Menos é mais. Essa proposta
que indica que o contrário do exagero é a elegância,
dificilmente cabe em filmes do verão americano, com seus efeitos
especiais de última geração, trilha sonora grandiosa e publicidade
onipresente; no entanto, os filmes de 2016 vem pecando tanto com a
expectativa do público em relação aos blockbusters que obras
menores vem ganhando espaço e chamando a mais atenção, entre
estes, ÁGUAS RASAS do diretor Jaume Collet-Serra, que estreou
despretensiosamente dia vinte cinco de Agosto no Brasil e se destacou
pela utilização de novos conceitos cinematográficos e pela trama
bem construída cheia e de tensão.
Em Águas rasas, acompanhamos
Nancy, uma jovem estudante de medicina, que após a morte de sua mãe,
por um câncer contra o qual lutou durante anos, decide partir em
viagem até uma praia deserta no México, que marcou a juventude de
sua mãe, para surfar nas mesmas águas das histórias que ouvia
quando era criança e se conectar com parte de suas origens. É
passando o dia nessa praia, após visualizar uma baleia morta próxima
a costa, que Nancy se depara com um tubarão branco, que a ataca e a
deixa encurralada a poucos metros da praia. Agora resta a Nancy
buscar uma forma de sobreviver a ameaça, lutando tão bravamente
quanto sua mãe lutou contra a doença.
O filme não é o mais
profundo do mundo (sem trocadilho), trata-se de uma história de
sobrevivência que mistura elementos de suspense e terror no estilo
"Tubarão" de Steven Spielberg, com a ideia de superação
e solidão, como a presente no "O Naufrago" de Robert
Zemeckis, sendo que os destaques da obra ficam por conta da boa
atuação de Blake Lively, da direção pontual de Jaume Collet-Serra
e de como a trama é montada e desenvolvida.
Quanto a Blake Lively, eu só
lembrava dela como a protagonista de Gossip Girl e mesmo assim muito
por cima já que eu não assisti a série e , por conhecer quase nada
do trabalho da atriz me surpreendi com sua atuação, que, embora não
seja digna de um prêmio, convence ao transmitir o pavor e tensão
que a situação exige, ainda mais por ela atuar mais de noventa por
cento da história sozinha, uma situação que sempre foi passada a
atores de carisma e talento já reconhecidos, como o próprio Tom
Hanks em "O Naufrago", mas que Blake Lively conseguiu tirar
de letra.
Para a atriz, que não tem a
maior das experiências e expressão dramática conseguir se destacar
em um filme que atua praticamente sozinha, é preciso uma direção
muito bem calibrada, e, é aí que entra Jaume Collet-Serra. O
diretor espanhol, que apareceu para o grande público com o terror
adolescente "Acasa de Cera" de 2005, consegue apresentar
um filme que lembra os filmes de terror dos anos oitenta, mas
incluindo elementos modernos e dos thillers de ação que também
dirigiu, como o "Noite sem fim" de 2015, com Liam Neeson e
assim entregar um filme com atos muito claros que se destacam pela
luz, fotografia e som diferentes entre si e que somam a montagem para
construir um filme com suspense e terror na medida.
No entanto, o que mais se
destacou, além do já citado é como a trama é montada visualmente.
Podemos enxergar a divisão dos atos do filme pela luz e fotografia,
começando a história com uma iluminação muito clara e com imagens
extremamente bonitas como as dos canais de viagem da TV a cabo, para
reafirmar o ar de paraíso que a protagonista acredita ter
encontrado, depois, já na água, somos presentados a imensidão
solitária do mar e ao antagonista, que ao aparecer transforma o
ambiente em soabriu e sinistro, destruindo a ideia inicial da
protagonista de ter encontrado um lugar perfeiro, por último, temos
a história se fechando em um ambiente hostil, onde a protagonista e
o antagonista se enfrentam em uma fotografia escura e focada em
closes, reforçando a ideia de cerco e a não possibilidade de fuga.
Essa montagem bem dividida me agradou bastante e conseguiu me prender
em cada momento como se cada arco da trama fosse um conto dentro de
uma historia maior, um exemplo de montagem que a Warner , com seus
filmes bagunçados de super-heróis deveria aprender a fazer.
Águas Rasas é um divertido
filme, que surpreende pela parte técnica e pela trama bem
construída. Dentro dos filmes de verão que decepcionaram tanto,
surge como uma opção que, embora não nos faça sair refletindo
sobre a sociedade ou em defesa dos animais, não deixa aquele amargo
na boca de ninguém. Um exemplo raro de que até em blockbusters
menos pode ser mais e que um filme não precisa ser profundo, para
poder contar uma história que mereça ser assistida.
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