A frase mais repetida que eu ouço, quando
falo de uma série, é: “tem na Netflix?”. Eu entendo esse questionamento, o
serviço de streaming mais popular do planeta se transformou em sinônimo de
relevância no que se trata de entretenimento e sendo assim, se tem lá, é porque
é bom! Só que, existe muita coisa bacana sendo feita fora dessa bolha e que
quase ninguém dá a devida atenção, mas que precisam conhecer.
Um bom exemplo é uma série de ficção
científica que teve sua primeira temporada apresentada em 2018 pelo Youtube
Premium, mas que por aqui pouco se falou. Trata-se de “IMPULSE”, produção
baseada no livro homônimo de Steven Gould (que também inspirou o filme “Jumper”
de 2008) e que conta a história de Enrietta “Henry” Coles, uma adolescente
problema que após sofrer abuso, descobre que pode se tele transportar.
Comecei a assistir a série por pura
curiosidade, mas ela acabou me tele transportando (pá-bum-tss) para dentro do
mundo que os criadores entregam, conseguindo com sua história me fazer resistir
de fugir de uma produção de dez episódios de 50 minutos em pleno calor de
janeiro. No meio dessa batalha entre calor e curiosidade, posso dizer que oque
mais gostei da produção é que ela coloca o “poder” da protagonista em segundo
plano, ele é importante e sua descoberta dá movimento a toda trama, mas a
história não fica batendo nessa questão a todo tempo, substituindo os clichês
habituais de histórias de superpoderes por uma trama apoiada nas escolhas dos
personagens e suas capacidades de lidar com as mesmas.
A Opção por deixar o fantástico meio que de
lado, proporciona o aprofundamento dos personagens centrais, dando dramaticidade
á uma série que tem uma premissa aparentemente rasa. A situação que dá origem a
tudo é o abuso sexual sofrido pela protagonista e que, além de despertar seus
poderes, causa a paraplegia de seu agressor. Tal situação além de liga-los
profundamente durante toda a temporada, abordando sobre o limite do que é
abuso, a consciência dos atos de cada um e a responsabilidade sobre o que se
fala, ainda gera sub tramas bem interessantes envolvendo a família do agressor,
da protagonista e até da polícia local, sem falar de uma misteriosa organização
que se mantem quase que totalmente nas sombras até o final da temporada, mas
que sinaliza ser tanto uma resposta sobre o passado, quanto a grande ameaça no
futuro da protagonista.
Outra
coisa que gostei é que a série consegue dar tridimensionalidade aos
coadjuvantes, fazendo com que entendamos suas razões e dúvidas e que nos importemos
com eles. Dois exemplos são o irmão mais velho do agressor de Henry e a filha
do padrasto da protagonista, que apresentam um desenvolvimento paralelo muito
bem construído e que acabam a temporada totalmente diferentes de como
começaram, o primeiro passando de um quase capanga do próprio pai e de postura
violenta, para alguém que busca redenção pelos crimes e erros que cometeu para
orgulhar o pai que o vem subestimando; enquanto a segunda larga a ideia de
buscar a aprovação dos colegas de escola e, além de se tornar a verdadeira
heroína da série, defendendo sua família, se encontra como pessoa com a pitada de
rebeldia que a irmã postiça lhe transmite.
Mas a série tem algumas
questões que me incomodaram. A Maior é que ela começa apresentando um
personagem, que possui o mesmo dom da protagonista, e que dá pistas dessa
organização secreta que citei acima e da existência de outros como eles, mas a
história parece utiliza-lo só para mostrar como essa organização é maligna e
desiste dele o retirado da trama de maneira abrupta e chocante, com uma
explicação fraca e sem cita-lo mais tarde. Outro problema é a própria protagonista
que é extremamente grosseira e indiferente com os outros, jogando a culpa de
tudo nas pessoas que a rodeiam e que parece não se preocupar com ninguém além
de si mesma, seu crescimento como personagem oscila muito e a temporada termina
sem realmente sabermos se ela aprendeu alguma coisa com tudo que aconteceu e,
falo com tranquilidade, que se não fossem as tramas paralelas e os coadjuvantes
bem construídos e a serie fosse totalmente focada em Henry Coles, não seria
possível passar do quinto episódio.
Mas embora possua alguns furos, “IMPULSE” é
uma boa série. Consegue trabalhar razoavelmente bem a questão do abuso sem
perder seu propósito de ficção científica, ainda trabalhando em paralelo com
investigação policial e descobertas adolescentes, quase como um bolo onde se
misturam muitos ingredientes e no final fica saboroso. A produção é muito bem
feita, os diálogos são bem explorados e muitos deles cheios de tensão e, o
clima e a ambientação gelada da série ainda colaboram para a ideia de solidão e
desolação que a protagonista sente ao seu redor depois que, além de sofrer
abuso, descobrir que não é uma pessoa como as outras.
Então aproveite a minha dica e assista “IMPULSE”
e se surpreenda com uma das diversas produções que NÃO estão no maior streaming
do mundo, mas que mesmo assim, possuem grande qualidades e merecem ser notadas.
19 de Maio de 1845. O
Terror e o Erebus, dois dos navios mais bem equipados da marinha Britânica,
partiam da Europa em direção ao circulo polar ártico na intenção de descobrir a
tão sonhada “passagem do Noroeste”, uma rota navegável que ligaria o atlântico
norte ao oceano pacífico, facilitando a busca de especiaria e o comércio com o
Oriente. Tendo o experiente explorador Sir John Franklin, veterano de outras
três missões ao continente gelado, como comandante da expedição e como capitão
do HMS Terror, Francis Krozier, do HMS Erebus, James Fritzjames e possuindo uma
tripulação conjunta de cento e trinta homens, ambos os navios foram avistados
por barcos baleeiros na bahia de Baffin em Julho do mesmo ano, aguardando o
melhor clima para adentrar o labirinto gelado do mar do polo norte, depois
daquele dia ambos navios e seus tripulantes, nunca mais foram vistos.
