Dia 11 de
Junho de 1986, estreava nos cinemas o filme que viria a se tornar o maior
clássico da sessão da tarde de todos os tempos, ”Ferris Bueller’s day off”, ou
como ficou chamado no Brasil “Curtindo a vida adoidado”, e eu, que tive minha
personalidade moldada pela TV dos anos oitenta (e isso explica minhas piadas
sem graça e respostas sem sentido), não poderia deixar passar em branco o
trigésimo aniversário dessa obra prima.
O filme foi
escrito e dirigido por John Hughes, famoso cineasta responsável por muitos
filmes de temática jovem dos anos oitenta como “Gatinhas e gatões” e “O clube
dos cinco”, além de escrever o roteiro de “Esqueceram de mim” e, estrelado por
Matthwel Broderick no papel de Ferris Bueller, um adolescente do último ano do
ensino médio que, ao saber que sua entrada na faculdade pode estar sendo
ameaçada pela sua infrequência nas aulas, resolve matar aula pela última vez e
convoca sua namora e seu melhor amigo para aproveitarem o que há de melhor na
cidade vivendo altas aventuras.
Para começar
eu acho “Curtindo a vida adoidado” um clássico não por ser um filme com um
roteiro fantástico ou com parte técnica intocável, como um “psicose”, “Cidadão
Kane” e “Ikiru”, o filme é um clássico
porque é um daqueles que todo mundo ou
já ouviu falar, ou já assistiu; uma obra tão marcante, que coloquei a
sinopse apenas por obrigação porque todo mundo conhece a história.
Um dos
responsáveis por criar essa marca foi Matthwel Broderick com uma atuação tão
estupenda, que soterrou todos outros papéis que o ator veio a fazer depois. Sempre
enxerguei o Ferris apresentado por Broderick como um super-herói, muito além
dos problemas das pessoas comuns e talvez esse seja o motivo dele ser tão
lembrado e tão referenciado, Ferris não tem dúvidas, não demonstra medo nem
quando se depara com o pai no táxi ao lado ou com o diretor na porta de casa,
além de ter um talento de convencer qualquer pessoa, cativar todos com quem tem contato e ser querido por
todo mundo; se ele falasse apenas com Cameron (seu melhor amigo) se poderia
dizer que Ferris é uma criação da cabeça do amigo e que nem existe, tal qual
sua falta de dificuldade que tem em tudo. Falando em Cameron, depois de
reassistir “Curtindo a vida adoidado” fiquei pensando que ele é, de certa forma,
o verdadeiro protagonista, pois a jornada dramática é toda dele e é ele quem
tem a grande mudança ao final do filme, pois, ao contrário de Ferris que é só
vitória, ele tem todas dificuldades do mundo, seus pais não se importam com
ele, ele está sempre doente, tem medo de tudo, não tem personalidade e depois
de um dia vivendo tudo que a cidade tem a oferecer e destruir uma Ferrari,
termina a história mais decidido e disposto a enfrentar suas dificuldades de
frente.
Ainda sobre
esses dois personagens, a própria amizade de Ferris e Cameron não faz muito
sentido. Ferris, como diz a secretária do diretor, é amado pela equipe de
xadrez e pelos jogadores de futebol americano, sua amizade com uma cara
depressivo e apresentado como uma das pessoas menos legais da escola como
Cameron é algo irreal. A não ser que sua amizade com um cara tão destoante de
si seja para, em comparação com seu amigo, parecer que ele é ainda mais
brilhante do que já é, e prestando a atenção em Bueller no filme isso parece
crível, pois quando ele está ao lado de Cameron parece se destacar ainda mais
com o que apronta, sem contar que o amigo é rico, sem personalidade e tem
acesso aos carros do pai, o que o torna útil; essa teoria é de fácil aceitação
porque prestando atenção nos detalhes percebemos que Ferris é um tremendo FDP e
isso fica claro ao pensar que ele hackeia o sistema da escola para deletar suas
faltas, mente para seus pais para poder matar aula, manipula Cameron, humilha o
metre de um restaurante e sai sem pagar, além de ridiculariza o diretor da escola em que
estuda, mas quem se importa, todo mundo adora filme e série de vilão, afinal,
quem é que prefere o Luke Skywalker em comparação com o Darth Vader?
