Tenho imensa dificuldade de escrever sobre
o que, a mim, se encontra muito acima da média. Por esse motivo, dentro dos
estilos que me atraem mais, nunca escrevi sobre o livro “1984” e os filmes
“Batman: Cavaleiro das trevas” e “Capitão América: Soldado invernal”. No
entanto, existe casos tão extraordinários que mesmo sabendo da minha
inabilidade em abordar os porquês de sua real relevância, é impossível não
registrar minha rasa opinião.
Uma dessas exceções é o filme de maior
sucesso do ano, que, além de levantar a autoestima de um público que se via
apenas como coadjuvante, vem colecionando recorde atrás de recorde e mostrando
que o tido como “exótico” ou fora do padrão, quando trabalhado com talento e
honestidade podem ser a receita do sucesso. Trata-se de “PANTERA NEGRA”, o
décimo sétimo filme da Marvel, Dirigido por Ryan Coogler e estrelado por
Chadwick Boseman, Lupita Nyong’o, Michael B. Jordan e grande elenco, que chegou
de forma sorrateira e mostrou suas garras ao mundo.
O Filme consegue dar sequência aos já
habituais sucessos da Marvel, ao mesmo tempo em que inova ao apostar em uma
trama mais séria mirando em assuntos como a questão da crise dos refugiados,
racismo e representatividade, mas sem com isso perder nada em diversão e ainda,
de quebra, apresentando uma mitologia jamais antes mostrada com o valor
merecido, e que disse a quem quis ouvir, com o sucesso do filme, que deve
continuar sendo explorada.
Essa mitologia, que dá protagonismo as cores e ritmos da África, é em
grande parte o segredo do sucesso do filme. A cultura africana, que sempre foi,
de forma preconceituoso, tida como algo de segunda linha e de menor valor para
uma sociedade que sempre foi norteada por padrões europeus e que vem sendo
descoberta como rica e digna de orgulho pelas novas gerações, se une a ficção
científica e uma trama de espionagem para colocar na tela um filme onde o negro
é protagonista de sua própria história e capaz de a resolver sem o intermédio
de nenhum salvador externo seus problemas e os de quem os cerca.
Mas para uma trama que fuja tanto do padrão
habitual fazer o sucesso que o filme vem fazendo, ainda mais dentro do universo
dos super-heróis onde a representatividade ainda é mínima, é necessário um
elenco capaz de fazer com quem assista ao filme acreditar no que está vendo. E
isso é uma das maiores certezas do filme e o segundo motivo que levaram “Pantera
negra” a se tornar uma das dez maiores bilheterias de todos os tempos. Com
atores do nível de Chadwick Boseman , Lupita Nyong’o, Michael B. Jordan, Danai Gurira, Daniel
Kaluuya, Forest Whitaker entre outros,
representando personagens imponentes e orgulhosos, sem dizer que
tridimensionais e sem a mínima carga de submissão a uma sociedade que os
subestima, fica ainda muito mais fácil ao filme divertir, ao mesmo tempo que
passa uma mensagem sutil de amor próprio
e orgulho das raízes, sem precisar diminuir caricaturar ninguém que é diferente.
Sabendo do segredo do sucesso do filme, que, como
já disse, a meu ver, são resultado da química entre a mitologia apresentada e o
elenco de talento, não posso deixar de falar também de outras três peças chaves
em “Pantera Negra”, que são o protagonista que se impõem sem precisar sabotar
os demais personagens, O vilão que consegue passar uma mensagem a ponto de ser
compreendido e a força das personagens femininas que sustentam a trama.
Sempre fico feliz quando a trama não mima o
protagonista, precisando diminuir os que o rodeiam para eleva-lo e, em “Pantera
Negra”, isso acontece abertamente. A história protagonizada por T’challa se
mantém forte, mesmo quando ele não se encontra em destaque, mas quando o mesmo
está em cena, consegue impor sua força a ponto de se tornar marcante, tanto
através dos conceitos e valores que formam o personagem, quanto pela imagem do
herói e da atuação bem a vontade que
Chadwick Boseman consegue transmitir.
