima e amorosa, como se uma nova linha de tempo fosse formada, mas dia após dia, Ed vai sentindo que algo está faltando e resolve voltar a cidade, percebendo que o dia que vivenciou lá parece se repetir e que aquela felicidade toda, talvez não valha a fuga da realidade.

Gostei bastante dos episódios que assisti. O estilo puro de Philip K. Dick, abordando o futuro, dimensões paralelas, inteligência artificial, sem negar os questionamentos humanos, misturado com o estilo inglês de produzir TV, que além do clima britânico que transmite todo um ar de melancólico ainda brinca com as cores, dando mais tons pastel quanto mais imaginativa e estranha é a situação, conseguiu me segurar até o final de cada episódio.

 Então, se você quiser mergulhar em um universo baseado na mente brilhante de um dos grandes nomes da ficção científica e que mudou o status do meu mês, assista a “Electric Dreams” e dê uma chance para toda maravilha e estranheza que são frutos da Obra de Philip K. Dick.


Fica a dica.


quarta-feira, 26 de julho de 2017

POWER RANGERS (2017) e que venha o meteoro !



"O bater de asas de uma borboleta pode influenciar o curso natural das coisas e criar um tufão do outro lado do mundo." Essa frase, que tenta definir o "efeito borboleta", parte integrante da teoria do Caos, foi utilizada de maneira conceitual inúmeras vezes na cultura pop para dar movimento à histórias onde um acontecimento pequeno estimula uma série de eventos que culminam, geralmente, em uma grande catástrofe. No entanto, jamais uma produção havia sido resultado desse efeito até Março desse ano, quando, com a influência de um curta que dava ares sombrios a uma franquia televisiva voltada para crianças, a Lions Gate trazia para o cinema "POWER RAGERS", o reeboot cinematográfico da aclamada série dos anos noventa que apresentou para uma geração a cara americanizada do universo dos super sentais japoneses.

"Power Rangers" reconta o início da história de cinco adolescentes (Jason, Billy, Zack, Trini e Kimberly) que encontram as moedas do poder e com a orientação do extraterrestre Zordon, se tornam os defensores da terra contra os malignos planos de dominação de Rita Repulsa.

OK, eu sei que a primeira coisa que passou pela sua cabeça é: "Por que esse tiozão está falando de Power Rangers?" E essa é uma pergunta muito justa, ao se imaginar que o público alvo da produção, não diferente da antiga série, são as crianças e pré adolescentes. No entanto, a curiosidade para saber como esse filme, que brotou da ideia de um curta feito para a internet e que incluía mortes e traições ao colorido cotidiano da molecada residente da Alameda dos Anjos, seria executado foi o que me fez gastar duas hora da minha vida e que me fez escrever esse texto.

Para começar, vamos falar das coisas boas que o filme referencia, iniciando pelo clássico do diretor John Hughes, o "Club dos Cinco". Assistindo os primeiros vinte minutos não podemos ignorar a influência do filme de 1985, que mostra a amizade de cinco jovens problemáticos (também três rapazes e duas moças) que surge após o encontro na detenção da escola e esse artifício é bem utilizado para explicar como pessoas tão diferentes acabam mais do que se conhecendo, como dando oportunidade de quem anteriormente ignoravam entrarem em suas vidas, com destaque para o companheirismo que surge entre Jason e Billy. O personagem do Power Ranger vermelho mesmo, vive uma cena que é praticamente um control C Control V do filme de Hughes, quando tem um diálogo com o pai no estacionamento da escola onde fica claro seu conflito pessoal; Soma-se a isso, que ele , tal qual o personagem de Emilio Steves em "Club dos cinco" também é um esportista frustrado e que se sente oprimido pela expectativa da família.
Outra referência que o filme me trouxe foi o filme "Poder sem limites" do diretor Josh Trank, onde amigos entram em contato com uma descoberta misteriosa e desenvolvem poderes telecinéticos em uma trama que acaba revelando quem realmente é quem, o que me parece claro ao mostrar que a vilã do filme foi uma ex-integrante dos Power Rangers corrompida pelo poder que vislumbrou. Isso ainda se soma ao já mencionado curta, que é referenciado no prólogo da história, que se passa na era dos dinossauros e onde vemos as consequências da batalha da antiga equipe comandada por Zordon e a destruição causada por Rita.

Uma turminha do barulho
No entanto, todas essas coisas boas e referências estão reunidas na primeira meia hora de filme e quase desaparecem da mente do espectador a partir do momento em que o grupo se encontra na pedreira, onde descobre as "moedas do poder" e começam sua jornada para transformarem-se nos defensores da vida na terra. Depois desse evento, o filme muda de tom e começa a se aproximar da ideia da série original, proporcionando cenas e diálogos capazes de constranger até mesmo o público alvo da produção televisiva clássica. Começando pela grande barriga do filme, que é a dificuldade dos protagonistas "morfarem" e que se estende por mais de vinte minutos da trama em um lenga lenga que não agrega nada a história; essa dificuldade se revela ainda o ponto mais decepcionante de todo o filme, pois só vemos os personagens vestidos de power rangers quando faltam apenas vinte e seis minutos para a história se encerrar, ou seja, em setenta e cinco por cento de filme não temos a presença dos personagens que dão nome ao filme.

