segunda-feira, 26 de junho de 2017

VIDA (2017)


Nesse contestado 2017 que já se encontra pela metade, ainda estou aguardando a estreia de alguns filmes que jogaram minha expectativa nas alturas desde que assisti aos seus primeiros trailers, mas enquanto estes não chegam, vou seguindo os conselhos do célebre cantor Latino e "se não encontro os filmes certos, me divirto com os errados!".

Pois fazendo tal qual esse genial músico brasileiro, que assisti nesse final de semana, "Vida", filme escrito por Rhett Reese e Paul Wernick, a mesma dupla responsável pelo roteiro de "Deadpool" e "Zumbilândia" e estrelado por Ryan Reynolds e Jake Gyllenhaal, que por pouco mais de uma hora e meia, não só matei (e matei mesmo) minha nostalgia em relação aos clássicos do "terror no espaço", como fui soterrado de referências destes.

"Vida" conta a história de uma equipe de seis astronautas enviados até a estação espacial internacional, para estudar uma forma de vida unicelular descoberta nas amostras de terreno retiradas de Marte. Essa espécime, que é batizada de Calvin, é composta de células fotossensíveis, tecido muscular e nervoso , ou seja, é simplesmente, músculos, olhos e cérebro e , cresce extremamente rápido. Em um acidente, o ser é dado como morto e reanimado pelo tripulante responsável, ao fato que reage com hostilidade e passa a atacar a tripulação. Resta agora aos sobreviventes, fazer o possível e o impossível para evitar que a criatura chegue até a terra.

Pois bem, há quem cante que "Vida, é um grito de gol, é um banho de mar, é inverno everão", mas quem não tem TV a cabo e é obrigado a assistir aos telejornais da Band, sabe bem que "a Vida bate forte,irmão!" e esse filme, reciclando os conceitos apresentados nos clássicos do cinema de horror espacial, em especial o primeiro "Alien", assim como muitos dos filmes de John Carpenter, onde o foco no desespero em encarar o desconhecido e a morte em meio a solidão dão o tom da trama , consegue mostrar de forma divertida (entenda "diversão" como quiser) todo terror que a vida pode nos reservar.


Pode-se mesmo tratar o filme como uma alegoria sobre a vida real, em que se seguindo ao meio do desconhecido, oscilamos por momentos de total expectativa e frustração, que podem ser seguidos de esperança ou terror em decorrência de nossas escolhas. E um fator que corrobora para essa mensagem passada, mesmo que de forma rasa pelo filme, são os personagens de Jake Gyllenhaal e Rebeca Ferguson, o primeiro um médico que trabalhou na Síria e que perdeu sua esperança na raça humana, mas que toma para si a missão de se sacrificar para evitar que a criatura chegue até o nosso planeta e destrua tudo o que ele não acredita mais e, a segunda, que é a responsável pelo isolamento do ser na nave, representa ideia falha de que estamos sempre preparados, mesmo para o desconhecido; isso sem mencionar a esperança, que é encarnada pelo personagem do cientista paralítico, que vê na descoberta da nova forma de vida, uma possível cura para seus problemas.

No entanto, o que vida trás de mais divertido são suas referências aos filmes antigos. A criatura rondando o grupo de viajantes espaciais, lembra o tempo todo "Alien" e não só pela aparência cheia de tentáculos que remete ao monstro do filme de Ridley Scott ao ficar presa no rosto do John Hurt o filme de 1979, como também pela ideia inicial de matar a criatura com um lança chamas e pelo fato desta entrar pela boca de uma das vítimas e crescer dentro dela, sem contar que, somando-se ao rato que serve como cobaia no laboratório da estação, o alienígena também é o oitavo passageiro.

Porém, o filme não consegue se sustentar além de suas referências e diversão violenta, devido a velocidade com que as coisas são apresentadas. Mesmo com uma hora e cinquenta, parece não haver tempo para que criemos elos com os personagens, sabendo muito pouco de suas histórias, relacionamentos ou expectativas e, quando estes começam a morrer, por maior que seja o sacrifício ou angustia em sua morte, acabamos por não nos importarmos com eles e isso diminui o impacto que os acontecimentos deveriam ter sobre o espectador.

