Em 2003 a internet no
Brasil era quase inexistente, assim como os sites de cinema e cultura
pop. Só se sabia do lançamento de um filme através do programa
Dia-a-dia na Band, no fantástico (se o filme fosse um mega
Blockbuster) ou através da revista SET. E foi na capa de uma edição
dessa bendita revista que descobri que um de meus super-heróis
preferidos ganharia um filme, se tratava do “Demolidor, o homem sem
medo” estrelado por Ben Affleck e dirigido por Mark
Steven Johnson.
Meu primeiro contato
com o filme já foi horrível, começando pelo protagonista. Nada
contra o Ben Affleck, eu até gosto do cara em Dogma e hoje em dia
torço para que seja um bom Batman, mas eu esperava um Matt Murdock
leve e ágil, saltando de prédio em prédio e metendo a porrada
utilizando suas técnicas ninja, mas a postura e o uniforme que a
revista apresentava era de um cara acima do peso vestindo uma capa de
sofá. Outro problema para mim era que o grande cérebro criminoso a
ser combatido era o Michael Clark Duncan ( O John Coffey, de “A
espera de um milagre) e toda vez que eu olhava para ele eu pensava,
“Qual é? Esse cara não é tão mau assim!” e por último, mas
não menos importante, tinha o Mercenário, que nos quadrinhos é
um vilão foda, que usa qualquer coisa como arma, além de rivalizar
na porrada com o Demolidor, mas na interpretação de Collin Farrel
aparecia como um esquisitão, todo vestido de couro e com um alvo
tatuado na testa, digno de piada.
Apesar do que a
revista SET me mostrava, mantive o pensamento positivo até assistir
ao filme, o que serviu apenas para que minha decepção fosse maior.
As cenas de luta eram ridículas, a trama sem sentido e cheia de
clichês, os motivos dos personagens eram rasos e pouco convincentes,
ou seja, uma ofensa para qualquer fã. Por isso, quando a Marvel
recuperou os direitos do personagem que estavam com a FOX e logo
depois anunciou que a NETFLIX faria uma série do herói, me mantive
indiferente e joguei minhas expectativas abaixo das solas dos pés.
Mal sabia eu que receberia com surpresa melhor série de 2015.
chegou tateando e dominou ! |
FODA! Me desculpem,
mas não há maneira melhor de definir a série do Demolidor. Para
começar a série faz parte do universo MARVEL dos cinemas, em
diversos momentos podemos ver as referência do que aconteceu à Nova
York devido a batalha dos Vingadores em seu primeiro filme, essa
mesma situação é o motivo para a introdução do grande vilão,
Wilson Fisk, o Rei do crime, que aproveita a oportunidade para tomar
o poder em Hell's Kitchen comandando empreiteiras, empresas de
engenharia e, de quebra o submundo das drogas e tráfico de
influência, o que remete ao clima e ambiente da produção, que é
extremamente sombrio, onde vemos o bairro do protagonista, sendo
dominado por essa novo poder paralelo onde os antigos mafiosos e
bandidos que dominavam as ruas estão sendo substituídos por um
grupo realmente organizado, que consegue passar tensão e a ideia de
que não se pode escapar quando se assiste.
Os atores estão
fantásticos ! Charlie Cox, que eu só conhecia do terrível
“Stardust” tem uma atuação perfeita no papel de Matt Murdock,
me convencendo que era cego, que sabia lutar e até mesmo que era
ruivo, Helden Henson faz o melhor amigo do protagonista, Foggy
Nelson, conseguindo transmitir o carinho e fidelidade que no filme de
2003, John Fravreau, interpretando caricatamente o mesmo personagem
não chegou nem perto, a ele pertence a parte cômica e ingênua da
série, sem com isso transformar o personagem em bobo ou coitadinho.
