Conheci o trabalho e Nic
Pizzolatto com a primeira temporada da série "True Detective"
e assim como quase todo mundo fiquei impressionado. A produção da
HBO trazia, além de um grande elenco, um roteiro interessante e com
personagens de extrema profundidade e carisma, o que me fez procurar
mais sobre o trabalho do criador daquele universo, que conseguiu
misturar com sucesso o clima Noir com o dos weird tales.
No entanto, não encontrei
nenhum trabalho de Pizzolatto publicado no Brasil logo após o
termino da temporada estrelada por Mattwel McConaughey e Woody
Harrelson então segui na expectativa pela temporada seguinte, que
contaria uma história diferente e com novos personagens e me
satisfiz lendo o livro que inspirou o roteirista a flertar com o
místico e o estranho junto a suas histórias de detetive, o
clássico "O rei de Amarelo" de de Robert W. Chambers .
Então Junho de 2015 chegou e
a segunda temporada de "True Detective" estreou. No
entanto, a nova temporada, embora também tivesse um grande elenco,
não possuía o mesmo carisma e fracassou em tentar repetir o sucesso
da primeira, mas sua estreia serviu como publicidade para que a
editora intrínseca lançasse em nosso país um livro de Pizzolatto,
que nos entregaria um pouco mais sobre aquele mundo corrupto e
cínico, em que transitam em ruas escuras detetives e gângster e,
onde a linha que separa o bem do mal é mais fina do que um fio de
cabelo, foi assim que chegou em minhas mãos " Galveston".
"Galveston" conta a
história de Roy Cady, um assassino da máfia de Nova Orleans, que,
após descobrir que está com câncer e depois que seu chefe se torna
amante de sua namorada, é vítima de uma armadilha armada por seus
próprios companheiros, de onde escapa muito mais devido a seu sangue
frio do que pela sua sorte. Na fuga , ele conhece Rocky, uma jovem
prostituta e com ela resolve fugir para a cidade de Galveston, um
lugar de boas lembranças do passado, onde ele pretende passar seus
últimos dias aproveitando o mar e sendo tudo o que não foi,
ignorando que o passado ainda o espreita e o seguirá aonde for.
O livro começou me
empolgando. Em seus primeiros capítulos ele lembra um pouco a tensão
e clima presentes na obra de James Ellroy, "Los Ageles - cidade
proibida", onde os homens são violentos e frios e, as mulheres
sexys e manipuladoras, a narrativa é rápida e expressa em frases e
parágrafos curtos, nos arremessando para dentro da história sem
explicação prévia, nos fazendo agarrar à visão do protagonista
para aos poucos vislumbrarmos o que está acontecendo naquele mundo
que estamos adentrando de maneira tão brusca e isso é bem bacana.
Somado a esse clima, temos ainda a descrição de cenas cruas de ação
e violência, que te fazem franzir as sobrancelhas e trincar os
dentes, principalmente quando o autor detalha as torturas praticadas
pelo submundo.
Mas apesar desse início
empolgante, o livro se perde em si. Tal qual a segunda temporada da
série roteirizada por Pizzolatto, da segunda parte do livro até o
final , a história parece entrar em um looping que não leva a nada
a não ser destruir todo o clima criado por suas primeiras páginas.
O próprio protagonista, que no início é mostrado como um cara
durão, que beira ao niilismo, aos poucos vai amolecendo, chegando a
constranger o leitor com um capítulo de auto-piedade onde vai
procurar uma ex-namorada para tentar relembrar seus bons momentos,
mas conseguindo apenas páginas e mais páginas de desprezo e
conversa mole que não representam nada para a trama. Por falar em
trama, a partir da segunda metade do livro é que percebemos que o
autor não possuía uma trama para nos apresentar, apenas uma ideia e
a caracterização de alguns personagens bem parecidos com os que ele
apresentou na TV, são páginas e mais páginas ambientadas em hotéis
na beira de estradas, com seus hospedes solitários e marginais, que
pouco, ou nada contribuem no crescimento do protagonista ou da
história e que se, pelo menos, fossem alvos de uma chacina ,
faria sentido com a ideia inicial que parecia surgir nas primeiras
páginas, de um thriller de ação e perseguição maquiado de
roadtrip, mas que ao invés disso, ao final, lembra mais o roteiro de
uma novela da Glória Perez só que (por incrível que pareça) mais
açucarado.
"Galveston" foi uma
decepção! Um livro que tenta flertar com o submundo, mas tropeça
em seus personagens fracos e trama rasa, não consegue manter um
ritmo ou apresentar motivos para que nos importemos com os problemas
de seus personagens, chegando a nos fazer questionar por que o câncer
do protagonista é tão lento. Traz todos os defeitos de roteiro que
fizeram a série escrita por Nic Pizzolato ser cancelada da grade da
HBO, após a decepção da segunda temporada, sem trazer as
qualidades presentes no sucesso da primeira e levam o leitor do nada
a lugar nenhum em chatas 235 páginas, surpreendendo quem descobre,
assim como eu, que os direitos do livro já foram comprados e que o
mesmo deve virar filme muito em breve, para azar da sétima arte, que
parece estar com um câncer em sua criatividade e sorte de Pizzolatto
que deve lucrar alguns milhõezinhos por mais um roteiro ruim e essa
história sim é digna de um Weird Tale.
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