Inspirado nessa assustadora e fascinante história
real, o escritor americano Dan Simmons publicava em 2007 o livro “O Terror”, misturando
as mais recentes descobertas sobre o possível trágico destino dos marinheiros
ingleses com uma assustadora trama sobrenatural que transita entre a misteriosa
mitologia Inuit e os limites da mente humana levada ao extremo em uma situação
desesperadora. O livro não passou despercebido e, com a produção de Ridley
Scott e contando no elenco com atores como Jared Harris, Tobias Menzies e
Ciarán Hinds chegou ao canal AMC este ano, sua a adaptação televisiva , trazendo
para TV um terror sutil e envolvente por sua estranheza, que apresenta uma
dezena de personagens e pontos de vista e que presta uma terrível homenagem a
um dos maiores mistérios do século XIX, em uma das melhores coisas que assisti
nesse primeiro semestre de 2018.
Jared Harris (esq) e o verdadeiro Krozier em foto de 1845 (dir)
A Série é protagonizada pelo capitão Franscis
Krozier (Jared Harris), que amargurado por uma rejeição amorosa, parte para o
ártico no comando do navio HMS Terror, sendo acompanhado de perto pelo navio
HMS Erebus, de onde Sir John Franklin (Ciarán Hinds), tio e tutor da mulher que
o desprezou, comanda a expedição mais ousada da marinha da rainha Vitória. No
entanto, a pouca sorte na vida íntima se apresentará como o menor dos problemas
do capitão Krozier, quando poucos meses após adentrar o ártico ambos os navios
acabam presos no gelo, dando aos marinheiros a paciência pela espera do degelo
como única alternativa, o que começa a se complicar quando uma equipe que
procurava sinais de descongelamento longe dos navios acaba baleando por engano
um misterioso xamã esquimó que atravessava o deserto de gelo junto com sua
filha. A partir desse dia, uma maldição parece subir a bordo, com os
marinheiros se vendo vítimas de envenenamento por chumbo, tendo seu estoque de
comida destruído e sendo caçados por uma estranha criatura sobrenatural, que
embora lembre um gigantesco urso polar, parece raciocinar e planejar dar cabo
da tripulação. Todas essas situações vão insuflar o caos, o amotinamento e a
total selvageria entre a tripulação, sobrando ao capitão Krozier e alguns de
seus aliados, a tarefa de buscar sobreviver em meio ao pesadelo gelado onde
ficarão presos por mais de três anos.
Que série fantástica! Fugindo do
convencional e transportando o expectador para uma trama que especula sobre um
mistério de mais de 170 anos temperado com doses certas de suspense e
sobrenatural, “O Terror” faz jus ao nome e apresenta uma história com momentos
que flutuam entre a construção de tensão de um Stephen King e a loucura que a
estranheza total, no melhor espirito Lovecraftiano, pode causar.
No tocante a construção da tensão e todo
estranhamento que a série possui, a direção e produção se destacam por escolhas
que parecem prender ainda mais quem assiste frente a TV. A vasta paisagem
branca e gelada, quase sempre contendo apenas o som do vento como complemento,
quando não uma música com notas destoantes que consegue transmitir ares de
solidão ao mesmo tempo em que se assemelha a um sonho, são tão essenciais na
série quanto suas dezenas de personagens que, com destaque no que vemos ou
apenas como pontas, nos indicam todas as facetas da situação.
Tobias Menzies (esq) e o verdadeiro FritzJames (dir) foto de 1845
Dentre esses personagens, vale a pena
destacar alguns que, junto com o Capitão Krozier, Capitão Fritzjames e Sir John
Franklin, marcam outros núcleos e encabeçam questões que vão movendo a trama. Dentre
os de maior destaque temos o tímido assistente de cirurgião Henry Goodsir (Paul
Ready), que em meio ao caos e barbárie que vai crescendo é uma das poucas
pessoas que tenta fazer os companheiros ouvir a voz da razão, assim como é quem
investiga as causas dos males de saúde que começam a aparecer entre os
exploradores, sem dizer que é ele que contando apenas de paciência e empatia,
vai buscar aprender a falar a língua dos esquimós para tentar encontrar
respostas da misteriosa Lady Silence, a filha do Xamã que é morto por acidente.
Essa, por sua vez nos conecta com a mitologia Inuit e o sobrenatural, nos entregando
lentamente que por trás daquela sequência de problemas que os tripulantes dos
navios vão enfrentando, há uma verdade que vai além da compreensão mundana.
Mundano, talvez seja a palavra que melhor
defina o vilão da trama. Cornelius Hickey (ou seja lá quem ele é realmente) não
parece não possuir escrúpulos para sobreviver e é capaz de queimar seus
próprios companheiros como combustível se isso significa sobreviver. Ele surge
discreto e, tal qual a trama, vai crescendo e ganhando força ao liderar o motim
que divide a tripulação e, seu cinismo e violência tomam tamanha proporção, que
ao final dos dez capítulos fica difícil de saber se o verdadeiro monstro a ser
temido é o Tuunbaq (a criatura que persegue os marinheiros) ou o próprio
marinheiro Hickey.
Ciarán Hinds (esqu) e Sir John Franklin (foto 1845)
Mas nem tudo é perfeito em “O Terror”. Por
resumir um livro de mais de 700 páginas em uma série de dez episódios, muito do
aprofundamento da relação dos personagens fica parecendo vago e parece que algo
nos escapou. Um exemplo é a estranha relação entre o médico Dr. McDonald com um
dos marinheiros do Erebus, que remete a um caso amoroso, mas que não fica bem
claro. Do mesmo modo que não fica claro o exato momento que, já sem alimentos e
tendo de abandonar os navios, o grupo que acompanha Cornelius Hickey aceita,
sem discutir de forma mais ampla, consumir a carne dos companheiros mortos, ou
a medida exata em que o Tuunbaq é racional e qual sua verdadeira relação com
lady Silence. Mas ao final, até essas pontas soltas ajudam a tornar mais densa
a sensação de mistério que a produção traz.