Vincet d'Onofrio , o eterno Gomer Pyle de “Nascido para matar” é
o rei do crime definitivo, embora eu tenha alguns problemas com a
origem do personagem (que vamos abordar mais abaixo), ele convence
com uma interpretação que alterna da insegurança (que se mostra
como dissimulação) e insanidade para razão e propósito, o sujeito
é uma bomba relógio prestes a explodir quando o que é sagrado para
ele é molestado. Mas no meu entender, o melhor ator da série é
Vondie
Curtis-Hall
que interpreta o reporter Ben Urich, que é responsável pela parte
investigativa e que aos poucos é aprofundado expondo seus problemas
financeiros, ideologias e se torna um dos heróis da série pelo
fato de não se corromper; o ator consegue passar com um olhar ou
suspiro todas suas preocupações ou ideias, muito show, tanto que
não se ouviu falar mal do personagem devido a sua mudnça de etnia
nem mesmo entre os Haters. E o que falar de Débora An Woll como Karen
Page? Bom, além de ótima como a personagem ela é linda (ponto).
O que me
conquistou na série é que ela segue o modelo de séries de sucesso,
como “Breaking bad” ou “Game of Thrones”, de ser um filme
gigante dividido em episódios em que, permeados por diversas
subtramas, existe um ou dois problemas centrais a serem resolvidos,
tudo isso tratado com o máximo de realismo e seriedade possível (
seriedade, não austeridade), ou seja, não existe essa bobagem de
vilão da semana, tal qual The Flash ou Arow, mas sim um medo
constante que paira durante toda a temporada. Essa é a receita de se
aprofundar e desenvolver todos os personagens desenvolvendo empatia e
fazendo com que quem assiste queira mais e mais.
Arrebenta Stick |
Outro episódio show é quando aparece o Stick, o sujeito que treinou
Matt Murdock. Eu ansiava por essa aparição, principalmente pelo
fato de não haver menção a esse personagem no filme de 2003 (o que
me deixou indignado), Na série o personagem que é vivido por Scott
Glenn já mostra a que veio na primeira cena, onde em uma perseguição
a um burocrata Japonês ( e falando japonês) usa suas habilidades
para dar cabo do sujeito. Durante esse episódio é que sabemos como
Foi o encontro entre Stick e Matt e seu treinamento, onde ele
aprendeu, guiado por Stick, a focar os sentidos para não enlouquecer
(questão que não existe no filme), também temos um vislumbre de
questões externas ao que ocorre em Hell's Kitchen e que deverão ser
abordadas nas próximas temporadas, como o clã de Stick e o céu
negro (seres em forma de criança que parecem ser armas biológica) e
o tentáculo que surge na figura de Nobu, que é um aliado do rei do
crime desde o começo da série e que se mostra um ninja, fato que
vai gerar uma cena de luta muito boa em outro episódio, mas voltando
para o Stick, o personagem é muito carismático, aquele tiozão
badass que senta a porrada em todo mundo, é boca suja e só pensa em
seus objetivos, quero muito que ele volte na segunda temporada.
Bad day |
Por
último, um episódio que me chamou a atenção, mas me deixou
dividido quanto ao personagem é o que mostra a origem de Wilson
Fisk. Nele somos apresentados a um Wilson criança, que sofre maltrato do pai e dos vizinhos, ele aparece sempre nervoso e incapaz
de reagir na maioria das vezes, chegando a entrar em panico quando o
pai vai tirar satisfação de quem fez bulling com ele, isso culmina
quando ele mata o próprio pai em uma crise de violência após vê-lo
agredindo a mãe, isso eu não consegui digerir, penso que alguém
que sofre violência desde pequeno acabe por se quebrar, tornando-se
arredio e tendo crises eventuais e violência ( o que acontece na
série) mas a estrutura para o personagem chegar onde chegou seria comprometida, seria quase impossível ele se tornar líder de uma
organização com o porte da que ele comandava se em sua tenra idade
nada que o cercava lhe passasse confiança de que ele seria algo
melhor, mas fora isso a atuação de Vicent d'Onofrio e o episódio
em si é muito bom.
Por tudo isso
considero “Demolidor” a série da NETFLIX a melhor coisa lançada
em 2015 (até agora), ficamos no aguardo da segunda temporada quando
a questão do céu negro será revelada e teremos a introdução ao
mundo dos clãs de ninja e sua guerra. Espero também que as demais
séries baseadas nos personagens da MARVEL que a NETFLIX irá
produzir sigam com a qualidade apresentada em Demolidor, contando com
muita ação , violência e realismo. Nota 10.
Até a próxima temporada |
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