Já cantava o Rapper Xis que
"A Fuga cinematográfica é pra quem pode" e eu comprovei
essa afirmação do glorioso ex-participante da casa dos artistas
essa semana, após assistir ao melhor musical de ação já escrito
pelo diretor Edgar Wrigth e que me fez ter vontade de pegar meu velho
Pálio 99 e sair cantando pneus pelas estradas da vida (isso se o
carro passasse de oitenta km/h e se eu não o tivesse vendido).
Trata-se de "Baby Driver", ou como ficou chamado aqui
abaixo da amazônia meridional "Em Ritmo de fuga"; thriller
estrelado pelo jovem Ansel Elgort, Jon Hamm, Jamie Foxx e grande
elenco , que fez com que duas horas da minha vida passassem correndo
tamanha diversão e se juntando a "Get Out" como uma das
poucas coisas acima da média que vi no cinema nesse amargo 2017.
O filme conta a história de
"Baby" (Ansel Elgort), um jovem motorista de Fuga que
trabalha para uma organização criminosa especializada em grandes
roubos que é comandada por "Doc" (Kevin Space). Após se
ver livre da dívida que possuía com seu empregador, devido a ter
roubado seu carro anos antes e , aparentemente , perdido uma valiosa
carga; Baby, agora buscando um recomeço ao lado de Deborah (Lily
James), é obrigado a fazer mais um trabalho com uma nova equipe
composta pelo casal Buddy (Jon Hamm) e Darling (Eiza Gonzales) e o
violento vida loka Bats (Jamie Foxx), sem saber se conseguirá ser
tão rápido em fugir de sua vida antiga, como consegue ser quando é
perseguido pela polícia.
Que filme bacana! Edgar
Wrigth confirma seu talento como roteirista e diretor com uma obra
que consegue ser original, mesmo fundamentada em uma tradição do
cinema que são os filmes de roubo e fuga, ao inserir uma trilha
sonora que se identifica quase como um personagem da trama, flutuando
entre diegética e não-diegética o tempo todo e criando tensão e
êxtase a cada cenas, chegando a ajudar a aprofundar e revelar um
pouco da história do protagonista, inaugurando o gênero "musical
de ação", do qual, por ser o primeiro, o próprio filme é o
melhor.
Ainda sobre Wrigth, podemos
dizer que o filme não funcionaria se não fosse por sua direção. O
tom da história, que por momentos chega a ser violenta, mas não
perde o bom humor; a montagem ágil e a fotografia remontam de forma
clara aos demais filmes do diretor e tornam impossível que outra
pessoa guiasse a obra sem que fosse o próprio Wrigth. Outro ponto
positivo que faz com que o filme funcione é o ator Ansel Elgort, o
cara é muito carismático e consegue transmitir esse carisma mesmo
quando fica em um canto, de óculos escuros, em silêncio e ouvindo
música (como na cena onde é provocado pelo personagem de Jon
Bernthal) , ou quando toma a decisão de agir pensando em si e na
namorada, ao final do filme.
Falando em ação, o Wrigth
faz jus a sua linhagem de diretor inglês da nova geração,
apresentando uma história ambientada no pequeno submundo, tal qual
os primeiros filmes de Guy Ritchie e Matthew Vaughn, onde não
existem grandes famílias criminosas, ou crimes megalomaníacos, mas
o que não impede a apresentação de muita violência e, isso é
mostrado de maneira , hora sutil, como quando um personagem
simplesmente fala que se não o verem mais é porque ele morreu e ,
mais tarde, prestando a atenção, descobrimos que realmente isso
aconteceu e quem fez; ou, de maneira crua, como quando Baby dá um
fim no antagonista mais perigoso e sangue jorra na tela. Essa
oscilação de tensão é essencial na construção da crescente do
filme, que chega a seu auge quando o protagonista resolve dar um fim
em sua antiga vida e enfrentar as consequências disso e , quando
acontece, já estamos por completo a seu lado e vibramos com cada
coisa que dá certo para ele.
Mas as verdadeiras estrelas do
filme, sem dúvida, são as perseguições de carro. Tanto que até
mesmo eu, que não sou nenhum aficionado por veículos automotores,
fiquei com vontade de acelerar no meio do trânsito (vontade que me
foi saciada jogando "Need for Speed" com meu filho (no play
2)). Embaladas pelas músicas presentes nos ipods do protagonista,
temos cenas de ação onde a principal arma é o volante de um carro
e as cenas são tão bem conduzidas, que mesmo longas, não parecem
repetitivas ou cansam, outro mérito da montagem e direção.
Mas nem tudo é perfeito em
"Baby Driver". Uma coisa que senti falta é um
aprofundamento maior nos demais personagens, em especial ao do par
romântico de Baby, Deborah. Não sabemos nada sobre ela, a não ser
que teve uma mãe doente e que ela trabalha em uma lanchonete (e
odeia isso), seu personagem é quase vazio de pretensões ou
ambições, a não ser a única que combina com o protagonista, que é
fugir da vida que leva, mas nada explica o que a leva a espera-lo
(spoiler) por 5 anos, quando baby acaba preso ao final do filme. O
próprio Doc e seu bando também sofrem desse mal, acabei o filme
querendo saber mais sobre a história do personagem do Kevin Space,
que chega a levar o filho de oito anos para investigar o lugar de um
roubo, ou entender como o personagem de Jon Hamm, que , conforme
Batts conjectura, poderia ter sido um alto investidor de Wall street,
acabou assaltando bancos com sua striper preferida a tira colo. Mas,
mesmo assim, quando a vemos a história do filme como um conto
referente a um momento especifico na vida do protagonista, esquecemos
esses por menores e vemos que, apesar de sua presença, não diminuem
em quase nada a qualidade da produção.
Pois bem, eu poderia escrever
um texto com o triplo do tamanho deste, falando de como o filme é
divertido e destrinchando cada cena, mas isso acabaria com a
experiência de quem pretende assistir ao filme, então vou seguir o
exemplo de Baby, o protagonista do filme, e simplesmente acelerar e
fugir dessa responsabilidade. Posso apenas dizer, que repleto de
cenas maravilhosas de perseguição, ação na medida certa e um
trilha sonora de causar inveja ao diretor James Gunn, "Baby
Driver" cumpre a expectativa que criou desde seu primeiro
trailler e coloca mais uma vez o diretor Edgar Wrigth como destaque
pela sua obra autoral. Então se eu fosso vocês não perdia a
oportunidade e colocava a melhor música nos fones, os óculos
escuros e as luvas de couro e acelerava para o cinema para assistir
esse filme que passa correndo de tão bom que é.
Trailler
Acima, 6 minutos da abertura do filme, só para babar
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