Presos no gelo
Mas apesar de seus problemas no
aproveitamento total dos personagens e suas relações, “O terror” foi uma das
melhores séries que assisti nesse inicio de ano. Sua produção é lindíssima e a
sua trama fascinante, principalmente ao lembrar que parte dessa história
terrível é real, com a descoberta de que problemas com a solda dos enlatados da
expedição permitiram que a comida estragasse antes do tempo e que, com base na necropsia
de três corpos da tripulação, encontrados enterrados na ilha canadense de
Beechey , houve realmente um envenenamento por chumbo, além de os marinheiros sofrerem
com o Escorbuto e a tuberculose; a tradição esquimó da região conta história de
luta entre tripulantes e atos de canibalismo sendo que apenas em 2016 (quase
dez anos depois do lançamento do livro) os restos dos navios foram encontrados
no mar canadense, encerrando um mistério de mais de cento e setenta anos, mas
não as circunstâncias e o que realmente aconteceu com a tripulação da expedição
de John Franklin.
Então se quiser algo diferente para
assistir, que transite entre o real e o sobre natural, com uma produção
caprichada e boas atuações, além de uma história que te prende; embarque no
Terror e também se perca na imensidão gelada do desespero humano. Garanto que
você não se arrependerá.
Um mês! Esse foi o tempo que fiquei sem escrever nada.
Eu sei que nesse período o mundo ficou sem graça com a ausência da exposição do
meu gosto duvidoso e opinião rasa, mas o fato é que depois que vi e escrevi
sobre a “liga da justiça”, pareceu que eu estava entrando novamente em um ciclo que começou lá
em 2012 com ”Vingadores", então resolvi dar uma pausa. Só que, durante
essa parada me deparei com uma produção fantástica, que me seduziu pela
curiosidade e acabou me viciando e prendendo durante esses trinta dias com seus
conceitos brilhantes, humor negro e (por que não?) niilismo libertador. Hoje
volto da dimensão C-137 para falar um pouco da série animada "Rick &
Morty" e indicar três episódios de cada uma das três temporadas para
escancarar de vez o portal interdimensional
para quem ainda não conhece a série se jogar sem medo.
A essa altura, se você é da mesma dimensão que eu, já
deve ter ouvido ou lido alguma coisa sobre “Rick & Morty”, até porque a
série é a mais nova moda no cenário pop-geek-nerd, se tornando tema de
podcasts, estampas de camisetas e sendo terreno para inúmeras teorias pela
internet afora, mas fingindo que ninguém sabe do que eu estou falando acho que,
antes de tudo, vale uma apresentação:
“Rick e Morty” é uma série americana
criada por Dan Harmor e Justin Roiland, exibida na gringa pelo canal Adult Swin
e que se originou de um curta de animação chamado "Doc e Marty", que
parodiava o filme “De volta para o futuro”. Na série, acompanhamos as aventuras
de Rick sanchez, um cientista genial que descobre uma maneira de viajar entre múltiplas
dimensões e que, depois de dez anos desaparecido, retorna para morar de favor
com a família de sua filha Beth, uma cirurgiã de cavalos que e é casada com
Jerry Smith, um publicitário inseguro e impressionável, desde que engravidou na
adolescência de Summer, esteriótipo da
adolescente moderna; fechando a família temos Morty, o filho caçula de 14 anos,
influenciável e assustado que se torna parceiro de seu avô Rick nas mais
insanas e geniais aventuras través das infinitas possibilidades do multiverso.
A série é brilhante! Usa de todo o potencial que as
animações possuem desde sempre para apesentar conceitos muito bacanas de ficção
científica, abusando do humor negro para criticar a sociedade e nos
fuzilando com dezenas de referências por episódio, sem contar que consegue (em quase
todo episódio) apresentar duas ou até três histórias simultâneas com o mesmo
peso e força e isso tudo em vinte minutos por episódio!
Mas sem mais delongas, vamos ajustar a pistola de
portais e indicar esse nove episódios essenciais:
Temporada 1:
Episódio 1 –
Piloto: É impossível que qualquer série siga em frente sem apresentar um
piloto descente, e no caso de “Rick e Morty” não é diferente. O primeiro
episódio da primeira temporada é um resumo de quase tudo que acabamos por
encontrar nas três temporadas que o segue. Nele, somos apresentados tanto a
rotina mundana da família Smith, com Jerry e Beth sendo chamados à escola do
filho pelo fato dele faltar quase todos os dias, assim como ao multiverso e aos
primeiros exercícios de humor negro da trama, com a dupla protagonista indo até
outra dimensão para pegar mega-sementes, que Morty tem que contrabandear
escondendo no reto e Rick guiando o neto de volta através de alfândegas
alienígenas e travando uma verdadeira guerra para retornar a terra.
Frase:
- Atire neles Morty!
- Mas não quero machucar ninguém Rick
-Atire Morty, eles são robôs
(Morty atira e o sujeito cai sangrando)
-RICK ELES NÃO SÃO ROBÔS!!
-É uma figura de linguagem Morty, eles são burocratas,
eu não respeito eles.
Episódio 6 – Cronembergs: Nesse episódio Morty pede uma poção do Amor para Rick,
para conquistar sua paixão, Jéssica, no baile da escola; só que, por puro
descaso, o genio da família não avisa ao neto que a única contraindicação é se
seu alvo estiver gripado… só que a festa onde Morty pretende seduzir a colega,
é o “baile anual da Gripe”!! Surge daí uma confusão em cadeia que começa com
todas pessoas do mundo se apaixonando por Morty, depois todos acabam se transformando em louva-deus e mais tarde em “Cronembergs” (referência ao diretor
de filmes como “a mosca” e “Scaners”) monstros deformados que misturam diversos
animais, resultando que Rick e Morty acabam fugindo para outra dimensão, onde
suas versões estão mortas tomando seus lugares e abandonando sua família
antiga. Foi o primeiro episódio que me chocou e me conectou com o niilismo que
o comportamento indiferente de Rick acaba aos poucos expondo e que vai se
destacando cada vez mais por episódio.
