Quando eu era criança, lembro
que na escola, a professora contou uma pequena história que falava o
seguinte:
"Era uma vez um menino
que viu na TV como Passas eram deliciosas e passou a sonhar em comer
passas. Perguntando para sua mãe quando poderia realizar seu sonho,
ela respondeu que apenas no natal a família poderia realizar o
desejo do menino e como ele era muito bom e obediente esperou até a
data indicada; sempre imaginando o sabor, a textura e o aroma do
objeto de seu desejo. Então o Natal chegou e sua mãe lhe entregou
um pacotinho da tão sonhada iguaria que, sem pensar, o menino
colocou na boca, mas logo sua felicidade se transformou em decepção
ao perceber que as tão desejadas passas não passavam de uvas
secas."
O que a história contada pela
minha professora, na terceira série, queria explicar era um conceito
que me acompanharia pela vida toda e que só com muita experiência e
baixando a expectativa frente a qualquer promessa, não amargaria
meus dias, esse conceito se chama Frustração. Conto essa história
para tentar explicar como me senti na data de ontem, ao assistir a
"Esquadrão Suicida", filme dirigido por David Ayer,
estrelado por Will Smith, Margot Robie, Jared Leto, Viola Davis,
entre outros, que, depois da decepção com "Batman vs
Superman", colocou minhas expectativas acima do céu, me
convencendo através de seus trailers que era a possibilidade de
redenção da DC/Warner no cinema, apenas para, após assistir ao
filme, me fazer lembrar dessa história antiga e ter certeza de que a
resposta à ilusão da expectativa é uma realidade amarga.
SINOPSE
O filme começa logo após os
eventos ocorridos em "Batman vs Superman", que culminaram
na morte do Kriptoniano mais famoso do mundo. Amanda Waller, uma alta
funcionária do serviço de defesa norte americano, resolve levar às
autoridades o plano de formar uma equipe que possa combater problemas
espetaculares do mesmo nível dos resolvidos pelo Super-man, mas de
uma forma que não comprometa ou seja vinculado ao governo e dessa
forma resolve utilizar bandidos para a execução dessas missões,
para que no caso de algo ocorrer de errado, a responsabilidade recaia
toda sobre os mesmos.
Assim Waller, recruta o
assassino conhecido como Pistoleiro, o ladrão Capitão Bulmerang, o
pirocinético chamado de El Diablo, o bandido conhecido como
Crocodilo, uma louca apelidada de Arlequina e um bucha de alcunha
Amarra, para executar seu plano e para comanda-los em campo, Amanda
conta com a liderança de Rick Flag um militar de alta formação, que
por sua vez tem como guarda costas a guerreira katana.
Todos bandidos viviam suas
deprimentes vidas de presidiários até que "Magia", uma
bruxa de 6320 anos presa no corpo da pior arqueóloga do mundo e que
foi o primeiro membro convocado pelo projeto presidido por Waller,
roubou o artefato onde seu irmão estava preso e o liberta na cidade
de Midlletown, na intenção de torna-lo mais forte e em conjunto com
este dominar o mundo, forçando a recém formada equipe à ação para
dar fim ao problema e salvar a humanidade.
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Vou te decepcionar |
Queria começar falando que
não tenho nada contra a DC comics. Muito pelo contrário, tenho um
carinho especial por todos seus personagens e em especial pela
família Batman, então fazer outra resenha mostrando, em sua
maioria, todo o lado negativo de um filme dos personagens da editora
é uma coisa que não me faz feliz, até porque, ninguém se propõem
a perder tempo e dinheiro assistindo a um filme, só para apontar
defeitos; o que a pessoa quer é que tudo que lhe foi prometido
durante meses e meses de publicidade seja verdade e que sua
experiência seja maravilhosa, então começo essa crítica pedindo
desculpas aos fãs da DC pelo que vou falar de "Esquadrão
suicida", mas a Warner mentiu para mim durante um ano e não
posso deixar barato.
Lá vai...
