quinta-feira, 10 de julho de 2014

O Pacto do Goleiro (conto)


Era dia dois de Julho de 2010 ,ele sentou-se no banco do vestiário olhando para os pés, na cabeça vinham flaches do jogo que faziam seu rosto se retorcer em caretas de desgosto, sentia-se culpado e humilhado, aos poucos o amargo gosto da depressão vinha-lhe a boca e embora estivesse cercado de companheiros e amigos, sentia-se extremamente só, apenas a culpa o acompanhava e sussurrava a ele os “E se?” tão comuns em nossa mente quando sentimos que erramos , pensava ele:
  • E se eu tivesse saído do Gol antes, teria evitado o cabeceio! Se eu tivesse gritado que a bola era minha para o Felipe ele não teria pulado...
Suspirou e ficou ali, sentado no escuro, ainda de uniforme, digerindo toda aquela situação, sentindo a depressão chegando e a raiva crescendo, foi quando sentiu seu peito vazio e seus lábios pronunciaram ,quase sem perceber, a seguinte frase:

- Eu faria qualquer coisa para acertar minhas falhas contra o time de hoje... qualquer coisa!

Então uma voz ,que surgiu da parede escura a sua frente, questionou:
  • Qualquer coisa?
Ele arregalou os olhos e, assustado, viu sair da sombra um simpático senhor, com roupa de faxineiro. O homem vagarosamente sentou-se no banco a sua frente e o olhando nos olhos, com olhos incisivos e firmes, repetiu a pergunta:

- qualquer coisa?

Atordoa do com situação o goleiro olhou em volta e percebeu que não havia mais ninguém ali, pairava um silêncio tão grande que parecia que o estádio estava vazio a dias, o que não fazia sentido, pois jogo havia terminado a menos de uma hora, então encarando seu questionador, ele perguntou:
  • Mas...quem é você, o que está acontecendo?
  • Eu sou a pessoa que pode lhe ajudar a tirar essa dor de seu peito - disse o senhor o encarando.
  • Co-como?, questionou o goleiro
  • Só preciso que você diga em voz alta que quer ter uma nova chance para reverter a humilhação que sentiu na data de hoje, que quer uma revanche
  • Claro que eu quero.... mas, como?
  • Está feito, você terá sua chance em quatro anos
  • Quatro anos?..hum !! … minha carreira por aqui acabou... não estarei aqui daqui a quatro anos
  • Estará! Eu lhe dou certeza
  • Tá bom, faz de conta que eu acredito, mas.. e o que VOCÊ ganha com isso?
  • O preço não é alto , você terá de dar um presente para cada uma das comunidades do lugar de onde eu venho, um presente que nos alimente, que nos encha de prazer
  • E que presentes seriam esses?
  • Quando for a hora você saberá

E dizendo isso, o velho senhor levantou-se e caminhou com um sorriso satisfeito em direção a parede escura, desaparecendo dentro dela. Nesse exato momento Júlio César, goleiro camisa doze da seleção Brasileira acorda de um transe de sobre salto, estamos no dia oito de julho de 2014, ele olha em volta e vê seus companheiros com lágrimas nos olhos, cabisbaixos e atônitos; faz quinze minutos que o pior jogo de sua vida acabou, perdeu de sete a um para a Alemanha, não consegue explicar o inexplicável, mas precisa de respostas, vai para um canto escuro e começa a pensar no que aconteceu, nada faz sentido; é quando do meio das sombras vê um sorriso, tudo se torna silêncio novamente e uma voz diz:
  • Muito bem, sua parte do acordo foi cumprido. Amanhã cumprirei a minha
  • Você?? Como... era um sonho... QUE PORCARIA QUE ESTÁ ACONTECENDO?
  • Calma meu amigo, só estou fazendo o meu trabalho, você não queria uma nova chance contra o time que lhe humilhou, pois bem estamos providenciando.
  • MAS ERA PARA NÓS VENCERMOS A HOLANDA!!!
  • Aí já depende de ti … meu trabalho é te dar uma nova chance, o que vou providenciar para sábado na disputa do terceiro lugar
  • TERCEIRO LUGAR?? … E A HUMILHAÇÃO DE HOJE???
  • Eu lhe disse que havia um preço a pagar, um presente para cada comunidade do lugar de onde venho e vocês pagaram
  • Mas que inferno de lugar é esse de onde tu vens?
  • Na mosca!!
  • Como? co... como?
  • Sim, meu amigo, presenteasse cada um dos sete círculos infernais com um gol, digo com a dor que cada gol que levasse causou a um torcedor do teu país e isso é o nosso alimento e só posso lhe agradecer dando o que você quer, ou seja, uma nova chance de vencer a holanda. Bom, eu só vim mesmo foi por agradecer, amanhã tenho trabalho a fazer, barrar o ataque holandês para que sábado eles estejam em campo contra a tua seleção, aí vai depender de ti, minha parte estará feita
  • … Então , é assim.... mas, pelo menos me diga o seu nome.
  • Foi um prazer te conhecer e acho que já sabes meu nome
E falando isso desapareceu nas sombras outra vez. Júlio Acordou novamente desse sonho tão real e estava no vestiário do Estádio Mané Garrincha em Brasília , dia doze de Julho de 2014, em trinta minutos começará a disputa pelo terceiro lugar contra a Holanda, mas não havia animo no olhar de ninguém , então Júlio se levantou, pegou suas luvas e disse:
  • Seja o que Deus quiser!



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