O filme ainda
é inovador ao utilizar a quebra da quarta parede como nunca havia sido feito
antes. Os trechos onde vemos o protagonista sair do ambiente onde se desenrola
a trama, olhando para o espectador e falando sobre a situação são tão
marcantes, que renderam referências e homenagens em filmes como “Clube da luta”
e “Deadpool”, esse último plagiando por completo a cena pós-créditos do filme
de 1986, sem precisar explicar nada, o que mostra como o filme foi marcante.
Outra coisa
que marcou no filme foi a trilha sonora. O filme possui uma trilha sonora
espetacular, que ficou lembrada por duas músicas em especial: a música “Oh
Yeah!” do grupo “Yello”, que toca também em “Akira” e “Twist and Shout” dos
Beatles; Essa última a propósito, lembro que na segunda-feira após a primeira
vez que o filme foi exibido na globo (no supercine, e eu assisti), um músico
foi convidado pelo jornal do almoço ( o jornal do meio-dia aqui no RS) para
comentar sobre a versão da música do filme, acredite ou não! Além desses dois
temas, o filme ainda toca “Danken Shoen” de Wayne Newton, como uma homenagem ao
que é a vida onde se agradece por todo prazer e dor que fazem nossa existência
fazer sentido, muito bacana!
O filme ficou
lembrado ainda por sua “filosofia”, que hoje é tida como autoajuda meio piegas.
Mas a frase “a vida passa muito rápido, se você não aproveitar ela vai acabar e
você não vai ver.”, ainda ecoa na cabeça de muita gente que envelheceu
assistindo ao filme e que depois de uma semana de trabalho mecânico, se
pergunta qual a esquina que entrou por engano e resultou em uma mesa cheia de
documentos e nenhuma expectativa (incluindo este que vos fala), Assim como a
visão que o filme trás dos adultos caricaturados, que parecem meio bobos em
seus serviços que parecem não entender e cumprindo suas obrigações que pouca
gente se importa (como muita gente que eu conheço).
Como já disse
acima, tive a honra de assistir a primeira vez que “Curtindo a vida adoidado”
passou na Rede Globo, acho que em 1989 ou 90. O filme foi exibido no Supercine
e lembro que o assunto da aula no outro dia era a parte do desfile onde ele
cantava a música dos Beatles e a novidade que era de o personagem falar conosco
que estávamos assistindo ao filme. De lá para cá o filme foi exibido mais ou
menos setecentas vezes na sessão da tarde, o termo “save Ferris” se tornou nome
de banda, camisetas com as frases do filme foram feitas e roteiros para a
sequência imaginados e escritos, mas a originalidade do filme de 1986 nunca foi
esquecida e superada e penso que uma sequência seja impossível.
Falando sobre
a originalidade do roteiro do filme, uma coisa que pouca gente sabe é que a
versão original do filme tinha uma hora a mais e que, após ser exibida apenas
para os atores e executivos do estúdio e ninguém rir, ou entender o filme, John
Hughes, se reuniu com seu montador e reduziu o filme ao mínimo, excluindo
várias sub-tramas, incluindo o fato de que Ferris tinha mais dois irmãos (MAIS
DOIS IRMÃOS) , o fato só mostra a genialidade do diretor que conseguiu montar
um filme de sucesso de uma versão inicialmente fracassada.
“Curtindo a
vida adoidado” é um clássico e Tudo mais que eu falar será redundância. Uma
comédia referenciada em muitos outros sucessos do cinema, séries e publicidade,
repleta de força, ironia, deboche e (para honrar a sessão da tarde) altas
aventuras. O papel da vida de Matthew Broderick e a obra prima de John Hughes,
genial no que tange a idealização de uma geração, inovador no que diz respeito a
narrativa, engraçado e inspirador, para resumir, um filmaço! Nada mais me
resta a dizer a não ser Parabéns e SAVE
FERRIS.
Ainda estão
aí? Acabou! Vão pra casa... vão !!
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