quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

ASH vs EVIL DEAD - A série

No ano de 2015 a Netflix se consolidou como produtora, além de distribuidora, de material de qualidade. Entre suas produções originais se destacaram as séries “Demolidor” e “Jessica Jones”, em parceria com a Marvel e integrada a seu universo nos cinemas; “Narcos” com a história do cartel de Medelin sendo estrelada por Wagner Moura, e, “Better Call Saul” o spin-off da cultuada série “Breaking Bad” da AMC. O sucesso das produções da Netflix foi tanto, que boas séries apresentadas por canais convencionais ou produtoras menores foram ofuscadas, entre elas uma que me conquistou pelo humor negro, efeitos visuais que me causaram nostalgia devido à violência crua e irresponsável de saudosas épocas, trata-se de “Ash vs Evil Dead” da Starz, que consegui em fim assistir e que vamos falar um pouco hoje.

ele voltou
"Ash vs Evil dead” dá sequência a trajetória de Ash (não diga) , interpretado por Bruce Campbell, personagem que nos foi apresentado no filme independente “Evil Dead” de 1981 escrito e dirigido pelo grande Sam Raimi. No filme original, Ash vai com sua noiva, um casal de amigos e mais uma colega (segura vela) para uma cabana na floresta, lá eles encontram um livro, o necronomicon (o livro dos mortos) e recitando algumas palavras escritas nesse livro, acabam invocando espíritos malignos que vão possuindo e matando os integrantes desse grupo, sobrando apenas o protagonista, que acaba tendo, além de matar sua noiva e amigos, decepar a mão direita para evitar ser possuído.

A série se passa exatamente 30 anos depois dos acontecimentos do filme. Ash é um sínico e irresponsável vendedor em uma loja de eletrônicos e sua vida parece ter se tornado mais do mesmo, até que em uma noite, no auge de uma cena de sexo no banheiro de um bar, ele tem uma visão de que o mal está voltando e lembra que, em um momento de relaxamento, disperso pelo uso de um cigarro menos ortodoxo e tentando impressionar outra garota que gostava de poesias, ele lera trechos do necronomicon, que tinha guardado em seu trailer, assim o mal desperta e não resta nada a nosso “Herói” do que combatê-lo com a ajuda de dois colegas de trabalho tão problemáticos quanto ele e munido de sua calibre doze, sua mão de motosserra, sua língua ferina e sua total falta de noção.

Ash , Pablo e Kelly
A série é muito divertida. Em primeiro lugar por saciar a nostalgia de uma época menos responsável, onde os heróis eram heróis do acaso e da oportunidade, como um Madmax (o original, não esse que nem sabe falar) ou um John Mclane ( antes do Bruce Willis pirar), as piadas e tiradas de cada episódio flertam com o preconceito, burrice e genialidade (no sense total). Esse espírito nostálgico ainda é reiterado através dos efeitos especiais compostos por efeitos práticos e maquiagem de primeira, além de litros e litros de sangue cenográfico (Além de sangue digital e até real se duvidar), marca registrada das produções independentes de terror (em especial do filme original) e para o nosso prazer, respeitada pela série.

Outro ponto importante é o carisma dos personagens centrais. Começando pelo protagonista vivido por Bruce Campbell, que consegue dar sequência a seu primeiro papel no cinema com muita vitalidade e senso de humor e até (às vezes) charme, suas caretas e respostas rápidas não podem ser ignoradas e suas frases de efeitos não deixam ninguém, com alma, sério por muito tempo; seu colega Pablo, um jovem latino que se vê envolto a acontecimentos que lhe remetem a um passado do qual foge, é o alívio cômico da série, sendo vítima de todo preconceito não intencional do protagonista, mas sendo também o motivador deste último, é ele quem toma para si o papel de cutucar Ash no primeiro capítulo dando início a jornada do herói (ou anti-herói), ele também representa o telespectador sendo quem mais se assusta e se choca com o que acontece durante a jornada; Fechando o time, temos Kelly, outra vendedora que se junta ao grupo depois que sua mãe volta dos mortos possuída por demônios e após um traumático jantar em família, assim ela resolve seguir os dois colegas para dar fim a crescente ameaça que se aproxima, ela é a bad gril, sempre sarcástica, violenta e direta, e, seu “clima” com Pablo acaba por dar um ar quase romântico a dupla (muito mais por parte dele do que do dela). Como grupo, os personagens conseguem alcançar aquela química que faz com que nos preocupemos com seus destinos e a cada episódio, a cada possessão cruzamos os dedos torcendo para que o fatídico destino que persegue quem se aproxima de Ash, não encontre seus dois “pupilos”, foda é que desde o primeiro episódio eles ficam sempre em ameaça, o que dá qualidade ao fator tensão e cagaço em quem se apega aos personagens.
A série ainda me ganhou por dois motivos, a ação e o tempo de cada episódio. Referente à ação, desde o episódio piloto a série mostra a que veio, com muito sangue e momentos de completa catarse, onde vemos o personagem principal decapitando demônios (quem nunca?) onde a direção (que do primeiro episódio é do próprio Sam Raimi) se mostra muito competente com suas câmeras lentas, demônios subindo paredes e porradaria sobrando, o que se soma com suas pequenas, mas não ausentes, doses de tensão e sustos eventuais. Quanto ao tempo, a série consegue ser reduzida sem ser curta em excesso, pode-se dizer que ela é enxuta com seus 25 minutos de episódio, o que a deixa sempre com um gostinho de quero mais.

