Quando eu era adolescente, meu
super-herói preferido era o Wolverine! O mutante canadense era tudo
que um guri de quinze anos gostaria de ser, durão, pegador, rebelde
e, ainda por cima, imortal. Mas os anos noventa passaram e os filmes
dos X-Men chegaram ao cinema apresentando uma versão do personagem
que me incomodou, pois não conseguia me trazer o que o mutante tinha
nos quadrinhos, que se impunha e destacava não só pelos adjetivos
listados acima, mas também por uma profundidade que foi trabalhada
por anos com a ajuda de diversos roteiristas e que me mostrava o peso
e o amargor que Logan carregava por ser quem ele era, o que nuca
conseguiu ser alcançado com os filmes da Franquia X, em especial com
as produções solo do personagem, que reduziram aquele simbolo de
rebeldia e força, a um esteriótipo de ação que para ganhar
destaque obrigava o roteiro a diminuir os coadjuvantes.
Mas eis que nesse mês de
Outubro, a Fox lançou o trailer de "Logan", terceiro filme
do Wolverine e último tendo o ator Hulg Jackman interpretando no
cinema o mutante mais famoso da Marvel, e pela primeira vez em muito
tempo, meu coração bateu mais forte e comecei a acreditar que dessa
vez vou ver no cinema tudo aquilo que quando era Jovem me empolgava
ao ler suas histórias.
O terceiro filme do
Wolverine, terá o discreto título de "Logan" e se passará
em 2024. Nele encontraremos um Wolverine mais velho e começando a
perder seu fator de cura (mutação que o torna virtualmente
imortal); ele cuida de um idoso e debilitado Charles Xavier e os
mutantes estão desaparecendo (mas nada ainda foi revelado sobre
isso). É quando surge uma misteriosa menina (que, de acordo com o
estúdio será a X-23, uma clone de Wolverine) que traz em seu encalço
um grupo militar conhecido como Os carniceiros e, a pedido de Xavier,
Wolverine irá se tornar tutor da menina e defende-la desse grupo de
caçadores de mutantes com todas as forças que ainda lhe restam.
O Trailer de "Logan"
deixou muita gente, assim como eu, boquiaberta. O clima de solidão,
tristeza
e a necessidade do personagem voltar a ser quem era, dão a medida
exata de tensão e angustia que um filme precisa para se tornar acima
da média em seu
gênero. Os
elementos presentes no trailer o transformaram em um
sucesso instantâneo, lhe
dando status de viral,
que foi compartilhado não só por sites de cultura pop, mas por
jornais e até revistas especializadas em carreira (sério, eu vi na
minha time line!), fomentando a expectativa pela estreia do terceiro
filme do mutante canadense, que estreará no verão de 2017. No
entanto, nem todos os
fãs do herói são leitores de quadrinhos e sabem que a produção
vindoura foi baseada em
uma série de histórias lançadas
pela Marvel em 2008,
escrita por Mark Millar e desenhada por Steve
McNiven; trata-se
de "Velho Logan"
que,
com
certeza,
para quem, assim como eu, está ansioso para assistir ao mais
novo
filme do Carcaju, pode
ser uma ótima maneira de aplacar essa ansiedade e se aprofundar na
angustia do personagem em uma trama muito bem elaborada e
maravilhosamente desenhada.
A
história de "Velho Logan" se passa em um futuro distópico
que ocorre depois que todos os vilões do universo Marvel, se uniram
e atacaram todos heróis de surpresa, matando quase todos e tornando
os Estados unidos um grande território dividido entre quatro dos
mais fortes, Magneto (depois conquistada pelo Rei do Crime), Dr
Destino, Caveira vermelha e Abominável, mais tarde conquistada pelo
maligno, (imaginem só) Dr Bruce "Hulk" Banner.
É
no território do Hulk, que encontramos um Logan velho, casado, pai
de dois filhos e vivendo como fazendeiro; pagando proteção para a
Gang do Hulk para manter sua fazenda e tocar a vida como pode. Mas
problemas surgem e as dívidas começam a se acumular, colocando em
risco a segurança da família do velho mutante, é nessa que um
antigo amigo surge com uma oportunidade, O Gavião arqueiro, um dos
poucos heróis a sobreviverem aos planos dos vilões, que agora é um
contrabandista cego, pede que Logan o ajude a levar um misterioso
carregamento até a costa Leste dos Estados unidos, prometendo o
dinheiro suficiente para quitar a dívida com a família de Banner.