Outra coisa que não funciona como deveria na trama é a criatura. Embora ela tenha um conceito extremamente interessante de ser feito para matar (músculo+cérebro+olhos e uma BAITA inteligência), está longe de possuir o carisma de um "Predador" ou de um "Alien", nem mesmo de causar o estranhamento que a criatura de "O enigma de outro mundo" consegue causar em quem assiste ao filme e isso faz com que o coloquemos no nível de uma ameaça genérica, o que , por um lado é bom, pois surpreende a tripulação do filme, que o subestima (e até a nós mesmos ao final do filme), mas o torna esquecível quando os créditos sobem.


Pois então, "Vida" é um filme mediano, mas que consegue divertir quem assiste devido a chuva de referências que trás e alguns momentos de tensão e terror que matam a saudades de quem, assim como eu, é fã do estilo. Não chega a ser um filme para ficar guardado na memória, mas não é totalmente esquecível, principalmente quando se pensa no final que mistura tragédia total com comédia nonsense (pelo menos eu achei isso). Com certeza não foi o filme mais certo lançado nesse ano cheio de expectativas, mas como um sábio me disse e já citei acima, "enquanto não encontro os filmes certos..." , segue a expectativa e que venham "Homem-aranha", "Atômica Blondie" e "Baby Driver" e que com estes, a vida não nos frustre ou aterrorize!!




sexta-feira, 23 de junho de 2017

CORRA! (2017)



Certa vez, li em algum lugar que a leitura de romances é um exercício de empatia, pois faz o leitor se colocar no lugar dos personagens, encarando, como se fossem seus, os problemas e situações apresentados na trama e, em consequência disso, quem lê mais, tem menos medo do próximo, porque adquire maior facilidade em vê-lo como um igual. Guardei esse argumento para mim e sempre que, em uma roda de amigos, eu citava um livro e alguém perguntava o porquê de eu ler tanto, dizia sem pestanejar: "É um exercício de empatia!". No entanto, não lembro de nenhuma vez em que tenha sido questionado por citar um filme, talvez porque o cinema tenha se transformado em diversão pura e simples, como se tivéssemos nos tornado mal acostumados pelas grandes franquias, blockbusters milionários e universos expandidos a não enxergar que o cinema, assim como a literatura, também é uma forma de nos colocar no lugar do outro, nos colocando como passageiros de suas experiências e, nos enriquecendo como pessoas.

Por sorte, de tempos em tempos, surge uma produção que nos lembra o verdadeiro poder do cinema, como é o caso de "Get out", ou como foi traduzido no Brasil: "Corra!", trhiller escrito e dirigido por Jordan Peele e estrelado por Daniel Kaluuya e Allison Willians, que estreou no Brasil em Maio, mas que só agora tive o prazer de assistir e que me deixou boquiaberto tanto com a história que conta, como com o que o filme conseguiu revelar sobre mim mesmo.

"Corra!" conta a história de Chris Washington, um fotógrafo (negro) que é convidado por sua namorada Rose (que é branca) para passar o final de semana em sua casa de campo e conhecer seus pais e irmão. Mesmo tenso pela diferença étnica e social que existe entre ele a a família da namorada, Chris aceita o convite e é extremamente bem recebido pelo casal de progenitores da namorada, Dean e Missy. Mas as coisas começam a ficar estranhas, quando ele se vê presente em uma misteriosa reunião na casa, contendo um grande número de pessoas da alta classe, todas extremamente interessadas em seu gosto por esporte, visão de mundo e constituição física, e tudo só piora, quando Chris percebe que as pessoas negras presentes no local (não mais de três, dois empregados e um jovem convidado que se veste como um senhor de idade) agem de maneira mecânica e artificial. Resta agora a Chris, tentar entender o que está acontecendo naquele lugar afastado e misterioso e, fazer o possível para dar o fora dali.


