domingo, 28 de agosto de 2016

QUANDO AS LUZES SE APAGAM (2016)

Escrevi um texto aqui, uns meses atrás, sobre os curtas de terror de David F. Sandberg e de como ele consegue esticar a tensão prendendo a atenção do espectador até o grande susto, utilizando nossos medos mais primitivos contra nossa própria imaginação. A exploração desses conceitos estão presentes em todo o trabalho do diretor; assinatura que fez com que ele ganhasse fama, reconhecimento e ,agora, a oportunidade de adentrar no mercado mainstream do cinema, transformando seu curta mais famoso, "Quando as luzes se apagam" em um filme produzido por James Wan e realizado pela Warner.

"Quando as luzes se apagam", segue a história de Rebecca , uma jovem tatuadora, que vive afastada de sua família devido a problemas de relacionamento com sua mãe, que sofre de crises de depressão. Tudo muda quando ela é chamada até a escola de seu irmão mais novo para ser questionada se sabe o motivo do garoto andar desmaiando de sono durante as aulas, este então lhe conta que desde que, Diana, uma amiga de infância de sua mãe "voltou", ele não se sente mais seguro na escuridão. As revelações do menino a fazem lembrar do tempo em que era criança e dos estranhos acontecimentos ocorridos em sua casa a noite e que culminaram com o desaparecimento de seu pai e o retorno de sua mãe as medicações controladas, as peças vão se ligando até que Rebecca descobre que Diana é real, existindo nas sombras e escuridão, e, que usará toda sua sorrates e violência para que nada a separe de sua única amiga.

O filme não é ruim, mas prefiro os curtas! Os curtas trabalham com uma situação, não com uma trama elaborada que busca responder as perguntas que vão aparecendo no desenrolar da história, então nos poucos minutos dos curtas temos aquele único momento e isso é o que importa, não sendo necessário o que nos levou até ali e utilizando essa forma de apresentação Sandberg é único. Já em um longa, torna-se necessário uma série de artifícios para esclarecer ao expectador como as situações vão se desenhar e em "Quando as luzes se apagam" o diretor não trouxe nada de novo ou especial, caindo mesmo em clichês bem recorrentes aos modernos filmes de terror.

Sobre esses clichês, podemos começar falando sobre Diana, a entidade da escuridão. O roteiro busca apresenta-la como outra dessas criaturas amaldiçoadas e amaldiçoadoras que surgiram aos montes no cinema americano logo após os sucessos dos filmes japoneses como "O Chamado" e "O grito". O conceito de criatura que só pode ser percebida na escuridão é muito bacana e confesso que a hora em que a protagonista está em seu quarto, acorda e vê a silhueta de uma pessoa arranhando o chão e que desaparece quando a luz se acende é bem perturbador, mas isso é apenas a transposição de uma cena do curta para o longa e como eu já disse, os curtas são melhores. Mas o que menos gosteis em relação a entidade, foi o fato dela ser mostrada no arco final do filme; acho que é muito mais assustador não dar rosto a uma ameaça sobre natural, deixar que nossa imaginação trabalhe, utilizando o medo nos olhos dos personagens para nos fazer conceber a imagem do que pode causar tanto pavor, ou seja, faltou ao antagonista do filme, nos passar o medo primitivo que perturba o inconsciente humano, justamente o que os curtas de Sandberg conseguem nos transmitir de forma tão competente.


Em relação a trama, pode-se dizer que toda a busca para encontrar respostas sobre Diana, nada mais é do que uma cópia do modo de agir dos protagonistas dos filmes com inspiração no cinema oriental citados acima, mas de uma maneira menos trabalhada, para não dizer gratuita. Rebecca tem um encontro com a entidade, um insigth e descobre caixas contendo arquivos médicos onde é explicado como Diana morreu (sim, ela é um fantasma), fotos da mesma com a mãe da protagonista e até uma fita onde supostos médicos falam sobre como Diana foi parar em uma clinica para pessoas perturbadas. Depois disso fica claro que a menina (tal qual Samara de "O chamado") causa perturbações e mexe com a mente de quem a cerca e que a presença dessa entidade é resultado da mãe da protagonista estar ligada mentalmente a amiga morta e surge o plano de combater essa presença fazendo com que Sophie (a Mãe da protagonista) tome seus remédios de forma regular ( Sim! É isso, com a dozagem certa de Prozac a entidade maligna desaparece). Essa resolução de roteiro encontrada, apresenta mais furos na história do que resolve o problema, para começar, em mais de uma cena vemos Sophie saindo da casa de dia, até mesmo após a descoberta que para afastar o monstro é necessário que ela tome seus remédios e ela está claramente perturbada e com medo, porque não tomou os remédios por conta própria ou os filhos deram a ela naquele horário? Por que esperar até a noite para procurar a mãe? Outra coisa que me incomodou foi o fato de a entidade ter a silhueta de uma mulher adulta quando morreu com menos de doze anos, resolvi acreditar que é porque ela é uma representação mental e que a pessoa amaldiçoada só criaria vínculos de temor e respeito por alguém quase da sua idade, imaginei isso para evitar de pensar que o roteirista fez isso para que não ficasse muito na cara que muitos dos conceitos eram "Homenagens" a "O chamado".

O filme ainda serve como campanha publicitária indireta. Sendo uma produção da Warner Bros, temos espalhados no decorrer da história detalhes que fazem menção aos personagens da DC/ Warner, assim temos Martin (o Irmão da protagonista) sendo afagado por sua mãe em uma foto enquanto usa uma camiseta do Batman (Beleza!), a câmera anda lentamente para o lado e entre os porta-retratos temos um boneco do Robin (Hum, ok!), corta a cena e estamos no quarto do moleque e acima de sua cama temos o poster da Liga da Justiça (Santa propaganda morcego!) , sem dizer que a produção do longa é de James Wan, o diretor do filme do Aquaman !! Sabemos que os filmes da DC não tiveram o retorno esperado e que o público de filmes de terror é, em teoria, praticamente o mesmo do de filmes de super-heróis, mas sejamos mais discretos por favor dona Warner.

"Quando as luzes se apagam" é o resumo em longa metragem de todos conceitos que David F. Sandberg buscou trazer à seus expectadores durante sua carreira, mas como resumo que é , fica devendo por apresentar uma história rasa e cheia de clichês, que embora contenha um pouco da tensão presente nos demais trabalhos do diretor, peca por seguir a cartilha dos modernos filmes de terror americanos. Fica o desejo de que nas próximas produções do diretor, tenhamos o retorno da inovação aliada a tensão que o tornaram tão famoso em festivais e na internet , fazendo com que quem vai ao cinema procurando sustos e uma história profunda e bem contado, tenha certeza de encontrar o que procura quando as luzes se apagarem.

                                        Quando as luzes se apagam - trailer 2

Nenhum comentário:

Postar um comentário