Estava
conversando com um colega de trabalho sobre as séries novas que
estrearam esse mês e em um determinado momento ele disse que odiava
o mais conhecido serviço de streaming disponível no mercado (não
vamos fazer propaganda de graça hoje), segui conversando, mas uma
dúvida foi plantada na minha cabeça: “Por que alguém odiaria
algo voltado para o entretenimento?”, pensei e pensei, mas não
encontrei uma resposta adequada, a não ser que as vezes as pessoas
são babacas e precisam odiar algo, seja a editora de quadrinhos que
rivaliza com a da sua preferência, seja um pintor ou escritor de
destaque, ou, o canal de TV aberto que disponibilizou a todos aquela
série que na sua cabeça era só sua e assim por diante. O pior é
que, infelizmente, esse comportamento faz parte da característica
humana, ajudando algumas pessoas a se autoafirmarem, sem que elas
percebam que a mesma atitude as impossibilita de se surpreender
positivamente com algo que se opuseram antes de conhecer.
Uma
produção que é o exemplo máximo dessa intolerância baseada
apenas na vontade de ser contra algo, é o filme que ganhou o amargo
título de trailer mais odiado do Youtube e que, até hoje, quando eu
o menciono, ouço aquela frasezinha, “esse filme é um lixo”,
mesmo que após, a mesma pessoa complemente “mas eu nunca
assisti!”. Estou falando de “CAÇA FANTASMAS” de 2016, reboot
da clássica comédia dos anos oitenta, escrito e dirigido por Paul
Feig e estrelado por Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Kate McKinnon,
Leslie Jones e grande elenco, que estreou nos cinemas brazucas em
Julho deste ano e que mantendo a minha tradição, só conseguir ver
recentemente, mas que foi uma agradável surpresa, mostrando que,
quem busca algo para odiar, principalmente algo que só tem a
intenção de divertir (e ganhar dinheiro), tem mais a perder do que
a ganhar.
Ecto-1 |
Caça
Fantasmas”, conta a história de um grupo de cientistas que se unem
para capturar fantasmas (ou melhor dizendo, manifestações
ectoplásmicas), que começam a aparecer na cidade de Nova York. Tais
fenômenos se intensificam logo após o livro que duas delas
publicaram, onde admitiam a existência de assombrações, voltar a
ser vendido, o que acaba por destruir a reputação de uma das
autoras (Erin (Kristen Wiig)) na faculdade onde lecionava e a força
a um reencontro com sua ex-amiga e co-autora da famigerada
publicação, Abby (Melissa McCarthy), que trabalha em uma
instituição menos respeitada com sua nova amiga Jilian (Kate
McKinnon), as três começam a investigar os fatos na busca de
reconhecimento de suas teorias e assim acabam por conhecer Patty
(Leslie Jones) uma funcionária do metrô e de grande conhecimento da
história da cidade, que vê um fantasma em seu local de trabalho e
aos poucos começa a ficar fascinada pelos eventos e acaba se unindo
ao grupo. Juntas, essas quatro mulheres descobrirão um terrível
plano para quebrar a barreira que separa o nosso mundo, do mundo dos
mortos e buscarão superar toda falta de confiança e crédito que
recai sobre elas, para assim salvar o dia.“
Meu
amigo, vou te dizer, achei “Caça Fantasmas” um filme bem legal!
Paul Feig é um competente roteirista e diretor e quando foi
anunciado que ele era o responsável pelo reboot eu fiquei mais
tranquilo, pois algo que eu não poderia engolir seria um caça
Fantasmas cheio de explosões e gritaria, como fizeram com
“tartarugas Ninja” e sabendo que não é o estilo dele apresentar
comédias exageradas e ação
forçada,
se atendo no estilo parecido com o dos filmes originais, sabia que o
que eu veria, embora não fosse revolucionário, não seria
pretensioso ou deprimente, qualidade que ainda foi aditivado com o
talento para comédia das atrizes que protagonizam a produção e das
diversas homenagens que a história faz ao clássico de 1984.
O
filme é uma comédia “sessão da tarde”. Não depreciando a
produção, mas exaltando aquele tempo onde filmes divertidos
passavam a tarde na rede plim-plim e nos prendiam na frente da TV
durante um bom tempo, ou seja, é um filme para a família sentar na
frente da televisão, com um balde de pipocas e dar boas risadas
juntos, sem a intenção de se tornar um clássico ou fazer alguém
refletir sobre um assunto sério. Desse modo, as atuações não são
e nem precisam ser brilhantes, o que por outro lado não impede de
serem engraçadas e caprichadas, começando por Kate McKinnon, que
interpreta a engenheira mecânica Jillian, roubando a cena com sua
estranha personalidade e aparente indiferença, tudo isso somado a um
sorriso meio insano que a acompanha em todos os momentos; outro
destaque é o retorno de Kristen Wiig as comédias mais frouxas,
relembrando muito seu tempo de Saturday Night Live, assim como
Melissa McCarthy e Leslie Jones, que
embora
não fujam de seus papéis habituais, não decepcionam ou desaparecem
frente ao destaque das outras duas. Mas, para mim o maior destaque,
além da química que as atrizes têm entre si, é a participação
de Chris
Hemsworth (
O Thor da Marvel)
como o telefonista Kevin, o cara está muito engraçado e bem
diferente dos papéis habituais que está acostumado a fazer, sendo a
cena onde as protagonistas saem dançando e comemorando, após
capturarem seu primeiro fantasma e, Hemsworth
entra dançando com Leslie Jones, uma das que me fez rir mais.
