A frase mais repetida que eu ouço, quando
falo de uma série, é: “tem na Netflix?”. Eu entendo esse questionamento, o
serviço de streaming mais popular do planeta se transformou em sinônimo de
relevância no que se trata de entretenimento e sendo assim, se tem lá, é porque
é bom! Só que, existe muita coisa bacana sendo feita fora dessa bolha e que
quase ninguém dá a devida atenção, mas que precisam conhecer.
Comecei a assistir a série por pura
curiosidade, mas ela acabou me tele transportando (pá-bum-tss) para dentro do
mundo que os criadores entregam, conseguindo com sua história me fazer resistir
de fugir de uma produção de dez episódios de 50 minutos em pleno calor de
janeiro. No meio dessa batalha entre calor e curiosidade, posso dizer que oque
mais gostei da produção é que ela coloca o “poder” da protagonista em segundo
plano, ele é importante e sua descoberta dá movimento a toda trama, mas a
história não fica batendo nessa questão a todo tempo, substituindo os clichês
habituais de histórias de superpoderes por uma trama apoiada nas escolhas dos
personagens e suas capacidades de lidar com as mesmas.
Outra
coisa que gostei é que a série consegue dar tridimensionalidade aos
coadjuvantes, fazendo com que entendamos suas razões e dúvidas e que nos importemos
com eles. Dois exemplos são o irmão mais velho do agressor de Henry e a filha
do padrasto da protagonista, que apresentam um desenvolvimento paralelo muito
bem construído e que acabam a temporada totalmente diferentes de como
começaram, o primeiro passando de um quase capanga do próprio pai e de postura
violenta, para alguém que busca redenção pelos crimes e erros que cometeu para
orgulhar o pai que o vem subestimando; enquanto a segunda larga a ideia de
buscar a aprovação dos colegas de escola e, além de se tornar a verdadeira
heroína da série, defendendo sua família, se encontra como pessoa com a pitada de
rebeldia que a irmã postiça lhe transmite.
Mas a série tem algumas
questões que me incomodaram. A Maior é que ela começa apresentando um
personagem, que possui o mesmo dom da protagonista, e que dá pistas dessa
organização secreta que citei acima e da existência de outros como eles, mas a
história parece utiliza-lo só para mostrar como essa organização é maligna e
desiste dele o retirado da trama de maneira abrupta e chocante, com uma
explicação fraca e sem cita-lo mais tarde. Outro problema é a própria protagonista
que é extremamente grosseira e indiferente com os outros, jogando a culpa de
tudo nas pessoas que a rodeiam e que parece não se preocupar com ninguém além
de si mesma, seu crescimento como personagem oscila muito e a temporada termina
sem realmente sabermos se ela aprendeu alguma coisa com tudo que aconteceu e,
falo com tranquilidade, que se não fossem as tramas paralelas e os coadjuvantes
bem construídos e a serie fosse totalmente focada em Henry Coles, não seria
possível passar do quinto episódio.
Mas embora possua alguns furos, “IMPULSE” é
uma boa série. Consegue trabalhar razoavelmente bem a questão do abuso sem
perder seu propósito de ficção científica, ainda trabalhando em paralelo com
investigação policial e descobertas adolescentes, quase como um bolo onde se
misturam muitos ingredientes e no final fica saboroso. A produção é muito bem
feita, os diálogos são bem explorados e muitos deles cheios de tensão e, o
clima e a ambientação gelada da série ainda colaboram para a ideia de solidão e
desolação que a protagonista sente ao seu redor depois que, além de sofrer
abuso, descobrir que não é uma pessoa como as outras.
Então aproveite a minha dica e assista “IMPULSE”
e se surpreenda com uma das diversas produções que NÃO estão no maior streaming
do mundo, mas que mesmo assim, possuem grande qualidades e merecem ser notadas.