Parece
que virou tendência transformar curtas em longas e, quando falo
isso, me refiro a cinema e não ao uso das famosas bombinhas de
sucção. Pois é, em tempos de escassez de roteiros originais,
aprofundar , em loga metragem, as ideias e conceitos já explorados em menos tempo de tela vem se tornando uma opção para muita gente.
Exemplos disso, são os ótimos "Whiplash" e "Distrito
9", que surgiram como curtas quase obscuros e chamaram a atenção
do público quando suas histórias foram expandidas, no entanto,
reciclar e aprofundar conceitos nem sempre é certeza de sucesso,
podendo, pelo contrário, evidenciar um roteiro raso e uma história
esquecível.
Talvez
o grande trunfo para o sucesso da transformação de um curta em um
longa, seja o drama e tensão que a história contenha e que podem
ser elevados, conforme o talento do diretor, quando a história é
aprofundada. Isso explicaria o sucesso dos dois filmes citados acima,
que contem drama e tensão de sobra e ajudaria a entender porque que
o gênero que menos obtém sucesso nessa nova tendência é o terror.
Um
filme que demonstra isso, e que fiquei particularmente ansioso para
assistir, foi "Siren", inspirado no curta "Amateur
Night" de David Brukner,
presente no filme "V.H.S", de 2012 e que conta , semelhante
à produção original, a história de um grupo de amigos, que partem
para uma despedida de solteiro atrás de diversão e loucura, indo
parar em um casarão no meio de um pântano onde os mais estranhos e
diversos fetiches são realizados. Lá eles são convencidos a pagar
uma experiência dita como única ao noivo (Jonah), que acaba se
deparando com uma mulher presa em uma sala, que, só Deus sabe
porque, ele resolve liberta; acontece que essa aparente indefesa
prisioneira é uma súcubo chamada Lylyth, um demônio devorador de
homens, que passa a ver Jonah como um prêmio, matando todos que se
colocam em seu caminho. Jonah e seus amigos, terão de fazer de tudo
para escapar dessa noite que deveria ser uma das melhores de suas
vidas e que se torna um pesadelo.
Fiquei ansioso para assistir a esse filme, porque dos curtas presentes no
filme "V.H.S", esse foi o que mais deixou com cagaço.
David Brukner, que dirigiu e escreveu aquele curta ( o filme tem a
direção de Gregg Bishop) conseguia guiar o expectador por uma
escala que começava no total descaso e acabava no verdadeiro medo,
tudo isso utilizando poucas locações (na maioria fechadas), muita
sombra e não dando quase nenhuma explicação sobre o passado dos
personagens ou o que a criatura que eles encontram quer realmente, ou
seja, fazendo o que um curta tem que fazer, que é focar em uma
questão (no caso o medo) e trabalhar em cima disso; Já no filme,
essa mesma sensação não se repete e penso que, da mesma forma que
ocorreu em "quando as luzes se apagam" outro filme baseado
em um curta de terror, o responsável é o próprio gênero das
produções.
Pareço meiga, mas como as pessoas |
Diferente
de histórias que envolvem dramas pessoais e que podem ser exploradas
e aprofundadas de diferente formas em um filme, os filme de terror
tem o medo e tensão como combustível para a ação, nesse caso,
histórias que se fundamentam apenas no contato com o desconhecido,
tem no próprio desconhecido a essência de seu sucesso. O que quero
dizer é que, quando explicamos a situação que originou o medo, ela
passa a ,tanto não ser mais assustadora, como muitas vezes se
mostrar uma ideia rasa e pouco original, e exatamente isso que
acontece nesse filme.
Para
começar, o filme deixa o estilo sombria da obra original para trás
e apresenta um tom mais claro que beira as produções baratas feitas
para a TV americana (e TV municipal) e, tendo dito que grande parte
da tensão da obra original vinha da escuridão, penumbra e
desconhecido, isso já acaba de início com grande parte do clima do
filme. Outra questão é que o curta é filmado em primeira pessoa,
no estilo de Found footage (aquele onde alguém acha uma fita
contendo uma história fantástica, tipo "Bruxa de Blair"),
o que te torna participante daquele pesadelo tentando escapar de
qualquer maneira, o que não acontece no filme, que é filmado de
forma convencional e acaba mostrando muito mais do que deveria.
Os
cenário também parecem trabalhar contra o filme, pois as
ambientações parecem
sempre vazias e pouco
naturais e os poucos coadjuvantes que aparecem são tão mal
dirigidos que só não olham para as câmeras para não perder o
pagamento de um salgado e um refri, fato
que não é diferente com os personagens principais da
trama são tão mal explorados e interpretados, que quando ameaçados,
ninguém se importa com o
triste destino que o filme promete lhes reservar.
No
entanto, o pior do filme, é o próprio roteiro. Como a história
original foi concebida para fazer sentido dentro de um curta, para
alongar a história é necessária a introdução de itens que
preencham lacunas e nisso, é incluído mais um vilão e motivos para
o mesmo, o que faz com que a ideia original se perca de Vez. O filme
traz como o outro antagonista, o Sr. Nyx, que, pelo que ele mostra, é
um exorcista, demologista, bruxo, vendedor de artigos místicos e
dono de bordel, não deixando claro sua principal atividade, mas não
conseguindo causar medo em nenhuma cena onde dá as caras, na
verdade, o próprio personagem não parece levar a sério as próprias
loucuras que o cercam, sendo
que quando ele morre, tanto faz, a vida segue. Além dele, ainda
somos apresentados a uma bartender, que rouba as lembranças das
pessoas através de sangue-sugas
que crescem em sua cabeça no pior estilo Medusa e que não tem a
menor necessidade de estar na trama, um enxerto que só mostra quanto
o roteiro é parco.
fica quieto, porque esse filme é uma bomba |
Junto
a introdução desse outro vilão e sua bartender sinistra, é
cometido outro grande erro, que é dar um passado ao demônio Lylyth.
Como já disse, grande parte do que assusta nos filmes de terror é o
desconhecido e, fora casos como filmes igual a "O chamado",
que conseguem passar uma pegada investigativa e vamos descobrindo
junto com os personagens o que está acontecendo, um filme que te
entrega tudo e ao mesmo tempo não diz nada, apenas dilui sua própria
relevância e Gregg Bishop fez isso quando, não somente mostra como
Lylyth acabou em nossa dimensão, como também lhe dá uma cauda de
capeta e asas de morcego, que embora ficassem implícitas no curta,
não eram mostradas como no filme, fatos
que se somam e acabam por, além de diminuir o medo causado pela
história, transforma-la em uma comédia involuntária e o final do
filme, assim como a cena
de sexo entre o protagonista e a mulher demônio,
parecem
confirmar isso.
"Siren"
é um exemplo de que algumas ideias devem permanecer no micro. Um
filme que parece ter sido esticado de tal maneira que cresceu mas não
consegue se sustentar (talvez o diretor tenha usado bombinhas de
sucção), uma trama ruim e rasa que nasceu de um ótimo e assustador
curta e que reúne em menos e vinte minutos mais qualidades do que o
longa com quatro vezes o seu tamanho. Então se alguém lhe
apresentar esse filme fuja para as montanhas ou corra para o mato
para não perder uma hora e vinte de sua vida, ou convença a pobre
alma a assistir à "V.H.S" de 2012, que realmente vale a
pena ser assistido.
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