Se eu perguntar
sobre o planeta dos macacos, um grande número de pessoas vai citar a cena de
Charlton Heston gritando “seus maníacos”, ao se deparar com a estátua da
liberdade atolada em uma praia, no final do filme dos anos sessenta, outros,
mais jovens, vão falar dos dois últimos filmes, que foram surpreendentemente
bons e contar sobre a jornada heroica do chipanzé Cesar, e, existirão ainda os
que se lembrarão do terrível filme do Tim Burton, com seu clima sombrio e pouco
sentido. Mas, o que eu duvido é que metade de quem se lembra desses filmes,
saiba que o roteiro de “O planeta dos macacos” foi baseado em um livro homônimo
de ficção científica francesa.
O livro “O
planeta dos macacos”, foi lançado em 1963, pelo escritor francês Pierre Boulle,
que já tinha em seu currículo “A ponte do rio Kwai” outro livro que veio a se
tornar um clássico do cinema e pelo qual ele ganhara um Oscar pelo roteiro. “O
planeta dos macacos” conta a história de Ulisse Mérou, um repórter francês que
no ano de 2500 é convidado por um ilustre cientista à ser um dos três membros
de uma expedição espacial até uma distante estrela. Viajando quase a velocidade
da Luz, os tripulantes atravessam o universo ao encontro da estrela Betelgeuse
e do sistema que a tem como centro; um desses planetas, cujos níveis de
oxigênio, presença de água e clima são idênticos ao da terra, se apresenta
convidativo a tripulação, que o batiza de Soror e parte em sua direção. No
entanto, os três tripulantes desconhecem que nesse planeta exista vida,
incluindo uma raça idêntica a humana, mas que não passam de animais selvagens
controlados por instinto e que servem de caça, animais de estimação e cobaias
para a verdadeira raça dominante, os
macacos.
Cornellius, Zira e Mérou |
O que eu achei
bacana do livro é que o conceito presente é tão amplo que consegue ter trechos
reconhecidos em todos os filmes acima citados. Obviamente o que tem um esboço
mais parecido é o clássico de 1968, com a ideia de viagem espacial e a presença
do casal de chipanzés cientistas Zira e Cornélius, assim como do pedante
orangotango Zeius; O plot twist do final também remete ao livro com uma carga
semelhante de desesperança, embora sejam bem diferentes entre si. Lendo o livro
retirei grande parte do crédito que eu havia dado aos roteiristas do filme
“Planeta dos macacos: A origem”, pois entendi que o que fizeram no filme foi
apenas colocar o chipanzé Cesar na mesma situação de Ulisse Mérou no livro, a
de ser um animal que pensa e que busca a principio ser reconhecido como um
igual e, depois de se deparar com as barbaridades da raça dominante, resolve se
tornar o agente libertador de seus iguais, fato em que Cesar é infinitamente
mais bem sucedido do que Ulisse. Até o final aleatório do filme de Tim Burton
ficou mais claro para mim ao ler o livro, embora que sua realização ainda
continue a não fazer sentido.
Não precisava né Tim Burtom |
Outra coisa que
gostei foi pequena a sátira da nossa sociedade apresentada pelo autor nas entre
linhas. A sociedade macaca (acho o termo muito engraçado) se divide em três
grandes grupos, os Gorilas, que conforme o protagonista vem a descobrir através
de pesquisa, foram os grandes líderes de um passado onde a força imperava, mas
que passaram a dominar através da capacidade administrativa e política; Os pedantes
e orgulhosos orangotangos, que são considerados a personificação da ciência e
conhecimento, sendo responsáveis pela escrita dos livros didáticos, presidindo
os conselhos científicos e estabelecimentos de ensino; e, os chipanzés, que são
tratados como uma classe menor pelas outras duas, mas que se apresentam no
livro como cientistas menos presos a dogmas e de emoções mais genuinamente
humanas.
Através as três
classes de macacos o autor parece colocar um espelho na frente da raça humana e
expor suas lideranças como que agindo de forma a macaquear as gerações que a
precederam evoluindo muito a custo. Com essa sátira o autor parece sinalizar
uma defesa do direito dos animais (nos anos sessenta!!), invertendo o papel de
poder e de descarte das cobaias usadas em estudos, fato que parece claro no
longo relato que Pierre Boulle faz das experiências em humanos, além disso, o
livro também parece sinalizar sobre o preconceito racial e social ao mostrar as
três famílias de símios se menosprezando entre si para se acreditar superior
cada uma a seu modo; mas talvez essa última observação pertença apenas a mim e
nada tenha passado pela cabeça de Pierre Boulle, pelo fato de o livro ser fruto
de seu tempo e como tal carregar em si seus preconceitos não intencionais.
ao meu sinal |
Gostei do livro.
Achei as duas surpresas do final bem tristes para quem esperava um fechamento
edificante para o protagonista, mas é um plot twist bem legal e enriquece o
livro. A leitura é fácil e divertida, embora por vezes pareça rebuscada demais
para ser narrada por um cara do ano 2500, os últimos capítulos onde o autor
tenta dar uma explicação sobre o porquê daquela troca de papéis entre humanos e
macacos, utilizando uma humana que tem acesso as lembranças com inconsciente
coletivo é demais. Em resumo, “O planeta dos macacos” é uma ótima leitura para
quem quer relaxar e se divertir e, essencial para quem gosta de ficção
científica, recomendo além de ler o livro assistir o filme de 1968 e o reboot
de 2011 e verificar as semelhanças e diferenças entre as obras. Aproveita antes
que os símios tomem conta de tudo... SEUS MANÍACOSSSS !!!
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