As vezes é necessário o uso das cuecas marrom
Embora eu tenha achado “Ash vs Evil Dead” uma divertida e bem produzida série, algumas coisas me incomodaram na mesma, a principal foi o furo de roteiro envolvendo a Policial Amanda Fisher. Desde o primeiro episódio a personagem parece ter uma grande importância e ligação com a parte espiritual da trama, pois o primeiro demônio que aparece diz que sabe quem ela é e a cara que a personagem faz é de que há algo escondido, assim como sua caçada à Ash para mostrar que não é louca e solucionar a morte do parceiro e que dá impulso aos primeiros episódios coloca peso na personagem, no entanto ela é descartada nos últimos três episódios de um jeito besta que apaga tudo que aparece no início e deixa quem assiste sem respostas.

Apesar de “Ash vs Evil Dead” ter seus probleminhas, achei ela a melhor série das que vem surgindo baseadas em filmes. Conseguiu manter, além do ator que protagonizava a série de filmes originais dos anos 80, todo o clima da época e o respeito à mitologia meta-lovecraftiana (se é que isso existe) de flerte com o sobrenatural, além do humor no sense e violência sangrenta, típicos dos anos oitenta e de filmes independentes. Suas piadas e tiradas são daquelas de fazer rir sozinho quando nos lembramos no serviço ou na fila do pão e a ação e química dos personagens fazem com que se torça por mais temporadas ( O que é bem possível devido ao final da temporada) . Uma grande dica para quem tiver vinte e cinco minutinhos sobrando e quiser um pouco de diversão sem cabeça no melhor estilo anos oitenta. Go El Jefe !!



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

DEADPOOL (filme 2016)

A vida é um eterno descarrilhamento intercalada por alguns momentos felizes. Essa frase, proferida por Wade Wilson para explicar sua situação, talvez seja a que melhor se enquadre no universo super-heroico que a FOX criou, onde encontramos descarrilhamentos terríveis no nível de "X-men Origens: Wolverine", "X-men: o Confronto final" e os horríveis "quarteto fantástico", mas também grandes momentos felizes, como "X-men: dias de um futuro esquecido" e o maravilhoso e zueiro filme onde Wilson é o protagonista, "Deadpool", que abriu a safra 2016 de filmes de super-heróis (super sim, mas herói nunca) com chave, ou melhor espada de ouro.

O filme é bem fiel aos quadrinhos e seu roteiro central é bem simples, contando a história de Wilson, um ex-militar fanfarrão e tagarela, que trabalha como mercenário e descobre que está com câncer terminal logo após pedir a mulher de seus sonhos em casamento, como último recurso para se salvar ele acaba por aceitar o recrutamento de um grupo misterioso que promete mais do que lhe curar como lhe dar poderes sobre humanos.
Assim Wilson é submetido a experiências para que suas células mutantes se desenvolvam, passando pelas mais diversas forma de tortura para intensificar o processo que é catalisado pela e adrenalina (coisa que nos quadrinhos acabou por prejudicando sua sanidade, sanidade essa que no filme parece ser distorcida de forma inata no personagem), as experiências são um sucesso e o protagonista desenvolve um fator de cura ainda mais eficiente do que o do Wolverine, o tornando virtualmente imortal, sendo capaz desde cicatrização instantânea como crescimento de membros perdidos, no entanto, como efeito colateral, seu rosto e corpo ficam deformados.
Após visualizar o resultado das experiências e ficar ciente de que na verdade o interesse dessa organização é a criação de armas de guerra mutantes e que seu futuro é se tornar um escravo, Wade destrói as instalações de seus "salvadores" e parte na busca do responsável pelas experiências , Francis Ajax, para se vingar e obriga-lo a consertar seu rosto.