Destaque para o silêncio e choque de Morty ao final
quando (ao som de: “Look On Down From The Bridge”) ele percebe que não há volta e que agora é hóspede de
outra dimensão e parte de outra família.
Episódio 8-TV interdimensional: Assim como muitas séries de TV “Rick e Morty” possuem
um episódio especial por temporada, no caso da obra de Harmor e Roiland, esse
especial consiste na família Smith assistir a TV interdimensional, um aparelho
criado por Rick onde canais infinitos de dimensões infinitas estão disponíveis.
O episódio se divide em pequenas histórias que passam na TV como programas assistidos
pelos protagonistas e que foram improvisados pelos autores, gravados em áudio e
depois desenhados (o que dá o ar supremo do no sense) enquanto que Jerry, Beth
disputam para assistir, através de uns óculos que acompanha suas versões de
outras dimensões, como seriam suas vidas caso Summer não tivesse nascido.
Esse episídio tem um final espetacular, pois dá
sequência aos acontecimentos do episódio 6, deixando claro que, apesar de se
tratar de uma animação, nada ali é zerado e tem consequências, quando Morty,
sabendo da tristeza da irmã, quando esta descobre que seus pais tentaram
aborta-la e que a vida destes em outra dimensão foi um sucesso, devido a sua
ausência, diz a frase que me fisgou de vez:
Frase: "...Não fuja, ninguém existe com um
propósito, ninguém pertence a nenhum lugar e todo mundo vai morrer..”
Temporada 2:
Episódio 3 – Unidade: Com uma história que abusa
das referências a clássicos do terror, como “invasores de corpos” e “Alien”,
além de, ao final, mostrar toda a solidão que pesa sobre o genial Rick Sanchez,
O terceiro episódio da segunda temporada é um dos meus favoritos. Nessa
aventura, Rick, Morty e Summer recebem um pedido de socorro e são atraídos a
uma nave que se encontra à deriva no espaço, onde sobreviventes de uma raça
alienígena informam que todas as pessoas de seu planeta foram assimiladas por
uma entidade que está unindo todos os seres em uma única consciência; logo a seguir,
descobrimos que essa “Unidade” é uma ex-namorada de Rick e partimos para o
planeta dominado por ela, onde a simples presença do protagonista e seus netos
põem em risco todo o propósito de ordem da entidade e ameaça a segurança de
todo o planeta.
Destaque para o momento onde
a Unidade percebe o mal que a presença de Rick causa e resolve se afastar de
seu ex-namorado de vez, e como ela É todas as pessoas do planeta, esconde os
habitantes e Rick vai sabendo o motivo de seu afastamento através de cartas que
vão sendo atiradas a ele pela rua.
Referência à "Invasores de corpos" no episódio "Unidade"
Episódio 4 – Mostrem o que tem: Uma cabeça gigante entra na atmosfera da terra
causando todo tipo de desastre natural e começa a repetir a frase “mostrem o
que tem!”; enquanto os demais personagens da série se refugiam em uma igreja
para orar por salvação, acreditando que se trata de Deus, Rick e Morty vão até
o pentágono (na maior referência ao filme “Doutor Fantástico”) explicar que se
trata de uma raça alienígena que se alimenta de… um Hit musical! A partir daí a
dupla fica encarregada de criar uma música para satisfazer o desejo do
visitante, enquanto o restante da família se envolve na criação de uma seita
extremista chamada “cabecismo”, que tem o alien como um suposto deus.
“ Morty:
-Rick, você é músico?
Rick:
- E quem não é?
Morty: -Eu!!
Rick: - Não com essa atitude!”
MOSTREM O QUE TEMMM!
Episódio 6 – Keep Summer Safe / mundo na Bateria: Rick, Morty e Summer estão em uma dimensão para
assistir a um filme, quando ao tentar ligar a nave, descobrem que estão sem
bateria. A dupla de protagonista parte para dentro da bateria, onde Rick criou
uma civilização que tem o objetivo de abastecer a energia de sua nave e celular, só que esta
desenvolveu uma sociedade e também está criando uma civilização dentro de outra
bateria para ter menos trabalho; enquanto isso, Summer é deixada na nave e Rick
ordena para que a máquina a deixe segura. Parte daí, na sociedade dentro da
bateria, a discussão sobre escravidão e utilização do empenho do outro para
trabalhar menos, enquanto que Summer testemunha todo tipo de atrocidade
proporcionada pelo computador da nave para poder cumprir a ordem dada por seu
avô.
“-Você
tem um planeta inteiro gerando energia pra você”? Isso é escravidão!
-É
sociedade, eles trabalham uns para os outros, compram casas, geram filhos…
“-Isso
parece escravidão com umas coisinhas a mais!”
"manter Summer segura!"
Temporada 3:
Episódio 1 – Fuga da prisão: No final da segunda temporada Rick se entrega à
federação Galática (órgão que o tem como um terrorista) e é preso, o primeiro
episódio da terceira dão sequência a esses eventos e se divide em duas
histórias, sendo uma guiada por Rick, que começa em uma viagem por suas
memórias e segue até sua espetacular fuga da cadeia e a outra acompanhando
Morty e Summer em um “plano” para libertar o avô.
Esse episódio se destaca não só pela extrema violência
e reviravoltas que a trama dá, levando mesmo Morty a visitar sua família
original na dimensão destruída no episódio “Cronembergs” e Rick a trocar de
corpo umas quatro vezes, como pela qualidade do roteiro e dos conceitos bacanas
que apresenta o que lembra um bom filme de ficção científica e deixa claro a
que veio a terceira temporada.
Episódio 2 – Realidade pós-apocalíptica: Meu segundo episódio favorito. Nele, Rick e seus netos
partem para uma realidade pós-apocalíptica que mistura “Mad Max” e “Game of
Thrones” atrás de um tipo raro de minério que fornece energia. Para conseguir
roubar uma grande pedra desse material que os nativos levam consigo em suas
caçadas e matanças, o protagonista e seus ajudantes resolvem ficar na dimensão
e deixar androides para substituí-los em casa, surge daí um relacionamento
entre Summer e “Hemorragia” um dos líderes do grupo nativo, enquanto Morty
descarrega toda sua raiva reprimida em uma arena, depois de que tem as memórias
musculares do braço de um inimigo do grupo, que morreu em batalha, injetados em
si.
