O barulho do trânsito, gargalhadas na mesa
do lado, o telefone tocando, as pessoas falando alto, um copo se estilhaçando
no chão, o filho chamando a todo o momento, o cachorro latindo, a música alta
do vizinho. A vida é um turbilhão de sons tão altos e constantes que depois de
certa idade, o silêncio começa a se apresentar como uma das mais belas melodias
que se pode apreciar. Mas, e se a busca por essa ausência de som deixasse de
ser uma fuga opcional e se tornasse a regra básica para sobrevivência?
Pois o
silêncio é o tenso fio condutor da trama de “LUGAR SILENCIOSO”, filme estrelado
por Emilly Blunt, Millicent Simmonds, Noah Jupe e John Krasinski (que também
roteiriza e dirige o longa) que estreou no último dia cinco de Abril aqui no
Brasil e que vem deixando os espectadores sem palavras.
Krasinski e Jupe (não fala!) |
O longa é uma grata surpresa em meio a
mesmice de filmes de super-heróis e blockbusters descerebrados, apresentando
uma trama original, concisa e extremamente tensa, que faz o expectador passar
todo filme preso na cadeira com medo até de fazer barulho ao engolir a saliva. Comer
aquela tradicional pipoca então, nem pensar!
A história é simples, mas bastante profunda
e lembra um conto curto no melhor estilo Stephen King ou H.P Lovecraft! Na verdade,
guardados os estilos e peculiaridades desses autores, a história de “Um lugar
silencioso” me parece uma acertada mistura de temas que esses dois autores
sempre exploraram em suas obras; com toda ambientação e apresentação do
cotidiano e os conflitos da família lembrando o que King mostra em algumas de
suas obras, como em “O nevoeiro” ou “O cemitério”, e, o recorrente contato com
o estranho e desconhecido, sempre presente nos contos de Lovecraft, que
paralisa e enlouquece qualquer um.
A trama lembra em parte, o filme “Sinais” do
diretor Shyamalan, pela locação situada em uma remota fazenda ou pela situação de
abandono em que os protagonistas se encontram e que não tem a origem revelada;
porém seu clima de tensão remete mais ao novo estilo de suspense, que me parece
ter em “Corra!”, de Jordan Peele, o maior expoente, devida à uma atmosfera opressora que não dá pausa, apenas oscila.
Essa semelhança com o sucesso de 2017 do
diretor Jordan Peele, ainda parece mais justificada quando traçamos um paralelo
entre os diretores, ambos conhecidos por suas carreiras em papéis em comédias
(Peele por “ Key & Peele” e Krasinski por “The Office”) e surpreendentes na
entrega de roteiros originais e marcantes, além de uma direção extremamente
competente.
Blunt & Simmonds (quietinha) |
Gostaria de falar muito mais do filme, mas sou
consciente que FALAR demais sobre essa obra, pode estragar a experiência. Só
posso dizer que “Um lugar silencioso” se tornou para mim um novo clássico de
maneira quase instantânea. Apresentando uma história que não debocha da
inteligência do espectador, mas que nem por isso é rasa ou pouco relevante.
Aposta na tensão constante, mas reserva momentos de pura emoção e sentimento,
agradando tanto pela química que mostra entre seus personagens, quanto pela
inovação com que a história é contada. Um conto de terror com traços dos
grandes mestres, mas que fala por si mesmo até quando ninguém em cena profere
um único som e que, de maneira sútil, nos faz sermos gratos pelos sons de vida
em nosso redor.
Quero ver hoje!!
ResponderExcluir