A decisão de apresentar a trama com a mínima presença dos super-heróis, remete a uma história de origem que foca mais na pessoa do que em seu alter ego, seguindo a fórmula de sucesso do primeiro filme do Homem-Aranha, de 2002; mas nem mesmo isso é aprofundado, pois temos apenas menções aos problemas dos protagonistas, que se apresentam na forma das constantes brigas de Jason com o pai, que não são explicadas, pois apenas somos informados que ele era o capitão do time de futebol americano da escola e que machucou a perna em algum acidente (que não é mencionado) e se transformou em um frustrado rebelde mimado, ou o fato de Billy estar no espectro autista e ter perdido o pai recentemente, também ao fato de Zack ser um ferrado que mora em um acampamento de trailers e cuidar da mãe doente, ou de Trini não conversar com os pais porque (aparentemente pelo diálogo que "os cinco malandros tem em volta do fogueira") ela é lésbica. No entanto, nenhum arco fez menos sentido para a história do que o de Kimberly, a ranger rosa.



Kimberly, foi mandada para a detenção por um fato terrível e que se revela como o principal motivo dela não conseguir morfar (sempre isso!), ela roubou um nude de uma amiga, que havia ficado com seu ex-namorado e enviou ao mesmo questionando se era aquele tipo de garota que ele queria apresentar para seus pais! A foto se espalhou pela escola (pelo menos parece ter sido isso) e ela acabou na detenção, sem contar que antes disso ela ainda bateu no EX... Esse problema poderia ser melhor resolvido, se a personagem, durante a história e pelo seu passado, se sentisse tentada a se debandar para o lado da vilã e assim conseguisse se redimir se sacrificando ao final ou dando um exemplo de redenção, mas não, quem a vilã tenta persuadir é a ranger amarela (porque é gay!), enquanto isso, ainda vemos o líder da equipe (Jason) dizer a nefasta postadora de nudes alheios que muita coisa circula pela internet e para ela não ficar preocupada, COMO ASSIM?? ISSO É CRIME CARA!! o arco ainda se encerra de maneira ridícula, quando a ranger rosa, de posse de seu Zord voador, derruba uma estátua sobre o carro da ex amiga e solta a frase "você mereceu!", essa é a mente dos defensores da vida na terra! Nesse momento do filme eu quis que o Alfa  mandasse outro meteoro!

Não consigo sentir repulsa por essa vilã
E o que falar da vilã e suas motivações? A introdução da personagem, mostrando que ela era a antiga ranger verde e que se corrompeu é muito bacana, mas nada explica suas motivações e durante o filme só sabemos que ela quer conquistar o universo com o poder do cristal Zeo, mas e onde veio o poder para que ela matasse seus antigos companheiros? Quem deu aquele cetro pra ela? e por que diabos ela como ouro? Disso não somos informados. Eu mesmo queria saber quem foi o esperto que deu um amoeda do poder para alguém chamada Rita Repulsa, tenho minha desconfiança que foram os guardiões de OA, os mesmos que criaram os lanternas verdes (por isso a cor da personagem) , pois se eles deram um anel para um cara chamado Sinestro, porque não para uma Rita Repulsa?! Se bobear o próximo vilão talvez se chame Filho da Póta, para facilitar a identificação do possível traidor! Mas pior que essa brincadeira com os nomes é a atuação de Elizabeth Banks como a vilã, é um show de gritaria e caretas que somadas as fracas motivações do personagem não parecem causar uma ameaça real aos protagonistas, nem mesmo quando ela "mata" um deles, fatos que se equiparam em desastre apenas ao design e efeitos especiais dos Zords e Megazord, que não justificam o orçamento de cem milhões de Doletas para a produção desse filme.

Aproveitando a citação do Megazord, a cena de batalha do robô gigante, que é um clássico dentre as séries super sentai, serve para comprovar a inversão de valores que o filme vem trazendo durante suas duas horas. Depois de a Ranger Rosa mandar o nude da colega, do amigo de Jason drogar um touro, de Billy fazer bulling reverso com o valentão da escola e Trini deixar sua mãe falando sozinha; nossos heróis saem da pedreira, que estava sendo invadida por uma legião de monstros de massa e vão para o meio da cidade na procura da vilã, causando destruição por todo lado, no pior estilo "homem de Aço"! (não seria mais correto levar os monstros justamente para pedreira?) onde as consequências da batalha não são mostradas (eram dois robôs gigantes lutando no centro da cidade, lógico que morreu gente) e ao final, ficamos apenas com o ponto de vista dos protagonistas, olhando de cima a população que os aplaude, mesmo depois que sua pequena cidade foi reduzida a escombros.

Bryan Cranston feito de cristais azuis. Ironia?
Pois bem, sei que fui muito duro com um filme baseado em uma série para criança de até dez anos, mas quem se propõem a dar ares sombrios e problemas pessoais mais sérios a uma trama, tem que conseguir que essa ideia se mantenha linear durante o filme todo e não vá deixando de ser importante como decorrer da história, assim como o farol moral que deveria partir dos protagonistas fique claro e não escondido em meio a desculpas de que "todo mundo posta fotos nua na internet". Espero que a possível sequência, que fica em aberto com o gancho que temos na cena pós-créditos, onde mais uma vez homenageando John Hughes, dessa vez com uma sequência que lembra "Vivendo a vida adoidado", temos um professor entediado fazendo a chamada e perguntando por Tommy Oliver ( O ranger verde da série clássica).

Então é isso! Baseado na aclamada série dos anos noventa, "Power Rangers" deu seu passo inicial, mesmo que tropego, para a crianção de uma franquia cinematográfica, se revelando ao final como um tufão com grandes problemas de design, motivação e coerência de duas horas, iniciado pelo pequeno bater de asas de um curta de 14 min e que para mim, pelo menos, foi um desastre.


Alpha, pode mandar o meteoro!!


                                              O famoso CURTA