Em mil novecentos e noventa e nove, o
marcante Agente Smith proferia em “Matrix” uma frase que ecoaria anos a fio na
cultura pop, que “O ser humano é um vírus” que pula de região em região
devastando e consumindo todos os recursos até que não sobre nada, sendo a única
solução para que o sistema se equilibre a total extinção do vírus. Anos depois,
em 2008, quis o destino irônico que Keanu Reeves (O antagonista de Smith em
“Matrix”) interpretasse Klaatu em “O dia em que a terra parou” ,um Alienígena,
que se dizendo amigo da Terra, vem dar um fim à raça humana antes que ela acabe
com todas as outras formas de vida do planeta. Então, Eis que quase vinte anos
depois do Agente Smith e dez de Klaatu, outro vilão surge para ampliar as ideias
de seus predecessores em níveis galácticos ao afirmar que “há vida demais no
universo” e isso deve ser contido. Trata-se do ecoterrorista mais casca grossa
que já nasceu ou, Thanos, o Titan Louco, para os íntimos, que chegou aos
cinemas nesse último dia vinte e seis de Abril para bater de frente com os “Heróis
mais poderosos da terra” em um dos filmes mais esperados da década, trata-se de:
“Thanos, O filme”, digo: “Gente de mais para duas horas e meia”, ou
melhor, “Vingadores: Guerra Infinita”, filme dos irmãos Russo que (quase) fecha
a “Trilogia” Vingadores.
Pois então, saí de casa com a expectativa lá
em cima, havia assistido à “Pantera Negra” um mês atrás, fato que renovou
minha fé nos filmes baseados em quadrinhos, estava levando meu filho de quatro
anos pela primeira vez ao cinema e veria Thanos em ação de verdade depois de
quase seis anos. Mas ao final das quase três horas , salvo muitas cenas divertidas
de ação e do apelo visual que o filme tem, saí com a irônica sensação de que,
justamente na história onde o maior vilão da Marvel tem por objetivo encontrar
o equilíbrio para o universo, a história que me foi apresentada não estava
perfeitamente calibrada.
Quem sou eu para contestar os planos do
Thanos do filme! Eu trabalho com contabilidade, estoques e compras, e, já
fiquei parado na fila “expressa” do Supermercado esperando a caixa trocar o
rolo de papel da máquina registradora mais de uma vez, ou seja, também acredito
que se metade das pessoas não existisse, o universo entraria em equilíbrio, mas
eu não sou ninguém... Thanos, ao contrário de mim, é um alienígena com centena
de anos e uma das criaturas mais poderosas do Universo Marvel, que têm (ou
deveria ter) objetivos e questões que vão além da compreensão e sentimentos
humanos, então apresentar o cara como um ecoterrorista que se acredita
iluminado pela certeza de que o universo, com a quantidade de vida que possui,
irá ruir e para gerar o equilíbrio necessário precisa mandar 50% das formas de
vida para a terra dos pés juntos, mas mesmo assim tem espaço em seu
coraçãozinho para o amor, me parece uma ideia não tão bem executada de tornar o
vilão compreensível e carismático. Thanos, para funcionar, deveria parecer
caótico para nós e plenamente crível e competente para si e quem o conhece
melhor, uma mistura de inteligência indiferente, força destruidora mas controlada
e imponência, mas embora eu perceba isso, também não sei como faria isso em um
filme PG13, mas como já falei, eu sou um ninguém, não um estúdio bilionário.
O protagonista |
"Uma mistura de anjo com pirata" |
Mas apesar de algumas escolhas de roteiro
que não me agradaram por completo, como a tentativa de mudar o status do vilão
para o de anti-herói, o pouco tempo para respirar e dar profundidade aos
personagens em meio a tanta ação e a Scarlett Johansson loira e não ruiva, o
filme entrega o que promete, principalmente quando o entendemos como uma ponte,
feita para nos levar até, ao que parece ser, um final marcante dessa geração de
dez anos de Universo compartilhado Marvel.
No entanto, vale a lembrança dos filmes que citei no inicio do texto e
que tinham em comum além da ideia de que se livrar de uma quantidade de gente
pode ser um benefício ao mundo ou universo, o apelo ao carisma do vilão como
sustentação da história, o que acabou não funcionando em “O dia que a terra
parou”, que é uma refilmagem de um filme clássico de 1951 e que não acançou o
sucesso pretendido e as sequências de “Matrix”, que se perderam em si mesmas ao
dar o peso maior que o necessário ao antagonista. Obviamente Thanos e todo universo MARVEL estão anos luz em popularidade e qualidade que o pretensioso filme de Klaatu e comparando com "Matrix", todo o planejamento da franquia de 10 anos do estúdio Marvel deixa a história das Irmãs Wachowski no chinelo e certamente esse filme arrecadará uns dois bilhões de dólares, mas mesmo com toda empolgação e publicidade, sempre há o perigo de um tropeço justo na hora da cereja do bolo. Mas Fica agora a torcida para que
a sequência de “Guerra Infinita” corrija as pequeníssimas falhas da história de 2018
e dê o protagonismo a quem da nome ao filme, antes que o grande final de uma
história de dez anos, acabe virando pó.
Perspectiva interessante! Acertadamente Thanos (Josh Brolin, do óptimo Filme Homens De Coragem ) é a grande estrela desse filme, tanto que é alardeado de que ele que retornará, não os Vingadores. Ao lado de Killmonger, que sem dúvidas ele é o melhor vilão da Marvel. Thanos é extremamente bem construído e muito bem feito em CGI, suas motivações fazem sentido e trazem um inesperável carisma e humanidade ao vilão. Acreditamos que o que ele faz não é bom, mas é necessário para ELE e entendemos o porquê. Claro que não significa que ficaremos ao lado dele. Não. Ele é um porco genocida e egocêntrico que sai pelo Universo exterminando metade da população dos planetas sendo uma espécie de Deus em uma missão digna, mas é uma ideia de equilíbrio que, de uma maneira ou outra (descontada a sede pelo poder), acaba se tornando compreensível ao conseguirmos identificar perfeitamente a sua motivação traçando um paralelo com o mundo real. Principalmente se formos comparar com os dois filmes que serviram de prelúdio a este, Thor: Ragnarok e Pantera Negra, que introduziram certas ideias de moral torta.
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