Brother! Que filmaço! Fazia um tempinho que eu não assitia a um filme que me prendesse na poltrona, com os dentes serrados de tensão e mergulhado no que está acontecendo em tela, méritos do roteirista e diretor Jordan Peele, que nos entrega uma história inteligente, que consegue ser pesada, sem deixar de ser divertida e até humorada quando necessário; resultado, não só do aparente background de cinéfilo, que o diretor parece ter, ao trazer conceitos que lembram os clássicos de Hitchcock, mas também seu histórico pessoal de escritor e ator de comédia, fatos que podem ser confirmados ao assistirmos um pouco de seu trabalho em seus antigos programas do canal "Comedy central", que expõem toda sua agilidade e competência como roteirista; no entanto, seu talento como diretor, exceto no filme "Keanu", uma comédia nonsense onde ele atua e co-dirige algumas cenas, sem fugir de seu terreno mais conhecido, nunca havia sido exposto como agora; uma grata surpresa em uma área cada vez mais carente de cineastas autorais e competentes.

Somando-se ao talento do diretor, outro fator que favorece o filme são as atuações, principalmente do protagonista, que é interpretado por Daniel Kaluuya e por seu par romântico a atriz Allison Willians. O ator britânico, já havia chamado minha atenção por seu papel em Black Mirror, principalmente por sua capacidade expressiva; o cara é craque em transmitir sentimentos sem precisar utilizar uma única palavra e em uma trama onde a suspense e a estranheza são ingredientes de destaque, um ator que consegue transmitir no olhar a perturbação e medo que sente, facilita o andamento da história de maneira visível. Já Allison Willians, de quem eu nunca havia ouvido falar, me surpreendeu pela naturalidade com que compõe seu personagem e pela química que desenvolve com Daniel, assim como a quebra dessa química no arco final da história, quando a personagem tem uma virada e a própria forma de atuar da atriz parece seguir aquele novo modo de agir, sendo que o momento final da história (que para mim é o ponto alto) me parece ser tão completo por deixar apenas os dois brilharem.
Ei!! Afrodescendente!! você acha que tem mais ou menos vantagens na sociedade moderna?

Apesar das ótimas atuações e direção, o destaque é a história do filme. Para começar, a trama contém toda força necessária que um filme de suspense que aborda o racismo deve ter para o momento atual de um mundo cada vez mais preconceituoso e extremista, principalmente no que toca os EUA. Basta prestarmos o mínimo de atenção nos diálogos dos personagens, ou nas frases soltas no jantar da família ou no encontro na casa e vamos, aos poucos montando o cenário de preconceito que parece cristalizado em toda parte, seja quando uma convidada da casa de campo pergunta se os negros são melhores (na cama), ou quando o irmão de Rose, pergunta por que Chris não se interessa por MMA, pois com sua constituição física se tornaria uma fera, ou mesmo quando outro convidado diz que o preto está na moda; todas essas pequenas migalhas vão desenhando uma situação onde o negro vais sendo descrito como uma coisa, ou um animal, que, segunda a visão do não-negro (presente no filme) tem suas únicas utilidades em suas possíveis vantagens físicas, mas como pessoa, são totalmente dispensáveis, como no discurso dado pelo pai de rose, quando conhece o protagonista e este lhe conta que na vinda, haviam atropelado um cervo, ao que o futuro sogro diz que esses animais estão por toda parte, poluindo e destruindo o ecossistema e que quando sabe que alguém deu um fim neles fica feliz, pois é menos um para incomodar, em uma brilhante alegoria feita pelo roteiro em que o cervo (símbolo clássico de animal caçado) é comparado aos negros e, o genial é que tanto o próprio cervo, quanto cada palavra citada pelos personagens do filme não está lá por acaso, nem mesmo a ideia de que que apenas as vantagens físicas dos negros é a única coisa que importa.


Mas mesmo abordando e expondo essas situações e fatos que todo negro já presenciou (como diriam os racionais: Quem é preto como eu já tá ligado qual é...), o filme não tenta ser panfletário (não que ser panfletário seja errado), se tornando genial e tão especial justamente pela pitada de comédia (muito disso apresentado pelo ator Lil Rel Howery, que faz o papel do melhor amigo do protagonista e que tenta mostrar a ele a roubada onde está se metendo) que serve para exorcizar o peso dessas questões sociais abordadas de maneira periférica no filme sem as colocar em segundo plano, lembrando em muito o clássico "O grande Ditador" de Chaplin, que foi um dos primeiros filmes a utilizar o cinema e o humor para combater o extremismo e preconceito. Esse humor, herança da carreira do diretor de seus tempos de comediante de TV, se soma a sua experiência de vida, ele mesmo filho de um casal multiétnico e casado com uma mulher branca, que deve ter presenciado e vivido muitas cenas semelhantes a do jantar ou do encontro presentes no filme e comprovam a importância da representatividade no cinema, ao colocar escrevendo e dirigindo, alguém que realmente sente na pele um pouco do que a história tenta transmitir.

