Em
2011, os estúdios Marvel traziam aos cinemas “Capitão América: O
primeiro vingador”, filme sessão da tarde, feito muito mais para
apresentar outro dos personagens centrais da editora no cinema antes
de sua grande cartada, que foi “Vingadores”, do que para
satisfazer o desejo dos fãs. Isso se deve ao fato de que o Capitão
América nunca ter sido o personagem mais querido da Marvel e muitas
pessoas até o consideravam ultrapassado e brega, mas isso começou a
mudar depois do sucesso da sequência de seu filme solo, “Capitão
América: O soldado invernal”, de 2014, que chegou com um tom mais
sério e produção de qualidade, consolidando o personagem não só
como um líder dentro do universo Marvel, mas também como ícone e
símbolo do que é o certo a se fazer. Esse aprofundamento e
crescimento do personagem favoreceu o conflito de personalidade e
interesses com a principal e mais marcante figura da editora no
cinema, o Homem de ferro, que se anunciou no primeiro filme dos
vingadores, se intensificou no segundo e chega às vias de fato em
2016, com o ótimo e divertidíssimo “Capitão América: Guerra
civil”, que estreou dia 28/04 nesse Brasilzão em crise de meu Deus
e que tive o prazer de assistir em um domingo gelado no sul do país.
O
filme segue os acontecimentos de “Vingadores: A era de Ultron”,
onde, no final, uma parte dos vingadores originais se afastou e um
novo time de heróis, liderados pelo Capitão América, foi montado
para seguir operando. E é em uma missão desse novo time, para
capturar o vilão Ossos Cruzados, que o grupo acaba causando um
acidente que dá movimento a trama. Wanda Maxmoff, a feiticeira
escarlate, para salvar o capitão de um ataque suicida do vilão
acaba atingindo um prédio, matando uma dezena de pessoas e ferindo
outra centena e, esse evento faz com que as autoridades busquem
alternativas para colocar limites nas atuações dos Vingadores ao
redor do mundo e assim surge o acordo de sokovia (batizado assim em
referência a cidade destruída por Ultron no segundo filme dos
vingadores), onde os artigos mais relevantes se referem ao
monitoramento dos super-seres e sua liberdade de atuação; sendo
essa última, permitida ou não apenas após a aprovação de uma
junta da ONU.
O
acordo de Sokovia surge como a primeira fissão entre as lideranças
do grupo de heróis, que aparece como divergência ideológica e vai
jogando os personagens para polos distintos que melhor representam
suas personalidades e pontos de vista. Isso é muito bem-apresentado
pelo roteiro explorando a culpa que rodeia Tony Stark (O homem de
ferro) que, ao ser confrontado por uma mãe que perdeu o filho na
cidade de Sokovia, abraça o acordo como única alternativa capaz de
amenizar os desastres que são consequências das atuações dos
super-seres, assim como coloca em contraponto o ideal de liberdade de
atuação defendido pelo Capitão América, que enxerga a submissão
dos Vingadores a um grupo de políticos ainda mais perigoso do que
atitudes oriundas das escolhas dos próprios indivíduos envolvidos.
No
meio desse arco, no dia em que o acordo deve ser assinado, a cede das
nações unidas em Viena sofre um atentado vitimando o rei de
Wakanda, onde câmeras acabam por registrar a presença do soldado
invernal e colocando mais lenha no conflito anunciado, dando a deixa
para o surgimento de mais um personagem icônico na editora, o
Pantera Negra, que surge de forma fantástica caçando o pretenso
assassino de seu pai. A partir desse ponto, o filme passa a ser um
filme de perseguição, onde o Capitão parte na busca de seu amigo
desaparecido e acusado de terrorismo na esperança de protegê-lo e o
levar em segurança para esclarecimento, enquanto o Pantera Negra o
procura para vingar a morte do pai. Achei essa parte do filme bem
bacana, apresentando o novo herói como um personagem obstinado e
implacável, o uniforme do Pantera está muito fiel aos quadrinhos e
seu estilo de luta (mesmo sem o uniforme e acessórios) empolga
bastante, o cara é imponente e de todos que estavam presentes na
tela é o que mais mereceu o meu respeito durante as quase duas horas
e meia de filme.
O
Soldado Invernal é capturado depois da citada sequência de
perseguição e levado às instalações de segurança das nações
unidas. É lá que o vilão que aparece aos poucos em cenas que se
intercalam com as dos conflitos internos do grupo de heróis se
mostra pela primeira vez aos mesmos. Infiltrado como o psicólogo que
faria a avaliação de Bucky Barnes (o soldado Invernal) ele utiliza
uma sequência de palavras que servem para forçar o amigo do capitão
voltar ao estado de obediência dos tempos de assassino da Hidra,
pede o relatório da missão de 16/12/1991 e solta o detento na
instalação mais programado para matar que o Schwarzenegger.
