Você
acorda em um quarto em um bunker, algemado pela perna à um cano de
metal na parede,
com soro na veia e lembrando apenas que sofreu um acidente de carro;
ouve
barulho no que parece ser uma escada e se depara com o Fred flinstone
psicótico como seu carcereiro e recebe dele a informação de que
não podes sair daquele lugar por dois ou três anos porque houve um
grande atentado químico ou nuclear que pode ser de origem alienígena
e o ar está
contaminado, sendo
que tudo que se pode fazer é jogar jogos de tabuleiro, ouvir música
dos anos sessenta, assistir filmes antigos ou ler revistas de moda...
Isso não seria um pesadelo (ou roteiro de filme b)? ... Poderia!
Mas é a trama central
de "Rua cloverfield, 10", bom
filme estrelado por
Mary Elizabeth Winsted e John Goodman
e
que dá sequência (ou outro ponto de vista) aos
acontecimentos do filme "Cloverfield" de 2008 e
que chega
de surpresa para trazer diversão claustrofóbica ao público e
mostrar
ao mundo como se revitaliza
uma franquia.
O
filme
conta a história de Michelle que, depois de brigar com seu namorado,
parte de carro em direção de uma vida nova. No caminho ela sofre um
acidente e acorda tempos depois com uma fratura na perna e presa em
um quarto de um abrigo subterrâneo, lá ela descobre por seu
"salvador", que se apresenta como Howard, que houve um
atentado e que o ar está contaminado, sendo que, por motivos de
segurança, ele só permitirá que ela saia de lá entre dois e três
anos. Dentro do Bunker, ela também conhece Emmett (John
Gallagher, Jr.),
ex-funcionário da construção do abrigo que se refugiou junto a
Howard quando os atentados começaram e que conhece um pouco do
passado do misterioso dono da fazenda; juntos, Michelle e Emmett,
irão buscar entender o que se passa fora do abrigo e na cabeça do
estranho e paranoico anfitrião.
O
que gostei do filme é que ele usa elementos do filme anterior, sem
se prender no mesmo. Mostra uma situação totalmente diferente e sem
conexão nenhuma com o que acontece no Cloverfield de 2008, tendo os
eventos mundiais (pelo menos somos levados a entender que existem
eventos mundiais) servindo apenas como pano de fundo para o que
realmente interessa nessa nova história, que é o que está
ocorrendo dentro do abrigo e quem são aquelas pessoas, revertendo a
tensão da população em pânico do primeiro filme, pela tensão
mais intimista de um grupo de pessoas presas em um lugar e sem saber
o que acontece lá fora, e, isso enriquece todo o universo a que os
filmes pertencem.
tem algo lá em cima |
Outro
fator que torna o filme bacana são os personagens. Diferente dos
personagens do primeiro filme, que, fora o protagonista, não tinham
uma motivação aceitável para atravessar uma cidade com um monstro
gigante as soltas só para salvar uma pessoa que pouco, ou nada, tema
ver com elas, nesse filme as motivações são totalmente reais.
Michelle, a personagem de Mary Elizabeth Winsted, não aceita as
explicações de seu carcereiro e quer fugir daquele ambiente a todo
custo e para isso vai investigando todas as situações que giram em
torno daquele lugar; Emmett, por sua vez é um cara frustrado, que
não leva nada muito a sério e quer apenas sobreviver; enquanto
Howard é um psicótico e paranoico, ex-militar, fissurado por teoria da conspiração e segurança que não admite ser contrariado, é
violento e desconfiado e materializa a figura da filha (pelo menos é
o que ele diz) em Michelle e por isso não admite que ela pense em
sair do abrigo.
"Que cara estranho" |
Muito
do que os personagens apresentam de bom, é fruto da interpretação
magistral dos atores e da boa direção de Dan
Trachtenberg. Sobre
as atuações, John Goodman rouba a cena
convencendo como alguém com sérios problemas mentais e de
relacionamento, seu personagem consegue fazer a tensão crescer só
de estar presente (tanto que nesse filme poderiam chama-lo de John
Badman), sua expressão vai de calma e complacência ao extremo da ira
e fúria em segundos e faz com que a gente esqueça na hora o
simpático Fred Flinstone do passado. John
Gallagher, Jr.
Também
está muito bem, embora não seja muito exigido, sua cara de medo
constante e seus olhares de quem sente que desperdiçou a
vida marcam bem o personagem no filme, fato que se soma ainda a um
monologo bem bacana onde ele conta um pouco de seu passado à
protagonista, que
vivida por
Mary
Elizabeth Winsted
esbanja carisma usando
seu olhar e muita expressão corporal para transmitir o desconforto
que a personagem sente ao se encontrar dentro da situação
apresentada. As atuações ainda são valorizadas pela ótima direção
do estreante Dan
Trachtenberg, que através de recursos técnicos como os closes nos
olhares e expressões dos atores e tomadas abertas do cenário
claustrofóbico que passam ao expectador o ambiente sufocante tanto
do lugar quanto da situação e imprimindo no filme um tipo de tensão
que vai se alongando aos poucos e prendendo quem assiste na cadeira.
Pernas pra que te quero !! |
A
meu gosto, o filme perde um pouco no final do terceiro arco, quando
parece que foi tomada a decisão de entregar ao expectador a
informação de que o que se passa fora do bunker é um ataque
alienígena (pelo menos é o que parece, pois nada é explicado), o
que corrobora com as teorias do personagem de John Goodman e
complementa o primeiro filme (De que depois do ataque de massa do
primeiro filme, o segundo passo seria um ataque de solo)
e
durante dez minutos a protagonista se depara com uma espécie de
monstro que a caça e um tipo de disco voador, esquecendo sua fratura
na perna e correndo mais que o Usain Bolt e bolando uma bomba para se
desvencilhar dos oponentes, mas isso não diminui em nada a qualidade
geral do filme e eu coloco esse trecho da trama apenas como uma
espécie de Fan-service.
Achei
"Rua Cloverfield, 10" um bom e divertido filme. Despretensioso e bem dirigido, revitaliza e enriquece uma franquia
que se tornou cult e sempre se mostrou promissora para quem gosta de
filmes de terror e ficção científica. Com
atuações e direção bem ponderadas, efeitos especiais que não
exageram e roteiro competente, "Rua Cloverfield,10" chega
surpreendendo e deixa um gostinho de quero mais que, se a cena final
não nos trair, se concretizará em um futuro próximo. Assista
antes que os aliens ataquem!
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