O filme é ruim! Queria dizer
ao contrário, mas o filme é ruim. "Esquadrão suicida" é
mal escrito, mal dirigido, mal editado, mal explorado, brega, piegas,
raso, bobo e infantil. E, podemos explicar porque o filme é do jeito
que é, falando um pouco sobre o roteiro, ou pelo vício de roteiro
que acompanham os filmes da DC/Warner desde "O homem de aço"
e que parecem a única alternativa para os escritores responsáveis
criarem uma forma da trama andar, sobre os personagens e suas
motivações e como a história é apresentada para o inocente que
vai no cinema esperando o clima dos trailers.
A coisa mais notória nos
filmes da editora é o fato de todos problemas que seus personagens
enfrentam partem deles mesmos. sendo assim, em "O homem de aço",
os Kriptonianos chegam a terra com a intenção de destruir a raça
humana e criar uma colônia, logo após o Super-man entrar em contato
com eles para conhecer melhor seu passado; em "Batman vs
Superman", os problemas encabeçados por Lex Luthor só crescem
depois que o Batman resolve largar tudo e caçar o Kriptoniano,
causando sua morte e; assim é em "Esquadrão Suicida", com
a intenção de criar o grupo, Amanda Waller utiliza de meios pouco
gentis com uma bruxa de 6320 anos, que acaba por se voltar contra ela
e buscar destruir o mundo... me parece que essa gente do universo Dc
é meio burra e inconsequente.
Sobre os personagens, o filme
não consegue coloca-los como vilões e nem ao menos como anti-heróis
carismáticos que poderiam ser se fossem melhor aproveitados, nem vou
falar muito do grupo em si, mas gostaria de falar de três em
especial, Começando por Amanda Waller, cuja atriz foi a pessoa mais
elogiada na Comic-com por sua atuação no filme. O plano da
idealizadora do grupo é um plano estúpido e que não faz sentido,
ainda mais quando vemos o filme se desenrolar. Criar um grupo de
vilões para defender os interesses do governo não é uma coisa
muito inteligente, principalmente porque a maioria dos vilões que
ela apresenta não possui nenhuma habilidade especial e as crises que
o planeta passou recentemente envolvem um ataque alienígena de
seres ultrapoderosos e o despertar de um monstro capaz de destruir o
mundo sozinho; em resposta a isso, Waller recruta um bêbado que atira
bumerangues, uma louca que conta piadas, um franco atirador e um
cara com cara de jacaré? Ok, tem o Pirocinético, mas ele não quer
lutar... Nos quadrinhos, esse mesmo grupo (ou parecido) faz sentido,
porque é mandado para resolver problemas com terroristas, gangster
e outras ameaças menores ou internacionais, não contra uma entidade
milenar incorpórea extra dimensional e mágica, o que mostra que
Amanda deve ter batido a cabeça quando pensou em criar o grupo e que
não se deu nem o trabalho de ler a ficha de todos os possíveis
recrutáveis, pois se assim fosse, não deixaria a disposição de
uma pessoa que se teleporta, entra em espelhos e cria raios mortais
(A magia ), o ídolo onde seu irmão hiperpoderoso descansava. Ainda
bem que não dizem no filme que Amanda Waller trabalha na
Inteligência, porque aí seria piada. Mas as perguntas que ficam
são: Por que ela não formou um grupo com os heróis, que tinham o
mesmo interesse de salvar a humanidade que o Super-man, ao invés de
se arriscar com esses vilões meia boca? Até porque no final vemos
quela sabe quem são e como encontrar esses heróis. E, se o
esquadrão suicida age para não vincular o governo a suas ações,
porque eles são acompanhados de militares?
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Tio Phil mandando bala |
Mas existe alguém muito pior
em planos e motivos que Waller, alguém que serviu como âncora para
a publicidade do filme e que agora serve de peso para afunda-lo, uma
participação especial que foi desagradável a ponto de me sentir
envergonhado pelo David Ayer, um cara que é tido como o maior vilão
dos quadrinhos, o palhaço do crime, aquele que só quer o caos,
aquele que estava além das ideias lúcidas da humanidade, mas que
nesse filme é um coitado, megalomaníaco e que não impressiona,
causa medo ou conquista respeito de ninguém, o Coringa. Desde que
saiu o primeiro trailer o assunto da galerinha era "Esse coringa
vai ser foda" e as reportagens só turbinava essa sensação ao
publicar que o ator Jared Leto mandava presentes assustadores a seus
colegas de elenco e tal, no entanto , nos doze minutos que temos o
coringa em cena, o que podemos ver é um cosplay ruim de um cara que
bebeu demais e acordou sem sobrancelha, todo tatuado e achando que vive dentro de um clip de hip-hop do anos 90, ele é ridiculamente
caricato e tem muito pouco a ver com o coringa dos quadrinhos que
conhecemos. Ele é vaidoso e descuidado, capaz de ficar quietinho
para ser tatuado e aproveitar a noite em festas regadas a champanhe e
passeios de Lamborghinis escandalosas, sua relação com Arlequina, que sempre foi
de desrespeito e manipulação, sempre tendo o abuso como pano de
fundo, no filme é apresentada como romântica e vemos o vilão ter
ciumes de suas parceira e gastar 90% de seu tempo em tela buscando
resgata-la, algo que não faz sentido e desagrada no personagem, pelo
fato dele ser um ícone grande demais para ter seus valores e
representação invertidos assim. O Coringa de Leto é tão
ridículo, que fiquei me perguntando ao assistir o filme, que se o
Batman de S vs B, era tão malvadão, porque não matou esse idiota
de uma vez?
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Tiozão bêbado Cracolância |
Outro personagem que me faz
cerrar os dentes quando lembro é a tal de Magia e seu alter ego
Julie Moon. É difícil de imaginar os pensamentos e planos de uma
entidade mágica milenar de outra dimensão, mas criar uma máquina
para causar o terror nos seres humanos para que eles voltem a
adora-la e assim dominar o mundo me parece muito, mas muito idiota;
despertar o irmão monstrengo para chamar a atenção de todos então
parece mais idiota ainda e dançar igual ao didi imitando o Ney
matoGrosso enquanto realiza feitiços, aí já é um desrespeito
para quem pagou para assistir essa coisa. Para piorar, quando o
roteiro vê necessidade, essa mesma bruxa terrível e milenar se
torna fraca e prefere lutar corpo a corpo contra uma palhaça que usa
uma bastão de basebol e seu irmão, que transformou toda uma cidade
em zumbis, não consegue matar um cara com uma pistola, outro com
bumerangues e meia dúzia de soldados. Em contra partida a essa
vilã terrível (que deveria casar com o Loki de vingadores e ter
filhos burros e com planos bestas) temos sua versão humana, que é
Julie Moon, que é a pior arqueóloga do mundo! Sério pessoal, cês
não tão entendendo, ela descoberto um sítio arqueológico entra
sozinha e , do nada, destrói uma relíquia milenar acabando possuída
por essa entidade... quem assistiu ao national geografic uma vez, ou
tem o minimo de conhecimento, sabe que sítios arqueológicos não
são propriedades pessoais e que são responsabilidades de
faculdades, governos, entidades, não de uma arqueóloga modelo de 30
anos e o pior é que a personalidade da personagem é tão frágil e
dependente que para a estabilizar Amanda força um romance entre Julie
Moon e Rick Flag, o que me faz lembrar de outra coisa ruim, a
Montagem.
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família, cachorro, gato, galinha |
O filme tem a pior montagem
desde "Armagedom" de Michael Bay. Não se consegue entender
nada na apresentação dos personagens e os diálogos parecem ser
sempre correndo, tornando tudo mais confuso do que ágil, no meio
dessa loucura toda, o que se destaca é a quantidade de bobagem
repicada que Amanda Waller fala ao explicar seus planos na mesa com o
secretário de segurança, quando ela conta a história dos
recrutáveis enquanto temos imagens mostrando da forma mais brega
possível como a Arlequina acabou presa e piegas da prisão do
pistoleiro, tudo isso repleto de uma música por segundo. Sem falar
no romance entre Julie Moon e Rick Flag, que é apresentado tão
rápido, que não dá o menor tempo de fazer com que nos importemos
com o casal, o que ainda é aditivado pelo fato de os dois atores que
interpretam o casal terem o carisma de uma cenoura seca; a montagem
ainda peca estragando as piadas dos filme, como na hora em que depois
que dá merda, Rick Flag diz que todo mundo pode ir embora e o
Capitão bumerangue se levanta e sai, a cena corta e menos de dois
minutos depois vemos ele com o grupo indo atrás do vilão final, que
sentido tem isso?