Jordan Peele
E falando em transmitir uma mensagem, como disse no início do texto, esse filme revelou para mim, que até em mim que sou negro, o preconceito está presente. Percebi que eu mesmo já vivi muitas das cenas iguais as vividas pelo protagonista, onde o mesmo se via questionado, coagido ou observado como algo diferente (não como uma pessoa) e assim como ele, sempre levei esse comportamento que vem da parte do outro como plenamente aceitável, como quando o policial de trânsito pede os documentos de Chris, mesmo ele não sendo o motorista, ou quando, no final do filme, após tudo que tinha que dar errado (ou certo) acontece e vi chegar um carro da polícia, meu primeiro reflexo foi pensar: "Ferrou! Agora acabou pra ele!" uma frase que diz mais do que eu espero do mundo em que vivo e aceito como "normal", do que da trama saída da mente de um talentoso roteirista e que reafirma o verdadeiro sentido do cinema ao apresentar o ponto de vista de uma pessoa, fora dos padrões habituais do cinema popular, a toda uma platéia e gerando empatia com a história de Chris Washington e catarse em relação a sua história e atitudes.

Pois bem, mais do que um filmaço de suspense, "Corra!" é uma obra obrigatória. Bem escrito e dirigido por uma mente cheia de frescor e com muito a agregar ao cinema, com grandes atuações e momentos de tensão e ação dignas do respeito de fãs de Hitchcock e Tarantino e, acima de tudo, possuidor de uma mensagem forte, embora sutil, sobre nós mesmos e a sociedade onde vivemos. Traz a visão de um grupo que quando não é totalmente estereotipado é muito pouco representada no cinema e o coloca em seu devido lugar de Pessoas e, faz através de alegorias e diálogos brilhantes, que olhemos para dentro de nós mesmos e reconheçamos nossos próprios preconceitos e falta de empatia, reafirmando com talento o verdadeiro sentido do cinema que, tanto quanto divertir e maravilhar, é também de nos fazer viver várias vidas e nos enriquecer como pessoas.






segunda-feira, 12 de junho de 2017

MULHER-MARAVILHA (2017)


Havia resolvido dar uma pausa nos filmes de Super-heróis esse ano. Salvo "Logan", que era a despedida decente de Hugh Jackman como Wolverine e que me senti obrigado a assistir depois de tudo que a Fox fez com o personagem anteriormente e, "Homem-Aranha: De volta ao lar", que agendei mentalmente com a intenção de exorcizar os últimos dois filmes do herói, minha vontade de assistir qualquer produção dos grandes selos americanos era totalmente zero. Esse desinteresse se devia em parte, a fórmula repetitiva da Marvel, que depois de dez anos começou a me enjoar e, das decepções que a DC me proporcionou com "Batman vs Superman" e "Esquadrão Suicida". Então chegou junho, e da misteriosa e secreta ilha paraíso de Themyscira um símbolo de esperança surgiu e me fez voltar a ter fé que os filmes de Super-Heróis podem fugir das fórmulas pré-prontas e surpreender, Trata-se de "Mulher-Maravilha", filme estrelado por Gal Gadot e dirigido Por Patty Jenkins que chegou com tudo, quebrando paradigmas com sua espada e mostrando ao mundo tudo que o universo DC precisava ouvir e confessar, sem nem precisar usar o laço da verdade contra a editora.

"Mulher-Maravilha" é o primeiro (de vários) Prequels organizados pela Warner DC para contar a origem de seus personagens após os mesmos aparecerem no filme "Batman vs Superman"(2016)". Conta a história de Diana (Gal Gadot),a princesa das amazonas e filha da rainha Hipólita, que após ser treinada em segredo pela general Antiope e entrar em choque em seu último teste, se refugia na praia, onde acaba presenciando um acidente aéreo e resgatando o piloto britânico Steve Trevor (Chris Pine). Horrorizada com os relatos que o piloto faz a amazonas, de que o mundo está em guerra e, acreditando que a culpa desse mal se deve a Ares, o Deus da Guerra, Diana se dispõem a acompanhar o piloto em uma jornada de volta a Europa para caçar o responsável pelo sofrimento dos homens e restituir a paz, cumprindo o sagrado papel das Amazonas da ilha paraíso.

