Nova York, 1979. Antes da
Máfia ser esmagada, antes da economia americana voltar a crescer,
antes do talco sem cheiro dominar os embalos de sábado e,
principalmente, antes de proibirem crianças com menos de seis anos
de escreverem um roteiro para cinema, um grupo de nove membros de uma
turma da pesada parte em uma fuga alucinante depois de serem acusados
de um crime que não cometeram. Sim meus amigos! hoje falaremos sobre
"The Warriors", ou como foi chamado em nossas terras
tupiniquins, "Guerreiros, os selvagens da noite", a maior
Ode já feita ao tosto mundo das gangues novaiorquinas e que, além
de comprovar que entre os anos setenta e oitenta o mundo entrou em
outra dimensão, foi a produção responsável pela uma frase que me
persegue por décadas:
"Guerreiiiroosss... Venham aqui Brigaaarrrr!"
"The Warriors",
conta a história de nove representantes da Gangue dos Guerreiros,
originária de Coney Island, que, assim como outras cem gangues da
cidade, é convidada a participar de uma "assembleia"
organizada por Cyrus, o líder da maior gangue de Nova York, "Os
Riffs", com a intenção de organizar e unir os grupos
divergentes e assim dominar a cidade. A reunião, que ocorre no
território dos Riffs, no Bronx, começa a empolgar os
representantes das Gangues, mas no meio do discurso, Cyrus é
assassinado por Luther, o líder do "Rogues", que
percebendo, em meio a confusão, que um dos membros dos Guerreiros
viu quem atirou, os incrimina, fazendo com que a turma de Coney Island passe a ser alvo da perseguição de todas as outras gangues
em uma fuga do Bronx até o seu território, a mais de trinta e cinco
quilometros de distância. Restará agora aos Guerreiros, provarem
que realmente são uma "Turma da pesada".
O filme é um clássico, não
tem como não falar isso. Sua trama, mesmo datada, ainda hoje
consegue prender o expectador, mesmo que seja para arrancar dele umas
boas gargalhadas. Baseado no livro homônimo de Sol Yurick (que no
Brasil se encontra a venda pela Darkside Books), com uma forte
inspiração no musical clássico "West side story", o
filme foi roteirizado e dirigido por Walter Hill, que
além dessa pérola das madrugadas, dirigiu "Ruas de Fogo",
que é outro clássico do corujão, "inferno vermelho", com
Schwarzenegger
e
Jim Belushi e o "Lutador de Rua", com o mito Charles
Bronson, além de produzir "Alien - o oitavo passageiro", e
trouxe no elenco uma galerinha jovem que, fora dois ou três não
tiveram uma vida muito produtiva e extensa no meio do cinema. Mas
quem se importa com a vida profissional dos atores, quando temos
diante de nós uma obra de tal magnitude, cheio de personagens
marcantes e , acima de tudo, abençoada pela maravilhosa dublagem brasileira do início dos anos oitenta?
Os
personagens são fantásticos e tem muito para falar ao mundo de hoje
sobre
personalidade. Para começar, os protagonistas
se deslocam pela noite Novaiorquina, ostentando apenas um colete de
couro vermelho, suas calças jeans e tênis, dentre eles, temos
Cleon, que usa uma bandana tigrada na cabeça e
Snow, que possui um black power aerodinâmico, mas nenhum dos outros
oito protagonistas, chega aos pés de Cochise, o guerreiro, que além
de ser dublado pelo mesmo dublador do Eddy Murphy, é um cidadão
afro-americano, que além do blackpower da moda daqueles dias,
utiliza adornos indígenas, um tapa na cara de quem hoje em dia vem
falar de moda étnicas ou
apropriação cultural.
Cochise é o meu personagem preferido, sendo seguido de perto por
Luther, o líder assassino dos Rogues, que do
alto de seus um metro e sessenta, com
sua cara quadrada e voz de taquara rachada, é o emissor da frase que
me atormenta e a qual já cite acima, mas
que além de tudo, ainda traz em si o mais clássico talento para
agente do Caos, sendo o responsável por toda confusão e azar, que
os guerreiros e os Riffs acabam vivenciando.
Guerreiiiroossssss |
Falando
da Voz de taquara de Luther, é impossível assistir ao filme dublado
e não ficar completamente hipnotizado pela dublagem brasileira. Com
vozes consagradas como a do ator Nizo Neto (filho de Chico Anísio
(que dublou Ferris
Bueller
e o Presto de "a caverna do Dragão)) no papel de Vermim; Mário
Jorge de Andrade ( Eddy Murphy) como Cochise e o dublador clássico
do Stallone (que esqueci o nome) dando o sotaque malandro brasileiro
ao Luther. Nesse show de dublagem, temos o prazer
de ver
traduzidas
para nossa língua as gírias americanas do final dos anos setenta e o
resultado é maravilhosamente bizarro, não faltam "Aê meu
cumpadi", "acho que cês tão tudo virando a mão" e
até a frase de ouro do filme, que é proferida quando o líder dos
fugitivos, forjado no calor da fuga, fica a sós com a "mocinha"
e no meio de uma conversa filosófica sobre a vida e perspectivas,
fala para a jovem: " Vem cá, tu é chegada em uma horizontal,
heim! Já pensou em amarrar um colchão nas costas pra facilitar?!".
Pura elegância!
Vocês sacarammm?? |
Fora suas falas, muitas vezes
sem sentido ou seus tropeços de roteiro (como: de onde o Snow tirou
aquele coquetel molotov?) , a produção traz cenas bem legais de
luta. Como quando Cyrus é assassinado e o Líder Guerreiro Cleon,
vai conferir o que houve e tem que se defender da multidão na mão,
ou quando Cisne ( que passa ser o líder) bola uma armadilha em um
banheiro contra a gangue dos patinadores e a porrada come solta, com
direito a taco de basebol quebrado em barriga e porta quebrada com a
cabeça.
Além disso, não me ocorre
nenhum outro filme de fuga nesse mesmo estilo antes de "the
Warriors", me passando a sensação de que Apocalypto",
filme de Mel Gibson de 2006, que é basicamente uma fuga de um
território inimigo até o seu, tem muito de inspiração na obra de
Walter Hill de 1979, assim como o último "Mad Max"e isso
não é pouco.
Para Complementar sobre a
influência e carinho que o filme cativa, os irmãos Russo, que
dirigiram Capitão América 2 e 3, anunciaram a produção de uma
série baseada no livro/filme "The Warriors" e que deve
chegar para nós nos próximos anos, mostrando que muita gente ainda
guarda esse filme no coração e sonha em usar aquele colete de couro
vermelho.
Pois bem, "Guerreiros -
Os selvagens da noite" é um desses clássicos cults, que por
muito tempo habitaram as madrugadas dos canais abertos e que todo
mundo conhece ou já ouviu falar. É a representação máxima,
embora muito caricata, de um período histórico americano onde a
falta de perspectiva é o que norteava a vida de muitos jovens e que
até hoje encanta pela melancolia ou pelo tosco carismático, suas
falas são datadas, o roteiro quase não existe, a estética é
brega, mas mesmo assim o filme é extremamente divertido, o típico
filme que é tão ruim, que dá a volta e fica ótimo, que tanto
merece, como deve ser assistido, entendeu bem aê ô meu chegado?!
Da esquerda para direita: Snow, Ajax, Vermim, Cowboy, Cochise, Rembrant, Foxy, Cisne ( The Warriors) |
O filhe e muitô bom eu vejo toda semana
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