quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O Caso do Goleiro Aranha e a violência que nos cerca (Falando sério n° 2)


   A torcedora Gremista que foi flagrada ofendendo o Goleiro santista Aranha, assim como os integrantes do grupo onde ela se incluía, deve responder por seus crimes de discriminação e preconceito conforme é previsto em lei. No entanto, não concordo com o linchamento moral que a mídia vem impondo a moça, que além de causar sua demissão do trabalho e apedrejamento de sua casa, a tornaram vítima de ameaças de morte e até estupro, subvertendo a idéia de denuncia, que é a função da imprensa, ao mesmo papel de incitação de violência (se não mais grave) o qual a torcedora está sendo acusada. No entanto , atos como ocorridos no jogo Grêmio e Santos, estão se tornando cada vez mais recorrentes e para a manter a saúde de nossa sociedade, isso não pode ser mais tolerado.
Idiotice tem cura?
    Não estou tentando diminuir a responsabilidade da torcedora, apenas acredito que a resposta popular me parece exagerada. A moça não matou ninguém,o maior crime a que ela pode ser acusada é de ser idiota e uma reeducação é a punição mais acertada para esses casos, prisão em regime fechado , em um país com o sistema penitenciário como o nosso é quase como pena de morte e ,se em muitos casos um criminoso real, como um assassino , é liberto em dois anos por bom comportamento, alguém que tenha como crime ofensas (que embora graves, são vazias) não deveria ter a prisão como possibilidade de castigo; acredito que serviços comunitários , de preferencia em órgãos ligados a movimentos negros e aulas sobre o multiculturalismo brasileiro, seguidos por um pedido de desculpas público e o pagamento de uma indenização a vítima, já seriam suficientes. A prisão que é pedida por alguns poderia ficar no caso de reincidência, onde a acusada poderia ser julgado por incitação a violência, além dos outros crimes de discriminação já citados acima, mas isso é com a justiça.
   Por outro lado me compadeço com o goleiro Aranha. Por eu ser negro, entendo bem o dano que esse tipo de ofensa causa e o esforço e personalidade que um indivíduo precisa ter para levar esse tipo de situação ao conhecimento da justiça. Em nosso país, o preconceito é silencioso e discreto, mas extremamente atuante, está escondido atrás das vagas que pedem boa aparência, que embora tenham esses termos excluídos das ofertas de emprego, ainda se impõem quando solicitam foto com o currículo; são atuantes nos círculos que são veemente contra as irrelevantes cotas raciais para faculdades onde mesmo após a criação deste programa ainda tem seus números de alunos negros a menos de 10% , sendo o número desses que ingressaram na faculdade através de cotas raciais quase nulo; Está na TV que coloca o negro apenas como empregado, favelado e bandido, quando não o torna o eterno apaixonado pela filha do chefe e tendo a pobreza e o sub-emprego como únicos caminhos; todas essas situações presentes na sociedade, cristalizam o preconceito em nossa cultura , o que torna o papel do denunciante importante para que atos como o que aconteceram no jogo do dia 28 e Agosto sejam cada vez mais repudiados pela opinião pública, obviamente, dentro dos limites legais.
   O futebol é um ambiente de paixão, onde o individuo se sente protegido dentro de um grupo que compartilha desse seu sentimento, tal como a internet, onde as pessoas se sentem seguras em seu anonimato e sentem a responsabilidades por seus atos diluídos entre o grupo e por essa razão se sentem confortáveis para agir sem o mesmo nível de reflexão que em ambientes racionais. As duas situações desse caso (o repúdio e o apoio ao ato racista) são o exemplo disso, opiniões radicais pipocam de ambas as partes, li em um comentário de uma coluna do Yahoo, um sujeito que (baseado em nada) taxava o Rio Grande como o estado mais racista do Brasil, justo o estado que cultua os lanceiros negros, o galpão criolo e negrinho do Pastoreio, e, outro que dizia que o problema do gaúcho era fato de o goleiro se chamar aranha, pois “se se chamasse cobra jogaríamos rosas”, reforçando um esteriótipo ofensivo e preconceituoso falsamente justificado por outro; Já em relação aos atos racistas, não demoraram a aparecer pessoas que mostraram apoio tentando diminuir a gravidade do caso e tentando utilizar do velho cala boca, dizendo que “a vó da sua avó era índia e que não existe preconceito no Brasil”, mostrando a típica visão simplista do “deixa assim” para tentar preterir a situação; ou até quem colocasse a culpa do problema nas cotas e benefícios (como o feriado da consciência negra (pasmem!)) que os negros vem recebendo nessa última década, invertendo o culpado de forma igual a quem aponta a vítima de estupro pelo fato ter ocorrido por ela ser bonita!
   Me parece que o caso serviu para revelar não apenas o crescimento da discriminação na sociedade brasileira, mas a vulgarização da cultura do ódio. As pessoas parecem esquecer o que as palavras respeito e dignidade significam e dispostas a levar às últimas consequências atos contra pessoas cuja ideias vão de encontro as suas. Acredito que a hora de uma resposta verdadeira do governo já tenha chegado, mas que ela seja dirigida a toda a sociedade e que venha através de educação e justiça, e não restringindo a uma única torcedora idiota ou a um time de futebol uma punição que o perto do problema que se apresenta, o tempo tornará irrelevante.

Eu sempre vou acreditar

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