sexta-feira, 17 de junho de 2011

Gripe Boa

    Acordei com uma gripe dos diabos, se é que um diabo sofre de gripe, mas acordei assim: febre, garganta seca, dor de cabeça, mas independente disso me sentindo maravilhosamente bem. Não sei porque a gripe faz isso comigo, acredito que deve ser porque me faz lembrar o tempo de criança, onde eu estava sempre doente por andar de pés descalço e sem “agasalho”, correndo até as sombrias nove horas da noite.

   No meu tempo ( credo “no meu tempo!”) era assim, criança andava sempre correndo e sorrindo,explodindo de energia e saúde, até quando estávamos doentes, naquela época até os gordinhos pareciam mais em forma. Naquele tempo ninguém morria de sarampo ou gripe, no máximo essas eram doenças muito bem vindas para nos manter sem ir à aula por dois ou três dias.

  Lembro de minha mãe me levando no médico porque a febre não baixava, o sol sempre parecia estar na medida quando isso ocorria,nem muito forte, nem muito fraco, apresentava um amarelo alaranjado perfeito, como o sol, fruto de computação gráfica no final dos filmes do Super-Homem. As nuvem não apareciam e o calor ameno do sol combinava com o azul pálido do céu. Em minhas lembranças eu sempre ficava doente no outono, talvez porque eu lembre do vento levemente frio batendo em meu rosto na curva da esquina da Santa Casa, se embrenhando na minha roupa, driblando meus dois blusões e minha manta e me causando um arrepio que começava na coluna e terminava no pequeno topete que eu ostentava em baixo da touca (eram meados dos anos oitenta, fazer o que? topete era moda).Lá ia eu, com uma mão dada para minha mãe e outra para meu irmão mais novo, minha mãe olhava para baixo e sorria, eu olhava para meu irmão,de rosto tão pálido e doente quanto o meu ,e quase como em um sinal combinado sorriamos para ela também. Chegávamos no pronto socorro e o cheiro de hospital já me deixava nervoso, Penicillium chrysogenum , pelo menos parecia ser!Ir ao médico era um drama mas se a minha mãe dizia que era preciso, quem seria eu para dizer que não era? Pensar em tomar uma injeção era pior do que ser condenado à morte, mas se não tinha jeito, não tinha jeito!Mas isso dificilmente acontecia, quase sempre o “doutor” receitava umas gotinhas e dizia “ compra um guaraná para o rapazinho.” para arrematar minha confiança. Como era legal! Não o fato de ficar doente, mas a situação geral da minha infância

 Deixando de lado minha melancolia e gripe, Fico pensando de como a geração de hoje educa seus filhos e como estes enxergam o mundo devido a essa educação, se é que "educar" é o verbo correto a ser conjugado. Lembro que uma vez após chutar uma parede recém pintada na escola, fui “condenado” a passar um mês lendo, relendo e apresentando para a turma todos os textos da cartilha da segunda série, minha avó quando se dirigiu à escola para questionar os motivos do castigo, apoiou a professora sem pensar, apertou sua mão e passou a informação para minha mãe que me deu outro castigo em casa. Não posso deixar de dizer que o castigo dado pela professora salvou minha vida, foi quando peguei o gosto pela leitura que me deu uma vantagem em relação aos garotos que naquele tempo estudavam na minha aula e que só sabiam falar de futebol, os quais hoje encontro pelas ruas passando amargos apertos; e, o segundo castigos, dado pela minha mãe , que ajudou a moldar meu caráter, do qual me orgulho de que seja mais reto do que retificado, como diria Marcus Aurélio. Hoje o que vejo são mães contando orgulhosas as histórias de falta de educação de seus filhos, regadas à violência contra os professores e colegas ,de como eles EXIGEM roupas de marca e brinquedos de alta tecnologia; Da ilusão de fazer a criança achar que merece tudo sem medida, sem esforço, que merece o maior dos respeitos, que é superior aos demais. Tenho pena desta geração e mais ainda da próxima, se algo não mudar em nossa forma de tratar as crianças de Hoje tenho medo dos adultos de amanhã.

    Esqueçamos minha breve visão negativa da atualidade, Hoje, abraçado pelo vírus da gripe, com o nariz correndo como  quando eu tinha quatro anos, só quero desejar que todas as crianças tenham a possibilidade de pegar a minha gripe de criança. Que corram sorrindo e gritando até a última hora da tarde ,que entendam o valor do sorriso de suas mães , que os castigos sempre sejam brandos e educativos, que os professores sejam vistos como exemplos , como ídolos e não como empregados; que os mimos sejam vistos como dádivas e não obrigações, que as nuvens dêem uma trégua e que o sol apareça, nem muito forte e nem muito fraco, mas em seu amarelo alaranjado perfeito e acolhedor.

 
Boa sorte à todos!!

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