A torcedora Gremista
que foi flagrada ofendendo o Goleiro santista Aranha, assim como os
integrantes do grupo onde ela se incluía, deve responder por
seus crimes de discriminação e preconceito conforme é
previsto em lei. No entanto, não concordo com o linchamento
moral que a mídia vem impondo a moça, que além
de causar sua demissão do trabalho e apedrejamento de sua
casa, a tornaram vítima de ameaças de morte e até
estupro, subvertendo a idéia de denuncia, que é a
função da imprensa, ao mesmo papel de incitação
de violência (se não mais grave) o qual a torcedora está
sendo acusada. No entanto , atos como ocorridos no jogo Grêmio e Santos, estão se tornando cada vez mais recorrentes e para a manter a saúde de nossa sociedade, isso não pode ser mais tolerado.
Idiotice tem cura? |
Não estou
tentando diminuir a responsabilidade da torcedora, apenas acredito
que a resposta popular me parece exagerada. A moça não
matou ninguém,o maior crime a que ela pode ser acusada é
de ser idiota e uma reeducação é a punição
mais acertada para esses casos, prisão em regime fechado , em
um país com o sistema penitenciário como o nosso é
quase como pena de morte e ,se em muitos casos um criminoso real,
como um assassino , é liberto em dois anos por bom
comportamento, alguém que tenha como crime ofensas (que embora
graves, são vazias) não deveria ter a prisão
como possibilidade de castigo; acredito que serviços
comunitários , de preferencia em órgãos ligados
a movimentos negros e aulas sobre o multiculturalismo brasileiro,
seguidos por um pedido de desculpas público e o pagamento de
uma indenização a vítima, já seriam
suficientes. A prisão que é pedida por alguns poderia
ficar no caso de reincidência, onde a acusada poderia ser
julgado por incitação a violência, além
dos outros crimes de discriminação já citados
acima, mas isso é com a justiça.
Por outro lado me
compadeço com o goleiro Aranha. Por eu ser negro, entendo bem
o dano que esse tipo de ofensa causa e o esforço e
personalidade que um indivíduo precisa ter para levar esse
tipo de situação ao conhecimento da justiça. Em
nosso país, o preconceito é silencioso e discreto, mas
extremamente atuante, está escondido atrás das vagas
que pedem boa aparência, que embora tenham esses termos
excluídos das ofertas de emprego, ainda se impõem
quando solicitam foto com o currículo; são atuantes nos
círculos que são veemente contra as irrelevantes cotas
raciais para faculdades onde mesmo após a criação
deste programa ainda tem seus números de alunos negros a menos
de 10% , sendo o número desses que ingressaram na faculdade
através de cotas raciais quase nulo; Está na TV que
coloca o negro apenas como empregado, favelado e bandido, quando não
o torna o eterno apaixonado pela filha do chefe e tendo a pobreza e o
sub-emprego como únicos caminhos; todas essas situações
presentes na sociedade, cristalizam o preconceito em nossa cultura ,
o que torna o papel do denunciante importante para que atos como o
que aconteceram no jogo do dia 28 e Agosto sejam cada vez mais
repudiados pela opinião pública, obviamente, dentro dos
limites legais.
O futebol é um
ambiente de paixão, onde o individuo se sente protegido dentro
de um grupo que compartilha desse seu sentimento, tal como a
internet, onde as pessoas se sentem seguras em seu anonimato e sentem
a responsabilidades por seus atos diluídos entre o grupo e por
essa razão se sentem confortáveis para agir sem o mesmo
nível de reflexão que em ambientes racionais. As duas
situações desse caso (o repúdio e o apoio ao ato
racista) são o exemplo disso, opiniões radicais pipocam
de ambas as partes, li em um comentário de uma coluna do
Yahoo, um sujeito que (baseado em nada) taxava o Rio Grande como o
estado mais racista do Brasil, justo o estado que cultua os lanceiros
negros, o galpão criolo e negrinho do Pastoreio, e, outro que
dizia que o problema do gaúcho era fato de o goleiro se chamar
aranha, pois “se se chamasse cobra jogaríamos rosas”,
reforçando um esteriótipo ofensivo e preconceituoso
falsamente justificado por outro; Já em relação
aos atos racistas, não demoraram a aparecer pessoas que
mostraram apoio tentando diminuir a gravidade do caso e tentando
utilizar do velho cala boca, dizendo que “a vó da sua avó
era índia e que não existe preconceito no Brasil”,
mostrando a típica visão simplista do “deixa assim”
para tentar preterir a situação; ou até quem
colocasse a culpa do problema nas cotas e benefícios (como o
feriado da consciência negra (pasmem!)) que os negros vem
recebendo nessa última década, invertendo o culpado de
forma igual a quem aponta a vítima de estupro pelo fato ter
ocorrido por ela ser bonita!
Me parece que o caso
serviu para revelar não apenas o crescimento da discriminação
na sociedade brasileira, mas a vulgarização da cultura
do ódio. As pessoas parecem esquecer o que as palavras
respeito e dignidade significam e dispostas a levar às últimas
consequências atos contra pessoas cuja ideias vão de
encontro as suas. Acredito que a hora de uma resposta verdadeira do
governo já tenha chegado, mas que ela seja dirigida a toda a
sociedade e que venha através de educação e
justiça, e não restringindo a uma única torcedora idiota ou a um time de
futebol uma punição que o perto do problema que se apresenta, o tempo tornará irrelevante.
Eu sempre vou acreditar |
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