Assim começa a história em um clima de Road trip, onde aos poucos a
história vai nos mostrando o que de fato aconteceu com os heróis,
com seus descendentes, com a sociedade, com os vilões e
principalmente, o que traumatizou tanto o velho Logan a ponto de
torna-lo um recluso e cabisbaixo fazendeiro no interior.
Lembro
que quando terminei de ler a série, pensei que aquilo tudo tinha um
potencial gigantesco para se tornar filme, mas tendo o fato de os
diretos de uso dos personagens no cinema o grande empecilho, situação
que foi adaptada pelos roteiristas de "Logan" no vindouro
filme do Wolverine, que, seguindo algumas dicas do criador a
história, Mark Millar, atrelaram a trama apenas ao universo X-men,
pertencente a Fox.
A
trama do filme que estreará em 2017, trás como principais
antagonistas o grupo, que nas HQ's são um bando de ciborgues
caçadores de mutantes, conhecidos como Carniceiros, sem,
aparentemente, perder a atmosfera de repressão, frustração e
angustia que vemos na HQ original. No entanto, a forma como Millar
cria um mundo distópico nas HQ's, por onde um Wolverine que desistiu
de ser quem era se arrasta, é de uma riqueza brilhante que faz quem
começa a ler, devorar edição atrás de edição sem pensar no
tempo que está gastando para tal; eu mesmo li a obra em um dia e
passei o resto da semana relendo e analisando cada pequena questão
sobre o que ocorreu com aquele mundo.
O
mais rico de "Velho Logan" são os personagens que habitam
na história e o que a situação os levou a se transformarem, com
destaque para o grande vilão da trama, que é o Hulk e sua Gang.
Bruce Banner se transformou em um patriarca de uma família de
rednecks, que vive em um acampamento trailers, seus filhos e netos
são apresentados como truculentos e deformados caipiras, que
espalham o terror contra quem não seguir seus ditames. Banner, que
chega a explicar que teve de "casar" com sua prima (a
mulher-hulk) pois só ela "aguentava o tranco, age com
selvageria cometendo atrocidades contra seus protegidos e chegando a
comer seus inimigos vivos. Também somos apresentados a versão idosa
de um lunático caveira vermelha, que se veste como Capitão-América,
mora na casa Branca e coleciona peças de super-heróis mortos, como
a armadura do Homem-de-ferro, o capacete do Nova e a mão do Coisa;
também nos é apresentado o paradeiro de alguns sobreviventes que não
são mais heróis, tais como Raio-Negro (ex-rei do Inumanos) e a
Rainha Branca, que vivem um refúgio para pessoas especiais, como os
poucos mutantes que sobreviveram.
Mas
o mais bacana na história, ainda é a busca pela resposta sobre o
que aconteceu com o Wolverine e isso é revelado quando sua viagem
com o gavião Arqueiro está quase para acabar. Temos um diálogo que
parece prever exatamente o sentimento do gavião Arqueiro do cinema,
que sempre foi menosprezado e, que nessa história de 2008, abre o
coração para Wolverine, ao dizer que acha que só não foi morto
porque acredita que os vilões o achavam insignificante e , um
Logan, deixando claro, mais tarde, que a única forma de destruir
alguém que não pode ser morto é quebra-lo de dentro para fora e,
quando a verdade vem a tona e descobrimos porque ele desistiu, vemos
que a morte teria sido melhor para o mutante.
A
história ainda termina com um arco esmagadoramente triste e empolgante pelo desejo de vingança, quando temos o bom e velho
Carcaju cobrando o mal que lhe fizeram, aí quem achou que era mais
do que realmente era paga caro pela prepotência e , sem querer dar
spoilers, sangra verde...e muito !
"Velho
Logan" é uma das melhores histórias em quadrinhos que li,
depois que voltei para o mundo das HQ's e o personagem dessa trama,
foi tão bem aceito, que acabou virando uma série mensal da Marvel e
jogado no universo 616 (o das revistas mensais) logo após a morte do
Wolverine, ocorrida em 2014, não mais escrita por Mark Millar, mas
mantendo a mesma pegada, contando a história de como esse Wolverine
velho, acaba vindo parar em nosso tempo, onde busca acabar com os
vilões antes que estes se organizem contra os heróis.
Recomendo
que, quem gostar de quadrinhos e estiver na expectativa do filme
"Logan" leia o quanto antes, tanto a série "Velho
Logan", quanto a revista mensal, que está bem acima da média.
Enquanto isso, vamos acompanhando as notícias sobre "Wolverine
3" e torcendo para que o filme consiga ser melhor que o trailer
e tão bom quanto a história apresentada por Mark Millar. Que venha
2017 de uma vez !