Harold Ramis (O Egon de 1984) |
O
filme também traz diversas referências e homenagens ao original
dirigido por Ivan Reitman. A Mais marcante é a presença de um busto
do falecido
ator
Harold Ramis, que, com Dan Aykroyd, foi o roteirista do filme de 1984
e ainda interpretou o personagem Egon e, o mais bacana é que essas
homenagens povoam a história do início ao fim, contando com a
participação de quase todo elenco do filme original, assim temos
Bill Murray como um cético caçador de fraudes sobrenaturais, que
paga caro por sua arrogância, Dan Aykroyd, como um taxista que
parece saber bem mais sobre fantasmas do que o normal, Ernie Hudson
como o tio da personagem da Leslie Jones, Anie Potts, como a
recepcionista de um hotel e Sigoumey Weaver como a mentora da
personagem de Kate McKinnon, além de menções ao fantasma Geléia e
ao monstro de Marshmallow, só
faltou o Rick Moranis.
Junto
com as homenagens e menções, temos as releituras de algumas cenas e
explicações sobre algumas questões que não eram abordadas nos
outros filmes, que ficaram bem bacanas. A
principal questão da trama, penso eu, é como as personagens se
transformam em uma prestadora de serviço, pois no filme original,
parece que o plano dos protagonistas é abrir uma empresa desde o
princípio, já no novo filme, tudo ocorre de maneira acidental e a
ideia surge como interesse científico, que acaba, ao final, se
tornando uma fonte de renda quando passa a ser um prestador de
serviço para a prefeitura da cidade. O fato de os raios de prótons
não poderem se cruzar fica mais claro nessa versão, se explicando
que a soma de energia com o cruzamento pode deixar o equipamento
instável (ou algo assim). Além disso, temos uma releitura da cena
onde as três cientistas filmam o primeiro fantasma, que no filme de
1984 está empilhando livros em uma biblioteca e nesse é o fantasma
de uma assassina que morreu encarcerada pelo pai em sua própria
casa, as cenas são muito semelhantes, com o fantasma lívido
observando os personagens, quando de repente se torna assustador,
atirando gosma para todos os lados; Também temos um embate final
parecido, com as Caça Fantasmas se defrontando com um monstro
gigantesco, onde o buscar mandá-lo de volta através da barreira, me
parece mais coerente do que tentar explodi-lo, até porque se ele não
está vivo, do que adiantaria?
Por
tudo isso, achei “Caça Fantasmas”, de Paul Feig, um divertido
filme, que apesar de utilizar o original como base, se sustenta
sozinho e não pretende nunca ofuscar ou superar o primeiro, mas que
nem por isso, parece
ser inferior. Um
filme para se divertir, mas que consegue ter aquela dose certa de
acidez e ironia,
para debochar até mesmo dos haters do youtube que elegeram seu
trailer como o mais odiado de todos os tempos e que para o amargor
dessa gente, ainda termina com uma cena pós créditos onde a
personagem da Leslie Jones, após ouvir uma fita com um áudio
gravado em um suposto prédio assombrado questiona “Quem é zuul?”
(Eu sei!) indicando
uma possível sequência.
Caça
Fantasmas é o exemplo de que até mesmo algo que é totalmente
diferente do que nós queremos, pode ser muito divertido e
surpreendente. Não há a necessidade de procurar defeitos ou
levantar bandeiras de ódio contra coisas que não representam a
gente, basta não assistir, ou assistir e mudar de ideia. As pessoas
estão se tornando extremistas demais, defendendo com unhas e dentes
apenas o que lhes agrada por retratar traços de suas personalidades
ou a representação de seus aspectos físicos e isso não é certo,
pois há e sempre haverá espaço para todos, principalmente nas
artes e se você não consegue enxergar isso, talvez seja a hora de
cruzar os raios de prótons e banir esse monstro gigante que existe
dentro de você para outra dimensão, antes que ele cause danos a
você mesmo. Então, relaxe, faça um balde de pipoca, assista Caça
Fantasmas e dê uma chance ao novo e a você mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário