quarta-feira, 2 de maio de 2018

VINGADORES: GUERRA INFINITA (2018) ou, Thanos: O filme








  Em mil novecentos e noventa e nove, o marcante Agente Smith proferia em “Matrix” uma frase que ecoaria anos a fio na cultura pop, que “O ser humano é um vírus” que pula de região em região devastando e consumindo todos os recursos até que não sobre nada, sendo a única solução para que o sistema se equilibre a total extinção do vírus. Anos depois, em 2008, quis o destino irônico que Keanu Reeves (O antagonista de Smith em “Matrix”) interpretasse Klaatu em “O dia em que a terra parou” ,um Alienígena, que se dizendo amigo da Terra, vem dar um fim à raça humana antes que ela acabe com todas as outras formas de vida do planeta. Então, Eis que quase vinte anos depois do Agente Smith e dez de Klaatu, outro vilão surge para ampliar as ideias de seus predecessores em níveis galácticos ao afirmar que “há vida demais no universo” e isso deve ser contido. Trata-se do ecoterrorista mais casca grossa que já nasceu ou, Thanos, o Titan Louco, para os íntimos, que chegou aos cinemas nesse último dia vinte e seis de Abril para bater de frente com os “Heróis mais poderosos da terra” em um dos filmes mais esperados da década, trata-se de: “Thanos, O filme”, digo: “Gente de mais para duas horas e meia”, ou melhor, “Vingadores: Guerra Infinita”, filme dos irmãos Russo que (quase) fecha a “Trilogia” Vingadores.


  O Filme trás finalmente para as telonas, os plano de Thanos de reunir as joias do infinito e colocar em prática sua ideia de dar equilíbrio ao universo... aniquilando metade da vida existente nele! (É isso), junto disso, dá sequência aos acontecimentos que envolveram os vingadores (ou aos personagens que faziam parte desse grupo) após a “Era deUltron” e “guerra civil”, unindo em um único filme (quase) todos os super-heróis do universo cinematográfico Marvel.

   Pois então, saí de casa com a expectativa lá em cima, havia assistido à “Pantera Negra” um mês atrás, fato que renovou minha fé nos filmes baseados em quadrinhos, estava levando meu filho de quatro anos pela primeira vez ao cinema e veria Thanos em ação de verdade depois de quase seis anos. Mas ao final das quase três horas , salvo muitas cenas divertidas de ação e do apelo visual que o filme tem, saí com a irônica sensação de que, justamente na história onde o maior vilão da Marvel tem por objetivo encontrar o equilíbrio para o universo, a história que me foi apresentada não estava perfeitamente calibrada.

   Quem sou eu para contestar os planos do Thanos do filme! Eu trabalho com contabilidade, estoques e compras, e, já fiquei parado na fila “expressa” do Supermercado esperando a caixa trocar o rolo de papel da máquina registradora mais de uma vez, ou seja, também acredito que se metade das pessoas não existisse, o universo entraria em equilíbrio, mas eu não sou ninguém... Thanos, ao contrário de mim, é um alienígena com centena de anos e uma das criaturas mais poderosas do Universo Marvel, que têm (ou deveria ter) objetivos e questões que vão além da compreensão e sentimentos humanos, então apresentar o cara como um ecoterrorista que se acredita iluminado pela certeza de que o universo, com a quantidade de vida que possui, irá ruir e para gerar o equilíbrio necessário precisa mandar 50% das formas de vida para a terra dos pés juntos, mas mesmo assim tem espaço em seu coraçãozinho para o amor, me parece uma ideia não tão bem executada de tornar o vilão compreensível e carismático. Thanos, para funcionar, deveria parecer caótico para nós e plenamente crível e competente para si e quem o conhece melhor, uma mistura de inteligência indiferente, força destruidora mas controlada e imponência, mas embora eu perceba isso, também não sei como faria isso em um filme PG13, mas como já falei, eu sou um ninguém, não um estúdio bilionário.