Destaque para como se destrói qualquer espírito
guerreiro ou relação ao final do episódio, quando Rick, depois de criar uma sociedade
classe média baseada na comodidade, o que transforma os guerreiros sanguinários
em meros “telespectadores”, transforma a vida da neta em uma rotina, a
convencendo a ir embora e depois parte, levando consigo a fonte de energia da
evolução que ele criou para aquela realidade, o tão cobiçado minério.
Episódio 7 – Contos da Cidadela: Esse é o meu episódio favorito e nem conta com a
presença dos protagonistas, ou mais ou menos. Nessa história, voltamos a
Cidadela dos Ricks, um lugar onde Ricks de várias realidades se uniram para
formar uma sociedade onde vivem apenas Ricks e Mortys e que é apresentada no décimo
episódio da primeira temporada e destruída no primeiro episódio da terceira,
quando Rick escapa da cadeia. O episódio conta como a cidadela está se
reestruturando depois de sua quase extinção e a trama acompanha cinco
histórias, Um Morty que quer ser presidente, Um Morty que é assessor do
candidato, Um Rick e Morty policiais, Um grupo de Mortys que foge da escola
para viver uma última aventura e um Rick Operário cansado de sempre se dar mal.
O Episódio, além de ser melhor do que quase TODOS os filmes que vi esse ano,
ainda usa e abusa de referências a filmes como “Conta Comigo”, “Dia de
treinamento”, “Dia de Fúria”, entre muitos outros, para dar sequência aos
acontecimentos da primeira temporada e conectar ainda mais a história, isso
tudo, repito, em apenas vinte e um minutos!!
Frase: “Discursos são para campanhas, agora é a
hora de ação!”
Bom, mesmo o texto tendo
ficado gigantesco (e mais raso que as expectativas de Jerry Smith), nada que foi dito chega aos pés do que a série apresenta ou
substitui a experiência de assistir cada episódio. Com um humor absurdo que
explora todo potencial de animação, crítica inteligente e sínica e, toda a
força de um niilismo de deixar Nietzsche orgulhoso, “Rick e Morty” vieram para
revolucionar o universo das séries e prender os fãs de ficção científica no
universo C-137. Então a dica está dada (como se ninguém conhecesse) e se Morty
Sanchez Smith estava certo no T1-Ep8 e ninguém existe com um propósito, ninguém
pertence a nenhum lugar e todo mundo vai morrer, vamos assistir TV e dar uma
chance ao novo.
Ah, o planeta Terra! 510.100.000 km de área
que servem como palco pra tudo a que se refere o fenômeno humano. Da descoberta
do fogo a construção da primeira nave espacial, das guerras por comida entre
tribos ao debate sobre a futura escassez de água, tudo ocorreu e ocorre em um
único palco de infinitas possibilidades, o nosso pálido ponto azul! Mas, e se
reduzíssemos ao extremo a escala desse palco?
Pois contar uma infinidade de histórias,
tendo um único e pequeno palco é a ideia central de “Room 104”, série criada e produzida pelos
Irmãos Duplass (de “tranparent” e “Togetherness” (duas séries que nunca vi)),
que passou meio em branco pela HBO nesse ano onde se confirmou que Jon Snow é
um Targaryen (ops!) e que acabei descobrindo muito sem querer, mas que me
trouxe uma surpresa tão agradável, como encontrar uma nota de 20 Reais solta no
bolso de uma calça.
“Room 104” é uma série antológica que a cada
episódio apresenta uma história diferente, seja no que se refere aos
personagens, tema, estilo ou período histórico, tendo como único fio que
conecta todas essas histórias, o palco onde elas são contadas, ou seja, o
quarto número 104 de um hotel qualquer. Nesse universo de infinidades, somos
apresentados histórias de terror, suspense, sobrenaturais, dramáticas e até a
números de dança, com cada história sendo protagonizada por nomes conhecidos
(ou nem tanto assim) do cinema, como Orlando Jones (American Gods), Nat Wolff
(Dead Note), Melonie Diaz (the Belko Experiment) e Clark Duke (Kick-Ass) em uma
história mais maluca que a outra e que merecem ser vistas ainda HOJE.
EP 3 :"The Knockandoo"
Dessas histórias malucas, gostaria de citar,
só para dar um gostinho, mas sem contar muito do que acontece, duas que
prenderam minha atenção um pouco mais, tanto pelo clima que criam durante o
desenrolar de cada trama, quanto ao final inesperado de ambos os episódios, que
são os episódios 2 e 3, respectivamente intitulados de “Pizza boy” e “The
Knockandoo”.
“Pizza Boy”, que é estrelado por Clark Duke e
conta com a participação de James van der Beek (o Dawson de “Dawson’s Creek”) e
Davie-Blue, apresenta a
desventura de um entregador, que se depara com um estranho casal ao entregar
uma pizza no quarto 104, onde um marido empolgado e teatral deixa o rapaz cheio
de incertezas, ao abandoná-lo sozinho com sua sensual e carente esposa. O episódio me ganhou por sua crescente de
tensão, que chega a seu ápice, quando o marido retorna, trazendo o dinheiro da
pizza, insegurança e violência, em uma situação que só é superada pelo final
totalmente inesperado que o episódio tem.
Pizza Boy
Já “The
Knockandoo”, traz Sameerah
Luqmaan-Harris como uma mulher cheia de problemas e traumas que vê sua entrada
em uma seita como a solução de seus problemas e fim de suas dores, para isso
ela solicita a visita, no quarto 104, onde está hospedada, de um missionário (Orlando
Jones ) que a ajudará em sua “Transcendência”.
Nessa história o que mais gostei foi o clima, onde após uma preliminar de
drama que beira à denúncia contra seitas
religiosas, somos lentamente mergulhados em um clima de suspense sobrenatural
que lembra, de forma sutil, os contos do “Rei de amarelo” de Robert W.
