Ah os anos oitenta !! Moças
de permanente no cabelo e calças que iam até o pescoço, rapazes
com grandes topetes e roupas muito coloridas, poucos canais de tv,
músicas gravadas em fita cassete e filmes que falavam de contato
alienígena ou onde monstros bizarros tinham como única pretensão
matar os desavisados. Isso foi à mais de trinta anos e vivemos em um
mundo diferente hoje, mas confesso que tenho saudade desse tempo onde
tudo parecia mais fácil, onde as pessoas conversavam sem olhar toda
hora para o celular, onde o refrigerante de um litro do almoço
sobrava para a janta e quando os amigos se encontravam sem ter de
marcar uma data. Quero dizer, eu tinha saudade, porque desde do dia
15 de Julho, a Netflix abriu um portal que não só matou minha
saudade desse tempo, como a arrastou pelos pés e a comeu, trata-se
da série "STRANGER THINGS" escrita e dirigida pelos irmãos
Duffer e que me pregou no sofá nesse último final de semana.
"STRANGER THINGS" se
passa em 1983 e conta a história de uma série de misteriosos
acontecimentos na pequena cidade de Hawkins nos EUA, tendo inicio com
o desaparecimento de Will Byers, que acontece quando ele volta para
casa após um dia com seus três melhores amigos (Lucas, Mike e
Dustin), ao mesmo tempo, uma estranha menina surge na cidade,
vestindo roupas hospitalares, extremamente assustada e dotada de
habilidades especiais, ela irá ajudar o trio de amigos a encontrar o
integrante perdido do grupo e a enfrentar a misteriosa criatura,
enquanto que uma trama de conspiração e experiencias científicas,
vai sendo investigada pelo obstinado xerife da cidade.
Ok! Minha sinopse tá
horrível, mas eu queria deixar no clima do que se lia nas contra
capas das fitas nas locadoras de vídeo nos anos 80 sem entregar
muito da trama. A série é muito bacana! Para entender o nível de
qualidade da trama e enredo, ela foi a única produção que aborda
um contexto de ficção científica e terror, que minha mulher quis
assistir até o final comigo, pode parecer pouco para quem lê isso,
mas para quem conhece minha mulher (que odeia ficção científica)
isso mostra a qualidade de "Stranger Thing".
Essa qualidade é apresentada
de diversas forma, seja na maneira da produção nos colocar dentro
dos anos 80, com as roupas, cortes de cabelo, música e etc; seja no
ótimo roteiro que vai aos poucos juntando as pontas da trama ou
pelas referências que a série joga na nossa cara de cinco em cinco
minutos; seja qual o motivo que se preferir, o capricho com que
"Strange Things" foi feito não deixa ninguém desistir da
gostosa maratona de oito horas para se descobrir o que diabos está
acontecendo com a cidade de Hawins e o que aconteceu com Will Byers.
"Stranger Things" me
levou direto para os anos oitenta. Para começar, Hawkins é típica
cidadezinha americana dos filmes daquela década, cercada de árvores
e com poucos habitantes é o lugar perfeito e sinistro, onde o
inexplicável acontece e aos poucos vai envolvendo a todos. Suas ruas
estão sempre vazias e seus habitantes parecem tão presos em suas
rotinas, que ignoram até o fato de existir uma empresa misteriosa
próxima a suas residências, não diferente da cidade onde acontece
"E.T" de Spielberg ou à do filme "super 8", de
J.J Abrans, que homenageia o diretor. O Capricho das locações só
fica atrás do figurino. O estilo das roupas e penteados são tão
fieis, que me senti assistindo uma filmagem da época, só faltou a
dublagem ruim com um eco no fundo. As roupas são exatamente iguais
as que eu lembro de minhas primas usarem e o penteado de cabelo da
mãe do personagem Mike é igual ao que a minha mãe usava quando eu
tinha uns cinco anos, uma imersão total e uma viagem de volta no
tempo para quem viveu aquela época.
Além do trabalho de
ambientação e figurino, a série ainda trás uma enxurrada de
referências sobre os próprios anos oitenta e a cultura POP da
época. A série já começa com os quatro amigos jogando uma partida
de RPG, o que já mostra de forma pratica e através de ação, como
é a relação desses personagens e como eles pensam. Na mesma cena,
podemos ver um poster de "Enigma do outro mundo" de John
Carpenter e "Tubarão" de Spielberg, dando uma singela dica
sobre o estilo de terror e suspense que a série trará.
Não faltam referências a
Spielberg e principalmente a "E.T". Os quatro amigos se
deslocam com bicicletas do estilo cross, como no filme de 1982, além
de Mike possuir uma irmãzinha loira e de chiquinhas no mesmo estilo
Drew Barrymore da época. Além disso, no episódio onde eles levam a
menina, que atende pelo nome de onze, na escola; os vemos disfarça-la
com um vestido e peruca loira e no baú de onde eles pegam essas
roupas vemos um chapéu, referência ao disfarce do alienígena no
filme de Spilberg.
Muitos outros filmes e figuras
dos anos oitenta também são referenciados, como Tom Cruise, que era
o frenesi das meninas depois de "Negócio arriscado"; Carl
Sagan e a série "cosmos", que são citados pelos amigos
quando percebem a situação que estão presenciando, a menção à
"Poltergeist" com o monstro rasgando a parede com
dificuldade para pegar suas vítimas, e , até um poster de Edgar
Alan Poe, que enfeita a parede da sala de aula da irmã do
protagonista como um lembrete que se trata de um conto de terror.
No que tange a Trama, achei o
enredo bem amarrado e extremamente divertido. Gostei muito do jeito
que a série começa, dividida em quatro núcleos; com os meninos
procurando o amigo e encontrando a onze, a Mãe e o irmão de Will
percebendo os estranhos acontecimentos em sua casa, a irmã de Mike
e seu namorado descobrindo da pior forma da existência do monstro e
o xerife investigando a misteriosa empresa instalada na cidade.
Todos unidos ao final pelos estranho acontecimentos vão aos poucos
fazendo que as histórias convirjam para um desfecho comum a todos.
A maneira como os acontecimentos sobre-naturais vão sendo revelados
também é muito legal, sendo apresentado com flash backs da menina
11, com o auxilio das explicações do professor de ciências dos
meninos e de suas analogias nerds com Senhor dos anéis e "Dungeons
& Dragons". Gostei também do fato da trama ser enxuta em
apenas oito episódios, de forma que não há tempo para barriga ou
episódios de enrolação desnecessária, send que as pontas que
ficam soltas são propositais servem como deixa para a próxima
temporada, onde com certeza saberemos mais sobre as outras dez
cobaias dos experimentos, sobre o destino de onze ,do mundo invertido
e do monstro.
As atuações são muito
bacanas. Começando por Millie Brown, a menina que interpreta a
"estranha" Onze, ela rouba a cena com sua expressão, ar de
pavor e suas poucas palavras, transmitindo com o olhar a aflição de
não saber se expressar e carregar consigo todos os horrores de que
foi vítima. Winona Ryder também está muito bem, fazendo o papel de
uma mãe desesperada que sabe uma verdade que ninguém mais acredita,
mas que nem por isso desiste, fora isso ainda temos as boas
interpretações de todo o elenco e a participação de Matthew
Modine, como o verdadeiro vilão da trama.
"Corra!" |
Por isssssso tuuuudo, acredito
que "Stranger Things" foi a boa surpresa do ano. Trouxe
todo o clima das produções dos anos oitenta com a qualidade das
séries atuais e o selo Netflix de qualidade. Muito mais que um
portal para os estranhos anos oitenta, uma história muito bem
contada, divertida e assustadora, repleta de referências
inteligentes e bem dispostas, boas atuações e um ritmo perfeito.
Ficamos (minha mulher e eu) no aguardo da segunda temporada para
termos as respostas para as pontas soltas deixadas nessa primeira,
enquanto isso, acho que vou fazer uma maratona de filmes de John
Carpenter, Steven Spilberg, ler os clássicos do Stephen King e ouvir
um pouco de AC/DC, Whitesnake e Van Halen e aproveitar ,nesse meio
tempo, tudo que há de melhor dessas coisas estranhas.
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