domingo, 13 de novembro de 2016

BONE TOMAHAWK (2015) quando o terror e o Western dão as mãos

2016 está quase no final e, embora tenha trazido alguns filmes legais, trouxe tantas decepções com os títulos que vinham a anos sendo aguardados, que o jeito de equilibrar essa frustração é recorrer ao underground e ir voltando no tempo para achar algo que valha a pena ser assistido. Foi assim, retrocedendo até 2015 e procurando filmes pouco divulgados, que encontrei algo que colocou minha cabeça entre o "porque não?" e "Que porra é essa?!", uma trama que fica oscilando entre o cinema minimalista e o visceral, com um grande elenco, mas sem grande produção, escrito e dirigido por um cara totalmente desconhecido, mas não por isso pouco talentoso; estou falando de "Bone Tomahawk", em Western de terror (se é que este estilo existe) roteirizado e dirigido por S. Craig Zahler e estrelado por Kurt Russel, Patrick Wilson, Matthew Fox e Richard Jenkins (fora os reféns), que me surpreendeu em uma dessas noites sem sono.

Em "Bone Tomahawk" somos apresentados a pequena cidade de Brigth Hope, no bom e velho Oeste Americano, um lugar cuja economia gira em torno da criação de gado de corte e onde algumas vezes no ano os peões levam o rebanho até os grandes matadouros no outro canto do estado, deixando a cidade praticamente vazia. É em um desses períodos, que surge na cidade um desconhecido (David Arquette) que as autoridades da cidade acreditam se tratar de um fugitivo após encontrarem roupas sujas de sangue próximas a cidade pouco depois deste chegar. Após uma discussão em um saloon, o misterioso forasteiro acaba baleado e preso pelo xerife (Kurt Russel) e como o médico da cidade não estava presente, para tratar do detento baleado, o xerife chama a enfermeira Samantha, que deixa seu marido Arthur (Patrick Wilson) na cama, com sua perna quebrada e vai cuidar do prisioneiro.
No entanto, o que ninguém poderia imaginar é que o forasteiro vem fugindo a dias de uma misteriosa e selvagem tribo de Canibais, que deseja seu sangue por ter maculado um terreno sagrado e, entrando na cidade sorrateiramente, esses canibais sequestram o forasteiro levando junto o jovem auxiliar do xerife e a enfermeira Samantha, não restando nada as poucas autoridades restantes na cidade (compostas pelo Xerife Hunt e seu idoso e lento auxiliar Chicory (jenkins)) partir em resgate dos desaparecidos, contando com a ajuda do Dandi e arrogante John Brooder (Fox) e do debilitado marido da enfermeira, em uma viagem que testará mais do que a fé do grupo na humanidade e a confiança em si próprios, mas a própria sanidade de cada um.



Esse filme é atípico, pelo menos pra mim, que procuro títulos que foquem mais na diversão ou em tramas que tentam se equilibrar em um roteiro que busque conversar com o expectador sem necessariamente choca-lo desde o primeiro momento. "Bone Tomahawk", pelo contrário, é um tapa na cara desde o primeiro minuto de cena, quando vemos um homem tendo sua garganta cortada por ladrões com uma faca cega, isso mostra, mesmo antes do nome do filme ser anunciado em uma tela preta e sonorizada só com o som de estouro, a que o filme veio e deixa claro aos de estômago fraco, assistam outra coisa.

Chicory & Brooder
Mas apesar de ser um filme surpreendente, ele se mostra atípico até mesmo em seus adjetivos, pois possui extremos de tensão e ação que te deixam hipnotizados e momentos de total marasmo, que te fazem ter vontade de acelerar os acontecimentos ou reeditar a película cortando, pelo menos, quarenta minutos do filme.

No que tange a parte positiva, se pode falar sobre o início instigante que já mencionamos, com os ladrões executando alguns pobres viajantes azarados e os personagens sendo apresentados em todos os seus esteriótipos e , com certeza, o fechamento do filme, onde o resgate se dá (não com o sucesso esperado) onde o filme dá uma guinada de terror e crueza na ação e que assistir, sem fazer uma carteirinha que seja, não é tarefa muito fácil; destaque para como o personagem do Patrick Wilson descobre como chamar os Canibais e como ele realiza essa tarefa e o destino do pobre coitado do mais jovem assistente do Xerife.

