Escrevi um texto aqui, uns
meses atrás, sobre os curtas de terror de David
F. Sandberg
e
de como ele consegue esticar a tensão prendendo a atenção do
espectador até o grande susto, utilizando
nossos medos mais primitivos contra nossa própria imaginação. A
exploração desses conceitos estão presentes em todo o
trabalho do
diretor;
assinatura
que fez com que ele ganhasse fama, reconhecimento
e ,agora,
a oportunidade
de adentrar no
mercado mainstream do cinema, transformando seu curta mais famoso,
"Quando as luzes se apagam" em um filme produzido por James
Wan e realizado pela Warner.
"Quando
as luzes se apagam", segue a história de Rebecca
, uma jovem tatuadora, que vive afastada de sua família devido a
problemas de relacionamento com sua mãe, que sofre de crises de
depressão. Tudo muda quando ela é chamada até a escola de seu
irmão mais novo para ser questionada se sabe o motivo do garoto
andar desmaiando de sono durante as aulas, este então lhe conta que
desde que, Diana,
uma amiga de infância de sua mãe "voltou", ele não se
sente mais seguro na escuridão. As
revelações do menino a fazem lembrar do tempo em que era criança e
dos estranhos acontecimentos ocorridos em sua casa a noite e que
culminaram com o desaparecimento de seu pai e o retorno de sua mãe
as medicações controladas, as peças vão se ligando até que
Rebecca
descobre que Diana é real, existindo nas sombras e escuridão, e,
que usará toda
sua sorrates e violência para que nada a separe de sua única amiga.
O
filme
não é ruim, mas prefiro os curtas! Os curtas trabalham com uma
situação, não com uma trama elaborada
que busca responder as perguntas que vão aparecendo no desenrolar da
história, então nos poucos minutos dos curtas temos aquele único
momento e isso é o que importa, não sendo necessário o que nos
levou até ali e utilizando essa forma de apresentação Sandberg é
único. Já em um longa, torna-se necessário uma série de artifícios para esclarecer ao expectador como as situações vão se
desenhar e em
"Quando as luzes se apagam"
o diretor não trouxe
nada de novo ou especial, caindo
mesmo
em clichês bem recorrentes aos modernos filmes de terror.
Sobre
esses clichês, podemos começar falando sobre Diana, a entidade da
escuridão. O roteiro busca apresenta-la como outra dessas criaturas
amaldiçoadas e amaldiçoadoras que surgiram aos montes no cinema
americano logo após os sucessos dos filmes japoneses como "O
Chamado" e "O grito". O conceito de criatura que só
pode ser percebida na escuridão é muito bacana e confesso que a
hora em que a protagonista está em seu quarto, acorda e vê a
silhueta de uma pessoa arranhando o chão e que desaparece quando a
luz se acende é bem perturbador, mas isso é apenas a transposição
de uma cena do curta para o longa e como eu já disse, os curtas são
melhores. Mas o que menos gosteis em relação a entidade, foi o
fato dela ser mostrada no arco final do filme; acho que é muito mais
assustador não dar rosto a uma ameaça sobre natural, deixar que
nossa imaginação trabalhe, utilizando o medo nos olhos dos
personagens para nos fazer conceber a imagem do que pode causar tanto
pavor, ou seja, faltou ao antagonista do filme, nos passar o medo
primitivo que perturba o inconsciente humano, justamente o que os
curtas de Sandberg conseguem nos transmitir de forma tão competente.
Em
relação a trama, pode-se dizer que toda a busca para encontrar
respostas sobre Diana, nada mais é do que uma cópia do modo de agir
dos protagonistas dos filmes com inspiração no cinema oriental
citados acima, mas de uma maneira menos trabalhada, para não dizer gratuita. Rebecca tem um encontro com a entidade, um insigth e
descobre caixas contendo arquivos médicos onde é explicado como
Diana morreu (sim, ela é um fantasma), fotos da mesma com a mãe da
protagonista e até uma fita onde supostos médicos falam sobre como
Diana foi parar em uma clinica para pessoas perturbadas. Depois disso
fica claro que a menina (tal qual Samara de "O chamado")
causa perturbações e mexe com a mente de quem a cerca e que a
presença dessa entidade é resultado da mãe da protagonista estar
ligada mentalmente a amiga morta e surge o plano de combater essa
presença fazendo com que Sophie (a Mãe da protagonista) tome seus
remédios de forma regular ( Sim! É isso, com a dozagem certa de
Prozac a entidade maligna desaparece). Essa resolução de roteiro
encontrada, apresenta mais furos na história do que resolve o
problema, para começar, em mais de uma cena vemos Sophie saindo da
casa de dia, até mesmo após a descoberta que para afastar o
monstro é necessário que ela tome seus remédios e ela está
claramente perturbada e com medo, porque não tomou os remédios por
conta própria ou os filhos deram a ela naquele horário? Por que
esperar até a noite para procurar a mãe? Outra coisa que me
incomodou foi o fato de a entidade ter a silhueta de uma mulher
adulta quando morreu com menos de doze anos, resolvi acreditar que é
porque ela é uma representação mental e que a pessoa amaldiçoada
só criaria vínculos de temor e respeito por alguém quase da sua
idade, imaginei isso para evitar de pensar que o roteirista fez isso
para que não ficasse muito na cara que muitos dos conceitos eram
"Homenagens" a "O chamado".
O
filme ainda serve como campanha publicitária indireta. Sendo uma
produção da Warner Bros, temos espalhados no decorrer da história
detalhes que fazem menção aos personagens da DC/ Warner, assim temos
Martin (o Irmão da protagonista) sendo afagado por sua mãe em uma
foto enquanto usa uma camiseta do Batman (Beleza!), a câmera anda
lentamente para o lado e entre os porta-retratos temos um boneco do
Robin (Hum, ok!), corta a cena e estamos no quarto do moleque e acima
de sua cama temos o poster da Liga da Justiça (Santa propaganda
morcego!) , sem dizer que a produção do longa é de James Wan, o
diretor do filme do Aquaman !! Sabemos que os filmes da DC não
tiveram o retorno esperado e que o público de filmes de terror é,
em teoria, praticamente o mesmo do de filmes de super-heróis, mas
sejamos mais discretos por favor dona Warner.
"Quando
as luzes se apagam" é o resumo em longa metragem de todos
conceitos que David F. Sandberg buscou trazer à seus expectadores
durante sua carreira, mas como resumo que é , fica devendo por
apresentar uma história rasa e cheia de clichês, que embora
contenha um pouco da tensão presente nos demais trabalhos do
diretor, peca por seguir a cartilha dos modernos filmes de terror
americanos. Fica o desejo de que nas próximas produções do
diretor, tenhamos o retorno da inovação aliada a tensão que o
tornaram tão famoso em festivais e na internet , fazendo com que
quem vai ao cinema procurando sustos e uma história profunda e bem
contado, tenha certeza de encontrar o que procura quando as luzes se
apagarem.
Quando as luzes se apagam - trailer 2
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