"O Loki, o Nick Fury e a
Capitã Marvel entram em um navio junto com o Fred Flintstone para
viajar para uma ilha onde mora um gorila Gigante...". Poderia
ser o início de uma piada ruim, mas é a base do filme "KONG –
A ilha da Caveira", escrito por Dan Gilroy, Derek Conoly e Max
Borenstein; responsáveis, respectivamente por obras da magnitude de
"Gigantes de Aço (2011)", "Monster Trucks (2016)"
e "Godzilla (2014)", que insatisfeitos com suas
colaborações solo, uniram forças para tentar levar a óbito uma
franquia nascida em 1933.
O ano é 1973 e as forças
armadas americanas estão começando a se retirar do Vietnam, em meio
ao tumulto, Bill Randa (John Goodman), responsável pela organização
Monarch, após prometer a aquisição de riquezas minerais que podem
cair em mãos russas, recebe recursos do governo dos EUA para se
dirigir a uma misteriosa ilha no pacifico. Temendo por sua segurança
e dos cientista sob sua responsabilidade, Randa também solicita
escolta militar e recebe proteção da equipe comandada pelo Coronel
Packard (Jackson), que os leva até a ilha juntamente com a fotógrafa
Manson Weaver (Brie Larson) e o especialista em sobrevivência James
Conrad (Tom Hiddleston). No entanto, o verdadeiro interesse de Randa
nada tem a ver com dinheiro, mas em mostrar ao mundo que monstros
existem e que nós, humanos, somos apenas convidados ignorados em um
mundo mais feroz que imaginamos e isso se revela quando o grupo pisa
na nada amistosa ilha da caveira, o lugar de fotografia mais bela do
mundo, mas que rivaliza em roteiro mais Trash com o King Kong do
Peter Jackson.
O filme é bem Ruinzinho! Não
chega a ser um Transformers ou algo do gênero, mas se esforça
bastante. Para se ter uma ideia, a produção conta com duas cenas
Gigantescas de ação, a primeira quando o grupo de cientistas chega
na ilha e se depara com o King Kong e a segunda no desfecho do filme,
que duram mais de vinte minutos cada, em uma história de duas
horas;ou seja, são intermináveis 33% do filme resumidos a
explosões, gritos e mortes, algo que certamente deixou Michael Bay
orgulhoso, mas que tira do espectador a capacidade de se importar com
os personagens da trama, que diga-se de passagem são muitos e muito
mal aproveitados.
Somando-se as intermináveis
cenas de ação, que transparecem uma necessidade de manter a
história sempre em um nível de adrenalina e tensão máximo, o
roteiro ainda deixa a sensação de que tudo que acontece poderia ser
resolvido sentando, conversando e buscando informações de forma
racional sem arriscar a vida das pessoas envolvidas. Vemos isso
quando analisamos as decisões da equipe, que resolve atravessar uma
tempestade para chegar a uma ilha desconhecida e cria pontos de
encontro sem nem mesmo fazer um reconhecimento do terreno , o que era
fácil, pois estavam de helicópteros!!! Essa dificuldade de
raciocínio só se mostra maior, quando, ao serem atacados por um
Gorila do tamanho de um prédio, resolvem revidar, ao invés de
reagrupar e se retirar de um local pouco convencional, por assim
dizer, em uma sequência de erros que nos faz entender porque os EUA
perderam a guerra do Vietnã para meia dúzia de fazendeiros.
Além disso, o filme ainda
sinaliza que toda pessoa com poder sobre uma organização é um
sociopata irresponsável em potencial. Tanto Randa, que é vivido por
John Goodman, quanto Packard, interpretado por Samuel L. Jackson, são
dois malucos sem precedentes que qualquer pessoal com mais de dois
neurônios não seguiria após cinco minutos de conversa, com a
vantagem de que o personagem de Jackson, tem a desculpa de ser um
militar que vê na guerra seu único motivo de estar vivo, enquanto o
de Randa, que confessa ser o único sobrevivente de um navio atacado
por um monstro quando jovem, um idiota que quer apenas provar ao
mundo que não era maluco e que para tanto se mostra um maluco.
Quem tem a melhor levantada de sobrancelha? |
O filme ainda conta com o
maior desperdício de talento da história do cinema, colocando
atores do nível de Tom Hiddleston e Brie Larson, sem contar com
Toby Kebbell e os já comentados Goodman e Jackson, para
interpretarem personagens unidimensionais e esquecíveis. Toby
Kebbell, que protagonizou meu episódio favorito de "Black
Mirror", segue seu vacilante destino após o tenebroso Quarteto
Fantástico (2015) fazendo o papel de um piloto que acreditamos ter
relevância até o momento que um lagarto gigante vomita seu
esqueleto (sim é isso!), já Hiddleston e Larson, fazem o papel dos
piores profissionais em suas áreas, ele o de um rastreador e
especialista em sobrevivência, que não consegue salvar quase
ninguém que está sob sua proteção e ela uma fotógrafa premiada
que vai em uma ilha selvagem, cheia de monstros, encontra caveiras
gigantes, dinossauros, entre outros animais misteriosos e se preocupa
mais em tirar foto da tripulação do navio, sem contar que está
sempre com uma cara de pasma e com a sobrancelha levantada no pior
estilo Sandra Helena da novela "Pega-Pega".
Mas não se desespere ó
leitor, o filme tem coisas boas, como a trilha sonora e a fotografia.
A trilha sonora, como um filme que se passa nos anos setenta é
recheada de rock clássico contendo "Paranoid" do Black
Sabbath, "Bad moon Rise" do Creedence e até "Brother"
do nosso grande Jorge Ben, em momentos bem oportunos do filme e que
dão sentido as cenas que estão acontecendo ou situações que estão
por vir, o que é complementado pela fotografia maravilhosa e
palhetas de cores quentes que dão o ar tropical e fantástico da
produção, mas que, infelizmente é um tanto comprometida pelo vício
do diretor em repetir a exaustão em mostrar o pôr do sol na
terrível ilha ( que faz parecer que a equipe passou meses no lugar
ao invés de três dias) e o recorrente uso do recurso da Câmera
lenta, proporcionando até cenas de humor, onde se esperava tensão,
com destaque para o close em Jackson encarando o Kong e os soldados
passando correndo pegando fogo e o personagem de Hiddleston cortando
os mini pterodáctilos com uma espada.
Por do sol |
Mas se você passou a semana
toda forçando seu cérebro no serviço e quer só deitar no sofá e
assistir monstros gigantes se digladiando, explosões arrasadoras,
muitas mortes e uma fotografia linda com uma trilha sonora de
respeito, nada tema, clique no play e se delicie com essa produção
de cento e oitenta e cinco milhões de Dólares e dois salgados e um
refri de roteiro e fique tranquilo, apesar de não honrar o nome de
uma franquia de mais de oitenta anos, a produção não consegue ser
pior (ou mais chato) que o tenebroso filme de Peter Jackson de
2005.
Pra fechar, achei bacana a
decisão do roteiro em deixar Kong na ilha ao invés de leva-lo
acorrentado para os EUA, até porque Kong estava na ilha desde antes
da segunda guerra e Macaco velho não bota a mão em cumbuca
(Pá-bum-tss), mas me entristeceu saber que esse filme terá uma
sequência em 2019, onde o rei dos Kong enfrentará ninguém mais,
ninguém menos que Godzilla e que eu terei de ir ao cinema pois meu
filho é o fã mirim numero um do monstro japonês....pois que comece
a preparação para o roteiro de Dan Gilroy, Derek Conoly e Max
Borenstein e que Deus nos ajude!
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