O inicio
do século XXI nasciam as ferramentas que se desenvolveriam e
conectariam nos dias de hoje todo o planeta, aproximando quem está
longe, proporcionando conhecimento, mas não permitindo que nada mais
seja restrito e secreto. A cada minuto milhares e milhares de vídeos,
fotos e pensamentos são compartilhados em rede para que qualquer um
veja, tornando a vida de todos pública por menos que estes queiram e
criando um fenômeno de influência cíclica entre a vida real e
virtual cada vez mais forte. Pois jogando essa influência da
tecnologia na enésima potência e imaginando o que isso poderia
influenciar no cotidiano das pessoas, que nasceu “BLACK MIRROR”,
série criado por Charlie Brooker e transmitida pela emissora canal 4
da Inglaterra.
Black
Mirror estreou em 2011 na Inglaterra e conta até agora com duas
temporadas que somam sete episódios; o nome da série (espelho
negro) faz referência direta aos visores de computador, smartphones
e TV's tão presentes e influentes em nosso dia a dia; Seu formato
retoma o estilo de histórias curtas como “Além da imaginação”
e “contos da cripta”, onde cada episódio conta uma história
única , separadas no tempo e realidade das demais histórias
contadas nos outros episódios e sempre com um elenco e diretores
diferentes, como se fossem filmes de uma hora.
Descobri a série através do Anticast e resolvi conferir, e, para a
minha surpresa a série é muito boa. Não chegou a ser amor a
primeira vista, na verdade achei o episódio piloto meio fraco , não
que ele seja ruim, sua realização e ideia são muito legais, mas
por girar em torno de uma figura que é muito distante da minha
realidade ( o primeiro episódio tem por protagonista o primeiro
ministro inglês) não consegui a empatia necessária para me prender
na história, o que foi corrigido logo a seguir quando escolhi dois
episódios aleatórios (já que são histórias individuais) e
assisti o terceiro episódio da primeira temporada e o segundo da
segunda e fiquei embasbacado.
A
primeira coisa que me prendeu na série é o ótimo clima ficção
científica e o fato de não explicar nada, respeitando a
inteligência de quem assiste. As coisas vão acontecendo e se
explicando sem pressa, sem narrador em off ou aquelas conversas bobas
do tipo : “olha meu braço é biônico,pois graças aos avanços da
tecnologia do ano 2072...”; Não! Em Black Mirror o episódio
começa e caímos de paraquedas no universo que é apresentado sem
saber o que está acontecendo e para onde vamos e isso nos dias de
hoje, onde tudo é explicadinho, é ouro. Outro fato, e que tem
totalmente a ver com a boa ficção científica, é que a série
trata de pessoas, tendo todas situações decorrentes de problemas ou
de inovação tecnológica como pano de fundo que impulsionam a trama
e não como estrelas da série e isso torna tudo (ou quase tudo) que
ocorre em cada episódio muito crível e só posso dar exemplo disso
falando um pouco sobre os dois episódio que gostei mais.
Urso branco |
Reveja o que aconteceu |
Outro episódio que tem todo aquele gosto de ficção científica
bem escrita é o chamado “A história inteira de você”, dirigida
por Jesse Armstrong. Nesse episódio, que parece se situar a algumas
décadas no futuro, as pessoas possuem um implante atrás da orelha
que lhes dá acesso a um back up de memória automático que
possibilita rever suas memória recentes e distantes , com a
possibilidade de zoom, leitura labial e foco em detalhes, sendo
possível ver internamente (em sua própria mente) ou compartilhada (
aparecendo em TV's para que todas analisem) e também possui um
assistente automatizado que diz as condições mentais e físicas do
usuário, nessa realidade somos apresentados ao protagonista, um
advogado que volta de um trinamento e encontra sua esposa em uma
festa com os ex-colegas da faculdade e acaba desconfiando das
atitudes da esposa com um desses ex-colegas , surge aí uma busca
atras da verdade desse possível relacionamento em um mundo onde as
memórias podem ser vistas e a possibilidade de mentir é quase nula,
deixando a pergunta: “o que pode ser feito quando não se pode
mentir ou esquecer?”. Simplesmente fantástico!
Balck Mirror, foi para mim, o maior achado desses últimos tempos, ficção
científica sutil e de qualidade. A Netflix, que não é boba e nem
nada e vem crescendo no universo das séries, apresentando maravilhas
como “Demolidor” e “Narcos”, já mostrou interesse em
produzir mais temporadas da série e quem sabe ainda em 2016 nos
presenteie com novas histórias. Enquanto esses novos episódios não
saem, eu digo que vale muito a pena conferir os sete que estão ai
dando sopa nas internets da vida esse espelho negro nosso de cada
dia.