Que filmaço! Se eu pudesse dizer apenas duas frases sobre " Deadpool" seriam: "Chupa DC" e "Chupa Marvel". Mas por sorte, se pode falar a vontade nesse terreno democrático e pacífico que é a internets, então vamos apontar tudo que há de bom e também não tão bom, porque nada chega a ser ruim nesse filmaço, que é uma das grandes surpresas do ano (principalmente por ser da FOX) e que abre a temporada com os dois pés na porta.

Não tem como não começar falando da atuação hilária e brilhante de Ryan Reynolds como o famigerado protagonista, não que ele mereça o Osca, como ele mesmo brinca durante o filme e para quem já viu suas comédias sabe que ele está interpretando ele mesmo, mas é que o filme não funcionaria com outro ator. Reynolds, que foi a figura mais atuante na campanha para a realização do filme é o próprio Wilson das HQ's, insano, tagarela, piadista, cínico, ao mesmo tempo que consegue ser assustador e intimidador (como na cena inicial com o entregador de pizza) e até doce (como no momento em que a médica diz que seu personagem está com câncer e o olhar que fita Vanessa (Morena Baccarin) diz tudo sem precisar que o ator emita um som) , suas piadas dão um ar de invencibilidade ao personagem, mas não retiram a tenção de momentos importantes, como quando sua namorada é sequestrada, o cara tá demais e é assim da cena inicial até a cena pós créditos.

melhor Colossus Ever
Outra coisa boa é a direção. Tim Miller dá um show seguindo a ideia presente desde a demo de animação, que foi usada para apresentar o projeto à FOX, e, principalmente, respeitando a mitologia do personagem, coisa que o terrível filme, já mencionado , "X-men Origens: Wolverine" não teve a decência de fazer. Fui procurar mais sobre o diretor, que achei que já era um veterano no cinema, e descobri que antes desse filme ele havia dirigido apenas um curta de animação em 2004 e sido responsável pelas cenas intergalática de "Avatar" e das cenas de abertura de "Thor: O mundo sombrio". Fiquem de olho nesse cara, se a FOX não se meter no trabalho dele prevejo muita coisa legal vindo por aí.

Não posso deixar de falar dos personagens coadjuvantes. O papel dos X-men no filme são de extrema importância e dando oposição aos métodos do protagonista e sendo base para muita de suas piadas, como quando Colossus fala que Wade tem de conversar com o professor Xavier e ele questiona: "Qual Xavier? Patrick Stewart ou Jame Mcavoy? É que fico confuso com essa linha de tempo" (muito bom!). Falando em Colossus, para mim foi a melhor apresentação dos X-men no cinema, Colossus é lento, forte e totalmente fiel ao discurso de Xavier, fato que rende uma piada no final quanto ao fato de ser herói e o que dizer de Negasonic Teenage Warhead ? Que personagem lega! Marrenta, silenciosa, emburrada e quando Colossus diz que ela está em treinamento e depois vemos o uniforme dos novos mutantes, que fantástico. Os amigos de Wilson também são algo marcante, para começar pelo seu brother Fuinha (que aposta em sua morte) e seu duela de piadas com o protagonista, como no momento de se prepararem para última batalha e ele se despedir dizendo "Eu gostaria muito de ir com você, mas é que eu não quero!",ou quando é ameaçado pelos vilões (todos de preto) e dizer: "querem ajuda para procurar roupas não mono cromáticas" e após eles irem embora se despedir falando "Boa sessão noturna de Blade 2"; O relacionamento entre Wilson e a idosa Al (uma senhora cega com quem ele mora) é outra parada cômica, ela passa os dias montando móveis e falando das saudades dos anos 80 e da Cocaína; cômica também é a amizade que surge entre Deadpool e o taxista Dolpinder e suas trocas de conselhos e, por último, mas não menos importante, temos a gatíssima Morena Baccarin como interesse romântico do protagonista e que representa com vontade a sensualidade da mulher brasileira.


O universo, o contexto e as piadas do filme são a cereja do bolo. Se o filme não for o filme de super-herói do ano, certamente será a melhor comédia. É a primeira vez que vejo toda uma sala de cinema rir do inicio ao fim de um filme. O grande truque para isso é a quantidade gigantesca de referências que o filme traz, como a já citada da linha de tempo dos filmes dos X-men, mas também por brincar com toda cultura pop; quando Deadpool chega na mansão Xavier (sim ele vai lá) e Megasonic atende a porta, ele diz: "Nossa! Vejam é Ripley em Alien 3", ou quando Colossus o captura na ponte e Wade tem de decepar a mão, olha para a câmera e diz : " Alguém assistiu a 127 horas?", ou antes disso, quando ele está atacando a organização na ponte e Colossus o atira longe e ele fala que deu uma merda colossal, mas que há maiores e na sequência aparece um bonequinho do Deadpool do filme do Wolverine (que sacanagem!), dentro desse contexto, a melhor sequência para mim é quando ele conhece Vanessa e vai para os finalmentes, então ela pergunta: "Nossa! Quanto tempo você aquenta?" e ele responde "O ano todo!", a partir daí temos cenas dos dois transando durante todas as datas comemorativas do ano, destaque para a Quaresma (muito boa tirada) e o dia da mulher (péssima botada (hahah)). As cenas de ação são muito bem dirigidas e coreografadas, não fugindo em nada do contexto do filme ou da personalidade do herói personagem. Dentre estas a que achei bacana foi a que fecha a parte de ação do filme, com Colossus lutando com Angel Dust ( um MMA mutante) e Deadpool contra o exército da organização (show!).

