Fiquei
empolgado com o filme brazuca “As boas maneiras” e seu ponto de vista original
da maldição do lobisomem. Tanto que queria transformar o mês de junho no mês da
licantropia aqui no blogger e para isso resolvi assistir aos filmes que
abordassem a mesma temática e que marcaram minha juventude. No entanto,
revisitar o cinema dos anos oitenta pode ser tão perigoso quanto sair para
passear pelos bosques do Maine em noite de lua cheia, principalmente se o primeiro
filme a ser revisitado for baseado em um livro de Stephen King e roteirizado
pelo mesmo.
linda capa do VHS |
Sim!
Hoje falaremos sobre um clássico do extinto “Cinema em casa” do SBT, “Bala de
prata” de 1985, baseado no livro “A hora do lobisomem” do Rei do terror e “estrelado”
pelo eterno, mas já falecido, ator mirim Corey Haim; que, após ser reassitido
substituiu em mim todo terror de quando eu tinha doze anos por momentos de
humor e até de certa vergonha alheia, mas sem com isso destruir a gostosa sensação
de nostalgia.
O
filme acompanha Marty Coslaw (Haim), um menino paraplégico de doze anos, que
junto com sua irmã Jane (Megan Follows), após perderem um amigo, a descobrem
que a série de assassinatos que vem acontecendo na cidade onde moram, a pequena
e pacata cidade de Tarker’s Mill no Maine, é obra de um lobisomem. Os irmãos
agora terão de encontrar um adulto que acredite neles e buscar descobrir quem é
a pessoa que carrega a maldição.
Lembro
quando assisti “Bala de prata” pela primeira vez! Eu devia ter um pouco menos
que idade do protagonista e mesmo o filme passando às duas horas da tarde, não
nego que a ideia da trama trazer um guri paraplégico fugindo de um lobisomem em
uma cadeira de rodas motorizada no meio dos bosques de uma cidade no interior
do interior dos EUA, me assustou bastante. No entanto, rever esse filme mais de
vinte cinco anos depois, impressiona como muitos dos filmes oitentistas,
diferente de alguns clássicos, mas muito parecidos comigo envelheceram mal,
embora continuem divertidos.
O
lado divertido do filme é a já mencionada nostalgia no melhor estilo “Stranger
Things”, que faz quem tem mais de trinta anos, olhar com carinho todas as
extravagâncias da história e relembrar um tempo mais ingênuo e sem o bombardeio
de informações que sofremos hoje, onde ainda era possível soltar pipa na rua
até de madrugada, ou sair à noite para detonar fogos de artificio ou coisas que
o valham. Sem contar que o filme tem uma vantagem sobre as produções
modernosas, que é o simples fato de que, diferente da série do streaming mais
famoso de todos os tempos, toda aquela breguisse não é emulada, mas real! O
filme desenhava um retrato do momento onde foi produzido, o que serve para os
jovens matar a curiosidade de como era um mundo sem internet, TV a cabo,
celulares e videogames.
De zero a cem em 5.8 segundos! |
Mas
o que me fez assistir a esse “clássico” até o fim com um sorriso no rosto foi
seu lado ruim, que é o roteiro. Se há
uma coisa que eu adoro, são filmes “ruins bons”, aqueles filmes que são
produzidos de maneira séria, mas que devido aos cacoetes de seus diretores ou
deslize de seus roteiristas agregam certos absurdos que o destacam em meio a
tantas outras obras. “Bala de prata” não é diferente, além de trazer todos os
estereótipos de filmes de adolescente dos anos oitenta, como o protagonista
sendo visto como diferentão (nesse caso deficiente), a irmã que quer ser
popular, O tio perdedor e bêbado que é o único que acredita nas crianças e os
pais ausentes, nenhuma situação ocorrida no filme parece ter um porque e o
questionamento que isso gera rendem bons momentos.
Exemplos
dessas situações, que são o tempero da trama, estão todas ligadas ao próprio
Lobisomem, em especial a sua aparição na cidade. (SPOILER À FRENTE) O Lobisomem
é o reverendo da cidade (pronto falei) e após algumas mortes em seu currículo,
o vemos tendo um pesadelo onde todos de sua paróquia (que toda noite se reúnem
para cantar “Amazing grace” ) se transformam em lobisomens e partem para cima
dele e ele acorda pedindo a Deus para que a maldição acabe, o que nos induz a
pensar que a maldição é , de alguma forma, divina; eu mesmo cheguei a achar que
a transformação tinha algo a ver com os pecados de alguns habitantes, pois a
primeira vítima é um alcoólatra que batia na mulher e a segunda uma suicida,
mas todas as teorias caem por terra, após a irmã do protagonista expor a ideia
de que talvez nem o próprio reverendo saiba o porquê das transformações, o que
confirma com o mesmo, logo depois, tomando para si a postura de vilão e
deixando qualquer resposta apenas na especulação.
"alguém sabe onde encontro um Chapel XXXL?" |
Outra
coisa maluca que se soma as excentricidades do roteiro é a decisão genial do
casal de irmão de chantagear o reverendo/lobisomem via cartas com letras
recortadas de revistas, pedindo educadamente para que ele se retirasse da
cidade, o que não dá muito certo. Mas esse “deslize” dos irmãos é pinto perto
da ideia fantástica de um grupo de cidadãos indignados que decide caçar o
“maníaco do bosque” à noite no meio da floresta, portando espingardas e bastões
de baseball e a cena que se segue com o lobisomem batendo em um deles com um
bastão até a morte (Sim! O lobisomem mata um cara com um bastão de baseball!),
fato que gerou a capa do VHS do filme com uma mão peluda e com garras segurando
um bastão para duas crianças amedrontadas. E nem vou comentar sobre a piadinha
do protagonista ao final sobre sua própria deficiência. Isso, meus amigos, são
os anos oitenta!
Apesar
das loucuras, ou melhor, graças a mesmas, adorei ter revisitado “Bala de
prata”, fez lembrar um tempo mais leve da minha vida, onde os monstros eram
pessoas com uma roupa de pelúcia e uma cabeça enorme de lobo, quando não um
cara grande com um facão e uma máscara de hóquei e não frustrações que se
acumulam e boletos que se empilham. Um clássico do cinema em casa capaz de
trazer a nostalgia com força e arrancar gargalhadas de doer a barriga, mas não
sem conseguir dar os sustos que promete.
Então,
se tiver mais de trinta e cinco anos e quiser assistir a algo que lembre a
infância, procure por “Bala de prata” e deixe sua mente passear livre pelos
anos oitenta por noventa minutos e aproveite o mês do Lobisomem.
Só
tome cuidado com a Lua.