Terminei o filme empolgadaço e com um sorriso de orelha a orelha. Logo eu, que cheguei a pensar que o dia que eu elogiaria os filmes da DC jamais chegaria! Mas o que fazer? "Mulher-Maravilha" é um filmaço e que surge depois das decepções dirigidas por Zack Snyder e David Ayer, quase como uma aula de como entregar um filme honesto, como de o que é seu um herói de verdade.

Essa Aula, e o grande motivo do filme ser tão bom, sem sombra de dúvidas se deve a diretora, Patty Jenkins. A diretora de "Monster", filme que deu o Oscar a Charlize Theron, é pontual em suas escolhas para apresentar o mundo das amazonas e o primeiro contato de uma inocente Diana (inocente quanto a personalidade das pessoas, do resto ela manja muito!) e colocar a personagem em um lugar de destaque, tanto no universo DC, quanto no da cultura pop no geral, reafirmando a Mulher-Maravilha com símbolo de poder feminino e de força sem truculência (como infelizmente vimos nos últimos filmes da Warner/DC)



No entanto, é quase inegável, que a grande responsável pelo sucesso do filme é Gal Gadot. A atriz Israelense se impõem tão bem no filme, que rouba a cena estando em primeiro plano ou mesmo quando fica parada ao fundo. Além de linda (do tipo que sorri com os olhos) a atriz consegue passar realidade em sua interpretação, por mais estranho que isso possa parecer se tratando de um filme de super-heróis. Sua beleza só perde para seu carisma, que faz com que torçamos para ela, desde o primeiro minuto em que ela dá seu primeiro sorriso, isso tudo já havia sido percebido em "B vs S", onde a maioria do público concordou que a Mulher-Maravilha era a melhor coisa do filme e que se comprova nessa produção com grande mérito a atriz que a interpreta.

Outra outro fato que tem destaque no sucesso de "Mulher Maravilha" é o roteiro. Escrito por dois escritores de HQ, Geoff Johns, que é chefe criativo da DC nos cinemas (Sendo seu primeiro trabalho este maravilhoso filme) e Allan Heimberg que ganhou destaque em 2006 escrevendo os "Jovens Vingadores" para a concorrente; o roteiro acerta no alvo, ao optar em não fazer grandes mudanças na história da personagem em relação com sua origem nos quadrinhos e nem apresentar uma trama complexa demais, dando espaço para que todo tipo de pessoa presente no público se sinta fisgado pelo filme por um motivo diferente, pois embora simples, não faltam cenas engraçadas, de ação empolgante e até mesmo românticas nas quase duas horas e meia de história.

Além disso, o trabalho em equipe (direção / atuação/ roteiro) contribuem para uma série de momentos marcantes e importantes que o filme consegue traz para nos fazer pensar sobre nossa sociedade, sem torna-lo panfletário. Temos então uma cena cômica onde Steve Trevor, depois de interrogado pelas Amazonas, está tomando banho nu em uma piscina quando, ao sair é surpreendido por Diana que pergunta se todo homem é igual a ele, que responde que é acima da média, então ela pergunta o que é aquilo logo abaixo, e depois de alguns segundos de suspense cômico ele estende a mão e mostra um relógio e explica para ela que serve para dizer quando se deve acordar, comer, ir trabalhar, ao passo que a princesa das amazonas sorri e questiona de como uma coisa pequenina assim pode ordenar o que as pessoas podem fazer. Uma brilhante e sútil alegoria do roteiro e direção, utilizando o relógio como se falasse do pênis, para questionar o poder que a ele é atribuído por quem se acha acima da média.

Também temos a cena icônica da guerra, onde Diana parte sozinha em direção as metralhadoras alemãs, disposta a morrer para poder libertar as famílias que estavam sendo aprisionadas do outro lado da terra de ninguém e destruindo quase que sozinha toda linha alemã. Ou mesmo quando, presente na base britânica, ela dá uma lição de moral nos generais que diziam que a perda da vida de alguns soldados era algo aceitável. Lições de heroísmo e sacrifício que os filmes dos bombadões e destruidores de Zack Snyder ficaram devendo com juros alto. Sem contar que "Mulher maravilha" possui uma sequência final de batalha épica e um plot twist surpreendente.

