Imagina um filme com o clima
dos contos de Lovecraft, onde tudo gira em torno de um escritor de
terror totalmente inspirado em Stephen King, dirigido por um mestre
do terror e produzido no meio dos anos noventa, mas com todo espirito
dos anos oitenta? Parece estranho demais para ser concebido, não?!
Mas existe!! Se trata de "À beira da Loucura" (In the
mouth of madness), distribuído em 1994 pela New Line, dirigido pelo
Genial John Carpenter e estrelado por Sam Neill, que, em um dia de
chuva onde até faltou luz, me trouxe toda aquela sensação que o
falecido "cinema em casa" do SBT me trazia quando eu era um
guri.
O filme acompanha os passos de
John Trent (Sam Neill), um investigador de seguros, que é contatado
por uma editora para encontrar um famoso escritor de terror chamado
Sutter Cane, que desapareceu um mês atrás, deixando um livro
inacabado que já tinha data de lançamento e direitos vendidos para
o cinema. Na pista do escritor, John Trent acaba chegando na pequena
cidade de "Rob's End" acompanhado de uma funcionária da
editora, onde além do escritor, ele encontrará uma verdade tão
grande e destruidora que vai abalar pra sempre sua sanidade
(uuUUUuuu) .
Que - filme – maluco! Para
começar pela escalação de Sam Neill como protagonista, que havia
estrelado Jurassic Park, um dos melhores e mais marcantes filmes do
início dos anos noventa, onde ele interpretava Alan Grant, que
aparecia como um tipo de Indiana Jones da paleontologia em uma
atuação memorável, aí nesse filme, que foi lançado apenas um ano
após o filme do Spilberg, ele parece que sofreu uma amnésia e age
da maneira mais canastrona possível, certo que o roteiro e a direção
pedem aquele tipo de atitude, mas seus trejeitos, risos e choros
(ainda mais depois que o personagem enlouquece) rivalizam em muito
com o Coringa do Jared Leto.
Falando da direção e
roteiro, talvez o grande responsável de o filme ter caído no
esquecimento, seja o fato (além é claro que nesse mesmo ano
estrearam filmes que se tornaram clássicos imediato, como "Pulp
Fiction", "O rei Leão", "Forrest Gump", "O
corvo", "Entrevista com Vampiro" e "Assassinos
por natureza") de que tanto o estilo de como a história é
contada, assim como a forma da direção, estarem fora de seu tempo.
A direção de John Carpenter, embora boa, mas já não na melhor
fase, parece ainda presa aos anos oitenta, trazendo alguns vícios
daquela época onde o diretor se destacou com filmes como
"Halloween", "Enigma de Outro mundo" e "Eles
Vivem" para um tempo onde as pessoas procuravam algo diferente,
com argumentos e questões mais profundas e isso fica claro até no
uso já tardio de efeitos práticos que tentam repetir a experiência
presente nos filmes citados anteriormente do diretor, sendo que isso
acaba datando a produção. O roteiro também fica a desejar,
parecendo copiar o espírito de alguns dos contos de Stephen King,
onde os personagens são envoltos em uma situação muito maior que
eles e da qual é impossível sair, mas a forma caricata como esses
personagens se mostram, não cria o mesmo laço com que King consegue
prender seu leitor, o que transforma uma história que poderia ter um
ar de maior tensão e suspense em uma mistura de terror com comédia,
mas sem ser muito aterrorizante e nem tão engraçado.
Apesar dos erros, uma coisa
que gostei do filme foi o estranhamento que ele consegue passar ao
espectador. A história, por ser contada por um louco, é uma
maluquice em espiral e conforme vai se encaminhando para o final o
clima te deixa meio tonto, no melhor estilo Lovecraftiano, onde eu só
achei uma falha mostrarem os monstros, pois se deixassem a narração
da acompanhante do protagonista, com o olhar do mesmo mirando a
escuridão, acho que imaginação faria um trabalho bem melhor do que
aquele bando de monstro de borracha cobertos de óleo, mas isso não
estraga por completo o lance da loucura e bizarrice.
Tô doidão |
Outra coisa bacana e que
também colabora nesse estranhamento é o clima oitentista. As Ruas e
becos cobertos de lixo, a umidade da cidade grande, o clima
ensolarado e campestre da cidade do interior, tudo isso lembra muito
a "sessão da tarde" e "cinema em casa", sem
contar que a própria interação dos personagens é total dos anos
oitenta, com o protagonista dando em cima da funcionária da editora
desde o primeiro minuto que se encontra com a mesma e ela meio que
aceitando, a mulher ser a descontrolada que enlouquece de primeiro,
sem contar que em um momento de pavor, o protagonista simplesmente
mete um soco na cara da mulher para ela desmaiar e ele poder fugir
com ela, é muita loucura para uma hora e meia de filme.
Apesar de suas falhas e
insanidade, me diverti assistindo "À beira da Loucura". Um
filme que trás um pouco da estranheza dos contos de Lovecraft,
aliadas as ambientações e terror de um Stephen King e ( por que
não?) um pouco das comédias pastelão das tardes de dia de semana.
Uma produção interessante, que mesmo estando fora de seu tempo
(esse filme deveria ter sido gravado em 1985), ainda trás o último
suspiro da genialidade de John Carpenter e só por isso, deixar de
assisti-lo seria, para eu que sou fã, atestar minha total
insanidade.
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