Chambers, fato que é coroado por um final que flutua entre Lovecraft e Monty
Python.
Achei a série bem
legal, embora alguns episódios não tenham passado na minha regra de dez minutos
( vejo 10 minutos, se não me prender eu salto fora), talvez por não se
enquadrarem nos estilos que mais gosto, o que vendo por outro ângulo, é mais
uma vantagem da produção, pois trabalhando com todos os estilos, vai prender o
espectador em pelo menos uma história. Outra vantagem, é que
cada episódio não chega a trinta minutos, o que dá agilidade a forma como a
história é contada, não dando tempo de a trama criar barriga e aliviando quem ,
assim como eu, não aguenta mais series arrastadas que te comem uma hora sem
precisar.
Então, se você tem pouco tempo e quer ver
algo diferente, ou se apenas quer assistir uma série meio maluca, mas muita
legal onde cada episódio conta uma história totalmente diferente em estilo,
trama, tempo e circunstância; fica aí então a minha dica, doze episódios de
menos de trinta minutos que com certeza vão te conquistar através de uma
história ou outra em uma produção que mostra que um mundo pode caber dentro de
um quarto.
Final
de ano não é fácil meu amigo! Eu que elegi o setembro como meu mês de
apocalipse, acreditava que o outubro seria mais tranquilo, mas aí começou o
ciclo de férias de meus colegas e meu trabalho duplicou, vendi meu carro e não
consegui transferir devido à burocracia do banco e, nem mesmo “Blade Runner
2049” consegui assistir no cinema! Mas tudo isso são “White man’s problems”, (mesmo
eu não sendo branco!) e como já faz tempo que sigo a máxima de Confucio de que
“Se o mundo está de pernas para o ar, queixo pra cima”, resolvi desencanar e
dar uma relaxada. Foi quando fui surpreendido por um presente entregue pela
emissora inglesa Channel 4, a todos fãs de Philip K. Dick, a produção “Electric
Dreams”, uma série antológica onde cada episódio é baseado em um conto do autor
e que mudou o status do meu mês de “tem que melhorar”, para “nada mau”!
A
Série, que contará (pois no momento que escrevo se encontra na metade) com dez
episódios em sua primeira temporada, estreou no canal inglês nesse último dia
17 de Setembro e traz em seu elenco grandes nomes do cinema para dar vida aos
personagens imaginados por Dick, como Benedict Wong (“Dr. Estranho”), Steve
Buscemi (Cães de aluguel), Terrence Howard (Homem de Ferro), Bryan Cranston
(Breaking Bad), Vera Farmiga (Invocação do Mal) entre muitos outros atores e
atrizes que, somados a diretores conhecidos do publico gringo, dão peso a
produção da terra da rainha.
Até
o momento assisti aos quatro primeiros episódios e o que posso dizer é que a
série consegue adaptar com bastante competência todos os conceitos,
questionamentos e estranheza que marcam as obras de Philip K. Dick, com a
vantagem de ainda possuir todo charme das séries inglesas, que sempre me
pareceram menos voltadas para efeitos especiais mirabolantes e mais inclinadas
para o roteiro e realização da história.
Sobre
esse peculiar clima inglês presente na série, o próprio canal responsável pela
obra carrega uma grande parcela do crédito. Já calejada em produções de sucesso,
como a minissérie de terror “Dead Set” e sendo quem transmitiu originalmente as
duas primeiras temporadas da aclamada “Black Mirror” (ambas as obras de Charlie
Brooker), o Channel 4 segue levando ao público um conteúdo que atende as
expectativas de quem é fã de ficção científica ou de realidades fantásticas,
mas sem perder aquele clima melancólico e acinzentado da Inglaterra e que
parecem aproximar as situações mais absurdas com a realidade.
Mas
chega de falar de produção e vamos ao que interessa: As histórias.
Como
eu disse acima, a série segue o tom dos questionamentos que pautaram toda a
obra de Dick, como sua dúvida sobre o que é a realidade, o que nos torna
humanos e nossa evolução como espécie, só que de uma maneira muito mais fiel à
obra do escritor do que qualquer outra adaptação fez anteriormente, pois embora
muitos dos contos e livros de PKD tenham sido levados para o cinema (o próprio
Blade Runner é o maior exemplo) muito se utilizou do conceito, mas quase nada
teve daquele espirito psicodélico que mesclava o quase absurdo (dê uma olhadinha no livro UBIK) com visões de um futuro não muito otimista e dúvidas
humanas, coisa que essa antologia fica muito mais próxima, o que agrada muito a
quem é fã, mas pode causar um estranhamento a quem só conhece o escritor por
suas adaptações cinematográficas.
Steve Buscemi, como Ed
Nesse
contexto de estranheza, nenhum episódio que assisti vence o intitulado “Crazy
Diamond”. A história se passa em uma realidade onde tudo que é orgânico começou
a se degradar e apodrecer, tanto a comida, como a própria terra e até mesmo as
pessoas, parecem caminhar em passos rápidos para a entropia, mas a ciência
ainda busca uma solução, então se criam as “Consciências Quânticas” (Os CQ),
uma espécie de “pilha genética” baseada nos genes de porcos, que revitaliza
aqueles que começaram a falhar, em uma ideia de mundo que lembra, também, o que
o autor apresenta no livro UBIK, só que nesse conto não se encontra dentro de
um sonho de “meia vida”, mas na realidade. Nesse Universo conhecemos Ed (Steve
Buscemi), um cientista especialista em CQ que sonha em fugir do mundo em
deterioração em uma viagem pelo mar, junto com sua esposa, até uma distante
ilha onde ainda reina a normalidade; só que o aparecimento de uma mulher
misteriosa o acaba prendendo a uma trama que envolve conspiração, contrabando e
traição.