No entanto, como eu sempre digo, nada é perfeito e o filme peca por ter muitas semelhanças com o primeiro "Capitão América" da Marvel. Para começar temos um super-herói (portando um escudo) que está disposto a combater os alemães; ambos juntam um grupo multi étnico para os ajudar; ambos perdem seus grandes amores (diana-Esteve Trevor e o Capitão América o Bucky (amizade também é uma forma de amor)) e acabam ao final de volta a ação nos dias de hoje; sem contar que assim como Steve Rogers (o capitão America) , Steve Trevor também desaparece em um acidente de avião (2 Steves e 2 Aviões). talvez até por isso, resolveram ambientar a trama na primeira guerra e não na segunda, mas ao final isso passa quase despercebido frente a todo o resto que a história traz (com a vantagem de que a Diana foi para cama com alguém em seu primeiro filme, enquanto o Capitão América está desde 1940 aguardando o "par perfeito para sua dança". Ponto para a princesa de Themyscira.

Eu poderia me estender por páginas e mais páginas para falar de com o filme "Mulher-Maravilha" é bom e vale a pena ser assistido, mas prefiro que, embora meus pequenos spoiler, as pessoas tenham a oportunidade de se surpreender com o primeiro filme bom da DC desde "Batman o cavaleiro das trevas" do Nolan. Mulher Maravilha é sem dúvida um marco para o cinema de Super-heróis, colocando no lugar de destaque tanto a personagem, quanto tudo que ela representa para as mulheres. Um ótimo filme, inteligente, bem humorado e com ação e drama na dose certa para não enjoar. Fico agora no aguardo para que todo o trabalho primoroso e ágil de Patty Jenkins e Gal Gadot não seja destruído com o filme da Liga de Zack Snyder e seus slow motions sem fim. Resta orar para que Zeus nos ilumine e a princesa da amazonas nos defenda.






sexta-feira, 9 de junho de 2017

O OPOSITOR - de Luis Fernando Verissimo


Luis Fernando Verissimo sempre foi um dos meus cronistas preferidos. Lembro de quando eu era adolescente, pouco antes do "advento da internet" (como diria o arquiteto em Matrix), aguardava a coluna semanal do autor no Jornal Zero-Hora (aqui do RS), para me deliciar com sua escrita brilhante e divertida. Eu chegava a recortar suas melhores publicações e guardar dentro dos meus livros, para , sempre que me faltasse algo bacana para ler, voltar ao bom e velho Veríssimo. Então veio a vida adulta, cresceu meu interesse por ficção científica, os filmes e séries de super-heróis dominaram o mercado, a franquia Star Wars ressuscitou e por muito tempo deixei o autor de lado, com seus quatro livros que tenho, esquecidos na estante; até que no último domingo chuvoso e de internet vacilante, meu subconsciente, procurando algo que revertesse a sensação de tédio que eu sentia sentado o dia todo na frente da TV, colocou na minha mão "O opositor" obra de Veríssimo, integrante da coleção "cinco dedos de prosa" da editora Objetiva e, como uma epifania nascida da contemplação de uma obra da renascença, tudo que eu tinha ignorado com a distancia dos textos do autor, voltou a fazer sentido novamente.

O Opositor, conta a história de um repórter, que é designado por um jornal de São Paulo, para ir a amazônia fazer uma matéria especial sobre ervas típica e plantas alucinógenas. Pesquisando sobre o assunto em Manaus, ele acaba conhecendo Serena, uma especialista na flora amazônica, que possui a peculiaridade de ser meio Dinamarquesa e meio índia (meio a meio mesmo, com um lado do corpo moreno e o outro loiro) e não possuir os polegares; Serena lhe apresenta a uasca e oferece seu corpo e após dias de uma viagem de prazer e delírio, proporcionados pelo sexo e pelo alucinógeno, nosso repórter resolve relaxar em um bar e se refrescar com os sucos típicos da região. É quando conhece o Polaco, ou Josef, o míssil, um esfarrapado bêbado, de rosto vermelho e sotaque europeu, que vai lhe contando uma fantástica história de conspiração que envolve um grupo secreto que comando o mundo, uma misteriosa ceita que, interpretando os afrescos de Luca Signorelli, nega a evolução humana extirpando os polegares de seus seguidores; conta-lhe sobre a criação do vírus mais mortal da história por um desconhecido cientista Americano e sua caçada por parte dele, Josef, um "opositor" (assassino) para que todos os segredos permanecessem desconhecidos do mundo, até ali.

