Algum tempo atrás, meu irmão postou no Facebook uma crítica
as comédia Stand-up ruins quem vem surgindo pelo Brasil à fora e que estão
distorcendo a ideia inicial desse tipo de humor. No inicio, o humorista de
Stand up era aquele sujeito que ria de si mesmo, dos amigos e familiares ,e ,
principalmente, das situações do cotidiano onde ele mesmo se inseria. Com o
modismo veio a degeneração e a cada dia esse tipo de humor vem se aproximando
mais do humor de babar no sofá da TV globo; piadas preconceituosas , de baixo
calão e vulgares, tomaram o lugar de reflexões engraçadas que expunham os
próprios defeitos do comediante, fazendo que lembrássemos de nós mesmos... não
era de se esperar algo diferente em tempos onde a auto afirmação é a regra de
ouro da sociedade , depreciar-se , mesmo que seja apenas para gerar uma catarse
com o público, é algo impensável....e ,quando não se fala de si mesmo, fala-se
dos outros e , se a grama do vizinho
parece sempre mais verde, porque não deixá-la mais seca?
Foi então que ouvindo o Podcast Café Brasil,
me deparo com o programa de número 343 -” Escala Allport” , falando justamente
de intolerância e a escala de Allport sobre preconceito. Essa ferramenta, criada
pelo psicólogo Gordon
Allport em seu livro The Nature of Prejudice ( a natureza do
preconceito) publicado em 1954 , vai do um ao cinco e serve
para avaliar o clima de preconceito e discriminação que em que vive uma
sociedade e que se apresenta disposta exatamente como abaixo:
Nível 1
– Antilocução
Antilocução significa um grupo majoritário
fazendo piadas abertamente sobre um grupo minoritário. A fala se dá em termos
de esteriótipos negativos e
imagens negativas. Isto também é chamado de incitamento ao ódio. É
geralmente vista como inofensiva pela maioria. A antilocução por si mesma pode
não ser danosa, mas estabelece o cenário para erupções mais sérias de
preconceito.
Por exemplo, piadas sobre portugueses (no Brasil),
brasileiros (em Portugal), negros, gays etc.
Nível 2 - Esquiva
O contato com as pessoas do grupo minoritário passa a ser
ativamente evitado pelos membros do grupo majoritário. Pode não se pretender
fazer mal diretamente, mas o mal é feito através do isolamento.
Nível 3 - Discriminação
O grupo minoritário é discriminado negando-lhe oportunidades
e serviços e acrescentando preconceito à ação. Os comportamentos têm por
objetivo específico prejudicar o grupo minoritário impedindo-o de atingir seus
objetivos, obtendo educação ou empregos etc. O grupo majoritário está tentando
ativamente prejudicar o minoritário.
Nível 4 - Ataque Físico
O grupo majoritário vandaliza as coisas do grupo minoritário,
queimam propriedades e desempenham ataques violentos contra indivíduos e
grupos. Danos físicos são perpetrados contra os membros do grupo minoritário.
Por exemplo, linchamentode negros nos Estados Unidos e Pogrons contra os
judeus na Europa.
Nível 5 - Extermínio
O grupo majoritário busca a exterminação do grupo
minoritário. Eles tentam liquidar todo um grupo de pessoas (por exemplo, a
população dos índios norte-americanos, a
solução final para o “Problema Judeu” e a Limpeza étnica na
Bósnia
Tenho que confessar
minha ignorância pois nunca havia ouvido falar da mesma escala e que achei
muito interessante principalmente para enxergarmos onde a sociedade Brasileira
se encontra no momento presente.
Fazendo referência aos
“shows” de Stand up brasileiros, vemos
que eles são o reflexo do pensamento da grande da maioria da população, a
Antilocução está em tudo, o que não é ruim ( dos males o menor) , pois se a
maioria ainda tenta atingir o diferente com deboches temos como sanar o
problema através da educação e empatia, o que é trabalho dos formadores de
opinião e das grandes mídias. Mas, infelizmente, essas grandes mídias é que
apresentam o traço da evolução da discriminação mais gritante; assistindo a
nova novela do globo “Jóia Rara” acreditei que a mesma se passasse na Áustria
ou Alemanha do inicio do século XXI, devido ao fato de a maioria dos atores
possuir olhos azuis e o elenco possuir apenas uma integrante negra ( Cacau
Protásio) , para minha surpresa, descobri que a novela se passa no Rio de
Janeiro... Já havia percebido essa ausência de personagens negros, asiáticos ou
nordestinos nas novelas da globo (para não citar os outros canais de entretenimento
na TV aberta que são irrelevantes), na Novela “ Amor a Vida”, não há um único
negro ou nordestino no elenco, a trama
me faz pensar que os mesmo foram substituídos
por gays e que seu “drama social” trocado pela luta para perder a virgindade
da “gordinha engraçada” (coisas mais na moda).No mundo real todos esses dramas
acontecem simultaneamente em todas as classes e etnias, restringir a atenção a situações
a determinados grupos é esquivar a sociedade da presença de outros grupos, o
que põe essas mídias no nível dois da escala Allport
Questionados sobre o assunto, a rede Globo informou que no
momento personagens multi étnicos não se enquadrariam nos problemas propostos
pela trama... ou seja, se um dos personagens não buscar ascensão social, se
apaixonar pela filha do patrão e viver um dilema entre a vida do crime e uma
vida honesta e sofrida, não haverá vagas para negros , índios, nordestinos ou
algo diferente do estereótipos do branco, magro e heterossexual .
O que eu penso?Desde que os marketeiros do PT buscaram
diminuir o despenhadeiro de empatia que havia entre o brasileiro idealizado e o
real através de séries de propagandas
apresentando casais multiétnicos e até a inusitadas propagandas com bebês não
loiros , algumas pessoas que se identificavam com essa figura idealizada
tomaram por meta não permitir que a
percepção das pessoas evoluísse, pois essa evolução poderia por em duvida a
hierarquia social e padrões de beleza que estas mesmas pessoas defendem e se
beneficiam , para essas pessoas não existe o diferente, apenas o errado e essa
visão rasa e egoísta de mundo é o que impulsiona o próximo nível da Escala , a
discriminação, e nesta não podemos deixar que nossa sociedade chegue. A solução
para isso uma intoxicação de multi culturalismo, de pluralidade e de educação, precisa
ficar marcado na consciência de cada pessoa que as diferenças físicas e sociais
são apenas diferenças superficiais, é preciso promover a empatia, o exercício
de colocar-se no lugar dos outros é o melhor freio contra a ignorância e
discriminação ;a leitura de romances é
um ótimo exercício de empatia, não conheço maneira melhor para sentir o que
outra pessoa sentiria em uma determinada , a publicidade utilizar pessoas de
cores, pesos , origens diferentes tornaria mais fácil a aceitação de quem é
diferente do padrão e o reconhecimento destes com as campanhas. São soluções simples,
todas baseadas na educação, educação esta que acredito ser a única arma que
pode ajudar a sociedade brasileira a vencer esse combate contra a reacionária
discriminação. Educação que , com certeza trará mais graça e sentido as futura
piadas fruto de situações e que nos permitirão rirmos juntos e não uns dos
outros.