Robô RB29, do ep: "Planeta impossível"
Outro
que chamou minha atenção, justamente por ser o contrário do comentado acima por
ser muito mais pé no chão (dentro do que alcança o autor) foi o episódio “The
Commuter”, que longe de falar de tecnologia ou futuro, se passa nos dias de
hoje e aborda dimensões paralelas. Nessa história, o ator inglês Timothy Spall
vive Ed (também) um funcionário de uma estação de trem, que vive um momento
familiar difícil, com crises constantes de seu filho que sofre de bipolaridade
e o afastamento visível de sua mulher; é quando em seu trabalho uma passageira
lhe pede uma passagem para uma estação que não consta nos mapas ou registros e
simplesmente desaparece; intrigado ele resolve pegar o trem e investigar, chegando
um uma misteriosa cidade no meio do nada, aonde a felicidade e paz chegam a
perturbá-lo. Chegando em casa, tudo está mudado, não há registros do nascimento
de seu filho e sua mulher está muito mais próxima e amorosa, como se uma nova
linha de tempo fosse formada, mas dia após dia, Ed vai sentindo que algo está
faltando e resolve voltar a cidade, percebendo que o dia que vivenciou lá
parece se repetir e que aquela felicidade toda, talvez não valha a fuga da
realidade.
Gostei
bastante dos episódios que assisti. O estilo puro de Philip K. Dick, abordando
o futuro, dimensões paralelas, inteligência artificial, sem negar os
questionamentos humanos, misturado com o estilo inglês de produzir TV, que além
do clima britânico que transmite todo um ar de melancólico ainda brinca com as
cores, dando mais tons pastel quanto mais imaginativa e estranha é a situação, conseguiu
me segurar até o final de cada episódio.
Então, se você quiser mergulhar em um universo
baseado na mente brilhante de um dos grandes nomes da ficção científica e que
mudou o status do meu mês, assista a “Electric Dreams” e dê uma chance para
toda maravilha e estranheza que são frutos da Obra de Philip K. Dick.
"O bater de asas de uma
borboleta pode influenciar o curso natural das coisas e criar um
tufão do outro lado do mundo." Essa frase, que tenta definir o
"efeito borboleta", parte integrante da teoria do Caos, foi
utilizada de maneira conceitual inúmeras vezes na cultura pop para
dar movimento à histórias onde um acontecimento pequeno estimula
uma série de eventos que culminam, geralmente, em uma grande
catástrofe. No entanto, jamais uma produção havia sido resultado
desse efeito até Março desse ano, quando, com a influência de um
curta que dava ares sombrios a uma franquia televisiva voltada para
crianças, a Lions Gate trazia para o cinema "POWER RAGERS",
o reeboot cinematográfico da aclamada série dos anos noventa que
apresentou para uma geração a cara americanizada do universo dos
super sentais japoneses.
"Power Rangers"
reconta o início da história de cinco adolescentes (Jason, Billy,
Zack, Trini e Kimberly) que encontram as moedas do poder e com a
orientação do extraterrestre Zordon, se tornam os defensores da
terra contra os malignos planos de dominação de Rita Repulsa.
OK, eu sei que a primeira
coisa que passou pela sua cabeça é: "Por que esse tiozão está
falando de Power Rangers?" E essa é uma pergunta muito justa,
ao se imaginar que o público alvo da produção, não diferente da
antiga série, são as crianças e pré adolescentes. No entanto, a
curiosidade para saber como esse filme, que brotou da ideia de um
curta feito para a internet e que incluía mortes e traições ao
colorido cotidiano da molecada residente da Alameda dos Anjos, seria
executado foi o que me fez gastar duas hora da minha vida e que me
fez escrever esse texto.
Para começar, vamos falar das
coisas boas que o filme referencia, iniciando pelo clássico do
diretor John Hughes, o "Club dos Cinco". Assistindo os
primeiros vinte minutos não podemos ignorar a influência do filme
de 1985, que mostra a amizade de cinco jovens problemáticos (também
três rapazes e duas moças) que surge após o encontro na detenção
da escola e esse artifício é bem utilizado para explicar como
pessoas tão diferentes acabam mais do que se conhecendo, como dando
oportunidade de quem anteriormente ignoravam entrarem em suas vidas,
com destaque para o companheirismo que surge entre Jason e Billy. O
personagem do Power Ranger vermelho mesmo, vive uma cena que é
praticamente um control C Control V do filme de Hughes, quando tem um
diálogo com o pai no estacionamento da escola onde fica claro seu
conflito pessoal; Soma-se a isso, que ele , tal qual o personagem de
Emilio Steves em "Club dos cinco" também é um esportista
frustrado e que se sente oprimido pela expectativa da família.
Outra referência que o filme
me trouxe foi o filme "Poder sem limites" do diretor Josh
Trank, onde amigos entram em contato com uma descoberta misteriosa e
desenvolvem poderes telecinéticos em uma trama que acaba revelando
quem realmente é quem, o que me parece claro ao mostrar que a vilã
do filme foi uma ex-integrante dos Power Rangers corrompida pelo
poder que vislumbrou. Isso ainda se soma ao já mencionado curta, que
é referenciado no prólogo da história, que se passa na era dos
dinossauros e onde vemos as consequências da batalha da antiga
equipe comandada por Zordon e a destruição causada por Rita.
Uma turminha do barulho
No entanto, todas essas coisas
boas e referências estão reunidas na primeira meia hora de filme e
quase desaparecem da mente do espectador a partir do momento em que o
grupo se encontra na pedreira, onde descobre as "moedas do
poder" e começam sua jornada para transformarem-se nos
defensores da vida na terra. Depois desse evento, o filme muda de tom
e começa a se aproximar da ideia da série original, proporcionando
cenas e diálogos capazes de constranger até mesmo o público alvo
da produção televisiva clássica. Começando pela grande barriga do
filme, que é a dificuldade dos protagonistas "morfarem" e
que se estende por mais de vinte minutos da trama em um lenga lenga
que não agrega nada a história; essa dificuldade se revela ainda o
ponto mais decepcionante de todo o filme, pois só vemos os
personagens vestidos de power rangers quando faltam apenas vinte e
seis minutos para a história se encerrar, ou seja, em setenta e
cinco por cento de filme não temos a presença dos personagens que
dão nome ao filme.
