Final
de ano não é fácil meu amigo! Eu que elegi o setembro como meu mês de
apocalipse, acreditava que o outubro seria mais tranquilo, mas aí começou o
ciclo de férias de meus colegas e meu trabalho duplicou, vendi meu carro e não
consegui transferir devido à burocracia do banco e, nem mesmo “Blade Runner
2049” consegui assistir no cinema! Mas tudo isso são “White man’s problems”, (mesmo
eu não sendo branco!) e como já faz tempo que sigo a máxima de Confucio de que
“Se o mundo está de pernas para o ar, queixo pra cima”, resolvi desencanar e
dar uma relaxada. Foi quando fui surpreendido por um presente entregue pela
emissora inglesa Channel 4, a todos fãs de Philip K. Dick, a produção “Electric
Dreams”, uma série antológica onde cada episódio é baseado em um conto do autor
e que mudou o status do meu mês de “tem que melhorar”, para “nada mau”!
A
Série, que contará (pois no momento que escrevo se encontra na metade) com dez
episódios em sua primeira temporada, estreou no canal inglês nesse último dia
17 de Setembro e traz em seu elenco grandes nomes do cinema para dar vida aos
personagens imaginados por Dick, como Benedict Wong (“Dr. Estranho”), Steve
Buscemi (Cães de aluguel), Terrence Howard (Homem de Ferro), Bryan Cranston
(Breaking Bad), Vera Farmiga (Invocação do Mal) entre muitos outros atores e
atrizes que, somados a diretores conhecidos do publico gringo, dão peso a
produção da terra da rainha.
Até
o momento assisti aos quatro primeiros episódios e o que posso dizer é que a
série consegue adaptar com bastante competência todos os conceitos,
questionamentos e estranheza que marcam as obras de Philip K. Dick, com a
vantagem de ainda possuir todo charme das séries inglesas, que sempre me
pareceram menos voltadas para efeitos especiais mirabolantes e mais inclinadas
para o roteiro e realização da história.
Sobre
esse peculiar clima inglês presente na série, o próprio canal responsável pela
obra carrega uma grande parcela do crédito. Já calejada em produções de sucesso,
como a minissérie de terror “Dead Set” e sendo quem transmitiu originalmente as
duas primeiras temporadas da aclamada “Black Mirror” (ambas as obras de Charlie
Brooker), o Channel 4 segue levando ao público um conteúdo que atende as
expectativas de quem é fã de ficção científica ou de realidades fantásticas,
mas sem perder aquele clima melancólico e acinzentado da Inglaterra e que
parecem aproximar as situações mais absurdas com a realidade.
Mas
chega de falar de produção e vamos ao que interessa: As histórias.
Como
eu disse acima, a série segue o tom dos questionamentos que pautaram toda a
obra de Dick, como sua dúvida sobre o que é a realidade, o que nos torna
humanos e nossa evolução como espécie, só que de uma maneira muito mais fiel à
obra do escritor do que qualquer outra adaptação fez anteriormente, pois embora
muitos dos contos e livros de PKD tenham sido levados para o cinema (o próprio
Blade Runner é o maior exemplo) muito se utilizou do conceito, mas quase nada
teve daquele espirito psicodélico que mesclava o quase absurdo (dê uma olhadinha no livro UBIK) com visões de um futuro não muito otimista e dúvidas
humanas, coisa que essa antologia fica muito mais próxima, o que agrada muito a
quem é fã, mas pode causar um estranhamento a quem só conhece o escritor por
suas adaptações cinematográficas.
Steve Buscemi, como Ed |
Robô RB29, do ep: "Planeta impossível" |
Gostei
bastante dos episódios que assisti. O estilo puro de Philip K. Dick, abordando
o futuro, dimensões paralelas, inteligência artificial, sem negar os
questionamentos humanos, misturado com o estilo inglês de produzir TV, que além
do clima britânico que transmite todo um ar de melancólico ainda brinca com as
cores, dando mais tons pastel quanto mais imaginativa e estranha é a situação, conseguiu
me segurar até o final de cada episódio.
Então, se você quiser mergulhar em um universo
baseado na mente brilhante de um dos grandes nomes da ficção científica e que
mudou o status do meu mês, assista a “Electric Dreams” e dê uma chance para
toda maravilha e estranheza que são frutos da Obra de Philip K. Dick.
Fica
a dica.
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