Depois de várias confusões e de uma atuação ninja do Pantera
Negra sem uniforme, o soldado invernal é capturado pelo Capitão
América e pelo Falcão e, quando questionado sobre o que o
misterioso vilão queria, informa que não é o único soldado
invernal, revelando que em uma instalação na Sibéria outros sete
assassinos de elite se encontram em hibernação aguardado o comando
para voltar à ativa; a partir desse momento tornasse prioridade do
Capitão e seus aliados, deter as supostas intenções do inimigo que
se apresentou, enquanto que para o homem de ferro e a junta de
segurança da ONU, a recaptura do soldado invernal passa a ser caso
de segurança pública e cumprimento da lei.
Depois
do atentado em Viena e na junta da ONU, vemos os conflitos se
intensificarem, com o Capitão América recrutando novos e velhos
conhecidos para o seu grupo e o Homem de ferro para o seu. Dentre
esses recrutados dois se destacam mais que os outros, o Homem-Formiga
para o lado do Capitão e o Homem-Aranha para o lado do Homem de
Ferro. O Homem-Formiga conquista qualquer um pelo apelo cômico e
pela surpresa que apresenta na cena do embate do aeroporto, suas
piadas são ágeis e os diretores voltam a utilizar truques de câmera
presentes no filme solo do personagem para mostrar as diferentes
perspectivas do herói, sem contar com sua total falta de noção,
começando com o momento onde ele é apresentado ao Capitão América.
Já o Homem-Aranha aparece sem muito mistério, sendo descoberto por
Tony Stark e colocando um sorriso no rosto do espectador quando
escuta a tia May (linda por sinal) chamando seu nome e mostrando seu
tom de humor já no primeiro diálogo sobre uma possível bolsa nas
indústrias Stark, isso tudo sem deixar de dar um ar de drama e
maturidade ao falar de como uma pessoa que pode fazer algo especial,
pode perder alguém com quem se importa ao deixar de tomar uma
atitude.
Depois
do recrutamento surge o auge do filme. Quando os aliados do Capitão
se organizam para partir para a Sibéria prevendo o perigo e são
interceptados pelo grupo comandado pelo Homem de ferro, é quando
somos presenteados por uma sequência épica de batalha envolvendo
todos os Heróis. Nessa sequência é impossível não se empolgar
com o estilo de luta e obstinação do Pantera Negra, ou com as
tomadas de perseguição aérea do Máquina de Guerra e Homem de
ferro com o Falcão, mas como já disse, é o Homem-Aranha e o
Homem-formiga que roubam a cena nesse momento.
Homem-Aranha. O destaque dos destaques |
O
Homem-Aranha é fantástico desde o momento que surge de uniforme e
pega o escudo do capitão, sua perseguição ao falcão e ao Soldado
invernal é muito divertida propiciando pelo menos três cenas
marcantes; a primeira quando o soldado invernal tenta dar um soco no
personagem e ele agarra o braço biônico do super soldado, outra
quando ele é pego pelo Falcão e começa a gritar “Você tem o
direito de ficar calado” e o final da sequência, quando ele é
capturado pelo drone do falcão e sai voando pela janela (de chorar
de rir), sem falar na luta dele contra o capitão onde ele fala a
maior verdade que alguém poderia falar ao herói: “Moço esse seu
escudo não obedece as leis da física”.
O
Homem-formiga é fantástico também em três cenas. A primeira é
quando usa a flecha do gavião arqueiro como veículo para chegar até
o Homem de ferro causar danos em sua armadura por dentro, a segunda é
quando joga um caminhão em miniatura na direção do Máquina de
guerra e pede para o capitão arremessar um dos discos de crescimento
que ele usa como arma no caminhão, a miniatura cresce e atinge o
adversário causando uma grande explosão, ao que o Homem-Formiga
comenta estarrecido: “eu pensava que era um caminhão pipa!” e a
terceira cena marcante é quando ele se torna gigante para favorecer
a fuga do capitão, é muito bacana com ele gigantesco arremessando
pedaço de aviões e chutando veículos para todos os lados, sendo
derrotado apenas após a ideia do Homem-aranha de imitar o que os
X-Wings fizeram contra os veículos andarilhos em “O império
contra-ataca” e derrubando o gigante.
A
sequência do Aeroporto termina em um tom amargo, quando visão
agindo de forma distraída, acerta o Máquina de Guerra durante o voo
quase matando o vingador que fazia parte de seu grupo. Com o final do
embate e a fuga do Capitão e do Soldado invernal para Sibéria, o
grupo que os apoiava (Falcão, Homem-formiga, Gavião Arqueiro e
Feiticeira Escarlate) são detidos e mandados para uma prisão
especial no meio do oceano, a Viúva Negra, que deixou a dupla de
foragidos escaparem parte para a clandestinidade e o Homem de ferro
passa a investigar mais afundo o atentado de Viena, descobrindo que o
psicólogo mandado para avaliar Bucky havia sido morto e
identificando que quem se passou por ele era um ex agente especial de
Sokovia chamado Zemo, então, ciente de seu erro, ele pede
informações para o aprisionado falcão e parte para Sibéria atrás
de seus ex-aliados, sendo seguido à distância pelo Pantera Negra.
