Nova Inglaterra, Estados Unidos, século XVII. Diante do conselho de
uma vila de colonos, Willian, o chefe da família, justifica sua
decisão de partir com os seus para fora dos muros. Questionado pelos
lideres da comunidade, ele diz que o lugar que escolheram como lar
não tem a pureza que deve refletir a palavra de Deus e por isso deve
procurar um lugar longe do pecado. Assim, acompanhado de sua mulher
Katerine e de seus filhos, Thomasin uma menina entrando na puberdade,
Caleb, o segundo mais velho, o casal de gêmeos Mercy e Jonas, e o
bebê Samuel, partem em direção a floresta, procurando um lugar
para recomeçarem suas vidas de acordo com seus princípios. Esses
são os primeiros minutos de um dos melhores filmes que assisti esse
ano, “A bruxa”, filme produzido em parceria
EUA/Inglaterra/Canadá, escrito e dirigido por Robert Eggers e que
estreou como uma bela surpresa em circuito fechado no ano passado e
desde então, vem arrecadando fãs e colecionando criticas positivas
por onde foi exibido, até mesmo de grupos satânicos nos Estados
Unidos.
O filme é muito legal. Não entrega nada de cara, mas não faz
questão de esconder o que se propõem e, mais importante, não deixa
aquele “será?” no final, que por vezes é tão frustrante em
filmes que envolvem suspense. Mas até chegarmos ao ápice da
história, muita coisa acontece no melhor estilo de conto de terror
de primeira, funcionando de forma genial, graças a narrativa adotada
e ao ritmo que o filme mantém, dando o tom certo de tensão que
prende qualquer um na cadeira. Tudo isso ainda é costurado por uma
trilha sonora esquisita e sinistra que por vezes sobe de forma que
causa um arrepio na coluna de quem está vidrado na história e
atuações hipnotizantes (principalmente das crianças), fruto da boa
escolha dos atores e da ótima direção.
Mas o que talvez seja o diferencial para que “A bruxa” seja um
filme marcante, são os símbolos utilizados dentro da história e
que conversam tanto que questões religiosas, como a ideia dos
pecados e mandamentos, como com nossas mais tenras lembranças
infantis de forma sutil e terrível. O primeiro grande símbolo que
remete a infância é a Bruxa (lógico), ela é presente o tempo
todo, embora não sejamos apresentados aos seus motivos ou forma
exata e isso nos coloca na mesma posição das crianças que são
aterrorizadas por sua presença e o diretor ainda fez questão de
anexar à imagem da bruxa, símbolos populares do personagem, como
vassoura voadora, caldeirão e a busca pela juventude, que é obtida
de um jeito traumático que embora seja apenas referenciado mas não
mostrado, causa um amargo na boca, tudo isso sem infantilizar ou
arrastar a trama para o trash, pelo contrário, sem esses eventos
sobrenaturais o filme passaria fácil por um drama de época (e dos
bons!).Outros símbolos que remetem à infância são os que tangem
aos contos de fadas. Quando Thomassin e Caleb resolvem partir para a
colônia sozinhos, temos João e Maria perdidos na floresta e Caleb
acaba pego pela Bruxa, que tal qual o conto “Chapeuzinho vermelho”
aparece coberta com uma capa cor de sangue saindo de uma casa entre
as árvores, Seguindo essas referências, temos por fim a ideia que o
bebê Samuel foi pego por um lobo, fazendo-se menção a esse animal
que está presente em quase todos contos infantis.
Thomasin |
Somado a isso tudo, ainda temos a presença do Bode negro, símbolo
máximo da magia negra e bruxaria. O bode se apresenta nos momentos
de caos e confusão, quando parece que nada mais pode dar errado lá
está Black Phillip e o que esse bicho apresenta no final vai colocar
um sorriso no rosto de todos, logo após te dar um belo susto, com
certeza o melhor ator do longa.
“A Bruxa” é um filmaço! Tenso e denso, bem dirigido e com
atuações dignas de prêmios (O que é aquele moleque Caleb se
fazendo de moribundo ou os gêmeos do capiroto??!!), consegue ser
sucinto (tem apenas uma hora e meias) sem ser curto. A fotografia é
lindíssima e o figurino não deixa nada a desejar para dramas de
época e o roteiro e a trama então são de primeira, uma bela dica
para um domingo chuvoso de inverno.
OBS: Não deem ouvidos para o que o bode fala.
Nenhum comentário:
Postar um comentário