quarta-feira, 18 de maio de 2016

AS CAÇA-FANTASMAS o trailer mais odiado (ou como deixar de ser um babaca preconceituoso)



Dia três de Março desse ano, foi lançado mundialmente o primeiro trailer do filme "Caça-fantasmas", que tem a direção e roteiro de Paul Feig. O filme, reboot do clássico da sessão da tarde, teve uma aceitação negativa desde que o estúdio anunciou que nessa nova versão os protagonistas seriam mulheres e essa onda de rejeição se concretizou no final do mês de abril, quando foi divulgado que o trailer do filme ,que estreia dia quinze de Julho , conquistou o amargo título de trailer mais odiado do Youtube, com mais de quinhentas mil negativações.

Não vou mentir. Quando anunciaram que no lugar dos personagens clássicos o filme teria um grupo de mulheres como protagonistas, eu torci o nariz. Esperei muito tempo para uma continuação dos dois filmes dos Caça-fantasmas que marcaram a minha infância e a decisão de fazer um reboot com outros personagens me desagradou porque colocaria uma pedra sobre a possibilidade dos antigos personagens retornarem. Também não posso ser sínico em dizer que não me senti contrariado pelo fato de serem mulheres nos papéis principais e logo procurei argumentos dando exemplos de filmes ruins com protagonistas femininos, como "Elektra" (filme de 2005) e " À prova de morte" (2007, o filme que menos gosto do Tarantino) para justificar o que até aquele momento eu não identificava como puro preconceito.

Mas depois de um certo tempo pensando sobre o assunto eu percebi como eu estava sendo babaca. Na ânsia de encontrar no cinema um filme que me fizesse ter uma experiência semelhante a que tive ao assistir os anteriores mais de vinte anos atrás, ignorei duas questões de extrema importância nos dias de hoje: a empatia e a representatividade.

Era o máximo da representatividade dos anos 80
     Sobre empatia, comecei a me imaginar qual seria a reação das mulheres de hoje se o filme tivesse a mesma pegada dos filmes originais dos anos oitenta. Nos dois filmes anteriores, temos apenas duas personagens femininas relevantes, a primeira (interpretada por Sigourney Weaver) é o interesse romântico do Dr Peter Venkman (Bill Murray) e praticamente é a mocinha em perigo que serve para dar rumo a trama, embora seja independente e uma musicista profissional, ela transmite uma certa insegurança e trabalha com sua sensualidade na maior parte do filme (após ser possuída) sendo sua presença voltada exclusivamente para ser um objeto à ser alcançado pelo personagem masculino e isso fica claro no segundo filme, quando a personagem explica que terminou o relacionamento com o Dr Venkman após este começar a apresenta-la nas festas como sua "escrava sexual". A outra personagem feminina era a telefonista Janine, que aparecia com todo esteriótipo possível da secretária, lixando as unhas, chateada com o emprego e ainda dando em cima do patrão Egon Spengler (Harold Ramis). Me coloquei no lugar das mulheres ao assistir um filme desses sem a desculpa do Zeitgeist da época e me senti incomodado, percebi então que só poderia haver uma maneira de uma franquia que teve essas marcas (discretas mas reais) funcionar nos dias de hoje e que seria focando na diversidade e representatividade.

     A representatividade é uma questão importante com a qual tive o primeiro contato justamente nos filmes dos Caça-fantasmas. Eu, uma criança negra dos anos oitenta, não era acostumado a ver negros em papeis de protagonismo em nada que fosse positivo na TV ou cinema e, foi assistindo o filme original da franquia, que me deparei com o personagem Winston, um negro que chega para pedir emprego nos caça-fantasmas e se torna parte do grupo; a entrada dele no grupo é meio idiota, mas tenho de dizer que quando vi um homem negro que não era figurante e sim parte dos heróis em um filme tão legal como aquele, me senti mais conectado ainda a história. Então, como eu poderia odiar um filme, que traria uma experiência parecida para milhões de pessoas, mesmo que eu não esteja incluído nesse grupo?

Quem você vai chamar?
Penso que as pessoas que negativaram o filme tem muito medo, pois foram acostumadas a ser hiper representadas e a possibilidade mínima de apresentar outro tipo de pessoa e visão de mundo que não se assemelhe a delas faz com que imaginem que serão colocadas de lado, o que é um absurdo. É só pegar os grandes produções para vermos que em sua grande maioria, os protagonistas são homens brancos, sem problemas financeiros, de idade entre trinta e cinquenta anos e onde a mulher é apenas o motivo para que a trama ande (como em caça fantasmas 1 de 1984) e o negro é apenas o amigo fiel (gay então nem pensar em um filme desses). Mas os tempos estão mudando e não existe mais motivo ( e nunca houve) para prender a pessoa que é diferente à um exteriótipo ou papel secundário, por isso acredito de verdade que o filme DAS Caça-Fantasmas possa ser um divisor de águas na história do cinema, mesmo que seja ruim (mas espero que seja ótimo) porque se somará à "Star Wars VII" e "Mad Max: estrada da fúria" trazendo luz novamente o fato de que qualquer pessoa, seja homem branco ou negro, mulher hétero ou homossexual, de participar de algo colocando o fato de ser um ser humano, à frete de ser um clichê do cinema e antes de tudo apresentando a diversidade as novas gerações.


Por tudo isso deixo aqui a minha promessa de assistir AS Caça-fantasmas no cinema e ser um dos primeiros a escrever sobre ele não poupando elogios caso o filme seja bom ou criticas caso não seja, focando na história, direção, roteiro e atuações e não no preconceito e medo que infelizmente é inerente a nossa sociedade.
Me despeço pedindo a todos mais tolerância e empatia. Lembrem que são as nossas diferenças que fazem que nos completemos com os outros e não nossas igualdades que são apenas ecos , muitas vezes, sem graça de nós mesmos.

Não é errado ser babaca as vezes, errado é não querer mudar.





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