A decisão de apresentar a
trama com a mínima presença dos super-heróis, remete a uma história
de origem que foca mais na pessoa do que em seu alter ego, seguindo a
fórmula de sucesso do primeiro filme do Homem-Aranha, de 2002; mas
nem mesmo isso é aprofundado, pois temos apenas menções aos
problemas dos protagonistas, que se apresentam na forma das
constantes brigas de Jason com o pai, que não são explicadas, pois
apenas somos informados que ele era o capitão do time de futebol
americano da escola e que machucou a perna em algum acidente (que não
é mencionado) e se transformou em um frustrado rebelde mimado, ou o
fato de Billy estar no espectro autista e ter perdido o pai
recentemente, também ao fato de Zack ser um ferrado que mora em um
acampamento de trailers e cuidar da mãe doente, ou de Trini não
conversar com os pais porque (aparentemente pelo diálogo que "os
cinco malandros tem em volta do fogueira") ela é lésbica. No
entanto, nenhum arco fez menos sentido para a história do que o de
Kimberly, a ranger rosa.
Kimberly, foi mandada para a
detenção por um fato terrível e que se revela como o principal
motivo dela não conseguir morfar (sempre isso!), ela roubou um nude
de uma amiga, que havia ficado com seu ex-namorado e enviou ao mesmo
questionando se era aquele tipo de garota que ele queria apresentar
para seus pais! A foto se espalhou pela escola (pelo menos parece ter
sido isso) e ela acabou na detenção, sem contar que antes disso ela
ainda bateu no EX... Esse problema poderia ser melhor resolvido, se a
personagem, durante a história e pelo seu passado, se sentisse tentada a
se debandar para o lado da vilã e assim conseguisse se redimir se
sacrificando ao final ou dando um exemplo de redenção, mas não,
quem a vilã tenta persuadir é a ranger amarela (porque é gay!),
enquanto isso, ainda vemos o líder da equipe (Jason) dizer a nefasta
postadora de nudes alheios que muita coisa circula pela internet e
para ela não ficar preocupada, COMO ASSIM?? ISSO É CRIME CARA!! o
arco ainda se encerra de maneira ridícula, quando a ranger rosa, de
posse de seu Zord voador, derruba uma estátua sobre o carro da ex
amiga e solta a frase "você mereceu!", essa é a mente dos
defensores da vida na terra! Nesse momento do filme eu quis que o Alfa mandasse outro meteoro!
Não consigo sentir repulsa por essa vilã
E o que falar da vilã e suas
motivações? A introdução da personagem, mostrando que ela era a
antiga ranger verde e que se corrompeu é muito bacana, mas nada
explica suas motivações e durante o filme só sabemos que ela quer
conquistar o universo com o poder do cristal Zeo, mas e onde veio o
poder para que ela matasse seus antigos companheiros? Quem deu aquele
cetro pra ela? e por que diabos ela como ouro? Disso não somos
informados. Eu mesmo queria saber quem foi o esperto que deu um
amoeda do poder para alguém chamada Rita Repulsa, tenho minha
desconfiança que foram os guardiões de OA, os mesmos que criaram os
lanternas verdes (por isso a cor da personagem) , pois se eles deram
um anel para um cara chamado Sinestro, porque não para uma Rita
Repulsa?! Se bobear o próximo vilão talvez se chame Filho da Póta,
para facilitar a identificação do possível traidor! Mas pior que
essa brincadeira com os nomes é a atuação de Elizabeth Banks como a
vilã, é um show de gritaria e caretas que somadas as fracas
motivações do personagem não parecem causar uma ameaça real aos
protagonistas, nem mesmo quando ela "mata" um deles, fatos
que se equiparam em desastre apenas ao design e efeitos especiais
dos Zords e Megazord, que não justificam o orçamento de cem milhões
de Doletas para a produção desse filme.
Aproveitando a citação do
Megazord, a cena de batalha do robô gigante, que é um clássico
dentre as séries super sentai, serve para comprovar a inversão de
valores que o filme vem trazendo durante suas duas horas. Depois de a
Ranger Rosa mandar o nude da colega, do amigo de Jason drogar um
touro, de Billy fazer bulling reverso com o valentão da escola e
Trini deixar sua mãe falando sozinha; nossos heróis saem da
pedreira, que estava sendo invadida por uma legião de monstros de massa
e vão para o meio da cidade na procura da vilã, causando destruição
por todo lado, no pior estilo "homem de Aço"! (não seria
mais correto levar os monstros justamente para pedreira?) onde as
consequências da batalha não são mostradas (eram dois robôs
gigantes lutando no centro da cidade, lógico que morreu gente) e ao
final, ficamos apenas com o ponto de vista dos protagonistas, olhando
de cima a população que os aplaude, mesmo depois que sua pequena
cidade foi reduzida a escombros.
Bryan Cranston feito de cristais azuis. Ironia?
Pois bem, sei que fui muito
duro com um filme baseado em uma série para criança de até dez
anos, mas quem se propõem a dar ares sombrios e problemas pessoais
mais sérios a uma trama, tem que conseguir que essa ideia se
mantenha linear durante o filme todo e não vá deixando de ser
importante como decorrer da história, assim como o farol moral que
deveria partir dos protagonistas fique claro e não escondido em meio
a desculpas de que "todo mundo posta fotos nua na internet".
Espero que a possível sequência, que fica em aberto com o gancho
que temos na cena pós-créditos, onde mais uma vez homenageando John
Hughes, dessa vez com uma sequência que lembra "Vivendo a vida
adoidado", temos um professor entediado fazendo a chamada e
perguntando por Tommy Oliver ( O ranger verde da série clássica).
Então é isso! Baseado na
aclamada série dos anos noventa, "Power Rangers" deu seu
passo inicial, mesmo que tropego, para a crianção de uma franquia
cinematográfica, se revelando ao final como um tufão com grandes
problemas de design, motivação e coerência de duas horas, iniciado
pelo pequeno bater de asas de um curta de 14 min e que para mim, pelo
menos, foi um desastre.