Outro fator positivo que deve ser lembrado é a trilha sonora. O filme traz clássicos dos anos 80 muito bem aproveitados e que marcam as cenas quando tocam. É o caso da música "Wham!", que fecha o filme e que procurei no youtube e encontrei dezenas de menções ao filme, ou a música do rapper DMX, que dá o tom da ida do herói e seus companheiros ao confronto final e que põe um sorriso maldoso na cara de quem está assistindo, é "Guardiões da Galáxia" fazendo escola.


Achei Deadpool um Filmaço! Já to ansioso pela sequência, como comentada nas cenas pós créditos, que aliás são duas. Esse filme superou minhas expectativa e me fez acreditar que um filme ótimo dos X-men seja possível, talvez sob a direção de Tim Miller. De qualquer jeito, fica aí meus parabéns e obrigado a produção, assim como minha máxima recomendação a esse filme que trouxe um esforço máximo dos envolvidos e tomou lugar como um dos meus cinco filmes preferidos e super-heróis, um momento feliz em meio esse descarrilhamentos e filmes sem graça que aparecem por aí e que com certeza marcou seu lugar no ano de forma sangrenta, cínica, engraçada e surpreendente.


domingo, 7 de fevereiro de 2016

SUPER AMIGOS DA CIÊNCIA

O ano é 1941, os alemães seguem marchando em direção a Leningrado e os japoneses ocuparam Saigon, os bombardeios sobre Londres vêm se intensificando e os Estados Unidos não optaram sobre o que fazer; diante disso o primeiro ministro britânico Winston Churchill resolve voltar no tempo para reunir as maiores mentes da história e, com ajuda destas, combater a ameaça crescente.

Assim surgem os “super amigos da ciência”, grupo composto por Nikola Tesla, o mestre da eletricidade; Taputti, a primeira química do mundo, capaz de produzir perfumes que dominam a mente das pessoas; Charles Darwin, que consegue se transformar em qualquer animal; Marie Curie, que consegue manipular a radiação; O clone de 14 anos de Albert Einsten, que de posse do E=mc² consegue manipular a velocidade, o tempo e espaço; e, Sigmund Freud, que possui o poder de controlar os pensamentos sexuais das pessoas. Juntos essas mentes brilhantes se encarregarão de virar o jogo contra a ameaça nazista, defender suas patentes e pesquisas, e , fazer com que a ciência e a razão prevaleçam na terra... Isso se conseguirem se organizar e para de brigar entre si.


Cara, Que descoberta! Ri de chorar da animação. O jeito como a Tinmam Creative, que produziu e lançou a animação de 15 minutos, utilizou os trabalhos dos cientistas para ser a fonte de seus poderes e suas características como fonte das piadas é brilhante, assim temos um Tesla apaixonado por pombos (Dizem que cientista acreditava que uma pomba branca era a reencarnação de um amor falecido) e dotado de poderes elétricos e um Freud que controla a libido das pessoas, quando cheira cocaína (hilário).


Outro ponto é usar ainda temos atuais para gerar conflito entre os integrantes, como o fato de Freud apontar histerias femininas como origem de problemas e Marie Curie responder a isso com um tapa, ou a aparição do monstro de espaguete quando nossos heróis viajam pelo espaço tempo e o arqui-inimigo de Darwin ser um bispo católico sentado em um dinossauro, é muita zoeira!

Espero que a Tinman Creative produza uma série com pelo menos dez episódios que mantenham a qualidade desse episódio piloto que achei de mais. Consegue unir humor, violência e sarcasmo, com curiosidade de conhecer um pouco mais da vida real desses cientistas; quem sabe uma porta de entrada para leituras mais sérias e conhecimentos mais profundos de história, física e química? Se não isso, pelo menos diversão garantida.

Fica aí minha torcida por mais episódios e o episódio piloto na integra para quem quiser conhecer, dá o play e se diverte.