sábado, 23 de abril de 2016

RUA CLOVERFIELD, 10 (2016)

Você acorda em um quarto em um bunker, algemado pela perna à um cano de metal na parede, com soro na veia e lembrando apenas que sofreu um acidente de carro; ouve barulho no que parece ser uma escada e se depara com o Fred flinstone psicótico como seu carcereiro e recebe dele a informação de que não podes sair daquele lugar por dois ou três anos porque houve um grande atentado químico ou nuclear que pode ser de origem alienígena e o ar está contaminado, sendo que tudo que se pode fazer é jogar jogos de tabuleiro, ouvir música dos anos sessenta, assistir filmes antigos ou ler revistas de moda... Isso não seria um pesadelo (ou roteiro de filme b)? ... Poderia! Mas é a trama central de "Rua cloverfield, 10", bom filme estrelado por Mary Elizabeth Winsted e John Goodman e que dá sequência (ou outro ponto de vista) aos acontecimentos do filme "Cloverfield" de 2008 e que chega de surpresa para trazer diversão claustrofóbica ao público e mostrar ao mundo como se revitaliza uma franquia.

O filme conta a história de Michelle que, depois de brigar com seu namorado, parte de carro em direção de uma vida nova. No caminho ela sofre um acidente e acorda tempos depois com uma fratura na perna e presa em um quarto de um abrigo subterrâneo, lá ela descobre por seu "salvador", que se apresenta como Howard, que houve um atentado e que o ar está contaminado, sendo que, por motivos de segurança, ele só permitirá que ela saia de lá entre dois e três anos. Dentro do Bunker, ela também conhece Emmett (John Gallagher, Jr.), ex-funcionário da construção do abrigo que se refugiou junto a Howard quando os atentados começaram e que conhece um pouco do passado do misterioso dono da fazenda; juntos, Michelle e Emmett, irão buscar entender o que se passa fora do abrigo e na cabeça do estranho e paranoico anfitrião.

O que gostei do filme é que ele usa elementos do filme anterior, sem se prender no mesmo. Mostra uma situação totalmente diferente e sem conexão nenhuma com o que acontece no Cloverfield de 2008, tendo os eventos mundiais (pelo menos somos levados a entender que existem eventos mundiais) servindo apenas como pano de fundo para o que realmente interessa nessa nova história, que é o que está ocorrendo dentro do abrigo e quem são aquelas pessoas, revertendo a tensão da população em pânico do primeiro filme, pela tensão mais intimista de um grupo de pessoas presas em um lugar e sem saber o que acontece lá fora, e, isso enriquece todo o universo a que os filmes pertencem.

tem algo lá em cima
Outro fator que torna o filme bacana são os personagens. Diferente dos personagens do primeiro filme, que, fora o protagonista, não tinham uma motivação aceitável para atravessar uma cidade com um monstro gigante as soltas só para salvar uma pessoa que pouco, ou nada, tema ver com elas, nesse filme as motivações são totalmente reais. Michelle, a personagem de Mary Elizabeth Winsted, não aceita as explicações de seu carcereiro e quer fugir daquele ambiente a todo custo e para isso vai investigando todas as situações que giram em torno daquele lugar; Emmett, por sua vez é um cara frustrado, que não leva nada muito a sério e quer apenas sobreviver; enquanto Howard é um psicótico e paranoico, ex-militar, fissurado por teoria da conspiração e segurança que não admite ser contrariado, é violento e desconfiado e materializa a figura da filha (pelo menos é o que ele diz) em Michelle e por isso não admite que ela pense em sair do abrigo.

"Que cara estranho"
Muito do que os personagens apresentam de bom, é fruto da interpretação magistral dos atores e da boa direção de Dan Trachtenberg. Sobre as atuações, John Goodman rouba a cena convencendo como alguém com sérios problemas mentais e de relacionamento, seu personagem consegue fazer a tensão crescer só de estar presente (tanto que nesse filme poderiam chama-lo de John Badman), sua expressão vai de calma e complacência ao extremo da ira e fúria em segundos e faz com que a gente esqueça na hora o simpático Fred Flinstone do passado. John Gallagher, Jr. Também está muito bem, embora não seja muito exigido, sua cara de medo constante e seus olhares de quem sente que desperdiçou a vida marcam bem o personagem no filme, fato que se soma ainda a um monologo bem bacana onde ele conta um pouco de seu passado à protagonista, que vivida por Mary Elizabeth Winsted esbanja carisma usando seu olhar e muita expressão corporal para transmitir o desconforto que a personagem sente ao se encontrar dentro da situação apresentada. As atuações ainda são valorizadas pela ótima direção do estreante Dan Trachtenberg, que através de recursos técnicos como os closes nos olhares e expressões dos atores e tomadas abertas do cenário claustrofóbico que passam ao expectador o ambiente sufocante tanto do lugar quanto da situação e imprimindo no filme um tipo de tensão que vai se alongando aos poucos e prendendo quem assiste na cadeira.

Pernas pra que te quero !!
A meu gosto, o filme perde um pouco no final do terceiro arco, quando parece que foi tomada a decisão de entregar ao expectador a informação de que o que se passa fora do bunker é um ataque alienígena (pelo menos é o que parece, pois nada é explicado), o que corrobora com as teorias do personagem de John Goodman e complementa o primeiro filme (De que depois do ataque de massa do primeiro filme, o segundo passo seria um ataque de solo) e durante dez minutos a protagonista se depara com uma espécie de monstro que a caça e um tipo de disco voador, esquecendo sua fratura na perna e correndo mais que o Usain Bolt e bolando uma bomba para se desvencilhar dos oponentes, mas isso não diminui em nada a qualidade geral do filme e eu coloco esse trecho da trama apenas como uma espécie de Fan-service.


Achei "Rua Cloverfield, 10" um bom e divertido filme. Despretensioso e bem dirigido, revitaliza e enriquece uma franquia que se tornou cult e sempre se mostrou promissora para quem gosta de filmes de terror e ficção científica. Com atuações e direção bem ponderadas, efeitos especiais que não exageram e roteiro competente, "Rua Cloverfield,10" chega surpreendendo e deixa um gostinho de quero mais que, se a cena final não nos trair, se concretizará em um futuro próximo. Assista antes que os aliens ataquem!


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