Luis Fernando Verissimo
sempre foi um dos meus cronistas preferidos. Lembro de quando eu era
adolescente, pouco antes do "advento da internet" (como
diria o arquiteto em Matrix), aguardava a coluna semanal do autor no
Jornal Zero-Hora (aqui do RS), para me deliciar com sua escrita
brilhante e divertida. Eu chegava a recortar suas melhores
publicações e guardar dentro dos meus livros, para , sempre que me
faltasse algo bacana para ler, voltar ao bom e velho Veríssimo.
Então veio a vida adulta, cresceu meu interesse por ficção
científica, os filmes e séries de super-heróis dominaram o
mercado, a franquia Star Wars ressuscitou e por muito tempo deixei o
autor de lado, com seus quatro livros que tenho, esquecidos na
estante; até que no último domingo chuvoso e de internet vacilante,
meu subconsciente, procurando algo que revertesse a sensação de
tédio que eu sentia sentado o dia todo na frente da TV, colocou na
minha mão "O opositor" obra de Veríssimo, integrante da
coleção "cinco dedos de prosa" da editora Objetiva e,
como uma epifania nascida da contemplação de uma obra da
renascença, tudo que eu tinha ignorado com a distancia dos textos do
autor, voltou a fazer sentido novamente.
O Opositor, conta a história
de um repórter, que é designado por um jornal de São Paulo, para ir
a amazônia fazer uma matéria especial sobre ervas típica e plantas
alucinógenas. Pesquisando sobre o assunto em Manaus, ele acaba
conhecendo Serena, uma especialista na flora amazônica, que possui a
peculiaridade de ser meio Dinamarquesa e meio índia (meio a meio
mesmo, com um lado do corpo moreno e o outro loiro) e não possuir os
polegares; Serena lhe apresenta a uasca e oferece seu corpo e após
dias de uma viagem de prazer e delírio, proporcionados pelo sexo e
pelo alucinógeno, nosso repórter resolve relaxar em um bar e se
refrescar com os sucos típicos da região. É quando conhece o
Polaco, ou Josef, o míssil, um esfarrapado bêbado, de rosto
vermelho e sotaque europeu, que vai lhe contando uma fantástica
história de conspiração que envolve um grupo secreto que comando o
mundo, uma misteriosa ceita que, interpretando os afrescos de Luca
Signorelli, nega a evolução humana extirpando os polegares de seus
seguidores; conta-lhe sobre a criação do vírus mais mortal da
história por um desconhecido cientista Americano e sua caçada por
parte dele, Josef, um "opositor" (assassino) para que todos
os segredos permanecessem desconhecidos do mundo, até ali.
Esse livro, foi a primeira
história mais longa que li do autor, e hoje, relendo, posso dizer
que tive a mesma sensação de maravilhamento de quando o abri a
primeira vez, em 2004. Verissimo consegue, de maneira simples, como
é sua melhor característica, utilizando poucos elementos e
personagens marcantes, entregar uma história extremamente divertida
e reafirmar, mesmo com uma obra encomendada por uma coleção
editorial, todo seu talento.
Pela facilidade como o autor
escreve e sua capacidade de ser sucinto, sem deixar nada de fora, o
livro é de leitura rápida, principalmente por ser composto de
apenas cento e quarenta páginas. No entanto, seu tamanho enxuto não
o torna menos relevante ou faz menos justiça a qualidade do autor,
muito pelo contrário, nessas cento e quarenta páginas estão todos
elementos típicos da escrita de Veríssimo, a começar pelo humor.
Seus estilo debochado de contar a história e os elementos
fantásticos e conspiratórios que ele introduz, alternam a
experiência de quem lê de "engraçado" para "faz
sentido" o tempo todo e as figuras exóticas que passam por sua
história são tá fantásticas que bem poderiam ser reais, como a
mestiça Serena, que é meio-a-meio índia e dinamarquesa, tendo em
seu corpo seu equador particular e a frieza e calor de dois
hemisférios distintos, ou o galante e erudito bêbado Polaco,
portador de uma história fantástica e de dúvidas que deixa
pairando na mente do protagonista quando a história se encerra, sem
contar o comerciante Turco dono do bar, figura carimbada na
literatura brasileira e do chefe arrogante de caricato do
protagonista, todos muito reais, apesar de suas peculiaridades
primorosas criados pelo autor.
Verissimo |
O ar cinematográfico é
outro elemento característico de Veríssimo e que não falta a esse
livro. Tal qual a série de contos de Ed Mort, nessa história também
temos um mistério que lembra de longe os antigos filmes de
detetives, com uma investigação efetuada por um agente de uma
agência secreta de assassinos, a caça de um misterioso cientista e
que termina no meio da Floresta amazônica em um final dramático e
repleto de ação, que não deixa nada devendo as teorias de
conspiração mais bem elaboradas e que, se um dia os deuses do
cinema, por sorte, tropeçarem nessa pequena obra, com certeza daria
um ótimo filme, Talvez até, com Polaco sendo interpretado por
Howard Something..Talvez!
Para finalizar, ainda temos as
ferramentas narrativas que Verissimo utiliza para contar a história.
Tal qual a embriaguez do Polaco ou a o estado de semi-torpor do
protagonista causado pela a uasca, a história parece cambalear,
fazer looping, como se entrasse a todo momento em uma espiral e
voltássemos a falar novamente sobre os mesmo assuntos com atenção
em outros detalhes. Assim, pelo ponto de vista de outros e comparando
com os outros personagens, vamos tendo pistas de que as coisas que o
Polaco vai contando não são tão absurdas e que a mente do
protagonista está mais aberta para aceitar a verdade que ninguém
mais quer, fazendo um link diretor entre a uasca, as ceitas
Italianas, o Grupo secreto, a teoria da conspiração e os sucos de
Manaus, de forma que a trama se fecha sem deixar nenhuma ponta solta,
a não ser que aquelas cento e quarenta páginas se duplicasse, para
podermos ler mais.
Pois bem, O Opositor é uma
excelente diversão para uma tarde de domingo chuvosa. Um livro que,
embora pequeno, trás todos elementos que transformaram Luis Fernando
Veríssimo no grande escritor, e que é um achado que me iluminou
nesse último final de semana, tanto que, despertou meu apetite e me
fez separar outro livro do autor caso a chuva teime em não ir
embora. Mas enquanto o fim de semana não chega, vou dar uma olhada
nas ultimas colunas do autor e , quem sabe, recortar do jornal (ou
colar em uma pasta no PC) suas melhores histórias, para ler, quando
algo bacana para ler me faltar.
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