Esse post é baseado em uma
história real. Os eventos ocorreram em 2006 em Minesota.
A pedido dos sobreviventes
os nomes foram alterados.
Por respeito aos mortos o
restante foi retratado exatamente como ocorreu.
Eu
sou muito fã dos irmãos Coen. Existe algo na obra deles que não
consigo explicar e que me deixa meio hipnotizado, não sei se a
capacidade deles conseguirem ser profundos e divertidos tanto em
grandes
produções como "Bravura Indômita" de 2010, como em
filmes menores tal qual "Na roda da fortuna" de 1994, ou
simplesmente pelo
humor negro e pelo
inexplicável estranhamento
que cercam as histórias de filmes, como em " Um homem sério"
de 2009 e "O grande
Lebowski" de 1998. Mas o certo é que sou fã dos caras.
Talvez
por isso, quando em 2014 o
canal FX, trouxe para a TV uma obra baseada em um dos melhores filmes
dos Irmãos Coen, "FARGO" de 1996, ignorei o projeto
idealizado
e escrito por Noah Hawley,
tanto pelo fato de não ser o
maior fã de adaptações de
grandes títulos para a TV,
como pela simples impossibilidade de assistir a série devido a FX
Brasil não transmitir a série aqui em terras tupiniquins, mal
sabia eu, que perdi a chance de acompanhar em tempo real o nascimento
de um clássico da TV, repleto de personagens marcantes, roteiro
primoroso e execução impecável, que me tornou fã aos dez minutos
do episódio piloto.
A
série trás uma história que lembra a contada no filme pelos
conceitos e cenários, mas composta por elementos muito mais
profundos e uma trama muito mais complexa do
que a obra original. Nessa história somos apresentados a Lester
Nygaard (Martin Freeman), um pacato e desprezado vendedor de seguros
na pequena cidade de Bemidji em Minesota, que vê sua vida mudar
quando,
depois de
ser humilhado por um valentão ex-colega do tempo de escola, ao
se encontrar e confessar suas
frustrações a um misterioso homem (Billy Bob Thornton) na
fila da emergência de um hospital, expressa
a vontade de que seu agressor seja morto, o que é levado a cabo por
seu confessor. A partir dessa morte, Lester entra em um espiral de
violência e mudança de percepção da vida que ira transformar
a vida de todas pessoas que tem contato com ele, incluindo a policial
Molly Solverson, que percebe que problemas maiores estão por surgir
devido ao assassinato, envolvendo extorsão,
morte de policiais, chuva de
peixes e
assassinos da máfia.
A
série é fantástica! Noah
Hawley
soube trazer para a TV todo
espirito das obras dos Coen com o humor negro desconcertante que faz
com que não saibamos se devemos rir ou ficar envergonhados, cenas de
ação e momentos de tensão que te grudam na cadeira e personagens
marcantes, que transitam entre o cara comum, o durão e o indivíduo
totalmente sem crédito.
Lester Nygaar |
Em
contraponto ao pobre Lester, temos o misterioso assassino
interpretado por Billy Bob Thornton,
que mais tarde passa a ser conhecido como Lorne Malvo.
Ele é um agente do caos, não muito diferente do Coringa
interpretado por Heath
Ledger,
mas
com toda uma questão de princípios tais como o Assassino de "Onde
os fracos não tem vez", sua interação com o personagem de Martin Freeman é perfeita, criando uma tensão tanto em Lester
Nygaard como no espectador para quem os discursos de Malvo parecem
ser direcionados. Lone
Malvo não
respeita nada e não teme nada, parece entender que a vida é um
amontoado de convenções presididas por pessoas que dão mais
crédito as aparências do que aos resultados e possibilidades e, usa
essa fraqueza das pessoas em seu próprio favor. Lorne Malvo é o meu
personagem preferido da série e grande parte disso se deve a
interpretação primorosa do Thornton, que consegue se impor através
de olhares e silêncios, se tornando ameaçador mesmo possuindo o
porte de um corredor de maratonas que não se hidratou corretamente.
Lorne Malvo |
Fechando o trio de protagonistas, temos a policial Molly Solverson, que se enquadra no personagem desacreditado citado acima. Molly (interpretada por Allison Tolman) é uma obstinada assistente do xerife, que enxerga nos acontecimentos ocorridos em Bemidji muito mais do que crimes isolados, o que faz com que ela não desista de buscar a verdade a todo custo para descobrir os verdadeiros culpados, no entanto, cercada por pessoas que apreciam muito mais a aparência do que o talento e que preferem saborear uma bela xícara de café com rosquinhas a resolver problemas reais, assim, quase todos seus esforços ficam relegados a fé de que outras pessoas fora de sua delegacia acreditem em seu ponto de vista, como seu Pai , Lou Solverson, um ex-policial dono de uma lanchonete e Gus Grimli ( Colin Hanks), um policial da cidade vizinha, que após um contato com Lorne Malvo passa a ajudar Molly. O Humor e persistência do personagem de Allison Tolman são tão marcantes, que penso que não fique devendo em nada para o interpretado por Frances MacDormand no filme homônimo à série, assim como a sua interpretação não fica devendo nada a ganhadora do Oscar de 1996.
Molly Solverson |
"Fargo"
a série, é mais que uma adaptação para a TV de um grande filme, é
uma obra que se
sustenta por sua história inteligente, tensa e cheia de grandes
diálogos, com personagens ricos e complexos que
falam diretamente com o espectador. Um clássico que surge da cabeça
de Noah Hawley com o espirito e o humor dos irmãos Coen e que me
surpreendeu
demais por sua qualidade de roteiro, direção e atuações. Agradeço
a dica do meu amigo Caleb Garcia, que me indicou a série e a
insistência de meu irmão Leandro Guerreiro para que eu assistisse . Assim que possível vou resenhar a segunda temporada, com a história
de Lou Solverson e a saga trágica da família Gerhardt e a máfia de Kansas, aguardando com ansiedade a estréia da terceira história em 2017, mas sabendo que regras não existem e é preciso mostrar ao mundo que viemos os gorilas e por vezes precisamos mostrar ao mundo que ainda temos um pouco deles em nós.
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