O ponto ruim é que o filme, por se tratar de uma viagem de resgate, contem muitas cenas que parecem desnecessárias e diálogos que não casam com a situação de um grupo que parte em um resgate, tornando quase todo o segundo arco da trama, onde eles estão no rastro dos selvagens, uma quebra com o ritmo que era prometido no inicio e aditivado quando acontecem os sequestros. É cavalo que é roubado, é perna que infecciona, é confissão de matador de índio, é Xerife que quer se aposentar; são muitos pequenos plots que rodeiam todo o universo de Westerm que o autor praticamente lista sem aprofundar nenhum de verdade e os colocando ali mais como enxerto da trama, do que para falar mais sobre o passado dos personagens.

Hunt & Arthur
Falando sobre os personagens, o roteiro usa e abusa de esteriótipos e arquétipos dos filmes de westerm para nos entregar quatro personagem marcantes. Primeiro temos Kurt Russel, no papel do Xerife Hunt, um velho homem da lei, habituado com ladrões de cavalos e pistoleiros, é o tipo que atira primeiro e pergunta depois, está próximo da aposentadoria e pretende viver o resto de sua vida tranquilamente com sua esposa, a participação de Russel nesse filme é tão bacana, que lhe rendeu um papel no último filme de Quentin Tarantino, " os Oito Odiados" lançado também em 2015. Nas pegadas do xerife, segue seu velho assistente chamado Chicory, que é vivido por Richard Jenkins, ele é um velho viúvo, ingenuo e de inteligência limitada, que parece estar mais sob a proteção do personagem de Russel, do que sendo útil a justiça, servido como alívio cômico e responsável pelas perguntas mais constrangedoras aos demais personagens; Temos também o arrogante e cínico John Brooder, um rico e Dândi fazendeiro veterano da conquista do Oeste, que nutre um ódio secreto por índios por um fato ocorrido em seu passado, de personalidade difícil e pessimista, o personagem do antigo protagonista de "Lost", Mathew Fox, é o responsável por mostrar com clareza como o mundo real pode ser mau e hostil aos desinformados membros da comitiva de resgate; Para fechar o quarteto, temos Patrick O'Dwyer, o vaqueiro marido da enfermeira sequestrada, só não foi viajar semanas antes para levar o gado, por ter quebrado a perna quando consertava o telhado e mesmo debilitado parte com a comitiva para salvar sua mulher e é responsável por nos transmitir toda dificuldade, sofrimento e sacrifício para realizar sua missão.

Mas mesmo explorando bem os protagonistas, o filme parece ficar devendo um pouco sobre o universo que eles fazem parte. Pouco é falado ou presentado sobre a cidade de Brigth Hope ou sobre as famílias dos protagonistas e a falta que os mesmos podem causar naquela sociedade. O pouco que temos são personagens periféricos que dão uma ideia sobre a sociedade de origem dos protagonistas e algumas lembranças, que são contadas na volta da fogueira mas não mostradas, assim como a própria cidade, que só é mostrada como uma pequena rua empoeirada e casas de madeira perfiladas.


Apesar da Oscilação de ritmo e extremos nas qualidades do filme, "Bone TomaHawk" é um filme surpreendente e muito corajoso. Repleto de tensão e crueza, é uma história para quem tem estomago forte e paciência apurada, mas acima de tudo uma boa opção em um ano com tantas decepções no cinema. Com um elenco de respeito e um roteiro visceral e sanguinolento, o filme comprova que muitas vezes o underground e o mais antigo, valem muito mais a pena do que o fruto da publicidade e do Marketing, então já sabem, em caso de insônia, dia de chuva ou falta de opção e estiver sentindo o estômago forte, assista "Bone Tomahowalk" e assista esse filme que vai te surpreender, mesmo te deixando entre o "porque não?!" e o "Que porra é essa?"




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