segunda-feira, 28 de novembro de 2016

NEM TUDO É O QUE PARECE (2004)

Resolvi dar uma freada nos filmes, séries e livros de Ficção científica e fugir para o outro extremo, me atirando nas produções sobre o submundo e criminalidade. Não! Eu não dei as costas para as distopias e viagens espaciais para fazer maratona de “Cidade dos homens” ou ver de novo “Cidade de Deus”, fui atrás de algo mais real, mas não tão real assim e acabei encontrando um filme de 2004, muito pouco comentado, mas com um elenco de respeito, um diretor que eu gosto muito e uma história fantástica. Estou falando de “Nem tudo é o que parece”, dirigido por Matthew Vaughn e estrelado por Daniel Craig, que me entregou uma trama tensa que me deixou preso no sofá até que o último ponto nos créditos finais fosse apagado da tela.

O filme conta a história do senhor X (Daniel Graig) um traficante Londrino, que seguindo seu plano de negócios, resolve se aposentar antes que seja tarde e fique muito envolvido com o submundo. Às vésperas de largar a criminalidade, ele recebe uma missão de seu principal fornecedor: encontrar a filha desaparecida  de um grande amigo; ao mesmo tempo que seus associado lhe convocam para avaliar e procurar compradores para poderosas pílulas de esctasy vindas do leste Europeu trazidas por um conhecido nada confiável. O que o senhor X não sabe é que está entrando em uma trama de traição, ganância e violência muito além dos aceitos dentro de sua ideia de negócios, que pode ser uma viagem sem volta dentro do buraco negro mafioso do submundo de Londres.

O Nome do filme em Inglês é “Layer Cake” (Bolo em camadas), traduzir esse título ao pé da letra para o português ficaria estranho, mas dentro do próprio filme esse título é explicado e acaba por fazer sentido, já a opção de colocar o nome da produção de “Nem tudo é o que parece”, não ajudou em nada como chamariz, acabando por dar pouca credibilidade a história por parecer que se trata de uma comédia para “toda família” protagonizada pelo Leandro Hassum e isso foi o pior desserviço que uma tradução poderia fazer com um filme, pois apesar de (sem trocadilho com o bolo) seguir uma receita conhecida e, por muitas vezes, deixar o expectador tonto devido ao número de personagens e as conexões que eles tem entre si, “Nem tudo é o que parece” é um filme bem inteligente e divertido que não merece ser esquecido.



Falei que o filme segue uma receita, porque ele vem na onda dos primeiros sucessos do diretor Guy Ritchie, “Snatch-porcos e diamantes” e “Jogos trapaças e dois canos fumegantes”, abordando o universo do submundo de Londres, utilizando diversos personagens, com mortes bizarras, tramas que se dividem em dezenas de pequenas sub-tramas e um final surpreendente, sendo a direção tendo ficado, não por acaso, nas mãos de Matthew Vaughn, que já havia produzido “Snatch” em 2000 e emula a direção de Rirchie nesse filme, mas já mostrando muito do diretor que viria a se tornar mais a diante, com suas sequências rápidas, as trocas de cenário para explicar as consequências dos fatos, as cores fortes e a iluminação bem clara sempre presente.

A história tem pelo menos vinte personagens com relevância. Isso pode acabar deixando quem assiste bastante confuso, pois no filme, que possui apenas uma hora e meia, muitos desses personagens são, muitas vezes, apenas citados pelos que estão em cena e, se lembrar dos nomes e apelidos de quatro ou cinco pessoas que conhecemos em um dia não é fácil, imagina o de duas dezenas de personagens de um filme curto? Mas isso acaba por dar mais tensão ao filme, pois somos obrigados a assisti-lo com toda atenção do mundo, ou acabamos por perder o fio que conduz a trama, já que ali nem tudo é o que parece (Pá-bum- Tss).

O roteiro do filme é muito bem escrito por J.J Connolly, sendo baseado em uma novela do próprio roteirista e a história prende porque, penso eu,  os filmes sobre o submundo são fascinantes para a grande maioria das pessoas. Talvez por apresentar um universo secreto, um lugar marginal ao cotidiano e a rotina, que nos faz lembrar que somos animais, refreados muitas vezes, apenas pelas correntes da opinião da sociedade que nos cerca, ou talvez, simplesmente, por exaltar a força e a liberdade que possui quem não segue todas as regras. Seja pelo motivo que for histórias sobre o mundo do crime são quase certeza de sucesso, principalmente se a mesma possuir uma trama complexa, que além de bandido, mostrar o protagonista como um homem de negócios e classe, se aprofundar em suas relações profissionais e nos entregar cenas pontuais de violência e diálogos inteligentes e, justamente isso, é o que a trama apresentada por Connolly nos mostra durante o tempo de tela.

Além do roteiro e direção competente, o filme ainda traz personagens fortes, como Gene, interpretado por Colm Meaney, o segundo no comando da quadrilha para quem o senhor x trabalha e que se impõe como cara durão mesmo não tendo o perfil físico  para isso; do mesmo modo temos o responsável pela segurança do protagonista, Morty (George Harris), sempre sério e impassível e que explode em uma cena que faz quem está assistindo perguntar o que está acontecendo. Também é legal ver alguns atores que hoje são estrelas, começando suas carreiras, como o mirrado Daniel Craig, que estava longe de ser o James Bond dos últimos filmes da franquia 007, ou um Jovem Tom Hardy, grande nome depois de Mad Max, que ali se apresenta como um inexpressivo coadjuvante aliado do senhor X que pouco influencia a trama.


Seja pelo motivo que for, “Nem tudo é o que parece” é um filme muito bacana e merece ser assistido, principalmente para quem, assim como eu, gosta daquele estilo característico inglês fundado por Guy Ritchie. Para se ter uma ideia o filme, mesmo parecendo imitar o estilo do ex-marido da Madona, me parece ter influenciado o mesmo no último filme do diretor  nesse estilo, “Rock n Rolla”, de 2008 e isso por si só mostra a qualidade da produção. Mas o grande trunfo de “Nem tudo é o que parece” é se sustentar sozinho, mesmo fazendo referência a outras produções e nos dias de hoje, onde tudo parece uma repetição de uma repetição de roteiros, um filme que tenta lembrar outros e mesmo assim consegue surpreender é uma joia rara, então não perca tempo, assista, “Nem tudo é o que parece” e preste bem a atenção na trama, pois embora a história se apresente em diversos níveis, como um bolo em camadas, nem tudo é o que parece e o final  vai te deixar com um amargo na boca por um bom tempo.



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