Pantera Negra. O cara |
Na
Sibéria, o Homem de ferro se junta ao Soldado invernal e ao Capitão,
acreditando que o plano de Zemo é ativar os outros soldados
invernais para seu beneficio próprio, no entanto quando chegam no
local onde estes hibernam, todos estão mortos e vemos Zemo protegido
em um buncker de onde começa a mostrar um vídeo de câmera de
segurança onde é mostrado o assassinato dos pais de Tony Stark
pelas mãos do Soldado invernal ( a tal missão de 16/12/91), daí em
diante a porrada come solta entre a dupla de amigos e o ferroso.
Enquanto isso o Pantera observa com paciência e percebe que
perseguiu o homem errado, partindo ao encontro do verdadeiro
assassino de seu pai e o encontrando ouvindo antigas mensagens de
áudio onde sua mulher falava da ansiedade de seu filho pelo seu
retorno. Acontece que tanto sua mulher, como seu filho e pai,
morreram em Sokovia no final dos acontecimentos do segundo filme dos
vingadores e para se vingar (ops) ele, que sabia não poder lutar de
maneira franca contra os maiores heróis da terra, resolveu
destruí-los de dentro para fora arquitetando um plano onde os
vingadores lutassem entre eles. Após a confissão, Zemo tenta o
suicídio, mas é impedido pelo Pantera Negra e levado para a junta
de segurança da ONU. Enquanto isso Bucky e o Capitão se veem em
combate contra um enlouquecido Homem de ferro, que recusa todos os
apelos e tenta matar Bucky de todas as formar, sendo impedido apenas
após o capitão destruir sua armadura, não sem antes do feioso
destruir o braço biônico do Bucky “soldado Invernal” Barnes; A
cena termina com o capitão levando seu amigo carregado enquanto
larga o escudo para trás ao escutar de Stark que ele não era digno
deste.
Qual o seu lado? |
Depois
de todo ocorrido e problemas resolvidos, o filme mostra a recuperação
do Máquina de combate, que passa a precisar de um aparato mecânico
para poder caminhar e a solidão do Visão após a evasão e
clandestinidade dos vingadores e a entrega de um telefone e uma carta
para Tony remetida pelo capitão e explicando que sempre estará a
disposição e o filme termina com o capitão resgatando seus amigos
da prisão.
Achei
o filme fantástico! Diversão garantida com a dose de humor, ação
e drama sob medida ao que os filmes da Marvel se propõem. Os efeitos
especiais são fantásticos e as cenas de luta e perseguição de
tirar o fôlego.
Achei
que os irmãos Russo conseguiram fazer um trabalho tão bom quanto o
feito no segundo filme do Capitão, explorando na proporção exata
os personagens presentes na trama, mas sem tirar o foco dos passos do
personagem que o filme leva o nome. Foi um ótimo ensaio para os dois
próximos filmes dos vingadores que os irmãos dirigirão e uma bela
introdução de personagens que estrelarão filmes solos pela Marvel,
como o Pantera Negra e o Homem-Aranha.
O
roteiro é muito bem escrito e vai em uma crescente que faz com que
não se sinta que se passou quase duas horas e meia. As motivações
são muito bem apresentadas e os personagens desenvolvidos, não
fizeram muita questão de fazer revelações finais e isso deu mais
fluidez ao filme.
Gosto
de pensar que o grande vilão da trama é a situação, pois pensando
assim, o filme parece ainda melhor do que é, mas se pensarmos que o
grande conspirador que gerou a situação é o “Barão Zemo”, que
no filme é um espião sedento de vingança e que consegue todas as
informações e acessos de forma tão simples, a trama perde um
pouco, pelo vilão ser totalmente esquecível e ficar à sombra do
combate de liderança e força entre o Homem de Ferro e o Capitão
América.
Mas
mesmo um vilão fraco não é suficiente para tirar a qualidade de
“Capitão América: Guerra Civil” e posso dizer que ele entrou
para meu top five de filmes de Super-Heróis (onde já se encontra o
segundo filme do Herói). Um filmaço que valeu cada centavo suado do
ingresso e que me deu confiança em dizer que na Marvel eu confio.
Agora é só esperar filmes do Pantera, Aranha e ainda esse ano
Dr.Estranho, aguardando que em 2018 a guerra infinita comece.
Que
venha o Thanos!!
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