sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

"Years & Years"(2019) - tema o futuro!

 

2021 chegando e eu não consigo deixar de  ver nesse futuro cada vez mais o reflexo do passado, antes com o flerte com o fascismo e a romanização da ditadura, agora, no alto uma pandemia, com uma revolta da vacina.
No meio dessa loucura toda, que descobri uma série de 2019 que analisado o momento atual do mundo ,tenta apresentar uma visão dos próximos 15 anos e o resultado é fantástico e assustador. Tratasse de "Years & Years" série distopia inglesa produzida em parceria pela BBC One e HBO e escrita por Russel T.Davies, que me fascinou e assombrou nesses últimos dias de 2020.

A série acompanha, de 2019 até 2034, as desventuras da Família Lyons, uma plural e moderna família Inglesa composta por quatro irmãos ( Stephen,Edith, Daniel e Rosie) sua avó materna, seus filhos e relacionamentos que vão sofrer os reflexos da evolução tecnológica,  crise migratória, quebra dos bancos, uberização do emprego e do crescimento do Populismo de extrema direita, personificado na figura de Vivienne Rook.


A série me pegou já no começo,  quando vai apresentando os membros da Família Lyons e suas diferenças e semelhanças que nortearão a história.Os Lyons são o mundo! Ímpares , mas iguais; alegres e festeiros, mas vítimas das mais terríveis tragédias; buscando o melhor enquanto o pior os ronda. Sendo assim, cada Um dos membros da Família representará uma ou mais questões a ser refletidas nos seis episódios da série.

Stephen,o irmão mais velho, junto com sua esposa Celeste, serão a fragilidade da situação financeira da classe média em um mundo sem certezas quanto a trabalho e emprego e a necessidade de se reinventar frente a uberização dominante e tecnologias que dispensam o conhecimento técnico e subjetividade.

Bethany, filha mais velha de Stephen e Celeste, representará a tecnologia cada vez mais presente no dia a dia das pessoas. Ela se diz trans-humana e sonha em reciclar seu corpo orgânico e se tornar uma máquina ou apenas dados na rede.

Edyth Lyons, uma ativista social, nos apresenta os impactos do crescimento desenfreado do mesmo estilo de consumo na natureza e os resultados e o que se esconde por trás das silenciosas guerras comerciais.Ela representa a tanto a luta contra um sistema autodestrutivo  quanto a pequenez do ser humano frente a esse sistema.

Daniel Lyons, que é funcionário da Imigração e assumidamente gay, Junto de seu namorado refugiado, Viktor,será tanto a visão de um futuro onde o respeito sobre as diferentes opções foram rapidamente  deslumbrados, como quanto pode ser amargo e desesperador quando o mínimo é arrancado de nós. Daniel é a luta pela vida e busca pela felicidade, tendo para isso, a triste tarefa de dar rosto e voz , a luta de quem atravessa as fronteiras, fugindo da opressão dos extremos para buscar o mínimo de dignidade.

Fechando os principais membros da Família Lyons,temos Rosie, a irmã mais nova. Nascida com a espinha Bífida e mãe solteira de dois filhos, ela gerencia uma equipe em um refeitório de escola, tendo um padrão de vida mais abaixo que seus irmãos e vai sofrer os impactos das novas tecnologias, cortes de gastos, além de ser vítima de uma ferrenha burocracia e descaso ao tentar se reinventar.

Ainda entre os personagens principais, mas distante da Família Lyons, temos Vivienne Rook, política populista de direita, que surge sem Partido em programas locais de TV e  começa a ganhar espaço e destaque ao falar, sem filtro, o que pensa, derramando seus preconceitos e nacionalismo sobre um país que patina sozinho ao lado de uma Europa em Caos, EUA fechado e China cada vez mais crescente. Utilizando da tecnologia e do Ambiente propício,Vivienne vai se infiltrando e tirando vantagem. Vivienne é a nova política populista que cresce a cada dia, negacionista, debochada,  indiferente e alinhada com pequenos grupos de poder ,mas que se traveste de povo e se diz desinteressado em vantagens.

A série é fantástica, em apenas seis episódios consegue entregar uma visão distópica e assustadora de um futuro não muito distante, mas sem ser dramática ou triste de mais ou exagerada em tecnologias ou quebras muito grandes com a sociedade atual; tudo em "Years e Years" é muito plausível, parece muito perto e isso que deixa a séria fascinante e assustadora!

Senti falta de dois temas que não foram abordados na série,  O primeiro são as redes sociais, serviços tão presentes hoje em dia, que movimentam Bilhões de pessoas e dinheiro e que geraram um grupo novo de poder nesses últimos anos, os Influencers, que tem se apresentando tanto como representantes de pensamento de determinados grupos quanto indicadores de tendência, mas que , fora a citação de Vivienne Rook sobre seu "canal" não aparecem na série , perdendo a chance de demonstrar os efeitos de uma vida não prática e baseada em aparências. A outra coisa que senti falta foi a religião,  acompanhando o mundo atual, se vê que correndo ao lado do extremismo político encontre-se o discurso religioso populista, quando não também extremista, que utiliza a base da religião para implantar ideias conveniente para seus líderes,mas isso não é nem superficialmente sugerido no decorrer da série . Mas quem sabe, no caso de um possível segunda temporada ,não vejamos esses temas abordados de maneira tão competente quanto as que questão desses seis primeiros episódios? Quem sabe?!Vamos torcer.

" Years & years" foi um achado! Uma série de um ano atrás que me fez olhar com receio para um futuro cada vez mais incerto e refletir sobre para onde estamos indo,ao mesmo tempo que aborda a importância da família, da força do amor e da importância de se lutar pelo que é certo. Para mim, uma série obrigatória para quem quer imaginar para onde estamos indo e pense em mudar de curso enquanto ainda se pode.

Pois então, assista ."Years & Years".

E que venha o futuro!