Quanto ao vilão Erick Killmonger ,
interpretado por Michael B. Jordan (que mesmo com tudo que faz, o vejo mais
como antagonista), O fato de começar em um papel secundário dentro dos próprios
opositores do protagonista na trama e ir
crescendo a ponto de se tornar um oponente à altura do herói e com motivos
críveis, como a vingança pelo pai e a revolta por ver seus iguais abandonados
por Wakanda, quase fazem que esqueçamos seu extremismo e violência, só
relembrando nas cenas finais do filme, mas que são abafados, ao término da história,
por uma das frases que o filme deixou marcada, colocando Killmonger como um dos
antagonistas memoráveis do cinema atual.
"Jogue-me no oceano com meus antepassados que pularam dos navios, porque sabiam que a morte era melhor do que a escravidão." Killmonger |
Em terceiro, mas não menos importante, temos
a força feminina presente na trama. E que força! Não é preciso muita atenção
para ver que as mulheres dão o movimento ao filme. Seja com a inteligência de
Shuri, a irmã caçula do agora Rei T’challa, que cria diversos dispositivos de
espionagem ao herói, além de ser o personagem responsável pelo bom humor e uma
pitada de inocência na trama, colocando alguns sorrisos e nós na garganta de quem assiste ao filme. Do
mesmo modo temos Nakia (Lupita Nyong’o) que embora interesse romântico do
herói, não se limita ao papel de donzela apaixonada e além de colocar a mão na
massa, trabalhando como espiã e guerreira, ainda trás para o herói,
questionamentos quanto ao posicionamento do país frente aos problemas do mundo
e tomando para si a responsabilidade de defender o reino, quando Killmonger
surge e T’challa some. Também não podemos deixar de falar das Dora Milage, A
guarda pessoal do rei de Wakanda, composta só por mulheres, que tem na general Okoye
(Danai Gurira) seu principal nome; é ela que tem grandes cenas de ação, como no
Cassino clandestino e na perseguição de carros pelas ruas de Seul, mas que
também empresta força dramática ao demonstrar, após metade do filme, o peso da
dedicação total ao estado que o cargo exige e que simboliza o sacrifício de
algumas escolhas exigem, situação que
fala ainda mais alto observando sua condição feminina e os desafios e
obstáculos que nosso mundo impõem às mulheres fortes.
“Pantera Negra” é um sucesso de público e
critica. Surpreendeu o mundo ultrapassando a marca de um bilhão de dólares
arrecadados ao redor do globo e reafirmou o orgulho de um publico acostumado a
se ver no cinema como elenco de apoio ou vilão, quase sempre marginalizado ou
precisando de ajuda. Tornou-se uma marca no cinema e símbolo de orgulho ao
mostrar para sociedade que filmes de pessoas negras, onde a eterna luta para se
destacar contra o preconceito não é o assunto principal, mas sim uma trama onde
o negro, visto como pessoa, seja dono de sua história com altivez e orgulho, dá
destaque ao estúdio e muito lucro, sem contar que gera a empatia em quem, antes
não acostumado a assistir um grande filme ambientado na África (mesmo um África
imaginária) agora enxerga com mais facilidade o negro em todas as facetas, seja
de vilão, herói, piadista, cientista, rei ou soldado mas principalmente longe
do estereótipo.
Por essas e outras acredito que “Pantera
Negra” já é o destaque do ano, mesmo que tenha estreado em Março e se causou
certo desconforto em algumas mentes mais reacionárias que não conseguem admitir
o empoderamento do negro devido a uma África fictícia, mas que vibram com sete
reinos mágicos e Asgards encantadas, a mim só trouxe felicidade por tudo que
expus no texto acima, me ajudando a desbloquear minha capacidade de escrever
sobre algo que, a mim, está acima da média dentre seus iguais e afirmando a
certeza de querer assisti a mais histórias de Wakanda e seu protetor nos
cinemas em breve.
Wakanda Forever!
Muito legal!!
ResponderExcluirErik Killmonger me pareceu um excelente personagem que deu uma boa luta ao protagonista e que inclusive conseguiu roubar alguma atenção dele. Michael B. Jordan me surpreendeu com sua boa atuação. O papel que vai realizar em o novo filme de fahrenheit 451 será uma das suas melhores atuações. Ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Além, acho que a sua participação neste filme realmente vai ajudar ao desenvolvimento da história.
ResponderExcluirConcordo! Jordan vem se destacando muito. É um grande ator e marcou com sua interpretação.
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