  
O protagonista
Essa ideia de dar destaque ao vilão, para, entre outras coisas, marca-lo na história do estúdio, assim como a concorrente fez com o Coringa de “Batman: Cavaleiro das trevas” tirou o foco dos quase trinta heróis que aparecem em cena, reduzindo quem dá nome ao filme a meros coadjuvantes de luxo, com quase nenhum aprofundamento e isso me incomodou bastante. Mas mesmo com essa predileção do roteiro pelo vilão, o filme está longe de tropeçar e encontra espaço para que alguns dos personagens mais queridos da gurizada brilhem quando se torna preciso, como o caso do Homem-Aranha, que trás , assim como em “guerra civil”, aquele espirito moleque para trama, o que além de empolgar com sua presença em cena, faz com que nos preocupemos com qualquer coisa que possa vir a acontecer com o jovem Peter Parker; Outro que se destaca também é Dr. Estranho, principalmente na épica batalha em Titan, com o feiticeiro supremo, mostrando que desde seu filme solo andou elevando seu nível para fazer jus a seu título e deixando em aberto um possível plano para o próximo filme.

  
"Uma mistura de anjo com pirata"
Quanto a experiência que o longa me trouxe, longe de mim dizer que o filme é ruim, pelo contrário, o fato é que só não achei ele tão bom como outros que o estúdio já apresentou, como “Pantera Negra” e “Capitão América: Soldado Invernal” , talvez porque nessa nova história a Marvel pareça regredir novamente ao filme cheio de piadas e ação não expondo aquele sentimento heroico que estes outros dois filmes expuseram tão bem, ou talvez por se tratar de um filme para apresentar uma situação que será resolvida só depois (no exato 03.05.2019) em Vingadores 4. No entanto, sua ação constante, com cenas de batalhas épicas que se realizam no campo e na cidade, na Europa, África e América, na Terra ou Titan, prendem a atenção de qualquer um que vai ao cinema ver a pancada correr solta entre super-heróis x Alienígenas, sem dizer que os efeitos especiais conseguiram hipnotizar meu filho e deixa-lo com um sorrisinho no rosto, embora ele tenha cochilado um pouco quando o vilão começou a falar e a falar.

     Mas apesar de algumas escolhas de roteiro que não me agradaram por completo, como a tentativa de mudar o status do vilão para o de anti-herói, o pouco tempo para respirar e dar profundidade aos personagens em meio a tanta ação e a Scarlett Johansson loira e não ruiva, o filme entrega o que promete, principalmente quando o entendemos como uma ponte, feita para nos levar até, ao que parece ser, um final marcante dessa geração de dez anos de Universo compartilhado Marvel.  No entanto, vale a lembrança dos filmes que citei no inicio do texto e que tinham em comum além da ideia de que se livrar de uma quantidade de gente pode ser um benefício ao mundo ou universo, o apelo ao carisma do vilão como sustentação da história, o que acabou não funcionando em “O dia que a terra parou”, que é uma refilmagem de um filme clássico de 1951 e que não acançou o sucesso pretendido e as sequências de “Matrix”, que se perderam em si mesmas ao dar o peso maior que o necessário ao antagonista. Obviamente  Thanos e todo universo MARVEL estão anos luz em popularidade e qualidade que o pretensioso filme de Klaatu e comparando com "Matrix", todo o planejamento da franquia de 10 anos do estúdio Marvel deixa a história das Irmãs Wachowski no chinelo e certamente esse filme arrecadará uns dois bilhões de dólares, mas mesmo com toda empolgação e publicidade, sempre há o perigo de um tropeço justo na hora da cereja do bolo. Mas Fica agora a torcida para que a sequência de “Guerra Infinita” corrija as pequeníssimas falhas da história de 2018 e dê o protagonismo a quem da nome ao filme, antes que o grande final de uma história de dez anos, acabe virando pó.




Um comentário:

  1. Perspectiva interessante! Acertadamente Thanos (Josh Brolin, do óptimo Filme Homens De Coragem ) é a grande estrela desse filme, tanto que é alardeado de que ele que retornará, não os Vingadores. Ao lado de Killmonger, que sem dúvidas ele é o melhor vilão da Marvel. Thanos é extremamente bem construído e muito bem feito em CGI, suas motivações fazem sentido e trazem um inesperável carisma e humanidade ao vilão. Acreditamos que o que ele faz não é bom, mas é necessário para ELE e entendemos o porquê. Claro que não significa que ficaremos ao lado dele. Não. Ele é um porco genocida e egocêntrico que sai pelo Universo exterminando metade da população dos planetas sendo uma espécie de Deus em uma missão digna, mas é uma ideia de equilíbrio que, de uma maneira ou outra (descontada a sede pelo poder), acaba se tornando compreensível ao conseguirmos identificar perfeitamente a sua motivação traçando um paralelo com o mundo real. Principalmente se formos comparar com os dois filmes que serviram de prelúdio a este, Thor: Ragnarok e Pantera Negra, que introduziram certas ideias de moral torta.

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