quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A PRO

Voltei a ler quadrinhos. Há bastante tempo que não fazia isso direto e não queria começar com as edições mensais já de saída, então resolvi pegar alguns que fugissem um pouco do padrão e do estilo já estabelecido e tendo isso como guia, resolvi por matar a curiosidade de ler algo do Garth Ennis que não fosse o aclamado "Preacher" (que já aproveito para dizer que não sou o maior fã), assim escolhi "A Pro", roteirizado por Ennis e desenhado pela Excelente Amanda Conner. E não é que o bendito roteirista me surpreendeu! Enquanto meu filho e enteada assistiam à "cúmplices de um resgate" tive um divertido final de tarde dando muita risada da zoação ácida que Ennis faz com os super-heróis.


A HQ conta a história de Pro, uma prostituta de rua, especializada em gato-bola, que tem um filho recém nascido e vive na merda. Ela é observada por um alienígena que se intitula de "O inspetor", o qual aposta com seu fiel robô assistente, que qualquer pessoa tem as qualidades para se tornar um herói e assim lhe concede poderes e a indica para a "liga da Honra" para os ajudar a combater o crime, no entanto, sua personalidade, boca suja e visão do mundo real vão se apresentando como os maiores desafios tanto para seus novos companheiros, quanto para ela.

O que mais gostei em "A pro" é o fato de ser uma história ágil, não tem aquele lenga lenga desnecessário para te fazer comprar dez edições, além disso, a história é muito engraçada e suja, a personagem realmente transmite aquele olhar de sarcasmos e desesperança de alguém que veio da pior merda possível e tudo que ganhar é lucro. A protagonista é sempre mostrada como estivesse de saco cheio, com cara de cansaço, fumando e nos poucos momentos em que ela parece estar relaxando é quando está sentada no vaso e grande parte desse efeito transmitido se deve aos desenhos de Amanda Conner, que consegue apresentar em um tom cartunesco, um mundo que tem a presença de super-heróis (mesmo que toscos) mas que as misérias e a dureza estão expostas como ,no caso, na vida de merda de uma prostituta de rua.

A liga da honra merece um parágrafo. Garth Ennis, que odeia trabalhar com super-heróis (e isso fica claro quando lemos outros de seus trabalhos, em destaque "The Boys"), não tem a menor vontade de esconder que aquela ali é a liga da justiça da DC, ali encontramos o Santo, que é a versão do Super-man, mas que trás até no seu alter ego a timidez e inocência de um Clark Kent da era de ouro; temos o cavaleiro e seu fiel ajudante o escudeiro, versão de Batman e Robin, onde o escudeiro é sempre retratado ou agarrado as pernas de seu mentor ou sendo encochado por ele, dando forte referência a homo sexualidade da dupla; a Dama, que seria a mulher maravilha que se revela com tendências lésbica; O veloz que seria o Flash trajando apenas cuecas e um suspensório e o Lima como a versão do lanterna verde John Stwart e falando feito um mano. Todos eles são retratados tão cheios de si, tão focados apenas no seu mundo que cabe a protagonista, como toda sua falta de sutiliza e sensibilidade esfregar o quanto eles são uma piada e essa é uma das grandes partes da HQ, quando a Pro começa a apontar os defeitos de cada um e questionar para quê se precisariam de heróis que não são eficientes, o humor negro impera e é muito bom.

Ainda sobre a "liga da Honra", embora , aparentemente, a intenção do autor seja realmente tirar sarro do ícone, que deveria ser um exemplo de perfeição, mas que de perto se apresentam como um bando digno de risos, quando buscamos fazer uma leitura mais profunda da história, podemos relacionar esses ícones com nossos líderes , tanto políticos como os sociais, tais como os chefes do trabalho ou lideranças religiosas, que estão focados tanto em seu ponto de vista em relação a sociedade e seus interesses, que por vezes não conseguem enxergar como um igual quem os rodeia ou quem sofre com suas decisões. Levando isso em consideração, o fato de "A pro" ter uma origem e interesses bem diferentes da liga da honra a expõem à desconfiança e subtrai sua credibilidade por parte de seus colegas, o que faz com que ela apenas reafirme sua personalidade e erros recorrentes de sua vida, até que uma decisão feita em um momento crítico a faz se tornar a heroína que o Inspetor acreditava que ela seria.


Achei a história bem bacana. O enredo é simples, mas é original pelo atrevimento e sujeira contido nele; Garth Ennis me surpreendeu, porque eu não conseguia mais desvincula-lo ao roteiro de "Preacher" (que já falei que não gosto muito e um dia eu explico porquê.) e do "the Boys". O desenho é muito bem feito, chamando a atenção tanto pelas formas caricatas como são apresentados os super-heróis, quanto pelos detalhes sórdidos que podemos ver em segundo plano em alguns quadros da história; as cores forma bem escolhidas para transitar entre um universo de fantasia das HQ's e a sujeira da vida real e a agilidade da história torna tudo divertido e leve (até ali né). Uma história engraçada, crítica, ácida e suja, que eu deixo aqui como dica, para quem gosta de quadrinhos de super-heróis e principalmente para quem não gosta e quer dar boa risadas.


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