Esse livro, foi a primeira história mais longa que li do autor, e hoje, relendo, posso dizer que tive a mesma sensação de maravilhamento de quando o abri a primeira vez, em 2004. Verissimo consegue, de maneira simples, como é sua melhor característica, utilizando poucos elementos e personagens marcantes, entregar uma história extremamente divertida e reafirmar, mesmo com uma obra encomendada por uma coleção editorial, todo seu talento.


Pela facilidade como o autor escreve e sua capacidade de ser sucinto, sem deixar nada de fora, o livro é de leitura rápida, principalmente por ser composto de apenas cento e quarenta páginas. No entanto, seu tamanho enxuto não o torna menos relevante ou faz menos justiça a qualidade do autor, muito pelo contrário, nessas cento e quarenta páginas estão todos elementos típicos da escrita de Veríssimo, a começar pelo humor. Seus estilo debochado de contar a história e os elementos fantásticos e conspiratórios que ele introduz, alternam a experiência de quem lê de "engraçado" para "faz sentido" o tempo todo e as figuras exóticas que passam por sua história são tá fantásticas que bem poderiam ser reais, como a mestiça Serena, que é meio-a-meio índia e dinamarquesa, tendo em seu corpo seu equador particular e a frieza e calor de dois hemisférios distintos, ou o galante e erudito bêbado Polaco, portador de uma história fantástica e de dúvidas que deixa pairando na mente do protagonista quando a história se encerra, sem contar o comerciante Turco dono do bar, figura carimbada na literatura brasileira e do chefe arrogante de caricato do protagonista, todos muito reais, apesar de suas peculiaridades primorosas criados pelo autor.

Verissimo
O ar cinematográfico é outro elemento característico de Veríssimo e que não falta a esse livro. Tal qual a série de contos de Ed Mort, nessa história também temos um mistério que lembra de longe os antigos filmes de detetives, com uma investigação efetuada por um agente de uma agência secreta de assassinos, a caça de um misterioso cientista e que termina no meio da Floresta amazônica em um final dramático e repleto de ação, que não deixa nada devendo as teorias de conspiração mais bem elaboradas e que, se um dia os deuses do cinema, por sorte, tropeçarem nessa pequena obra, com certeza daria um ótimo filme, Talvez até, com Polaco sendo interpretado por Howard Something..Talvez!

Para finalizar, ainda temos as ferramentas narrativas que Verissimo utiliza para contar a história. Tal qual a embriaguez do Polaco ou a o estado de semi-torpor do protagonista causado pela a uasca, a história parece cambalear, fazer looping, como se entrasse a todo momento em uma espiral e voltássemos a falar novamente sobre os mesmo assuntos com atenção em outros detalhes. Assim, pelo ponto de vista de outros e comparando com os outros personagens, vamos tendo pistas de que as coisas que o Polaco vai contando não são tão absurdas e que a mente do protagonista está mais aberta para aceitar a verdade que ninguém mais quer, fazendo um link diretor entre a uasca, as ceitas Italianas, o Grupo secreto, a teoria da conspiração e os sucos de Manaus, de forma que a trama se fecha sem deixar nenhuma ponta solta, a não ser que aquelas cento e quarenta páginas se duplicasse, para podermos ler mais.

Pois bem, O Opositor é uma excelente diversão para uma tarde de domingo chuvosa. Um livro que, embora pequeno, trás todos elementos que transformaram Luis Fernando Veríssimo no grande escritor, e que é um achado que me iluminou nesse último final de semana, tanto que, despertou meu apetite e me fez separar outro livro do autor caso a chuva teime em não ir embora. Mas enquanto o fim de semana não chega, vou dar uma olhada nas ultimas colunas do autor e , quem sabe, recortar do jornal (ou colar em uma pasta no PC) suas melhores histórias, para ler, quando algo bacana para ler me faltar.