Para completar a bagunça que
é a montagem do filme, temos a trilha sonora descoladinha. O filme
tem mais músicas do que a vilã tem anos de vida, é muita música!
A primeira cena do filme, onde temos a apresentação do personagem
do Will Smith, começa com "House of the rising sun" dos
The Animals, corta para apresentação da Arlequina, temos outra
música, em seguida corta para a apresentação da Amanda Waller e lá
vem "Symphaty for the devil" dos Rolling Stones, não tem
como a pessoa não ficar tonta. Completando temos ainda Arlequina
dançando na boate ao som de música eletrônica, música do Emminen
quando os uniformes e armas são dados aos membros do grupo e
acabando o filme com a música do "Queen", o que faz a
gente pensar se o filme não foi dirigido por um Dj ao invés de um
diretor de cinema.
Coisas Boas...
O filme não é o pior da
história. Mas em comparação ao que a publicidade apresentou, ele é
uma mentira, mas entre essas mentiras temos coisas boas, como a
interpretação de Viola Davis como Amanda Waller, que consegue
passar bem o tom de pessoa calculista e sem escrúpulos que só pensa
em poder e até a Margot Robie, que , fora as piadas sem timing,
parece ter captado o tom da personagem Arlequina, Além dessas duas e
do Pistoleiro (Will Smith) que são bem explorados, um destaque é o
personagem "El Diablo", que tem todo um arco, começa a
história agindo e pensando de um jeito e termina crescendo e sendo
fundamental para o encerramento da trama (embora tenha momentos bem
piegas). Outra coisa bacana é a participação do Flash, que é de
um segundo e empolga mais do que todas as outras cenas de ação do
filme... e só.
Muito bem (ou muito mal) ! Eu
poderia me estender ainda falando desse filme, contando mais sobre a
trama, sobre as cenas de ação e como os problemas se resolvem, mas
vou parar por aqui porque só de lembrar desse filme já faz com que
eu me sinta mal. Esquadrão Suicida é uma mentira, que tem como
mérito para sua arrecadação inicial, não o fato de ser um bom
filme, mas sim de ter uma indústria publicitária competente por
trás, que lhe garantiu rentabilidade inicial, mas que certamente
não pode lhe assegurar o mesmo retorno após a quantidade de críticas
negativas que surgiram depois da primeira semana de cartaz. Um filme
decepcionante que faz com que cada vez mais se perca a fé nas
produções DC/Warner e no futuro desse universo, me deixou apenas a
lição de que nunca devemos nutrir expectativas e que bons atores
juntos, nem sempre significam um bom filme ao final.
Minha dica final, para quem
quer se divertir assistindo esquadrão suicida em uma história
adulta, cheia de reviravoltas, violência e personagens de ética
duvidosa é: Assista a "Batman:Ataque ao Arkham", desenho
de 2014 que consegue com muito menos pretensões ser tudo o que o
filme não consegue.
"Esquadrão Suicida"
é um filme raso e ruim, cheio de falhas de roteiro e ritmo,
irritante com suas milhares de músicas e personagens pouco
desenvolvidos, com seu marketing gigante e mentiroso e sua montagem
maluca. Um filme que serve apenas para diminuir a impressão negativa
de filmes como "Batman e Robin", quando comparados a ele,
um filme esquecível e mal produzido, que prometeu trazer uma
história sobre os vilões da DC comics, mas que apresentou a
história dos vilões reais da Warner, que são seus roteiristas,
tanto que quase consigo imaginar David Ayer falando a frase da Arlequina
ao ser questionado de como surgiu esse roteiro primoroso: "Somos
os caras maus, é isso que fazemos!" , sim, eles são.. os maus
escritores.
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Vou sair de fininho |