quinta-feira, 8 de setembro de 2016

ÁGUAS RASAS (2016)

Menos é mais. Essa proposta que indica que o contrário do exagero é a elegância, dificilmente cabe em filmes do verão americano, com seus efeitos especiais de última geração, trilha sonora grandiosa e publicidade onipresente; no entanto, os filmes de 2016 vem pecando tanto com a expectativa do público em relação aos blockbusters que obras menores vem ganhando espaço e chamando a mais atenção, entre estes, ÁGUAS RASAS do diretor Jaume Collet-Serra, que estreou despretensiosamente dia vinte cinco de Agosto no Brasil e se destacou pela utilização de novos conceitos cinematográficos e pela trama bem construída cheia e de tensão.

Em Águas rasas, acompanhamos Nancy, uma jovem estudante de medicina, que após a morte de sua mãe, por um câncer contra o qual lutou durante anos, decide partir em viagem até uma praia deserta no México, que marcou a juventude de sua mãe, para surfar nas mesmas águas das histórias que ouvia quando era criança e se conectar com parte de suas origens. É passando o dia nessa praia, após visualizar uma baleia morta próxima a costa, que Nancy se depara com um tubarão branco, que a ataca e a deixa encurralada a poucos metros da praia. Agora resta a Nancy buscar uma forma de sobreviver a ameaça, lutando tão bravamente quanto sua mãe lutou contra a doença.

O filme não é o mais profundo do mundo (sem trocadilho), trata-se de uma história de sobrevivência que mistura elementos de suspense e terror no estilo "Tubarão" de Steven Spielberg, com a ideia de superação e solidão, como a presente no "O Naufrago" de Robert Zemeckis, sendo que os destaques da obra ficam por conta da boa atuação de Blake Lively, da direção pontual de Jaume Collet-Serra e de como a trama é montada e desenvolvida.

Quanto a Blake Lively, eu só lembrava dela como a protagonista de Gossip Girl e mesmo assim muito por cima já que eu não assisti a série e , por conhecer quase nada do trabalho da atriz me surpreendi com sua atuação, que, embora não seja digna de um prêmio, convence ao transmitir o pavor e tensão que a situação exige, ainda mais por ela atuar mais de noventa por cento da história sozinha, uma situação que sempre foi passada a atores de carisma e talento já reconhecidos, como o próprio Tom Hanks em "O Naufrago", mas que Blake Lively conseguiu tirar de letra.


Para a atriz, que não tem a maior das experiências e expressão dramática conseguir se destacar em um filme que atua praticamente sozinha, é preciso uma direção muito bem calibrada, e, é aí que entra Jaume Collet-Serra. O diretor espanhol, que apareceu para o grande público com o terror adolescente "Acasa de Cera" de 2005, consegue apresentar um filme que lembra os filmes de terror dos anos oitenta, mas incluindo elementos modernos e dos thillers de ação que também dirigiu, como o "Noite sem fim" de 2015, com Liam Neeson e assim entregar um filme com atos muito claros que se destacam pela luz, fotografia e som diferentes entre si e que somam a montagem para construir um filme com suspense e terror na medida.

No entanto, o que mais se destacou, além do já citado é como a trama é montada visualmente. Podemos enxergar a divisão dos atos do filme pela luz e fotografia, começando a história com uma iluminação muito clara e com imagens extremamente bonitas como as dos canais de viagem da TV a cabo, para reafirmar o ar de paraíso que a protagonista acredita ter encontrado, depois, já na água, somos presentados a imensidão solitária do mar e ao antagonista, que ao aparecer transforma o ambiente em soabriu e sinistro, destruindo a ideia inicial da protagonista de ter encontrado um lugar perfeiro, por último, temos a história se fechando em um ambiente hostil, onde a protagonista e o antagonista se enfrentam em uma fotografia escura e focada em closes, reforçando a ideia de cerco e a não possibilidade de fuga. Essa montagem bem dividida me agradou bastante e conseguiu me prender em cada momento como se cada arco da trama fosse um conto dentro de uma historia maior, um exemplo de montagem que a Warner , com seus filmes bagunçados de super-heróis deveria aprender a fazer.

Águas Rasas é um divertido filme, que surpreende pela parte técnica e pela trama bem construída. Dentro dos filmes de verão que decepcionaram tanto, surge como uma opção que, embora não nos faça sair refletindo sobre a sociedade ou em defesa dos animais, não deixa aquele amargo na boca de ninguém. Um exemplo raro de que até em blockbusters menos pode ser mais e que um filme não precisa ser profundo, para poder contar uma história que mereça ser assistida.








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