Somos prisioneiros de
ciclos. Acreditamos que o tempo simplesmente se desloca em linha reta do
passado para o futuro e que o presente é uma constante novidade, mas na verdade
seguimos vivendo ciclos que se repetem e se repetem sem que muitas vezes nem percebamos.
Para quem não conhece o filme, a história
conta as desventuras de Jackie Brown (Grier) uma comissária de bordo de uma
pequena companhia aérea Mexicana que, para conseguir ganhar alguma grana a
mais, contrabandeia dinheiro para o traficante de armas Ornell Robbie (Samuel
L. Jackson), No entanto, após ser descoberta e presa pelo agente da ATF Ray
Nicollete (Michael Keaton), Jakye, começa a temer mais pelo seu futuro sem perspectiva
do pelo risco de seu contratante a achar uma dedo-duro e concebe um perigoso plano
para se livrar de Ornell, das acusações e alcançar certa estabilidade
financeira, virando em 180° a vida que parecia ser seu destino.
Como eu disse acima, não percebemos que
estamos presos a ciclos até que uma situação externa bata com força em nossa
cara. Foi exatamente isso que aconteceu comigo, quando em uma tarde de domingo
chuvosa resolvi reassisti ao terceiro filme de Tarantino e sentir como se
alguém gritasse dentro da minha cabeça se eu estava entendendo a mensagem.
Todos os personagens centrais da história estão às portas de repetir seus
ciclos de vida ou quebra-los e a atitude que tomam frente a isso é o que define
seus destinos.
Gara |
O contrário ocorre para o restante dos
personagens da trama; que por receio, medo ou costume sofrem as consequências
de se manter presos à suas jornadas. Dois casos distintos são claros dentro da
história, o do ex-presidiário Louis Gara (Robert De Niro) e o Agente de Fiança
Max Cherry (Robert Forster).
Louis Gara não consegue fugir de si mesmo,
como se a prisão da qual foi liberto ainda o acompanhasse. A primeira coisa que
vemos do personagem no filme é ele retornando ao mundo do crime sob a proteção
de seu amigo Ornell e embora sempre transpareça confusão e por vezes apatia em
relação aos assuntos do parceiro, não move um musculo para mudar sua
perspectiva, o que com sua participação ao final da trama se pode encarar como
medo, um medo tão grande que se transforma em violência e inconsequência, selando
seu destino de forma definitiva.
Jakie & Max |
Por outro lado, Max Cherry está
completamente fundido a sua rotina. Agente de fianças há mais de vinte anos,
sem família e, aparentemente sem amigos, sua rotina é sua vida. Mas ele tem um
vislumbre de que as coisas podem ser diferentes ao conhecer Jackie e se
apaixonar pela mesma, tanto que após criar certa intimidade com a protagonista
confessa a ela que irá se aposentar, pois não vê mais sentido nas repetições em
sua vida profissional. Entretanto, a insegurança em sair de uma longa rotina o
impede de seguir seu desejo e o que vemos dele ao final, quando vê Jackie
partindo, é o semblante de quem levará consigo para sempre a dúvida do que
poderia ter sido e nunca foi.
O que difere Jackie Brown dos demais personagens
do filme é ter entendido que só se pode seguir em frente quando destruímos o
caminho antigo e criamos um novo; Gara, Cherry, Ornell e os outros personagens
parecem não compreender esse fato e fecham o filme ou ruminando os mesmos
problemas ou simplesmente mortos, enquanto Jackie termina a história
protagonista tanto da trama quanto de sua própria vida.
Me identifiquei no ato ao reassistir “Jackie
Brown”. Com trinta e sete anos, doze destes no mesmo emprego, relacionamento
cheio de idas e vindas e ainda pensando o que querer da vida me fez pensar em
como acabamos tranquilamente aprisionados nos ciclos que criamos para nós e
isso me fez voltar a escrever, o que é um pequeno passo, mas já me tirou da
inércia. Meu convite é para que todos revisitem o terceiro filme de Tarantino
sob este ponto de vista de recomeços e fugas dentro das vidas dos personagens,
mas isso não interessar, assista assim mesmo, focado no charme de Pam Grier, na
trama cheia de reviravoltas ou nos diálogos extremamente humanos, quebrando
pelo menos o ciclo da mesmice dos blockbusters atuais.
Muito bom!!
ResponderExcluirPara mim este é o melhor filme do Tarantino. Sem falar na beleza e charme de Pam Grier
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