2016
está quase no final e, embora tenha trazido alguns filmes legais,
trouxe tantas decepções com os títulos que vinham a anos sendo
aguardados, que o jeito de equilibrar essa frustração é recorrer
ao underground e ir voltando no tempo para achar algo que valha a
pena ser assistido. Foi assim, retrocedendo até 2015 e procurando
filmes pouco divulgados, que encontrei algo que colocou minha cabeça
entre o "porque não?" e "Que porra é essa?!",
uma trama que fica oscilando entre o cinema minimalista e o visceral,
com um grande elenco, mas sem grande produção, escrito e dirigido
por um cara totalmente desconhecido, mas não por isso pouco
talentoso; estou falando de "Bone Tomahawk", em Western de
terror (se é que este estilo existe) roteirizado e dirigido por S.
Craig Zahler e estrelado por Kurt Russel, Patrick Wilson, Matthew Fox
e Richard Jenkins (fora os reféns), que me surpreendeu em uma dessas
noites sem sono.
Em
"Bone Tomahawk" somos apresentados a pequena cidade de
Brigth Hope, no bom e velho Oeste Americano, um lugar cuja economia
gira em torno da criação de gado de corte e onde algumas vezes no
ano os peões levam o rebanho até os grandes matadouros no outro
canto do estado, deixando a cidade praticamente vazia. É em um
desses períodos, que surge na cidade um desconhecido (David
Arquette) que as autoridades da cidade acreditam se tratar de um
fugitivo após encontrarem roupas sujas de sangue próximas a cidade
pouco depois deste chegar. Após uma discussão em um saloon, o
misterioso forasteiro acaba baleado e preso pelo xerife (Kurt Russel)
e como o médico da cidade não estava presente, para tratar do
detento baleado, o xerife chama a enfermeira Samantha, que deixa seu
marido Arthur (Patrick Wilson) na cama, com sua perna quebrada e vai
cuidar do prisioneiro.
No
entanto, o que ninguém poderia imaginar é que o forasteiro vem
fugindo a dias de uma misteriosa e selvagem tribo de Canibais, que
deseja seu sangue por ter maculado um terreno sagrado e, entrando na
cidade sorrateiramente, esses canibais sequestram o forasteiro
levando junto o jovem auxiliar do xerife e a enfermeira Samantha, não
restando nada as poucas autoridades restantes na cidade (compostas
pelo Xerife Hunt e seu idoso e lento auxiliar Chicory (jenkins))
partir em resgate dos desaparecidos, contando com a ajuda do Dandi e
arrogante John Brooder (Fox) e do debilitado marido da enfermeira, em
uma viagem que testará mais do que a fé do grupo na humanidade e a
confiança em si próprios, mas a própria sanidade de cada um.
Esse
filme é atípico, pelo menos pra mim, que procuro títulos que
foquem mais na diversão ou em tramas que tentam se equilibrar em
um roteiro que busque conversar com o expectador sem necessariamente choca-lo desde o primeiro momento. "Bone Tomahawk", pelo
contrário, é um tapa na cara desde o primeiro minuto de cena,
quando vemos um homem tendo sua garganta cortada por ladrões com uma
faca cega, isso mostra, mesmo antes do nome do filme ser anunciado em
uma tela preta e sonorizada só com o som de estouro, a que o filme
veio e deixa claro aos de estômago fraco, assistam outra coisa.
Chicory & Brooder |
Mas
apesar de ser um filme surpreendente, ele se mostra atípico até
mesmo em seus adjetivos, pois possui extremos de tensão e ação que
te deixam hipnotizados e momentos de total marasmo, que te fazem ter
vontade de acelerar os acontecimentos ou reeditar a película
cortando, pelo menos, quarenta minutos do filme.
No
que tange a parte positiva, se pode falar sobre o início instigante
que já mencionamos, com os ladrões executando alguns pobres
viajantes azarados e os personagens sendo apresentados em todos os
seus esteriótipos e , com certeza, o fechamento do filme, onde o
resgate se dá (não com o sucesso esperado) onde o filme dá uma
guinada de terror e crueza na ação e que assistir, sem fazer uma
carteirinha que seja, não é tarefa muito fácil; destaque para como o
personagem do Patrick Wilson descobre como chamar os Canibais e como
ele realiza essa tarefa e o destino do pobre coitado do mais jovem
assistente do Xerife.
O
ponto ruim é que o filme, por se tratar de uma viagem de resgate,
contem muitas cenas que parecem desnecessárias e diálogos que não
casam com a situação de um grupo que parte em um resgate, tornando
quase todo o segundo arco da trama, onde eles estão no rastro dos
selvagens, uma quebra com o ritmo que era prometido no inicio e
aditivado quando acontecem os sequestros. É cavalo que é roubado, é
perna que infecciona, é confissão de matador de índio, é Xerife
que quer se aposentar; são muitos pequenos plots que rodeiam todo o
universo de Westerm que o autor praticamente lista sem aprofundar
nenhum de verdade e os colocando ali mais como enxerto da trama, do
que para falar mais sobre o passado dos personagens.
Hunt & Arthur |
Falando
sobre os personagens, o roteiro usa e abusa de esteriótipos e
arquétipos dos filmes de westerm para nos entregar quatro personagem
marcantes. Primeiro temos Kurt Russel, no papel do Xerife Hunt, um
velho homem da lei, habituado com ladrões de cavalos e pistoleiros,
é o tipo que atira primeiro e pergunta depois, está próximo da aposentadoria e pretende viver o resto de sua vida tranquilamente com
sua esposa, a participação de Russel nesse filme é tão bacana,
que lhe rendeu um papel no último filme de Quentin Tarantino, "
os Oito Odiados" lançado também em 2015. Nas pegadas do
xerife, segue seu velho assistente chamado Chicory, que é vivido por
Richard Jenkins, ele é um velho viúvo, ingenuo e de inteligência
limitada, que parece estar mais sob a proteção do personagem de
Russel, do que sendo útil a justiça, servido como alívio cômico e
responsável pelas perguntas mais constrangedoras aos demais
personagens; Temos também o arrogante e cínico John Brooder, um
rico e Dândi fazendeiro veterano da conquista do Oeste, que nutre um
ódio secreto por índios por um fato ocorrido em seu passado, de
personalidade difícil e pessimista, o personagem do antigo protagonista
de "Lost", Mathew Fox, é o responsável por mostrar com
clareza como o mundo real pode ser mau e hostil aos desinformados
membros da comitiva de resgate; Para fechar o quarteto, temos Patrick
O'Dwyer, o vaqueiro marido da enfermeira sequestrada, só não foi
viajar semanas antes para levar o gado, por ter quebrado a perna
quando consertava o telhado e mesmo debilitado parte com a comitiva
para salvar sua mulher e é responsável por nos transmitir toda
dificuldade, sofrimento e sacrifício para realizar sua missão.
Mas
mesmo explorando bem os protagonistas, o filme parece ficar devendo
um pouco sobre o universo que eles fazem parte. Pouco é falado ou
presentado sobre a cidade de Brigth Hope ou sobre as famílias dos
protagonistas e a falta que os mesmos podem causar naquela sociedade.
O pouco que temos são personagens periféricos que dão uma ideia
sobre a sociedade de origem dos protagonistas e algumas lembranças,
que são contadas na volta da fogueira mas não mostradas, assim como
a própria cidade, que só é mostrada como uma pequena rua
empoeirada e casas de madeira perfiladas.
Apesar
da Oscilação de ritmo e extremos nas qualidades do filme, "Bone
TomaHawk" é um filme surpreendente e muito corajoso. Repleto de
tensão e crueza, é uma história para quem tem estomago forte e
paciência apurada, mas acima de tudo uma boa opção em um ano com
tantas decepções no cinema. Com um elenco de respeito e um roteiro visceral e sanguinolento, o filme comprova que muitas vezes o
underground e o mais antigo, valem muito mais a pena do que o fruto
da publicidade e do Marketing, então já sabem, em caso de insônia,
dia de chuva ou falta de opção e estiver sentindo o estômago
forte, assista "Bone Tomahowalk" e assista esse filme que
vai te surpreender, mesmo te deixando entre o "porque não?!"
e o "Que porra é essa?"
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