quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

SIREN (2016)

Parece que virou tendência transformar curtas em longas e, quando falo isso, me refiro a cinema e não ao uso das famosas bombinhas de sucção. Pois é, em tempos de escassez de roteiros originais, aprofundar , em loga metragem, as ideias e conceitos já explorados em menos tempo de tela vem se tornando uma opção para muita gente. Exemplos disso, são os ótimos "Whiplash" e "Distrito 9", que surgiram como curtas quase obscuros e chamaram a atenção do público quando suas histórias foram expandidas, no entanto, reciclar e aprofundar conceitos nem sempre é certeza de sucesso, podendo, pelo contrário, evidenciar um roteiro raso e uma história esquecível.

Talvez o grande trunfo para o sucesso da transformação de um curta em um longa, seja o drama e tensão que a história contenha e que podem ser elevados, conforme o talento do diretor, quando a história é aprofundada. Isso explicaria o sucesso dos dois filmes citados acima, que contem drama e tensão de sobra e ajudaria a entender porque que o gênero que menos obtém sucesso nessa nova tendência é o terror.

Um filme que demonstra isso, e que fiquei particularmente ansioso para assistir, foi "Siren", inspirado no curta "Amateur Night" de David Brukner, presente no filme "V.H.S", de 2012 e que conta , semelhante à produção original, a história de um grupo de amigos, que partem para uma despedida de solteiro atrás de diversão e loucura, indo parar em um casarão no meio de um pântano onde os mais estranhos e diversos fetiches são realizados. Lá eles são convencidos a pagar uma experiência dita como única ao noivo (Jonah), que acaba se deparando com uma mulher presa em uma sala, que, só Deus sabe porque, ele resolve liberta; acontece que essa aparente indefesa prisioneira é uma súcubo chamada Lylyth, um demônio devorador de homens, que passa a ver Jonah como um prêmio, matando todos que se colocam em seu caminho. Jonah e seus amigos, terão de fazer de tudo para escapar dessa noite que deveria ser uma das melhores de suas vidas e que se torna um pesadelo.



Fiquei ansioso para assistir a esse filme, porque dos curtas presentes no filme "V.H.S", esse foi o que mais deixou com cagaço. David Brukner, que dirigiu e escreveu aquele curta ( o filme tem a direção de Gregg Bishop) conseguia guiar o expectador por uma escala que começava no total descaso e acabava no verdadeiro medo, tudo isso utilizando poucas locações (na maioria fechadas), muita sombra e não dando quase nenhuma explicação sobre o passado dos personagens ou o que a criatura que eles encontram quer realmente, ou seja, fazendo o que um curta tem que fazer, que é focar em uma questão (no caso o medo) e trabalhar em cima disso; Já no filme, essa mesma sensação não se repete e penso que, da mesma forma que ocorreu em "quando as luzes se apagam" outro filme baseado em um curta de terror, o responsável é o próprio gênero das produções.

Pareço meiga, mas como as pessoas

Diferente de histórias que envolvem dramas pessoais e que podem ser exploradas e aprofundadas de diferente formas em um filme, os filme de terror tem o medo e tensão como combustível para a ação, nesse caso, histórias que se fundamentam apenas no contato com o desconhecido, tem no próprio desconhecido a essência de seu sucesso. O que quero dizer é que, quando explicamos a situação que originou o medo, ela passa a ,tanto não ser mais assustadora, como muitas vezes se mostrar uma ideia rasa e pouco original, e exatamente isso que acontece nesse filme.

Para começar, o filme deixa o estilo sombria da obra original para trás e apresenta um tom mais claro que beira as produções baratas feitas para a TV americana (e TV municipal) e, tendo dito que grande parte da tensão da obra original vinha da escuridão, penumbra e desconhecido, isso já acaba de início com grande parte do clima do filme. Outra questão é que o curta é filmado em primeira pessoa, no estilo de Found footage (aquele onde alguém acha uma fita contendo uma história fantástica, tipo "Bruxa de Blair"), o que te torna participante daquele pesadelo tentando escapar de qualquer maneira, o que não acontece no filme, que é filmado de forma convencional e acaba mostrando muito mais do que deveria.
Os cenário também parecem trabalhar contra o filme, pois as ambientações parecem sempre vazias e pouco naturais e os poucos coadjuvantes que aparecem são tão mal dirigidos que só não olham para as câmeras para não perder o pagamento de um salgado e um refri, fato que não é diferente com os personagens principais da trama são tão mal explorados e interpretados, que quando ameaçados, ninguém se importa com o triste destino que o filme promete lhes reservar.

No entanto, o pior do filme, é o próprio roteiro. Como a história original foi concebida para fazer sentido dentro de um curta, para alongar a história é necessária a introdução de itens que preencham lacunas e nisso, é incluído mais um vilão e motivos para o mesmo, o que faz com que a ideia original se perca de Vez. O filme traz como o outro antagonista, o Sr. Nyx, que, pelo que ele mostra, é um exorcista, demologista, bruxo, vendedor de artigos místicos e dono de bordel, não deixando claro sua principal atividade, mas não conseguindo causar medo em nenhuma cena onde dá as caras, na verdade, o próprio personagem não parece levar a sério as próprias loucuras que o cercam, sendo que quando ele morre, tanto faz, a vida segue. Além dele, ainda somos apresentados a uma bartender, que rouba as lembranças das pessoas através de sangue-sugas que crescem em sua cabeça no pior estilo Medusa e que não tem a menor necessidade de estar na trama, um enxerto que só mostra quanto o roteiro é parco.
fica quieto, porque esse filme é uma bomba
Junto a introdução desse outro vilão e sua bartender sinistra, é cometido outro grande erro, que é dar um passado ao demônio Lylyth. Como já disse, grande parte do que assusta nos filmes de terror é o desconhecido e, fora casos como filmes igual a "O chamado", que conseguem passar uma pegada investigativa e vamos descobrindo junto com os personagens o que está acontecendo, um filme que te entrega tudo e ao mesmo tempo não diz nada, apenas dilui sua própria relevância e Gregg Bishop fez isso quando, não somente mostra como Lylyth acabou em nossa dimensão, como também lhe dá uma cauda de capeta e asas de morcego, que embora ficassem implícitas no curta, não eram mostradas como no filme, fatos que se somam e acabam por, além de diminuir o medo causado pela história, transforma-la em uma comédia involuntária e o final do filme, assim como a cena de sexo entre o protagonista e a mulher demônio, parecem confirmar isso.

"Siren" é um exemplo de que algumas ideias devem permanecer no micro. Um filme que parece ter sido esticado de tal maneira que cresceu mas não consegue se sustentar (talvez o diretor tenha usado bombinhas de sucção), uma trama ruim e rasa que nasceu de um ótimo e assustador curta e que reúne em menos e vinte minutos mais qualidades do que o longa com quatro vezes o seu tamanho. Então se alguém lhe apresentar esse filme fuja para as montanhas ou corra para o mato para não perder uma hora e vinte de sua vida, ou convença a pobre alma a assistir à "V.H.S" de 2012, que realmente vale a pena ser assistido.




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