Eu pertenço à
geração que cresceu assistindo a rede manchete. Aquele pessoal que corria para
frente da TV depois das 18h30min e assistia anime em horário nobre. Bons tempos
aqueles de “Cavaleiros do zodíaco” e “Yu-Yu Hakusho”, que foram minha porta de
entrada no mundo dos animes e mangás e influência para conhecer títulos mais
complexos como os clássicos, “May, a garota sensitiva”, “Gost in the shell “ e
“Akira” ou extremamente divertidos, como o recém descoberto “One-Punch-Man”, do
roteirista que atende apenas por “One” e ilustrada posteriormente, em forma de
remake por Yusuke Murata.
Conheci “One-punch-man”
revirando a internet atrás de novidades que fugissem um pouco da mesmice, mas
que não se perdessem muito ao tentar se mostrar originais, um paradoxo difícil
de satisfazer, mas que foi derrotado com um soco só no primeiro episódio do
anime que conta a história de Saitama, um cara normal, que após salvar um
menino de um monstro, resolve se tornar um herói por hobby. O problema é que
Saitama se torna é extremamente poderoso conseguindo derrotar qualquer inimigo
com apenas um soco, o que aos poucos o vai entediando e o tornando indiferente
às situações em que se mete.
A história é bem
simples e não foge muito das tramas habituais dos animes de ação. Mas se one
punch man tem uma característica que consegue transcender sua intenção inicial,
é a zoeira. O autor faz uma sátira bem humorada ao estilo exagerado desses
mesmos animes e seus heróis e vilões capazes de destruir cidades inteiras com
um único golpe, e isso não falta na série, é montanha sendo explodida, prédio
sendo derrubado, cidades devastadas e no outro dia... Tudo tranquilo! E, no
melhor estilo Tarantino, o desenho não poupa referências, tanto que no primeiro
episódio Saitama derrota um vilão idêntico ao Piccolo de Dragon Ball (só que
azul) e depois um gigante parecido com os de “Attack on titans” e no sétimo
episódio ele ainda chama seu adversário de “Son Goku”, pura zoeira! Sem contar
com as frequentes interrupções que o protagonista faz aos discursos de seus
adversários, sempre com a frase “por que você fala tanto?” referência gritante
aos episódios de blábláblá intermináveis de animes do mesmo gênero
anime x mangá |
Além das
referências, ainda podemos destacar todo um questionamento filosófico sobre
poder no melhor estilo Alan Moore. O que aconteceria se você pudesse derrotar
qualquer adversário com um soco só? Esse é o dilema de Saitama, que não se
sente desafiado, surpreso ou com medo, e esse poder, vai fazendo com que ele
perca em parte a capacidade de interação com que o cerca, tanto que sua
expressão parece sempre de indiferença e seus pensamentos deixam isso claro,
como no caso onde ele e Genos (um ciborg que sonha em se tronar discípulo do
protagonista) fazem um teste para serem heróis profissionais (pois a única
parte de Saitama que ainda interage com o mundo é a vontade de ter um fã clube)
e durante a reunião ele está pensando no que fazer para o jantar, ou quando
enfrenta o ser mais poderoso da “casa da evolução” e está pensando na
liquidação do supermercado, isso me fez lembrar um pouco do Dr.Mahattan de
“Watchmem”, que já não via as pessoas que o rodeavam como iguais, perdendo-se
em divagações sobre seus interesses particulares, e também do velho e bom
superman, que com todo aquele poder, vive tranquilamente entre as pessoas;
entre esses dois extremos, eu colocaria Saitama no meio e o elegeria como o
mais humano, nem tão indiferente e nem tão presente.
A trama ainda
traz mais reflexões ao apresentar uma “associação de heróis”, que aos poucos
vai se mostrando um reduto de inveja e egocentrismo, se mostrando opostas as
intenções iniciais do protagonista e de seu companheiro Genos. Mas é através
dessa associação é que vamos conhecer mais pessoas que buscam fazer a diferença,
como o ciclista mumen Rider, ou o mestre de artes marciais Silver Fang, e
também onde muitas pontas soltas são deixadas, criando a esperança de mais uma
temporada.
Outra questão
que ganha pontos absurdos é o carisma dos personagens, em especial do
protagonista. Sinceramente é muito chato se deparar com personagens egoístas e
só pensam em ser “o mais forte”, e que sempre finalizam o inimigo final... Embora
Saitama sempre acabe batendo de frente com o inimigo principal, sua indiferença
quanto a situação e vontade de fazer o que é certo fazem com que torçamos por
ele e até nos sintamos chateados quando ele se torna alvo da inveja de outros “heróis”.
Os personagens periféricos, como Genos, Mumen Rider e até o misterioso ninja “velocidade
sonora do som” (que nome é esse!) são outros exemplos que enriquecem a série
com humor, ação e momentos edificantes; Genos já aparece como um combatente do
mal e que fica tão espantado com os poderes do One Punch Man que se torna seu discípulo
e passa episódio atrás de episódios tentando encontrar o segredo da força de
Sensei Saitama. Velocidade sonora do som, é um ninja que trabalha como assassino
e segurança e se confronta com o protagonista por engano e acaba por encontrar
uma motivação e sentido para treinar para vencer a pessoa mais forte que já
conheceu, mas é no humilde herói de classe C Mumen Rider que apresenta todo
sentido de ser um herói , quando além de aparecer em episódios combatendo sem
sucesso oponentes mais poderosos e em um situação de desastre ainda se
responsabilizar pelo resgate de sobreviventes, coloca sua vida em risco
enfrentando o rei do mar profundo; Mumen Rider é o oposto de Saitama no que se
trata em poder e empatia, mas seu complemento no que tange a ser um herói e o
modo como o autor nos mostra isso é perfeito.
One Punch Man me
trouxe de volta aquela sensação que a falecida rede Manchete me trazia todos os
dias as 18:30. Aventura super bem desenhada e de roteiro extremamente
engraçado, diversão para todas as idades. Fica agora a torcida para que novas
temporadas cheguem em breve, linckando as pontas soltas que ficaram e nos
dizendo qual a origem dos poderes de Saitama. Embora eu devesse ter resumido
tudo em vinte palavras, tinha muito para falar dessa obra que gostei bastante e
digo que “One Punch Man” leva a recomendação máxima desse cara comum que escreve
essas resenhas por hobby e que busca sempre fazer a coisa certa.